quinta-feira, 18 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Senado tem dever de barrar PEC da Blindagem

Por O Globo

Na prática, texto aprovado na Câmara transforma parlamentares em cidadãos acima da lei

Motivos não faltam para o Senado rejeitar ou engavetar a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Blindagem, aprovada na Câmara. A PEC abre caminho à impunidade no Congresso. Ao exigir licença da respectiva Casa para abertura de processos criminais contra parlamentares e ao incluir os presidentes de partidos políticos entre os submetidos ao foro do Supremo Tribunal Federal (STF), o texto tira do Judiciário autonomia para julgá-los. Na prática, transforma os ocupantes de cargos eleitos em cidadãos acima da lei. Basta lembrar que, ao longo dos 13 anos em que vigorou regra semelhante, apenas um parlamentar foi processado.

Retrocesso lamentável. Por Merval Pereira

O Globo

Resta ao Senado restaurar pelo menos em parte a credibilidade da classe política brasileira, derrubando a PEC da Blindagem

A impressão de fim de feira que o Congresso passa à opinião pública cobrará um preço alto em credibilidade de seus futuros integrantes, mesmo que eles não liguem muito para isso, mas apenas para a reeleição, que consideram garantida pelo volume de dinheiro com que podem contar, saído dos indecentes fundos eleitoral e partidário. Só a premissa de que poderão se reeleger dependendo do dinheiro que possam gastar na campanha, e não pela atuação no exercício do cargo, já demonstra o que a maioria dos parlamentares pensa sobre si e seus pares e, além deles, sobre os eleitores brasileiros.

O grande vencedor. Por Malu Gaspar

O Globo

A história da aprovação da PEC da Blindagem na Câmara dos Deputados na noite de terça-feira, a toque de caixa, com 344 votos de quase todos os partidos, equivale a uma espécie de manual de como opera a política no Brasil.

Antes de mais nada, é a prova de que, quando os nobres parlamentares querem, não há o que impeça nem o mais rematado dos absurdos. Há pelo menos quatro anos a ideia de dificultar ou impedir investigações contra parlamentares circula em diferentes formatos. A primeira versão, apresentada em 2021 na gestão de Arthur Lira (PP-AL), já previa que nenhum processo contra deputado ou senador poderia ser aberto sem autorização do próprio Congresso.

Sem escolta e sem blindagem. Por Julia Duailibi

O Globo

Assassinato desta semana reacendeu a sensação de insegurança entre servidores que investigaram o crime organizado

No dia 14 de março de 2003, por volta das 18h30, o carro do juiz corregedor Antônio José Machado Dias, depois de sair do fórum em Presidente Prudente, interior de São Paulo, foi fechado por um Fiat Uno. Um homem atirou quatro vezes com uma pistola 9mm. Um dos tiros atingiu a cabeça; outros, o braço e o peito. Ele perdeu o controle do carro, bateu numa árvore e morreu. Dois anos depois, em 23 de outubro de 2005, por volta das 17h, em Taubaté, também no interior, José Ismael Pedrosa, ex-diretor da Casa de Custódia da cidade, voltava para casa de um churrasco, quando sofreu uma emboscada. Foram 11 tiros no rosto, cabeça, abdômen e costas. Pedrosa morreu no local. Na última segunda-feira, Ruy Ferraz Fontes, ex-delegado-geral de São Paulo, após ser perseguido por um Hilux, bateu seu carro num ônibus. Dois homens desceram do veículo e dispararam. Ferraz foi executado não com quatro nem 11 tiros. Mas com 29 perfurações, feitas por fuzil.

Câmara aprova voto secreto para blindar parlamentares contra o Supremo. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Deputados agem como se pudessem reinventar o passado e ressuscitar mecanismos que sempre serviram à impunidade dos poderosos, sob comando de Hugo Motta

A Câmara dos Deputados decidiu restabelecer o voto secreto para analisar a abertura de processos contra parlamentares pelo Supremo Tribunal Federal (STF). Cerca de 70 congressistas estão sendo investigados por desvio de recursos de emendas parlamentares. A decisão é um retrocesso político, que visa a perpetuar várias práticas de autoproteção da atual “elite” política do Congresso.

