sexta-feira, 20 de setembro de 2024

Eliane Cantanhêde - Israel esquenta, Rússia esfria

O Estado de S. Paulo

Brasil e China atendem a ‘chamado’ de Putin e voltam a articular acordo entre Rússia e Ucrânia

Depois do excesso de ambição e sucessivos fracassos na tentativa de recuperar o protagonismo do Brasil e o prestígio internacional de Lula, o governo agora trabalha com a China, em silêncio e comedidamente, na busca de algum acordo de cessar-fogo entre Rússia e Ucrânia. O momento é propício, já que os dois lados dão sinais de exaustão diante de uma guerra que se prolonga sem perspectiva de vitória para um ou para o outro.

O primeiro sinal de abertura da Rússia ao diálogo foi dado por Vladimir Putin, quando citou Brasil, China e Índia como potenciais mediadores. A partir daí, a diplomacia voltou a agir. Na semana passada, o chanceler russo, Serguei Lavrov, conversou com o brasileiro Mauro Vieira em Riad, e depois com o assessor internacional Celso Amorim, em Moscou. E Amorim já engatou contatos com seu correspondente chinês.

Essa sinalização, ou convocação, de Putin ocorreu após a reação considerada “branda” de Moscou aos ataques ucranianos ao território russo, também entendida como sinal de inflexão de Putin e esgotamento da guerra. Juntando as pontas, Brasil e China puseram-se a postos, mas a Índia, nem tanto, ao menos até onde a vista alcança e os ouvidos captam.

O pano de fundo para as conversas tem sido a ampliação dos Brics. Essa também foi a pauta oficial do telefonema de Putin para Lula na quarta-feira, mas mal disfarça os avanços nas conversas sobre a guerra RússiaUcrânia, que têm até cronograma e rascunho com quatro condições para os dois países.

O próximo passo será na semana que vem, com mais uma rodada de conversas entre Brasil e China, em paralelo à abertura da Assembleia-Geral da ONU, em Nova York. E a proposta rabiscada prevê preservação de alvos e cidadãos civis e troca de prisioneiros, compromisso de não uso de armas atômicas e uma conferência de paz que inclua Ucrânia e Rússia.

Embrionária, essa construção exige paciência, mas uma coisa é certa: é uma faca de dois gumes para Lula. O envolvimento direto confere status a ele e ao Brasil, reduzindo as legítimas críticas de muito falatório, pouca ação. Mas a articulação tende a aumentar as suspeitas sobre os rumos dos Brics, da política externa brasileira e de suas alianças com China e Rússia, que, de democracias, não têm nada.

Bem, o fato é que não só a Rússia e a Ucrânia dão sinais de exaustão com a guerra, mas também o mundo todo, agora mais focado no potencial devastador da escalada de Israel contra Líbano. Assim, é melhor haver articulações de paz do que não haver nada em relação a Putin e Zelenski.

 

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