Valor Econômico
Resultado das eleições legislativas mostram um eleitorado em mutação e em disputa em ambos os campos
Mais uma eleição se encerra. Partidos
celebram seus eleitos e minimizam a frustração das derrotas. Apesar de as
fotografias dos prefeitos eleitos nas principais capitais ocuparem as
principais páginas da edição de hoje dos jornais, o importante mesmo é não
perder de vista o filme que se desenrola ano após ano. No enredo da política
brasileira neste século, temos um “plot twist”, além de personagens principais
saindo de cena e dando lugar a novos protagonistas.
Para mostrar a evolução da disputa política neste século, calculei o percentual de votos que cada partido conquistou para o Legislativo - seja ele municipal, estadual ou federal. Eu gosto desta variável porque ela demonstra a força da legenda como um todo, e não apenas a dos candidatos para o Executivo, que tem um forte cunho personalista. Para além de medir a preferência dos eleitores, o número total de votos para o parlamento também reflete a capacidade de cada agremiação em atrair puxadores de votos para seus quadros.
Para ter uma visão geral da trajetória de
votos entre os partidos brasileiros, interpolamos as eleições para o
Legislativo municipal com os pleitos para deputado federal nos gráficos.
Como tendência geral, percebe-se que a
esquerda é mais forte nas eleições nacionais do que nas locais (as votações nos
Estados em geral ficam no meio das duas). Outro fato que chama a atenção é que
o centro e a direita vêm ganhando força na preferência do eleitorado brasileiro
desde o início da década passada, em detrimento das legendas de esquerda.
No pleito de 2010, que marca o encerramento
dos dois primeiros mandatos de Lula na Presidência da República, as siglas de
esquerda (PT, PDT, PSB, Psol, Rede, PV e outras menores) atingiram o pico de
votação para a Câmara dos Deputados, com 36,8% do total de votos. Desde então,
esse campo entrou em declínio, até chegar aos 21,1% alcançados no somatório dos
votos para vereadores neste ano - menor nível observado pelo bloco desde 2000.
Fenômeno reverso é observado pelo conjunto de
partidos de centro e à direita, que obtiveram neste ano seu melhor desempenho
(78,9%), patamar mais alto até mesmo do que o verificado durante a gestão
tucana de FHC e antes da ascensão do PT.
É interessante observar, porém, como se dá a
correlação de forças em cada um desses grupos. À esquerda, a reabilitação
eleitoral de Lula em 2022 fez com que os petistas atingissem uma participação
no total de votos na esquerda para deputado federal (47,2% em 2022) e para as
Câmaras Municipais (31% em 2024) bastante próximos da média do partido antes da
eclosão da Lava-Jato.
Já ao centro e à direita a dinâmica é bem
mais complexa. No início do século, a tríade PSDB, (P)MDB e PFL (depois DEM e
agora União Brasil) chegou a ser responsável por 50% dos votos que não eram de
esquerda nas eleições locais (2000) e mais de 60% na votação para a Câmara
(2002).
Com a derrocada do PSDB, a emergência do
bolsonarismo e a força do Centrão turbinada pelas emendas orçamentárias, o
campo da centro-direita e da direita encontra-se bem mais fragmentado. No total
dos votos para vereador deste ano, seis partidos tiveram quinhões bastante
representativos: MDB (10,3% do total), PSD (9,4%), PP (9,2%), PL (9,1%), União
(8,4%) e Republicanos (7,4%).
Com a esquerda em baixa, mas ainda liderada
pelo PT, e a direita em ascensão, porém dividida, começa hoje a ser escrito o
episódio 2026 desta emocionante série da política brasileira.
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