Tal decisão, com tanta desfaçatez, fragiliza a democracia e desmoraliza uma de suas principais instituições. Quando havia essa prerrogativa, de 250 deputados investigados, somente um foi punido. Querem ressuscitar a regra porque os deputados dispõem de tantos recursos provenientes dessas emendas, em média R$ 50 milhões cada, que podem dar as costas à sociedade e comprar os votos necessários para sua reeleição, em evidente disparidade de armas em relação aos demais candidatos.

Reação à PEC mostra passo em falso de Hugo Motta. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Lula, Senado e STF reagem à investida da Câmara para blindar parlamentares

Os institutos que aferem a movimentação nas redes sociais amanheceram, nesta quarta, com um atestado inconteste de rejeição à PEC da blindagem. Do Senado, desde a véspera, já choviam reações negativas à proposta. Nada disso foi capaz de impedir que a Câmara dos Deputados, no início da tarde, ampliasse ainda mais a abrangência da PEC com o voto secreto às sessões destinadas a avalizar processos contra seus pares no Supremo Tribunal Federal.

Das razões desse desatino se depreendem muitas das motivações da caixa de ressonância e, principalmente, de dissonâncias, que está a ensurdecer a capital federal. O presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), chegou ao gabinete do presidente da República, na segunda-feira, como portador de uma proposta para que o governo apoiasse a PEC da blindagem em troca de uma anistia restrita à redução de penas.

Com PEC vergonhosa, Câmara chafurda em seu esgoto moral. Por Marcos Augusto Gonçalves

Folha de S. Paulo

Deputados aprovam liberdade para delinquência parlamentar e urgência de projeto desconhecido de anistia

Proposta, com voto secreto na blindagem, parece encomenda do PCC; caberá ao Sendo rejeitar descalabros

Com a aprovação da PEC da blindagem, já consagrada como PEC da bandidagem, a Câmara dos Deputados mostrou até que ponto vai a delinquência de sua maioria nesta legislatura. Os representantes do povo traem a missão republicana e colocam-se à altura de suas mais baixas ambições.

A bateria de dispositivos para impedir que congressistas possam responder à Justiça por suspeita ou evidência de crimes é uma das iniciativas mais descaradas da história política brasileira. A instituição do voto secreto para negar o acesso da lei à casta parlamentar, em mutreta do invertebrado Hugo Motta e do centrão, nos leva aos tempos da ditadura militar, quando se sustentava uma farsa no Congresso para tentar tapar com a peneira o vale tudo do arbítrio institucionalizado.

PEC da Blindagem e anistia são inconstitucionais. Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Medidas violam o princípio republicano de que ninguém está acima da lei

Constituição não permite a criação de uma casta de semideuses

O centrão e bolsonaristas querem praticar crimes, como golpe de Estado e corrupção, sem serem presos, condenados ou investigados.

É o que a PEC da Blindagem e o PL da anistia fazem. As medidas são inconstitucionais, porque, entre outras razões, restringem a função primordial de outro Poder —o Judiciário— de decidir sobre ilicitudes graves e violam o princípio republicano de que ninguém está acima da lei.

No Congresso, o fundo do poço não tem fim. Por Adriana Fernandes

Folha de S. Paulo

Manobra do PL para livrar Eduardo Bolsonaro desmoraliza a oposição

Motta precisa explicar se fez acordo com partido para aceitar filho de ex-presidente como líder mesmo fora do país

A indicação pelo PL de Eduardo Bolsonaro como líder da minoria na Câmara na tentativa de salvar o parlamentar de um processo de cassação do mandato por faltas é o retrato da completa desmoralização da oposição no Brasil.

