O Estado de S. Paulo
Estudos sobre impacto da educação
profissional e tecnológica sobre a empregabilidade e a remuneração mostram o
muito que se pode avançar
O Ministério da Educação divulgou ao final de maio dados inéditos do primeiro relatório do Programa Criança Alfabetizada do governo federal, que fez parcerias com os Estados, usando parâmetros e testes padronizados, para avaliar alunos. O resultado: aos sete anos de idade, 44% dos alunos das escolas públicas brasileiras não são alfabetizados. O resultado quanto a noções básicas de matemática certamente também deixa e muito a desejar. O contraste com as melhores escolas privadas é chocante e afeta a trajetória dos alunos ao longo de suas vidas. Já citei neste espaço a importante observação de um secretário municipal de Educação do Rio de Janeiro, Cesar Benjamin: “Uma criança/adolescente que não aprendeu leitura e escrita e noções básicas de matemática já é um excluído”. E aquela de um dos maiores especialistas em educação no Brasil, Simon Schwartzman: “A criança que chega aos 10/11 anos de idade em uma escola precária, que não aprendeu a ler nem escrever, não tem futuro”.
Também em maio último o IBGE revelou o
retrato do analfabetismo adulto. O problema é concentrado nas gerações mais
idosas e, nessa faixa etária, nos Estados do Norte e do Nordeste. Os dados da
avaliação nacional do analfabetismo funcional são particularmente preocupantes:
cerca de um quarto da população brasileira se enquadra nessa categoria.
Domingo passado, o jornal O Globo publicou
importante matéria da jornalista Juliana Causin sobre análise dos dados de 400
mil recém-formados. Apenas um em cada dez dos formados, nos cursos mais
populares do País, consegue uma vaga formal na área de sua graduação. Nos
quatro cursos mais procurados há uma década (Pedagogia, Direito, Administração
e Enfermagem), o porcentual se situa entre 3,4% e 15,5%. Especialistas
consultados apontam desconexão entre o profissional que o mercado busca e o
perfil que sai das universidades. De um lado, graduados sem trabalho formal; de
outro, empresas carentes de mão de obra qualificada. Análise do FGV Ibre indica
alta de 10% ao ano na demanda por profissionais de tecnologia da informação e
comunicação.
“Se eu sou candidato agora em 2018, se ganho
as eleições e faço um bom governo, eu e a Dilma (Rousseff) (se não tivesse
sofrido o impeachment), nós iríamos para 24 anos de poder. (...) Se você pode,
em pouco mais de 12 anos, praticamente colocar 4 milhões de jovens na
universidade, com mais 10 anos – os dois que faltaram da Dilma e, em tese, mais
dois mandatos meus —, você poderia colocar mais 4 milhões ou ainda mais,
transformando o Brasil num país civilizado. Para fazer isso, é preciso aumentar
o orçamento da Educação em cinco vezes, como nós fizemos no meu governo.” Assim
se expressou Lula da Silva em longa série de entrevistas dadas em fevereiro de
2018 e publicadas no livro A Verdade Vencerá (Boitempo, 2018).
Nos 24 anos entre 2003 e 2026, o lulopetismo
terá ficado no poder nada menos que 72% do tempo. O número de universitários em
2022, segundo dados mais recentes do Inep, chegou a 9,4 milhões. De acordo com
o IBGE, 19,7% dos brasileiros têm formação universitária, mais do que o dobro
dos 7,9% do início da década passada. Mas falta muito para que possamos dizer
que transformamos o Brasil “num país civilizado” porque colocamos mais gente em
universidades.
Há porém alguns sinais alentadores. Estudos
recentes sobre o impacto da educação profissional e tecnológica sobre a
empregabilidade e a remuneração mostram o muito que se pode avançar se houver
foco, competência técnica e liderança política. O trabalho, conduzido por
Ricardo Paes e Barros com pesquisadores do Insper, Instituto Unibanco e Itaú
Educação e Trabalho, corrobora a relevância da formação técnica de nível médio
para inserção no mundo do trabalho e ampliação dos rendimentos dos
trabalhadores.
Chama a atenção a enorme disparidade do
número de alunos matriculados nesse tipo de ensino médio nos países da OCDE
(42% do total) e no Brasil (11%). A falta de uma estratégia nacional de
qualificação de mão de obra sintonizada com a economia limita o crescimento do
País no longo prazo, na medida em que um dos efeitos da formação deficitária,
desde a educação básica, é a baixa produtividade e baixo crescimento.
Em várias ocasiões ao longo da sua vida o
presidente Lula expressou a importância de seu curso profissionalizante no
Senai, que lhe assegurou o primeiro emprego como torneiro mecânico. Seria ótimo
se pudesse emprestar seu peso, a influência do cargo que ocupa, para fazer
dessa uma política prioritária de governo. Ou melhor, uma política de Estado,
dado o que está em jogo – nosso futuro.
A experiência histórica demonstrou
sobejamente e continua a demonstrar, cada vez mais, que o verdadeiro motor de
crescimento de longo prazo de uma economia é o progresso tecnológico e o
aumento de produtividade que propicia. Como lembrou Celso Furtado em 1995: “O
que interessa no progresso tecnológico é a qualidade do fator humano, o que não
se improvisa. Não basta investir. Botar mais dinheiro. Toma tempo formar, de
verdade, gente qualificada”. A observação continua tão válida quanto há quase
30 anos, quando foi formulada.
Um comentário:
O autor foi ministro da Fazenda de FHC por 8 anos, quando foi o mais importante ministro dos 2 governos tucanos. Não tenho lembrança de qualquer ação dele para a Educação brasileira. Pouco ou nada fez quando tinha poder, agora quer dar palpite sobre o que não fez.
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