sexta-feira, 31 de maio de 2024

Marcos Augusto Gonçalves - Direita bate tambores e Lula leva baile político

Folha de S. Paulo

Derrota em votação dos vetos, naufrágio da articulação política e acenos de elites a Tarcísio pressionam governo

O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa por momento crítico, um inferno astral que já submeteu a grande risco a possibilidade da reeleição do petista, como se comentou aqui na semana passada. O baile na votação pelo Congresso dos vetos presidenciais do mandatário e de seu antecessor, Jair Bolsonaro, veio como sinal alarmante de que a maioria parlamentar não hesitará em desestabilizar a atual gestão para impor seus interesses pecuniários e sua agenda reacionária e irresponsável.

Como se sabe, de uma tacada, entre outras decisões, reverteu-se o veto presidencial ao fim das chamadas "saidinhas" de presidiários em datas comemorativas e manteve-se a decisão de Bolsonaro contrária à tipificação do crime de comunicação enganosa em massa, parte do texto de 2021 que substituiu e revogou a Lei de Segurança Nacional.

Os placares dilatados e as "traições" sem cerimônia de supostos aliados deixaram a nu a fragilidade da base governista.

Paralelamente, setores expressivos do "partido da economia", mercado financeiro e opinião pública antipetista estão inclinados a se livrar de um novo mandato de Lula. Já decretaram o fim de novos cortes na taxa de juros, em que pesem os resultados comportados da inflação, e mal se contêm no esforço de minar por antecipação a credibilidade da nova gestão do Banco Central a ser indicada pelo presidente.

Parte considerável da elite não se incomodaria em apoiar um programa atrasado e temerário desde que em tese seus interesses fossem assegurados. A ideia de que liberalismo econômico pressupõe democracia liberal é uma dessas fantasias que a ditadura Pinochet já expôs há tempos, como bem sabe o ex-ministro da Economia Paulo Guedes.

O grande achado do momento, como se sabe, é o bolsonarista Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, que vai passando por uma lavagem de imagem.

Por sua vez, o partido de Lula e boa parte da esquerda fazem uma leitura equivocada da conjuntura, atiram-se no divisionismo, afastam o centro, geram desgastes desnecessários e não se entendem entre si.

Mesmo analistas historicamente ligados ao campo progressista, caso do jornalista e colunista do UOL Ricardo Kotscho, não escondem a insatisfação com o jeitão envelhecido e incompetente de uma administração que nem ao meio do mandato chegou —e que estaria precisando urgentemente de "novas caras e novas ideias".

O próprio líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), dizia a esta Folha, ainda antes do anunciado fiasco congressual, que "não está tudo bem" e que Lula deveria considerar uma reforma ministerial —a recorrente medida tomada por governantes enfraquecidos.

A articulação política junto ao Legislativo já naufragou de vez e a manter-se essa toada corremos o risco de uma escalada de absurdos, como a tentativa de anistiar os personagens envolvidos na intentona golpista, a começar por seu mentor e principal agitador, Jair Bolsonaro. Uma nova rodada de agravamento da crise entre os Poderes nessa hipótese seria inevitável —e nefastas as suas consequências.

É hora de mudar e de pensar tanto nas escolhas políticas equivocadas quanto nas perspectivas que podem se abrir para candidatos mais promissores e palatáveis no terreno da centro-esquerda. A direita está batendo seus tambores.

 

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