Danilo Thomaz* / Folha de S. Paulo (15.10.22)
Maria da Conceição Tavares marcou o debate
público brasileiro das últimas décadas, tanto por suas ideias quanto por sua
figura teatral. Referência central nos estudos sobre crescimento e planejamento
econômico, formou três gerações de economistas. No plano pessoal, sua postura
inconformada, enérgica e desbocada inspirou até personagem de programa de
humor. Aos 92, é redescoberta por novas gerações após virar meme na internet.
Não poderia haver melhor momento para o
Instituto de Economia da Unicamp, que começou a funcionar em agosto de 1968,
comemorar seus 40 anos. Era 2009, e os países ricos estavam recolhendo os
destroços do que havia restado da crise de 2008, fruto de quase três
décadas de desregulação financeira.
Já o Brasil, que nunca embarcara com a mesma
intensidade no que se convencionou chamar de neoliberalismo, via a
economia se recuperar rapidamente com a ação dirigida estatal. Como,
aliás, já vinha acontecendo naquele segundo governo Lula. Era a vitória
política e ideológica da chamada Escola de Campinas, mais voltada à
participação do Estado na economia.
Uma das principais formuladoras da tradição
dessa escola estava na celebração da Unicamp: a
economista Maria da Conceição Tavares. Convidada a falar no evento, não se
limitou a ser mera espectadora enquanto não chegava o dia e a hora de sua
palestra.
Se um convidado dizia algo de que discordava, rebatia, "não é assim!". Se alguém falasse uma besteira, dizia "é uma bobagem!". Se errasse, corrigia no mesmo instante: "Está errado!".
A única poupada de críticas foi a então
ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. "Eu não gosto de brigar com
mulher", a própria Conceição já dissera antes, em entrevista ao programa
Roda Viva, da TV Cultura, em 1995.
Fumante inveterada difícil de conter,
Conceição sentou-se em uma cadeira na entrada do auditório, lugar reservado a
ela pela organização do evento, onde poderia fumar sem incomodar a plateia,
ouvir e, claro, intervir nos debates.
Até que chegou o momento de sua fala.
Conceição começou citando o romance "O Retrato de Dorian Gray", do
escritor irlandês Oscar Wilde.
No clássico, um aristocrata faz um pacto demoníaco para ter a juventude eterna,
enquanto um quadro com seu retrato envelhece.
A economista tinha o receio de que o Brasil
terminasse como o aristocrata hedonista: horrorizado ao encarar o próprio
retrato. No plano pessoal, seu receio era ter nascido em uma crise, na Europa,
e morrer em outra, no Brasil —após toda uma vida contra a corrente.
NASCIMENTO E EXÍLIO
Maria da Conceição de Almeida Tavares nasceu
em Anadia (Portugal) em 1930, a pouco mais de 50 km de Coimbra, mas cresceu e
estudou em Lisboa. Mudou-se para o Brasil em fevereiro de 1954, junto do
primeiro marido, Pedro Soares.
"Cheguei aqui e levei um susto. Porque
o Getúlio morreu logo depois. Julguei que era uma democracia, vindo lá do
Salazar, e me enganei", disse no Roda Viva.
Nesse instante, a então deputada federal pelo
PT abriu um sorriso que contraiu os olhos, um dos raros momentos de suavidade
em suas manifestações públicas. "Mas depois tivemos Juscelino, lembra? Aí
íamos construir Brasília, uma democracia nos trópicos, o desenvolvimento."
O primeiro emprego de Conceição foi como
estatística do Inic (Instituto Nacional de Imigração e Colonização), hoje
Incra, onde
deu-se conta da desigualdade no país.
Essa consciência a levou a estudar economia.
Ingressou no curso em 1957, quando adotou a cidadania brasileira, na
Universidade do Brasil, hoje UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro.
SUPERANDO O SUBDESENVOLVIMENTO
No ano seguinte, tornou-se analista
matemática do que hoje se chama BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), à época presidido pelo economista Roberto Campos, um dos
criadores e articuladores do Plano
de Metas de JK,
que buscava dar um salto no processo de desenvolvimento. Mas como era possível
um liberal, como Campos, defender o planejamento estatal da economia?