Dos Estados Unidos, onde estimula o tarifaço de produtos brasileiros e novas ameaças de sanções do governo Donald Trump, o filho do ex-presidente Jair Bolsonaro não poderá despachar uma pauta, discutir as propostas, encaminhar a votação.

Que fazia a Jovem Pan no verão de 2023? Por Conrado Hübner Mendes

Folha de S. Paulo

Emissora foi voz estridente e contínua de apoio à insurreição

plano de golpe executado em 2023 não reuniu só Jair Bolsonaro e parceiros das Forças Armadas. Condenados criminalmente os oito operadores da cúpula do golpe e as centenas de militantes que depredaram a praça dos Três Poderes em 8 de janeiro, resta voltar os olhos para os agentes de mediação entre o alto e o baixo escalões.

Há quatro núcleos: o político, de lideranças partidárias e parlamentares que usaram do mandato para incentivar a quebra; o jurídico, para bloquear medidas de contenção e responsabilização, sobretudo a Procuradoria Geral da República; o financeiro, para pagar as contas; e o comunicativo, para incendiar a esfera pública e legitimar a insurreição.

A universidade desafiada. Por Maria Hermínia Tavares

Folha de S. Paulo

Os invasores da USP e o agressor da UFPR são abre-alas do que pode vir se seu bloco voltar ao governo federal

Desde maio, a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo foi invadida oito vezes por ativistas de extrema-direita. Arrancaram cartazes, provocaram tumulto, filmaram toda a confusão e -- como fizeram alguns dos invasores do 8 de janeiro-- divulgaram seus feitos nas redes sociais. O pretexto era denunciar os "comunistas da USP". Na última investida, um membro de certa "União Conservadora" mordeu e torceu o braço de um estudante. Os ataques contaram com o apoio entusiasmado de um deputado estadual bolsonarista e, pelo menos uma vez, com a participação de um estagiário da Assembleia Legislativa alocado no gabinete de outro representante do PL.

Na semana passada, a diretora do Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Paraná (UFPR), filha de um ministro do STF foi agredida com uma cusparada e chamada de "lixo comunista".

BC do Brasil reafirma sufoco do arrocho, BC dos EUA dá uma mãozinha. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Copom repete linguagem osso duro de roer e, sem novidades, dá sinal de Selic a 15% até 2026

Juro cai nos EUA, o que deve atrair mais dinheiro para cá e valorizar o real mais um pouco

Quem esperava corte da Selic ainda em dezembro deste ano pode tirar o cavalinho da chuva, que vai continuar a cair, segundo indicou o Banco Central no comunicado em que anunciou que a taxa básica de juros permanece em 15%.

Sim, o BC pode mudar de ideia se houver queda miraculosa das expectativas de inflação ou se ocorresse um improvável apagão brutal da atividade econômica. Por ora, não parece o caso.

A palavra do momento. Por William Waack

O Estado de S. Paulo

A crise brasileira mais abrangente está desmoralizando os seus principais atores

Olhando para a PEC da Blindagem na Câmara pode-se argumentar se é a esculhambação na política que leva a uma perda de juízo generalizada, ou se é o contrário. O resultado permanece o mesmo. É o agravamento de uma situação em si bastante perigosa, que vem se disseminando há bastante tempo e se solidificando em vastos estratos sociais, ignorando divisões ideológicas. É a ideia de que o “sistema” está quebrado.

A mira na anistia acertou o autoperdão. Por Carolina Brígido

O Estado de S. Paulo

Por ora, a anistia aos golpistas fica adiada para um momento político mais favorável

Com a desculpa de frear os supostos desmandos do Supremo Tribunal Federal (STF), deputados aprovaram uma emenda à Constituição para proteger a si mesmos de investigações criminais. A negociação começou com a tentativa de anistiar Jair Bolsonaro e outros sete réus da trama golpista, condenados na semana passada pela Corte. A Câmara, porém, considerou o autoperdão mais urgente.

