O Globo
Professores e funcionários, no geral, não
topam conversa sobre ganhos de produtividade, avaliação de desempenho
A greve dos docentes das universidades
federais chega a 60 dias, aproximando-se do movimento de 2015, que deixou as
faculdades paradas por mais de cem dias. Há muitas semelhanças: o governo é
do PT,
e os professores são representados por dois sindicatos que não se entendem, um
petista (Proifes), outro mais à esquerda (Andes).
O Ministério da Gestão, petista, acertou um
acordo com o Proifes (reajuste salarial e fim da greve), mas o Andes foi à
Justiça e derrubou o acerto. Estaca zero.
Reparem: 60 dias de greve em escolas públicas, que vivem do dinheiro do contribuinte, era para ser um desastre nacional. Milhares de alunos sem aulas e tudo bem? Dinheiro público pode ser assim tratado?
Grevistas costumam culpar a imprensa por
deixar de lado o noticiário a respeito. Engano. O assunto desaparece também das
esferas políticas. O PT fica numa saia justa. As oposições
Quando o governo é do centro à direita,
professores, alunos e servidores, à esquerda, denunciam arrochos, mas não
conseguem fazer grandes manifestações por temor de represálias. Também porque
um governo à direita pode simplesmente esquecer a greve e deixar que o pessoal
das federais sofra o desgaste social. Quantos milhares de alunos perdem as
formaturas e, pois, empregos?
Quando o governo é do PT, certamente não há
repressão. Além disso, os docentes encontram no governo os companheiros, que
compartilham suas reivindicações. Aí a saia justa: a administração tem de
controlar as contas, acertar com o Haddad e, como se sabe, o dinheiro é curto.
Logo, como fez o Ministério da Gestão, tenta controlar a situação na conversa.
“Greve contra a gente?” Ou o governo tortura as contas para arranjar algum
trocado, de preferência para o ano seguinte.
O orçamento das federais deste ano é de R$
6,2 bilhões. Os grevistas querem pelo menos mais R$ 2,5 bilhões. Não faz o
menor sentido. Querem mais salário e mais dinheiro do governo, quando há grave
dificuldade nas finanças públicas, com déficits e aumento de dívida pública já
contratados. O momento é de reduzir gastos e ganhar eficiência.
Ninguém quer saber disso nas federais.
Professores e funcionários, no geral, não topam conversa sobre ganhos de
produtividade, avaliação de desempenho e mérito para subir na carreira. Muitos
servidores compreendem que as federais precisam de uma profunda reforma
administrativa e pedagógica — mas, sabem como é, os militantes dominam a cena,
impõem a agenda. Os outros vão na onda, alguns tentam manter seus cursos
funcionando, os demais simplesmente deixam pra lá. Não vale a pena brigar ou
não há condições para isso, dizem-me muitos professores.
Nesse ambiente, ninguém ousa dizer que o
ensino superior federal precisa obter fontes de renda, em alta escala, no setor
privado. Por exemplo: vender serviços, como pesquisas ou desenvolvimento de
projetos para empresas; cobrar taxas de alunos que podem pagar; ou fazer coisas
mais prosaicas, como cobrar pelas vagas nos imensos estacionamentos. Quem tem
carro pode pagar pela vaga, não é mesmo? Ainda mais estudando de graça.
Segue em curso um cuidadoso trabalho de
destruição das universidades federais. Perdem qualidade progressivamente,
desperdiçam o suado dinheiro do contribuinte e não cumprem sua função de
instituições públicas. Não deveria haver um mínimo de patriotismo, de noção de
serviço público? Um mal-estar com dois meses sem trabalhar? Afinal, os salários
não são miseráveis, e todos são pagos em dia, mesmo durante as longas greves.
Isso deveria gerar mais responsabilidade, não
é mesmo? Mas tem gerado apenas militância “contra o arrocho” ou um difuso
sentimento de “é assim mesmo”. É mesmo, com os programas de reposição de aulas,
tipo três meses em um. Ou os alunos perdem formaturas ou recebem ensino
precarizado.
Assim gastam R$ 6,2 bilhões dos impostos
tomados dos contribuintes. Há nove anos, escrevi aqui mesmo uma coluna com este
mesmo teor. Repito agora porque, desgraçadamente, nada mudou. Piorou.
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