quarta-feira, 14 de agosto de 2024

Mariliz Pereira Jorge - Pablo Marçal é ameaça real

Folha de S. Paulo

Investigado pela PF, já foi condenado por desvios em contas bancárias

Depois de anos de Jair Bolsonaro e da estética chucro-cafona-agressiva que ele levou ao poder, parecia haver um cansaço desse modelo antissistema, mas o buraco pode ser mais fundo. Pablo Marçal confirma o que o pesquisador britânico Jamie Bartlett já falava antes da eleição de 2018 sobre como a internet favorece candidaturas de outsiders e de políticos de perfil autoritário.

À época, afirmei que Bolsonaro venceria no grito, sem propostas, com xingamentos e acusações, tratando adversários como inimigos. A tática, que parecia desgastada e tem dificultado a vitória que Donald Trump considerava garantida, mostrou muito fôlego na Argentina, que elegeu Javier Milei, e ajudou Marçal a embolar a corrida em São Paulo.

Em "The People vs Tech", Bartlett mostra que os ideais, políticas públicas, a viabilidade das promessas, a performance de gestões anteriores, tudo isso é supérfluo. Não à toa, Marçal desdenha do próprio desconhecimento sobre a cidade e foca nos ataques pessoais. Como poucos, entendeu que é sobre aparência, análise de dados e o que viraliza é grosseria e gritaria.

Tudo é obscuro sobre Marçal, uma ameaça real, não só na eleição paulistana, mas numa eventual candidatura à Presidência, o que ele já ensaiara em 2022. Acabou investigado pela PF por crimes eleitorais, falsidade ideológica e lavagem de dinheiro. Há a condenação num processo por desvio de dinheiro de contas bancárias.

Mas a experiência dele como coach e o entendimento sobre o funcionamento das redes pode fazer Bolsonaro parecer um escoteiro. Marçal é um picareta talentoso que, entre outras coisas, convenceu 60 pessoas despreparadas a subir um pico. Na propaganda ele avisava: "só conquista o topo dessa montanha quem está disposto a entregar todos os recursos durante o caminho. Sangue, suor, lágrimas e gordura". Os bombeiros levaram nove horas para resgatar o grupo. Numa eleição, o socorro demora quatro anos.

 

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