Folha de S. Paulo
Derrota em votação dos vetos, naufrágio da
articulação política e acenos de elites a Tarcísio pressionam governo
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva passa por momento crítico, um inferno astral que já submeteu a grande risco a possibilidade da reeleição do petista, como se comentou aqui na semana passada. O baile na votação pelo Congresso dos vetos presidenciais do mandatário e de seu antecessor, Jair Bolsonaro, veio como sinal alarmante de que a maioria parlamentar não hesitará em desestabilizar a atual gestão para impor seus interesses pecuniários e sua agenda reacionária e irresponsável.
Como se sabe, de uma tacada, entre outras
decisões, reverteu-se o veto presidencial ao fim das chamadas
"saidinhas" de presidiários em datas comemorativas e manteve-se a
decisão de Bolsonaro contrária à tipificação do crime de comunicação enganosa
em massa, parte do texto de 2021 que substituiu e revogou a Lei de Segurança
Nacional.
Os placares
dilatados e as "traições" sem cerimônia de supostos
aliados deixaram a nu a fragilidade da base governista.
Paralelamente, setores expressivos do
"partido da economia", mercado financeiro e opinião pública
antipetista estão inclinados a se livrar de um novo mandato de Lula. Já
decretaram o fim de novos cortes na taxa de juros, em que pesem os resultados
comportados da inflação, e mal se contêm no esforço de minar por antecipação a
credibilidade da nova gestão do Banco Central a ser indicada pelo presidente.
Parte considerável da elite não se
incomodaria em apoiar um programa atrasado e temerário desde que em tese seus
interesses fossem assegurados. A ideia de que liberalismo econômico pressupõe
democracia liberal é uma dessas fantasias que a ditadura Pinochet já expôs há
tempos, como bem sabe o ex-ministro da Economia Paulo Guedes.
O grande achado do momento, como se sabe, é o
bolsonarista Tarcísio de
Freitas, governador de São Paulo, que vai passando por uma lavagem
de imagem.
Por sua vez, o partido de Lula e boa parte da
esquerda fazem uma leitura equivocada da conjuntura, atiram-se no divisionismo,
afastam o centro, geram desgastes desnecessários e não se entendem entre si.
Mesmo analistas historicamente ligados ao
campo progressista, caso do jornalista e colunista do UOL Ricardo Kotscho, não escondem a
insatisfação com o jeitão envelhecido e incompetente de uma
administração que nem ao meio do mandato chegou —e que estaria precisando
urgentemente de "novas caras e novas ideias".
O próprio líder do governo na Câmara, José
Guimarães (PT-CE), dizia a
esta Folha, ainda
antes do anunciado fiasco congressual, que "não está tudo bem" e
que Lula deveria considerar uma reforma ministerial —a recorrente medida tomada
por governantes enfraquecidos.
A articulação política junto ao Legislativo
já naufragou de vez e a manter-se essa toada corremos o risco de uma escalada
de absurdos, como a tentativa de anistiar os personagens envolvidos na
intentona golpista, a começar por seu mentor e principal agitador, Jair
Bolsonaro. Uma nova rodada de agravamento da crise entre os Poderes
nessa hipótese seria inevitável —e nefastas as suas consequências.
É hora de mudar e de pensar tanto nas
escolhas políticas equivocadas quanto nas perspectivas que podem se abrir para
candidatos mais promissores e palatáveis no terreno da centro-esquerda. A
direita está batendo seus tambores.
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