quarta-feira, 3 de julho de 2024

Lu Aiko Otta - Ajuste fiscal de Lula poderá ter “bondades

Valor Econômico

Presidente e Haddad discutem hoje um leque de medidas destinadas a ajustar as contas públicas no período de 2024 a 2026

Um leque de medidas destinadas a ajustar as contas públicas no período de 2024 a 2026 deverá ser levado hoje pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Esta é a pauta da reunião, o que não impede que a escalada do dólar seja discutida.

No fiscal, quem espera sinais contundentes e definitivos de compromisso do atual governo com cortes de despesas poderá se decepcionar.

Na noite de segunda-feira, o ministro avisou que levaria um “diagnóstico geral das questões a serem enfrentadas” e que as medidas exigirão um “tempo de maturação”, até que o presidente esteja seguro de que as pessoas que precisam ser protegidas o serão.

A julgar pelo que está em discussão nos escalões técnicos, é possível até que os holofotes sejam dirigidos a políticas públicas novas, em vez de focar em cortes no Orçamento.

Há “bondades” em elaboração. Se tudo correr como o planejado, servirão para equilibrar a equação na qual está, de um lado, a necessidade do ajuste fiscal e, de outro, o custo político elevado que essas medidas podem ter.

A ideia é redirecionar recursos de programas que não estão dando o retorno esperado para financiar medidas novas. E, no processo, pegar um pedaço do dinheiro para reforçar o ajuste fiscal.

Essa combinação de “bondade” com “maldade” é um tipo de proposta que poderá ser levada hoje a Lula. São cirurgias delicadas no Orçamento que, ao menos neste momento, evitarão choques com grupos de pressão mais organizados.

Em outra frente, comenta-se nos bastidores que a Casa Civil tem cobrado dos ministérios um trabalho mais intenso de revisão de gastos. Neste ano, a expectativa é economizar R$ 7,2 bilhões em Previdência e R$ 2 bilhões no Proagro, com combate a irregularidades. Há pressão para novas rodadas que permitam elevar as economias a partir de 2025.

Outra frente, já conhecida, é a eliminação de gastos tributários. Na visão da Fazenda, não deve ser abandonada, apesar do revés que foi a devolução, pelo Congresso Nacional, da medida provisória que alterava regras para uso de créditos do PIS/Cofins.

As medidas mais duras que Lula descartou nas últimas semanas, como a ruptura do vínculo entre o salário mínimo e os benefícios previdenciários e assistenciais e a revisão dos pisos de despesas com saúde e educação, não saíram totalmente do radar. Simulações seguem em elaboração. Porém, é provável que fiquem na gaveta pelo menos até as eleições.

Com base nesse panorama, Haddad disse ter um “bom prognóstico” sobre a elaboração do Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) de 2025. A depender das decisões de Lula, há condições de elaborar uma proposta compatível com o déficit zero, que é a meta fiscal estabelecida para o ano que vem.

O ministro da Fazenda disse acreditar que, à medida que o cenário para as contas públicas ficar mais claro, as turbulências que têm levado o dólar às alturas arrefecerão. Avaliou ontem que é preciso melhorar a comunicação sobre o arcabouço e sobre o Banco Central para superar o atual período de tensão.

Lula eleva os riscos de fracassar nas urnas, ao não eliminar rapidamente as dúvidas que pairam sobre o rumo das contas públicas e sobre a autonomia do Banco Central. Este foi o recado repetido à exaustão pelos “pais” do Real, nas celebrações de 30 anos do plano, completados esta semana: a população não aceita dirigentes que colocam a inflação baixa sob risco. O dólar caro já causa estragos nos supermercados.

Calamidades

Não bastassem as dificuldades em equilibrar o Orçamento, surge no horizonte outra fonte de pressão: as calamidades.

“O presidente Lula sempre prioriza e acompanha diretamente a parte social”, disse à coluna o ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias, em conversa via aplicativo de mensagens, ao falar sobre a elaboração do PLOA 2025.

“São grandes os desafios por causa do crescimento muito acima do esperado sobre calamidades e emergências: Rio Grande do Sul e Sul do Brasil, incêndios no Pantanal, secas/ enchentes na Amazônia e Nordeste”, listou. “E enchentes no Sudeste! Novo normal climático demanda mais recursos do que antes eram previstos!”

A ministra do Planejamento, Simone Tebet, afirmou que não faltarão recursos para combater os incêndios no Pantanal e informou que poderá ser feito um crédito extraordinário ao orçamento. Ela visitou Mato Grosso do Sul ao lado da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.

O socorro ao Rio Grande do Sul, por sua vez, já soma R$ 39,1 bilhões, segundo dados do Ministério do Planejamento.

Não se questiona se os gaúchos e o pantaneiros precisam de ajuda federal, e não há dúvidas de que políticas públicas precisam responder à crise climática.

Porém, há no governo atenção para que haja critério, controle e proporcionalidade na liberação desses recursos. Os créditos extraordinários não afetam o cumprimento da meta fiscal nem o limite de despesas do arcabouço. Mas são gastos.

Precisamos falar sobre calamidades.

 

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