Conceição, Campos, Celso Furtado, colegas de
ambos no BNDES, e o sociólogo e ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, entre
outros, são representantes de uma geração que tinha por objetivo compreender e
superar a problemática do subdesenvolvimento nacional.
"Nós criamos a noção de
desenvolvimento", afirma FHC à Folha.
"Estávamos no mesmo clima que se respirava no Brasil. Então mesmo que não
estivéssemos próximos [no terreno das ideias], nós ‘brigávamos’ pelo contexto
de compreensão mútua. Eu li quase todos os textos que ela escreveu. Eu posso
ter discordado dela mais de uma vez, mas tenho que reconhecer que ela foi uma
grande idealista."
DITADURA
O período ditatorial fez erodir os sonhos da
geração que buscava um desenvolvimento em bases reformistas para o Brasil.
"Virei brasileira achando que isso aqui seria uma democracia nos trópicos,
e tome 21 anos de ditadura, tome concentração de renda, tome milagre
econômico", disse, estalando os dedos, no Senado.
É deste período o ensaio "Além da
Estagnação", presente no livro "Da Substituição de Importações ao
Capitalismo Financeiro", que completa 50 anos, o mais importante de sua
obra.
Escrito em parceria com o hoje senador José
Serra (PSDB), o ensaio é considerado um dos marcos da obra da autora dentro de
seu período na Cepal (Comissão Econômica para a América Latina), órgão que
defendia a adoção do planejamento econômico e de medidas protecionistas pelo
Estado.
No texto, Conceição e Serra contestam
a tese de Furtado sobre a derrocada da economia brasileira em meados
dos anos 1960, presente no artigo "Desenvolvimento e Estagnação na América
Latina: um Enfoque Estruturalista".
"O ensaio ‘Além da Estagnação’ teve por
contribuição principal mostrar como, infelizmente, o crescimento do
período do chamado milagre se fazia de forma perversa, com
concentração da renda. Ao contrário do que postulavam os estagnacionistas,
estava sendo possível crescer concentrando a renda —e pior ainda, a
concentração de renda alimentava um processo de crescimento acelerado",
afirma o economista Ricardo Bielschowsky, autor de "Pensamento Econômico
Brasileiro" e colega de Conceição na UFRJ.
"O Furtado foi o grande intérprete do
subdesenvolvimento, e a Conceição, da dinâmica econômica", completa ele.
"A obra dela pode ser dividida em dois grandes períodos: até as
proximidades de 1980, na era desenvolvimentista, e depois dela. Ou seja, o
primeiro gira em torno da presença do crescimento, e o segundo trata de
elementos que causam sua ausência."
À época da publicação do ensaio, o Ministério
da Fazenda era comandado pelo economista Delfim
Netto. "Nossos pensamentos frequentemente diferiam, mas sempre
considerei as suas críticas. Foi a inteligência mais barulhenta que
conheci", afirma ele hoje.
Conceição considera o ex-ministro uma das
melhores cabeças do país. Embora crítica da concentração de renda, reconhece
que tanto Delfim quanto o segundo PND (Plano Nacional de Desenvolvimento), do
governo Ernesto Geisel, conferiram certa pujança ao capitalismo brasileiro.
VIDA ACADÊMICA
De volta ao Rio, em 1972 —após um período no
Chile, onde trabalhou no governo Allende—, Conceição reassumiu sua cadeira na
UFRJ. Três meses depois, foi convidada pela Unicamp a coordenar a pós-graduação
de economia da instituição.
"Zeferino Vaz [fundador da universidade]
nos levou para lá", conta o economista Luiz Gonzaga Belluzzo. "[Ele
dizia]: ‘São todos esquerdistas, mas são bons’."
A dupla de economistas se conheceu em 1966,
quando Belluzzo era estudante e assistiu a uma palestra de Conceição. O
reencontro, sete anos depois, marcou o início de uma amizade e uma troca
intelectual que perdura até hoje. "Era um estímulo. Ela não briga com as
pessoas, briga com as ideias, se empolga", conta ele.
