O Estado de S. Paulo
A eleição municipal paulistana indica desgaste das bolhas
O primeiro turno da eleição municipal
paulistana traz um problema para Lula e Bolsonaro, os donos das duas grandes
bolhas. Eles parecem menos influentes do que se supunha.
O cenário mais provável de um segundo turno
continua sendo o da polarização “normal” da política brasileira (é considerada
pequena a probabilidade de que o candidato da esquerda não chegue lá). Ainda
assim, permanecerá a sensação de desgaste das duas figuras.
O de Lula é mais evidente até mesmo na sua disposição física de encarar campanhas domésticas, diante de um mundo lá fora a ser salvo por ele. A questão central para o petista, porém, é o notável enfado que causam suas ideias antigas e seu apego a um passado que existiu sobretudo na sua própria cabeça.
O desgaste de Bolsonaro é produzido não só
pela perspectiva de longas batalhas jurídicas morro acima sem chances de se
tornar elegível (talvez escape da cadeia). Ele deixou de ser “novidade” na
vitrine das surpresas políticas e sua notória dificuldade de se concentrar em
eixos claros de atuação política diminuiu consideravelmente sua capacidade de
ungir candidatos.
É bastante óbvio que políticos disputando
eleições têm de se referir de uma forma ou outra aos donos das grandes bolhas.
Mas é muito mais pelo “constrangimento” que tanto Lula quanto Bolsonaro ainda
têm capacidade de criar.
Reza a doutrina que “toda política é local”,
o que parece ter menos validade quando é imenso o número de eleitores e são
muito complexos os fatores econômicos e sociais, que refletem e influenciam
condições “nacionais”. Nesse sentido, a eleição municipal paulistana é
preocupante para Lula e Bolsonaro.
Ela sugere algum grau de dissolução da
calcificação das bolhas descritas por analistas e acadêmicos, e calçadas em
convincente material empírico. O mais explícito foi o racha na bolha da
“direita”, onde ficou claro que Bolsonaro não foi capaz de consagrar um
sucessor inconteste. Mas também na esquerda, com o candidato em São Paulo se
esforçando para atingir um eleitorado além do tradicional reduto petista, no
que Lula tem se mostrado incapaz.
Há padrões “novos” incorporados na luta
política que nem Lula ou Bolsonaro estão sendo capazes de “conduzir”. Em parte
são valores como empreendedorismo ou religião que as estratégias de esquerda
têm dificuldades de entender e atingir.
Em parte são uma busca por direção, no campo
de centro-direita, que não se enxerga no bolsonarismo. É difícil prever como
esses padrões impactarão as eleições de 2026, mas o que acontece em São Paulo
indica que serão diferentes do que se pensava ainda no ano passado.
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