Valor Econômico
A banqueiros Galípolo transpareceu esperanças
de que essas primeiras reações do mercado a pacote de ajuste fiscal não sejam
definitivas
O mercado financeiro reprecificou o cenário
para os juros depois do pacote fiscal. Chegaram a 70% as chances de uma alta de
juros de 0,75 ponto percentual na reunião do Comitê de Política Monetária
(Copom) do Banco Central da semana que vem. A probabilidade de uma nova
intensificação no ritmo de aperto em janeiro, para um ponto percentual, já é de
30%. A curva de juros embute uma taxa Selic ao fim do ciclo de aperto monetário
superior a 14% ao ano, nos maiores níveis das últimas duas décadas.
O que o BC deverá fazer diante dessa reação do mercado? O futuro presidente da instituição, Gabriel Galípolo, disse na semana passada que não briga com o mercado. Mas transpareceu, num almoço com banqueiros organizado na sexta pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), esperanças de que essas primeiras reações do mercado não sejam definitivas. “Esse processo está sendo digerido”, afirmou Galípolo.
Ele citou três coisas que, em tese, podem
fazer o humor do mercado melhorar um pouco, ainda que uma boa parte do estrago
pareça definitivo. Primeiro, as medidas não são conhecidas nos detalhes e,
portanto, os especialistas do mercado poderão rever as suas estimativas sobre
seu o impacto. Segundo, ele citou os pronunciamentos dos presidentes da Câmara
e do Senado que, no fundo, redimensionam as expectativas sobre a reforma
tributária sobre a renda. Por fim, lembrou que o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, disse que o pacote não é uma bala de prata para resolver o problema
fiscal. Ou seja, o governo pode lançar mão de novas medidas.
Há muitos pontos do pacote mal comunicados.
Também na Febraban, Haddad disse que a Desvinculação de Receitas Orçamentárias
(DRU) se tornou mais abrangente. A ministra do Planejamento, Simone Tebet,
informou que a desvinculação dos gastos de saúde e educação das receitas
-medida muito cobrada pelos especialistas - provocaria, na situação atual, uma
paradoxal expansão da despesa, não contenção.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL),
e do Senado, Rodrigo Pacheco (PDS-MG), colocaram vários poréns na tramitação da
proposta de reforma tributária da renda. Disseram que não deverá atrapalhar o
ajuste fiscal e que essa discussão tributária deve ficar mais para frente, em
2025. É possível que o projeto do governo tenha morrido.
O terceiro ponto citado por Galípolo será,
talvez, o mais importante para nortear a execução da política monetária: a
estratégia de consolidação fiscal do governo é gradualista. Haddad disse que,
ao longo do tempo, vai recalibrar as medidas para manter em pé o arcabouço
fiscal e para cumprir as metas de superávit primário.
É a continuidade do que já vinha sendo feito
na política fiscal. Ou seja, não houve modificações em relação às premissas
incluídas pelo Copom no cenário central. Isso significa que, por ora, não se
confirmaram dois cenários alternativos - um positivo e outro negativo - citados
por membros do comitê.
O atual presidente do BC, Roberto Campos
Neto, mencionou mais de uma vez a necessidade de um choque fiscal positivo.
Seria um pacote forte o suficiente para mudar as expectativas do mercado,
baixar o dólar e reancorar as expectativas de inflação. Junto, tudo isso
poderia aumentar a eficácia da política monetária, permitindo subir menos a
Selic.
Outro cenário alternativo que estava no radar
do Copom era o simples abandono das regras fiscais, o que significaria a
mudança do regime econômico. O diretor de assuntos internacionais do BC, Paulo
Picchetti, disse em outubro que essa hipótese significaria não apenas um salto
adicional do dólar e das expectativas de inflação, mas também uma transmissão
mais forte dessas variáveis para a inflação.
O presidente da Febraban, Isaac Sidney,
questionou Galípolo na sexta-feira se o Copom passaria a dar algum tipo de
“guidance”, ou indicação futura para os juros. Galípolo não respondeu
diretamente, mas não parece provável algum “guidance”.
O gradualismo na condução da política fiscal
significa, basicamente, a continuidade da incerteza, e deve reforçar a postura
dependente de dados do Copom. A estratégia de aperto monetário adotada até
agora parece funcionar para as circunstâncias atuais.
O Copom vai acelerar o ritmo de alta na
semana que vem? Quando muda o comando do BC, como está prestes a acontecer, os
novos dirigentes costumam ser mais conservadores para firmar sua credibilidade
junto aos participantes do mercado. Mas integrantes do Copom têm repetido que
não acreditam na estratégia de fazer um choque de juros como atalho. Preferem a
consistência das decisões ao longo do tempo.
Se vier alguma aceleração do aperto
monetário, portanto, provavelmente será porque, mesmo com todas as incerteza, o
cenário exige mais. Picchetti disse, em outubro, que faz parte do trabalho do
Copom recalibrar as suas projeções a cada reunião e tomar a sua decisão de
acordo com as circunstâncias.
Embora possa nortear a decisão da semana que
vem, essa projeção deverá dar poucas pistas sobre até que percentual chegará o
aperto monetário. Ou seja, ninguém vai saber ao certo se o BC acha que o juro
tem que ir para mais de 14%. O diretor de política econômica do BC, Diogo
Guillen, vem dando ênfase na trajetória dos juros, definida ao longo do caminho
para colocar a inflação na meta, em vez de um orçamento pré-definido.
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