Folha de S. Paulo
Não colou estratégia de deputado do PSOL de
associar prefeito ao extremismo bolsonarista
Outro dia, numa mesa de bar, discutíamos a eleição para a Prefeitura de São Paulo. Alguns defendiam o voto em Boulos, apenas um em Nunes. Perguntaram a esse uma proposta do prefeito que ele achasse boa. Não soube dizer. Então foi ele que perguntou aos demais quais propostas de Boulos os tinham convencido. Também não conseguiram citar nem sequer uma. E são todas pessoas bem informadas, que assistiram a vários dos debates em que cada candidato empilhou proposta em cima de proposta. Mesmo assim, não sobrou nada. Uma verdade que insistimos em esquecer: não votamos em propostas, votamos em pessoas.
Proposta boa não tem dono. O candidato
vencedor pode tranquilamente incorporar propostas de um derrotado. É o que
Boulos fez com algumas das propostas de Marçal e
de Tabata. Assim como pode, no dia da posse, jogar no lixo o tal "plano de
governo" com que se elegeu. Quem governa não são ideias, e sim a pessoa
que foi eleita, mesmo que mude de ideia.
Caminhamos para um segundo turno que, pelas
pesquisas, deve reeleger o atual prefeito. Boulos deve repetir o desempenho de
2020: foi muito bem no primeiro turno, mas naufragou no segundo.
Em 2022, a cidade de São Paulo deu mais votos
a Lula que
a Bolsonaro. Não duvido que, nesses dois anos, o eleitorado tenha caminhado um
pouco para a direita. Mas não é isso que explica a provável vitória tranquila
de Nunes. A explicação é mais simples: Boulos X Nunes simplesmente não é uma
reedição de Lula X Bolsonaro. Nunes é um político de centro-direita, tem pouco
a ver com o extremismo bolsonarista, por mais que Boulos insista no contrário.
Não colou.
Também pesam sobre Nunes acusações de corrupção —baseadas principalmente no número de licitações em caráter emergencial, o que levanta dúvidas justificadas— e a ideia de que é um prefeito inoperante, que nada faz. Em meio a tantas acusações para todo lado no primeiro turno —inclusive de proximidade com o PCC—, talvez todas elas tenham se neutralizado.
Quanto a não fazer nada como prefeito, ele
apresenta os números e obras de seu governo. Apenas o incumbente pode mostrar
ao eleitorado uma lista dos projetos, das obras e das realizações nos mais de
três anos de mandato. Os demais, por definição, estão fora do poder e,
portanto, nada têm a mostrar naquele cargo. Quanto ao que Nunes mostrou: é
muito? É pouco? Ninguém fez questão de comparar de forma objetiva.
Boulos, mais uma vez, não conseguiu
transmitir uma imagem de mudança desejável para boa parte dos eleitores. Ainda
pesa sobre ele a pecha de radical. Ele seria um radical de esquerda que colocou
paletó e aparou a barba para passar uma imagem de moderado. Também não me
parece uma descrição justa, mas em política o que importa é a percepção. E se
vendeu como alguém que sempre foi moderado, sem fazer uma defesa clara de seu
passado de militância no MTST e
nos protestos de rua e mostrar exatamente em quê ele mudou —se é que houve
alguma mudança substancial.
Mesmo sem clareza das propostas, grande parte da população diz preferir o prefeito visto como insosso e pouco conhecido ao político de esquerda com promessas de mudança, mas visto como radical. Num país que dá passos consistentes para a direita, talvez isso guarde alguma lição para a esquerda.
2 comentários:
''Só um seria Nunes'',parece não ser ele,rs.
Joel Pinheiro da Fonseca não é Elio Gaspari.
Postar um comentário