Valor Econômico
Governo estima que a economia vai crescer em 2024 mais do que os 2,5% previstos
O governo está convencido de que a economia
vai crescer em 2024 mais do que os 2,5% previstos até agora.
É mais do que a mediana do mercado captada
pelo Boletim Focus do Banco Central (BC), de 2,20%, embora muitas casas também
já estejam revendo para cima suas projeções. Mas enquanto esse movimento vai se
cristalizando, internamente a discussão já ocorre em pelo menos três camadas no
Palácio do Planalto e na Esplanada dos Ministérios.
A primeira delas, técnica, vinha sendo conduzida de forma discreta. Ganhou corpo após a reunião ministerial conduzida pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na semana passada. E o próprio ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falou sobre o assunto em público na segunda-feira (12).
Ocorreu uma atualização em relação ao tom
observado em uma declaração dele mesmo feita em meados de julho. Momentos antes
de a Secretaria de Política Econômica (SPE) da pasta divulgar nova versão do
Boletim Macrofiscal, Haddad antecipou a jornalistas que pedira “parcimônia” e
“cautela” à área técnica. Como resultado, a projeção de alta do PIB, de 2,5%,
foi mantida.
O cenário no Rio Grande do Sul,
recém-atingido pelas enchentes que destruíram parte considerável do Estado e
provocaram incomensuráveis perdas humanas, exigia prudência. Ainda assim, a
área técnica avaliava que impactos negativos de até 0,4 ponto percentual do PIB
estimados por alguns não estavam se confirmando. Por outro lado, alguns efeitos
econômicos positivos de médio e longo prazos com a recuperação do Estado
poderiam ser maiores do que o estimado inicialmente.
Uma autoridade explica que uma grande
catástrofe como a que ocorreu no Rio Grande do Sul destrói, além de vidas, o
estoque de capital físico do local da tragédia. Um processo de reconstrução,
por sua vez, gera fluxo: emprego, renda e mobilização de materiais. “E PIB é
fluxo”, acrescenta.
Desde então, outros indicadores entraram no
radar da equipe econômica e vêm sendo monitorados. Entre eles, dados e emprego
e massa salarial. Também foram divulgados relatórios apontando crescimento da
confiança empresarial. E nessa terça-feira (13), o Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) anunciou que em junho o setor de serviços
registrou seu melhor resultado no ano, após oscilações em torno da
estabilidade.
Em paralelo, dirigentes de bancos públicos
asseguram a interlocutores que é positiva a expectativa em relação à próxima
safra e há crescente demanda por crédito imobiliário. Isso se soma à avaliação
de ministros de que os investimentos em infraestrutura estão ganhando corpo e
podem, assim como ocorreu neste ano com a boa herança estatística deixada pelo
PIB de 2023, assegurar que a economia inicie 2025 sem perder tração.
É aí que entra a segunda camada dessa
discussão, a esfera política. A economia é tema central nas pesquisas de
avaliação. Na mais recente sondagem do Datafolha, por exemplo, 42% dos
entrevistados viam piora na economia, ante 26% que citaram melhora. A situação
estava igual para 29%.
Essa percepção ficou estável na comparação
com levantamento realizado em junho. E melhorar esse índice é visto no governo
como fundamental para o projeto eleitoral de 2026. Até lá, contudo, o desafio
do governo também será melhorar a percepção do mercado em relação à política
econômica.
Sob esta terceira perspectiva, além de menos
volatilidade no curto prazo, a intenção é construir um caminho tendo em vista a
recuperação do grau de investimento.
Acredita-se que muitas das incertezas que se
avolumavam ao longo do tempo foram retiradas do horizonte de empresários e
investidores. Uma delas foi a publicação do decreto que estabeleceu o novo
sistema de meta contínua para a inflação, enquanto outra foi a posterior
manutenção dessa meta em 3%, com intervalo de 1,5 ponto percentual para mais ou
para menos.
Após turbulências nas bolsas, o Executivo
também sinalizou que cortaria R$ 25,9 bilhões do Orçamento do ano que vem e
anunciou uma contenção considerável das despesas de 2024. O presidente Lula, em
uma mensagem depois reforçada por diversos ministros, comprometeu-se a
respeitar o arcabouço fiscal.
Sabe-se que esse é um trabalho permanente. À
medida que uma dúvida é mitigada, outra pode aparecer à frente.
Neste momento, a ideia é tentar retirar
outras inseguranças do caminho. O plano é neutralizar as indefinições em
relação à sucessão no Banco Central (BC) e como a autoridade monetária deve
atuar sob nova administração, em um momento de grande preocupação com a
inflação e o cenário internacional. Nos próximos dias, precisará ainda
apresentar uma proposta orçamentária para 2025 que seja considerada
responsável. E há pendências a resolver em relação às contas de 2024.
Ainda não se fala abertamente de percentuais.
No entanto, executado esse plano, a revisão para cima da projeção do PIB viria
acompanhada de outras notícias de impacto. Seria feito um contraponto à
“convenção” de descrença observada entre alguns agentes do mercado, mas que, na
visão do governo, não está baseada em fatos e dados.
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