Folha de S. Paulo
Repetição do resultado reforça hipótese de
segundo turno entre Ricardo Nunes e Guilherme Boulos
A cadeirada
desferida pelo candidato José Luiz Datena em Pablo Marçal não
atingiu as intenções de voto registradas pela mais recente
pesquisa Datafolha, em São Paulo.
Os números repetem o cenário da sondagem anterior, com o prefeito Ricardo Nunes numericamente
à frente (27%), seguido por Guilherme
Boulos (26%), e o clown Pablo Marçal (19%)
na rabeira.
A hipótese de um segundo turno entre Nunes e Boulos ganha mais fundamento com a repetição do resultado. Reforça a hipótese de que os dois passem para a nova etapa o fato de que repetem de certa forma o confronto histórico entre direita e esquerda como nos tempos de tucanos contra petistas. A ver.
As especulações sobre o que poderia acontecer
após a cadeirada, sem base que as sustentassem, iam desde uma melhora de Datena ou
Marçal a um crescimento de Tabata Amaral,
que poderia ser percebida por parte do eleitorado feminino como uma alternativa
ao machismo tóxico presente no episódio. Ela não cresceu, mas seus
eleitores estão mais satisfeitos. Já Marçal, que é o ponto fora da
curva das candidaturas, com sua estupidez contumaz, vai
vendo seu índice de rejeição disparar (47%).
No final das contas, além da decisão de
aparafusar cadeiras em novos confrontos, o que de melhor o caso
produziu foram memes, piadas e comentários, alguns realmente divertidos. Sim eu
sei, devemos condenar a violência, mas encarar o assunto com humor faz parte.
No novo episódio do podcast Bocas de Urna,
que estará no ar nesta sexta (20), as jornalistas Mônica Bergamo, Patrícia
Campos Mello e este colunista debatemos sobre até que ponto a cadeirada poderia
ser vista como sintoma de uma crise do formato
debate de TV causada pelo vale-tudo das redes digitais.
O fato é que o mundo digital tem influência
relevante –basta ver como todos os candidatos convidam o espectador a visitar
suas postagens–, mas a baixaria não é novidade. Se o debate de TV surgiu em
outro momento da esfera pública (o primeiro reuniu Nixon contra Kennedy, em
1960), os parâmetros atuais da arena política não chegam a mudar este modelo
radicalmente ou torná-lo superado.
Nas minhas elucubrações sobre o tema, não
pude deixar de lembrar de um clássico da arte conceitual, a obra "Uma e Três
Cadeiras", de Joseph Kosuth, artista nascido nos EUA –país
que, aliás, consagrou no cinema as cenas de cadeiras voando em brigas de
saloon.
O trabalho, de 1965, consiste na apresentação
de três peças. Ao centro vemos uma cadeira propriamente; à esquerda de quem
olha, fixada na parede, uma fotografia da cadeira; e, à direita, a reprodução
ampliada de um verbete de dicionário que define o significado da palavra
cadeira.
Temos então uma versão do objeto físico, uma
representação fotográfica do mesmo objeto e, por fim, sua definição
linguística. A obra deu panos para manga e inscreveu o nome do autor na
história da arte do século 20.
Casualmente tive a oportunidade de conhecer
Kosuth em São Paulo, quando veio participar da exposição The Overexcited Body,
no Sesc Pompeia, em 2001, com curadoria de Adelina von Furstenberg. Entre
outros programas, fomos levá-lo para conhecer um pouco da noite paulistana –mas
‘à la grande’, com uma visita ao velho e inexcedível Love Story. Bem, mas isso
é uma outra história.
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