Conceição passou a conciliar aulas na Unicamp
e na UFRJ, onde fundou o IEI (Instituto de Economia Industrial), um dos centros
mais vibrantes do pensamento econômico brasileiro nos anos 1970 e 1980.
Em sua trajetória acadêmica, a professora ajudou a formar três gerações de
economistas. Entre eles, Serra, Pedro Malan, ex-ministro da Fazenda de FHC, e a
ex-presidente Dilma Rousseff (PT).
Em 1975, às vésperas de um embarque para
Santiago, foi presa pela ditadura no Galeão. Passou alguns dias desaparecida.
Liberta por intervenção do então ministro da
Fazenda, Mário
Henrique Simonsen, Conceição mandou-lhe a seguinte mensagem: "Olá,
Mário, tudo bem? Nem vou agradecer porque você não fez nada mais do que sua
obrigação".
REDEMOCRATIZAÇÃO E INFLAÇÃO
Em 1980, Conceição tornou-se membro da
Executiva Nacional do Movimento Democrático Brasileiro (MDB), ao qual havia se
filiado em 1978. Tinha como seus principais interlocutores dentro da legenda
Ulysses Guimarães, uma das lideranças civis da redemocratização, e Fernando
Henrique.
"Foi uma influência muito grande, mas
não era uma pessoa propriamente ligada ao partido, era muito mais por ideias.
Era uma ligação, como tudo que estava acontecendo na época, conflituosa, mas
havia uma grande identidade de ponto de vista, sobretudo no que concerne a um
pensamento comprometido com a dinâmica da política brasileira", afirma o
ex-presidente.
Em 1986, Conceição ganhou destaque fora do
meio acadêmico e político ao comentar com a voz embargada e lágrimas
escorrendo, na TV Globo, o Plano Cruzado, que pretendia dar fim à inflação.
"Eu estou muito contente de ver uma equipe econômica que redime este país,
que dá uma contribuição política, que ajuda o governo a encontrar seu
rumo."
Baseado
no congelamento de preços, o Cruzado resultou de uma equipe que
incluía Belluzzo e o economista André Lara Resende. O plano foi elaborado em
sigilo, mas Conceição teve acesso a ele, por meio de Ulysses Guimarães, pouco
antes de ser submetido à aprovação.
PLANO REAL
Em julho de 1994, Conceição despede-se de
seus leitores da Folha,
onde ajudava a balizar o debate econômico em suas colunas, para dar início a
uma nova fase como política profissional, candidata a uma vaga na Câmara dos
Deputados pelo PT do Rio. Havia se desligado do MDB em 1989, após a derrota de
Ulysses nas eleições presidenciais.
Em 1994,
Conceição era uma das principais críticas do Plano Real. Disse que se
tratava de um "Cruzado dos ricos" e que criaria uma realidade
paralela, na qual a classe média baixa e os pobres não poderiam medir as perdas
sofridas. "Ela fez uma crítica equivocada", afirma Belluzzo.
Ao longo do governo FHC, ela
opôs-se também à abertura econômica, à desproteção de setores produtivos
nacionais e à financeirização da economia.
"Hoje eu acho que ela tinha razão. Houve
uma financeirização em relação ao capital produtivo. A teoria macroeconômica do
neoliberalismo era a posição hegemônica. Agora está começando a haver uma
revisão", afirma o economista André Lara Resende, um dos pais do Real e
ex-presidente do BNDES no governo FHC.
O economista tem sido voz dissonante e
solitária contra essa hegemonia no debate econômico brasileiro, por
meio de livros como "Consenso e Contrassenso - Por uma Economia não
Dogmática".
Em 1995, Conceição partiu para Brasília como
a segunda deputada federal mais votada do PT pelo Rio. Apesar do sucesso
eleitoral, não guardou boas lembranças. "Foi uma estreia política formal
triste. Foi a única vez que fui ao sacrifício político", declarou.
