terça-feira, 29 de outubro de 2024

Ao gosto do freguês - Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Gilberto Kassab viu o que o também craque Luiz Inácio Lula da Silva não viu, talvez por velhas idiossincrasias: o eleitor que estava dando sopa, solto, sem rumo, era o do PSDB, que oscilava entre a centro esquerda e a centro direita. Kassab adaptou o PSD e está moldando o governador Tarcísio de Freitas ao gosto do freguês – leia-se: do eleitorado tucano. Lula teve a grande sacada de atrair Geraldo Alckmin para sua vice, mas ficou por aí.

O erro original continua cegando os líderes de PT e PSDB e os dois partidos que reuniram os melhores quadros a favor da abertura política nos anos 1980, ao lado do MDB, continuam para todo o sempre como inimigos e, num abraço de afogados, afundam juntos e deixam a direita nadando de braçada.

Lula conquistou Alckmin para sua chapa e o apoio dos melhores quadros tucanos contra Jair Bolsonaro em 2022, mas encheu os ministérios com o Centrão, inclusive com os bolsonaristas PP e Republicanos. Ok, o sistema e a governabilidade exigem, mas e o eleitor, os votos? Foram dados de bandeja para o pragmatismo e a sagacidade política de Kassab.

Dois anos depois da volta de Lula ao poder, o PSD coleciona troféus nas eleições municipais: maior número de prefeituras do País (887), 206 das 645 de São Paulo, cinco das 26 capitais, o controle de orçamentos de R$ 234 bilhões. E mais: domina o “triângulo das Bermudas” político e econômico do País.

Reelegeu Eduardo Paes já no primeiro turno no Rio, Fuad Noman no segundo em Belo Horizonte e quem, afinal, esteve por trás o tempo todo da aliança entre Tarcísio e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em São Paulo? Kassab. Tarcísio, chamado de “líder maior” por Nunes na festa da vitória, continua no Republicanos, mas já recusou entrar no PL de Bolsonaro e seu caminho natural parece ser o PSD.

Já a esquerda só levou duas capitais: João Campos (PSB) em Recife, no primeiro turno, e Evandro Leitão (PT) em Fortaleza, numa disputa nervosa até o último minuto do segundo turno, contra o PL. Ok, os petistas não venceram em nenhuma capital nas duas últimas eleições, mas não dá para comemorar. No placar geral, ficou atrás até do moribundo PSDB.

Bolsonaro alavancou nomes desconhecidos por aí afora, mas todos os cinco candidatos que chegaram na frente no primeiro turno e perderam no segundo das capitais eram apoiados por ele. Significa que tem força, não maioria. Uma superbolha, mas ainda assim uma bolha.

Quem está de olho nela, desde já, é Kassab, que sabe operar politicamente as máquinas e os orçamentos, inclusive os secretos, Pix e outros do gênero. O que estará em jogo em 2026 será a corrida ao centro, ao Centrão e, evidentemente, ao seu eleitorado. Com que musculatura Lula, seu governo, o PT e a esquerda entram nesse jogo? O PT está perdendo o bonde, mas Lula precisa compreender, se é que já não sabe, que não só o futuro do PT, mas da própria esquerda, está nas suas mãos.

 

2 comentários:

Anônimo disse...

A menos de uma semana das eleições dos Estados Unidos, que vai mexer não só com o Brasil mas com o mundo, Quase nenhum jornalista ousa dar a sua opinião porque sabe a candidata Kamala Harry está naufragando, então é melhor não tocar nesse assunto
Tudo caminha para a vitória do Trump para o bem dos Estados Unidos e dos países ocidentais democráticos inclusive o nosso

ADEMAR AMANCIO disse...

Entre a direita e esquerda,eu ainda prefiro seguir à esquerda,mas torcendo para o centro triunfar.