terça-feira, 29 de outubro de 2024

Caiado quer disputa com Bolsonaro em 2026 - Caetano Tonet

Valor Econômico

Governador de Goiás impôs duas derrotas ao ex-presidente nas maiores cidades de seu Estado

Após vencer Jair Bolsonaro (PL) nas eleições das duas maiores cidades de seu Estado, o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União), reafirmou, em entrevista ao Valor, que será candidato à Presidência em 2026. O posicionamento, segundo ele, independe de Bolsonaro estar ou não na disputa do comando do país. Caiado defende, inclusive, o avanço das propostas de anistia que possam reverter a inelegibilidade do ex-presidente, condenado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) no ano passado.

“Deixa ele [Bolsonaro] vir para o jogo. A urna acaba sendo uma sentença. Tem uma capacidade de assepsia fora de comum. A urna é um grande antisséptico”, disse Caiado.

Bolsonaro foi declarado inelegível no ano passado por ter realizado uma reunião com embaixadores para afirmar, sem provas, que o sistema eletrônico de votação era vulnerável. O encontro, realizado em julho de 2022, foi transmitido pela TV Brasil.

O texto hoje em tramitação no Congresso não trata especificamente do caso do ex-presidente, e sim dos que participaram nos atos golpistas de 8 de janeiro. Mas há uma expectativa de que a matéria abra caminho para que ele também seja beneficiado.

“Em relação à anistia, eu sempre fui favorável. Eu fui o primeiro a falar isso. No início do ano, eu fui o primeiro a debater esse assunto. Os que estavam naquela invasão e se candidataram perderam todos”, acrescentou.

Apesar da vitória sobre Bolsonaro, Caiado reconhece a liderança do ex-presidente e não descarta uma reaproximação, mas questiona se é o suficiente para um candidato de direita vencer as eleições.

“Você não pode excluir do ex-presidente a liderança que ele tem, mas isso é suficiente para se ganhar uma eleição? Candidatar-se é uma coisa, ganhar a eleição é outra”, declarou Caiado.

Para o governador, as vitórias de Sandro Mabel (União), em Goiânia, e de Leandro Vilela (MDB), em Aparecida de Goiânia, sobre Fred Rodrigues (PL) e Professor Alcides (PL) respectivamente, mostram o fracasso da polarização.

“Onde essa polarização foi levada, ela foi derrotada. Isso não tem espaço em 2026. Se você polariza, você não tem capacidade de aglutinar. E sem aglutinar, você vai ganhar como? Se você continuar com essa coisa ideológica, você não vai dar conta de fazer seu candidato crescer. A lição maior na política é que derrotado não escreve história”, pontuou o governador.

“A eleição da agora mostrou isso de forma educativa. A eleição mostrou que o cidadão quer o equilíbrio, a moderação, a eficiência, a boa aplicação do dinheiro. Vai ganhar a eleição quem caminhar por aí”, acrescentou.

O governador defende que há espaço para que a direita tenha mais de um candidato em 2026 e citou os governadores Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, Ratinho Jr (PSD), do Paraná, Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul. O mais importante, segundo ele, é que haja um alinhamento de ideias para vencer o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em eventual segundo turno.

“Acho que vários candidatos podem se colocar. Nós temos Tarcísio, Zema, Ratinho Jr, Eduardo Leite e eu. Não vejo como caber apenas em uma candidatura todas essas tendências. Não tem problema nenhum porque o nosso sistema é para ter dois turnos”, pontuou o governador, reforçando que o pleito municipal mostrou que a direita não tem dono.

A lição maior na política é que derrotado não escreve históriaRonaldo Caiado

Segundo o governador, estratégias da centro-direita para 2026 vêm sendo debatidas em reuniões na casa do presidente do Progressistas, senador Ciro Nogueira (PI).

Caiado afirmou que é preciso prestar atenção no resultado expressivo da candidatura de Pablo Marçal (PRTB) à Prefeitura de São Paulo.

“A campanha dele pautou várias eleições pelo Brasil. A eleição mais comentada é a de São Paulo. Não era pelos dois candidatos, era por ele. Tem que entender isso. Não pode simplesmente falar: ‘Ah, não está certo. Ah, isso e aquilo’. Deixa o povo julgar. Agora, que ele tem força, capacidade de mobilização, tem. Qual vai ser o resultado que ele vai obter em 2026? Não sei. Isso nós todos vamos avaliar de acordo com a campanha.”

Questionado sobre como o fato de seu partido, o União Brasil, ter três ministros no governo Lula pode impactar nas pretensões para 2026, Caiado disse que a legenda precisará marcar um posicionamento com o fim das eleições municipais.

“Eu acho que isso veio até agora na eleição. Agora pra frente o partido vai ter que sinalizar qual é o caminho. Esse caminho até hoje veio com alguns deputados de Estados onde o Lula tem ampla maioria, representa o sentimento da região deles. Agora, no momento em que eu começar a caminhar o Brasil com mais intensidade, o partido não pode ficar nessa dúvida se é ou se não é”, declarou.

Caiado tem na segurança pública um dos pilares de sua gestão. A atuação nesse setor o ajudou a ser o governador mais bem avaliado do Brasil, mas as forças policiais do Estado são alvo de críticas pela truculência. Questionado, ele rechaça a fama e reitera que essa será sua grande bandeira em 2026.

“Acabar com quarto de motel em presídio é truculência? Acabar com cocaína é truculência?”, questionou.

O governador tem olhar crítico sobre a proposta de emenda à Constituição (PEC) idealizada pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, que confere à União mais ingerência nas ações de segurança pública e prevê a criação do Sistema Único de Segurança Pública (Susp).

“É uma concentração de poder. Isso não tem nenhuma consequência prática. Zero. Aqui não tem investimento nenhum do governo federal. Eu investi em cinco anos e meio R$ 17 bilhões. Eles passaram pra mim 900 milhões. Menos de um décimo do que eu gasto. Nunca me ajudaram aqui”, argumentou.

Na contramão do governo federal, Caiado defende mais autonomia para os entes federativos nas leis de segurança pública.

“O que nós precisamos é de uma PEC que vem exatamente dar ao artigo 24 da Constituição mais poder pra nós nos Estados. Agora mesmo eu tive que soltar bandido que botou fogo em canaviais porque eles não podem responder presos”, criticou o governador.

Ainda na linha da segurança pública, Caiado afirmou que pretende fazer uma visita ao ditador de El Salvador, Nayib Bukele, que baixou vertiginosamente os índices de violência no país por meio de ações questionáveis, como encarceramento em massa e violações de direitos humanos.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Ele devia estar preocupado com as rachadinhas de quem já é rico,coitado do pobre e preto.