Uma vez no poder, FHC
deu a si mesmo a missão de encerrar o legado estatal de Getúlio Vargas. Para
isso, era necessário abrir a economia e diminuir o peso do Estado por meio de
privatizações.
Dar fim a todo aquele
aparato que os então deputados Conceição, Delfim e Roberto Campos —embora este
último há muito já estivesse convertido em ardoroso pregador liberal e crítico
do estatismo— ajudaram a construir décadas antes. "Roberto Campos e eu nos
divertíamos com a grossa pancadaria que ela aplicava no ilustre Fernando
Henrique Cardoso", conta Delfim.
Integrante da
Comissão de Finanças e Tributação, ela tentou passar uma reforma tributária.
"Não tive o menor sucesso. Nem eu, nem ninguém, como é óbvio", disse
ela no Senado.
O fracasso foi
estendido a outras comissões. "Perdi na de Energia. Doutor Roberto Campos estava
lá. Chamava de ‘dinossauro’ a Petrobras. Perdi a paciência. Disse que era
melhor ser dinossauro que ser lagartixa. Ele ficou aborrecido." A
congressista explicou que não se referia a ele. Depois, complementou: "O
senhor também, à sua maneira, é um dinossauro… rex".
Na audiência que votou o fim do
monopólio da Petrobras na extração do petróleo, Conceição foi
escolhida pelo PT para representar o partido. Vestida de preto, com uma fitinha
verde e amarela, deu seu voto contrário. "Foi uma tristeza. Ali eu quase
chorei."
"O FHC passou o
que quis e o que não quis [no Congresso]. A Conceição viveu isso de dentro. Ela
cumpriu um papel importante, era a professora da bancada do PT. A maior parte
dos quadros do partido não tinha a menor noção de nada [do que estava em votação]",
afirma a economista Gloria Maria Moraes da Costa, que foi aluna da deputada e
coordenadora de sua campanha.
Uma das derrotas de
Conceição foi a não aprovação de um imposto para grandes fortunas, de autoria
de FHC quando senador (1983-1992). Hoje o ex-presidente diz que teria sido
importante a aprovação desse projeto. "A grande fortuna no Brasil ficou
intocável, e isso não é bom."
Embora a esquerda
tenha convencionado referir-se ao governo FHC como um período neoliberal, é
importante entender que havia tensões dentro da área econômica de sua gestão,
simbolizadas pelos então ministros Pedro Malan, da Fazenda, e José Serra, do
Planejamento.
O primeiro era mais voltado à abertura e à internacionalização da
economia; o segundo, às ideias de proteção de determinados setores. "Isso
[tratar o governo como neoliberal] é uma caricatura. Mas a caricatura guarda
alguma relação com a realidade", afirma Lara Resende.
"Os dois [Malan
e Serra] mencionavam a Maria Conceição [nas reuniões]. Notei que ela era
realmente muito influente", afirma FHC.
"Em algumas
coisas, ela poderia ter alguma razão, mas, de qualquer maneira, o que nós
fizemos era o que nós podíamos fazer. Naquele momento, era o que se aconselhava
fazer, era o possível. E o resultado está aí, o Brasil cresceu."
O ex-presidente, em seus
diários, afirma que a professora o tratou de "modo
desabrido" durante a campanha eleitoral. Conta que, em jantar no qual
Celso Furtado também estava presente, a tratou friamente, queixando-se de que
ela não foi "nem desleal, foi atrevida, não tem o direito de dizer o que
disse durante a campanha, uma mulher que me conhece a vida toda".
Questionado, FHC diz
não se lembrar a que se referia. "Eu não me lembro, mas provavelmente
porque apoiou algum adversário meu", afirma. "Eu não me lembro de ter
rompido [com ela], muito menos de ter reatado [risos]. Não sou uma pessoa de guardar
rancores."
LULA LÁ
Conceição celebrou muito a
vitória de Lula em 2002. Afirmou, no início, que o governo tinha
pouco "raio de manobra", em razão do endividamento do Estado e das
altas taxas de juros. A "pax", todavia, durou pouco.
