O Estado de S. Paulo
Se o Copom não abordar amanhã o risco de elevar a Selic de novo, o dólar pode subir além de R$ 5,70
Após a disparada do dólar e a piora das expectativas inflacionárias desde a sua última reunião, o Copom não terá como escapar de abordar um tema indigesto para o governo Lula no comunicado que acompanhará a decisão hoje: uma eventual alta dos juros até o fim do ano. Se não endurecer a mensagem já nesse documento, o Banco Central corre sério risco de perder o controle do câmbio e das projeções para a inflação no horizonte relevante da política monetária. Ninguém espera que, nesta reunião, o BC mexa na taxa Selic, atualmente em 10,50%.
No comunicado da reunião passada, o Copom
apresentou um cenário alternativo de projeção de inflação, no qual o IPCA
desacelerava para 3,1% em 2025, portanto, próximo da sua meta, caso mantivesse
a Selic inalterada em 10,50% até o fim do ano que vem. Porém, esse cenário foi
construído com base em duas premissas: um dólar de referência a R$ 5,30 e uma
projeção de inflação em 2025, tirada da pesquisa Focus, de 3,8%. De lá para cá,
a situação doméstica e o ambiente externo se deterioram. O dólar chegou a bater
R$ 5,70. Agora, recuou um pouco, para ao redor de R$ 5,65. Já a projeção do
IPCA para 2025 subiu para 3,96%.
Ou seja, nas condições atuais, não há mais
como o Copom entregar uma inflação de 3,1% em 2025 apenas mantendo a Selic
parada onde está. Diante da piora do câmbio e das expectativas de inflação, o
Copom teria de subir os juros para cumprir o alvo do seu cenário alternativo.
Se decidir manter a Selic inalterada, então terá de revisar para cima a sua
projeção de inflação em 2025 nesse cenário alternativo, afastando-se da meta de
3%.
Como o Copom poderá sinalizar que a piora no
balanço de riscos poderá exigir a retomada de um aperto monetário? Basicamente,
dizendo que, sem um alívio nas expectativas de inflação no horizonte relevante,
um cenário de juros constantes não assegura a convergência à meta. Traduzindo
do “coponês”: posso ter de elevar juros já a partir da próxima reunião, em
setembro. O outro lado da moeda é que, em setembro, o Federal Reserve
provavelmente começará a cortar os juros americanos, o que daria um alívio nas
condições globais de liquidez, ajudando os países emergentes.
Mas o mercado já precificou, no valor do
dólar, dois cortes de juros nos EUA em 2024, sendo o primeiro em setembro. Sem
falar que o risco fiscal no Brasil segue exacerbado, mesmo diante dos recentes
anúncios do governo em relação à contenção de gastos. Assim, se o Copom não
abordar hoje o risco de elevar a Selic de novo, o dólar pode subir além de R$
5,70.
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