O Estado de S. Paulo
Eleições municipais projetam a volta ao centro, o que favorece Tarcísio de Freitas e Fernando Haddad
Eleições municipais não definem as
presidenciais, mas revelam o ambiente político e projetam – ou minam –
partidos, lideranças e candidaturas. Com o racha na “nova direita” bolsonarista
e o envelhecimento da esquerda, particularmente do PT, emergem ao palco o
governador de São Paulo, Tarcísio Gomes de Freitas, e o ministro da Fazenda,
Fernando Haddad, ambos fazendo movimentos ao centro. Tarcísio desliza para a
centro-direita, e Haddad, até pelo cargo, para a centro-esquerda.
Dizem que “Deus escreve certo por linhas tortas”. A eleição municipal, de forma tortuosa, complexa, parece empurrar a política brasileira para seu velho eixo, nem tanto à direita, nem tanto à esquerda. Que centro é esse, ainda não está claro, até pelo asfixiamento do centro não apenas no Brasil, mas nas Américas, na Europa, pelo mundo afora. O momento é de radicalização, mas há sinais da volta ao prumo no Brasil.
Um Pablo Marçal não surge à toa, do nada, mas
ele mostrou resultados antagônicos: a força de atração de uma parcela
significativa da sociedade para o discurso e o gestual estúpidos, agressivos,
absurdos, mas também a repulsa e a resistência da maioria. Como foi em São
Paulo.
A busca do equilíbrio não é nada fácil.
Tarcísio precisa, ao mesmo tempo, da marca Jair Bolsonaro e de se livrar da
acidez bolsonarista. Haddad só tem chance se batizado de novo pelo presidente
Lula, mas se desvencilhando dos erros, cicatrizes e falta de rumo e de
estratégia do PT.
Nessa equação, os primeiros obstáculos a
ultrapassar na corrida para 2026 estão dentro de casa. Os maiores inimigos de
Tarcísio já põem as manguinhas de fora: Bolsonaro, os filhos, os aliados raiz.
E os de Haddad são os que já puxam o tapete do ministro da Fazenda, imaginem do
eventual candidato a presidente? Quais? Os petistas, inclusive, ou
principalmente, os do comando do partido.
Para os bolsonaristas e parte do petismo,
Tarcísio e Haddad têm, vejam só, o mesmo “defeito”: são “liberais demais”. A
questão é que, apesar da explosão bolsonarista e do apelo das velhas ideias
petistas para a economia, por exemplo, a maioria do eleitorado brasileiro ainda
é exatamente assim: liberal, moderado ou... centrista.
Os tempos extraordinários de mensalão,
petrolão e do strike da política e dos políticos tradicionais, que empurrou
para o fundo do poço a polarização entre PSDB e PT e arranhou gravemente os
próprios PSDB e PT, aparentemente estão passando. O grande problema, agora, é
como distinguir centro de Centrão; direita de bolsonarismo e esquerda de PT. Há
vida política para além do fisiologismo do Centrão, da boçalidade do
bolsonarismo e do oportunismo petista.
Um comentário:
Tarcísio é um bolsonarista sem Bolsonaro,rs.
Postar um comentário