Em abril de 2003, em entrevista
à Folha, soltou
o verbo contra a opção do PT por políticas focalizadas na área social —ou seja,
políticas que atingem determinados grupos—, em detrimento de programas
universais.
"Tive de ouvir o
dr. Delfim Netto defender a Constituinte de 1988, onde estão consagrados os
direitos universais nas três áreas: saúde, assistência social e Previdência
Social. Isso vinha sendo construído como políticas universais desde o tempo da
ditadura; logo, não é um problema de ser conservador. É um problema de ser
pateta ou de má-fé."
Suas críticas, porém, foram escasseando ao longo do governo Lula.
Chegou aos 80 anos, em 2010, otimista, apesar do alerta feito um ano antes, no
evento da Unicamp. "Espero não me equivocar, mas, se me equivocar, não
estarei viva para ver."
Na eleição que opôs
seus dois ex-alunos, Dilma e Serra, declarou apoio à primeira, que
saiu vitoriosa. Ambos foram procurados pela reportagem em mais
de uma ocasião, mas, mesmo manifestando interesse, não deram retorno.
EPÍLOGO
Em 2019, o Brasil
parecia ter cumprido o vaticínio de Conceição de dez anos atrás: o país, que
antes decolava na capa da revista The Economist e crescia com distribuição de
renda em um mundo em recessão e aumento da desigualdade, acabava de entrar para a lista
das democracias liberais em crise com o início do governo de Jair Bolsonaro
(PL).
Uma união de
militares, extrema direita e milicianos fez boa parte do Brasil achar feio o
que era espelho.
Um pouco antes disso a participação de Conceição no debate público já começava
a rarear, embora tenha se manifestado contra o impeachment de Dilma e
a prisão de Lula.
Em 2019, ainda
vivendo no bairro do Cosme Velho, no Rio, lançou sua última obra, "Maria
da Conceição: Vida, Ideias, Teorias e Política", um compilado de ensaios.
No final de 2021, após uma fratura, Conceição mudou-se para Nova
Friburgo (RJ). Aos 92 anos, ocupa seus dias com visitas de amigas economistas,
do casal de filhos e de familiares, e telefonemas de Belluzzo. Desde a queda,
sumiram com seu cigarro. Após 70 anos de vício, ela deixou de fumar. Por
motivos de saúde, não pôde dar entrevista para esta reportagem.
Em uma das visitas,
Conceição foi informada de que volta
e meia se tornava um dos assuntos mais comentados na internet, por
causa de trechos de suas aulas na Unicamp e da entrevista do Roda Viva
veiculados no YouTube e em redes sociais.
Sua fala enérgica e
sem pudores inspirou diversos memes, que tiveram o efeito imprevisto de formar
uma nova geração de admiradores de sua obra. Antes da internet, no começo dos
anos 1990, ela já havia inspirado uma personagem da "Escolinha do Professor
Raimundo" (Globo), dona Maria da Recessão Colares, fumante, com sotaque
português, que esbravejava sobre a economia do país.
Conceição, que nem sequer tem celular, divertiu-se ao saber que sua lição nas
salas de aula, como o exemplo a seguir, ainda sobrevive.
"Nós não somos
da elite dominante desse país. A não ser que vocês tenham alguma pretensão a
ser. Eu não tenho. Então não é chá e simpatia. Isso é um curso rebelde! Nós
perdemos! Nós somos derrotados! Se vocês não fossem derrotados, não vinham para
esta universidade [Unicamp], iam pra USP, pra PUC [Rio]. Ou pra Harvard.
Estamos lutando pela hegemonia? Imagine! Estamos lutando apenas pra não ficar
malucos. Para não dizer besteira demais."
*Jornalista e mestrando em
ciência política pela UFF (Universidade Federal Fluminense)
2 comentários:
Muito bom! Maria da Conceição Tavares era muito mais brasileira que muitos dos seus colegas economistas nascidos aqui. Sempre respeitei muito e admirei sua coragem e disposição, mesmo que bastante arrogante e até agressiva contra quem dela discordava. Foi uma verdadeira GUERREIRA!
Muito boa a reportagem.
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