Na votação da PEC da Blindagem, parlamentares usaram a anistia aos golpistas como moeda de troca para obtenção de benefício próprio. Hoje, deputados e senadores estão mais preocupados em se livrarem das dezenas de investigações que tramitam no Supremo sobre indícios de corrupção por meio de emendas.

Capas, togas e perucas. Por Eugênio Bucci

O Estado de S. Paulo

As pilosidades do jurídico não merecem o achincalhe. Já prestaram à deusa Têmis serviços mais valiosos que as tranças de Rapunzel ou os cachos de Sansão

Luís XIV, reida França, fez delas uma coqueluche. Nas vagas absolutistas entre os séculos 17 e 18, o famoso “Rei Sol” cintilava em perruques de cores várias: houve as escuras, as quase rubras e aquelas outras, em tons prateados. O monarca se esbaldava em mechas volumosas. Segundo os historiadores, sua intenção era disfarçara calva. Também há registros sob referidas cutâneas causadas pela sífilis que, aflorando no régio cocuruto, deveriam ficar escondidas. Outros sustentam que era só capricho fútil do solar chefe de Estado, apreciador de madeixas alheias. As razões, como se vê, podem ter sido múltiplas, mas o fato é que foi ele, Luís XIV, quem pôs na moda o adorno peludo.

Na Inglaterra, o rei Carlos II, também no século 17, cultivou gosto igual. Há retratos em que ele aparece coma coro a por cimada juba caudalosa, pujante e artificial. A exemplo doque sedaria em Paris, a estética real pesou sobre as cabeças da nobreza londrina e as melenas inautênticas se tornaram um costume fidalgo.

Executivo e Legislativo ignoram ordem e progresso. Por Roberto Macedo

O Estado de S. Paulo

O lema da nossa bandeira contrasta com o despreparo desses dois Poderes e assim não há condições de manter um crescimento mais forte e mais sustentável

Começando pelo Poder Executivo, a taxa de investimento da economia relativamente ao Produto Interno Bruto (PIB) é que move a taxa de crescimento econômico, mas o Executivo não dá importância a essa taxa de investimento nem à sua própria taxa de investimento público. Retomando trechos do meu artigo anterior neste espaço (PIB: mais um voo de galinha, A4, 4/9), vou mostrar a importância dessas taxas de investimento nas taxas anuais de crescimento do PIB. Num gráfico que apresenta essas taxas de crescimento de 1947 a 2024, distingo dois períodos. No primeiro, de 1947 a 1980, as taxas variavam entre 5% e 10%, e no segundo período, pós-1980 e até os dias atuais, a variação predominante tem sido apenas entre 0% e 5%. Em alguns poucos anos foram até negativas. Ou seja, no segundo período, o crescimento tem sido bem menor. Como se explica isso?

Poesia | Não sei se a vida é por demais para mim, de Fernando Pessoa

 

Música | Leila Pinheiro - Verde

 

quarta-feira, 17 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Não deve haver trégua no combate ao crime organizado

Por O Globo

Reação a assassinato de delegado deve ser implacável — e estritamente dentro da lei

Na segunda-feira, o ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes foi perseguido e alvejado a tiros depois de sair da Prefeitura de Praia Grande (SP), onde era secretário de Administração Pública. A identidade dos assassinos ainda não foi revelada, mas as circunstâncias sugerem o envolvimento do Primeiro Comando da Capital (PCC). Quando chefiava a Delegacia de Roubo a Bancos da Polícia Civil paulista em 2006, Ferraz foi responsável por indiciar toda a cúpula da facção criminosa. Há menos de três semanas, uma força-tarefa incluindo Polícia Federal (PF), Receita Federal e Ministério Público de São Paulo realizou a maior operação de asfixia financeira contra o PCC. A execução no litoral paulista, em via movimentada e horário de grande circulação, foi aparentemente uma reação destinada a chocar a opinião pública e amedrontar quem investiga o crime organizado.

Câmara manda às favas os escrúpulos. Por Vera Magalhães

O Globo

De todos que falham em temas urgentes, o Congresso tem o comportamento mais aviltante

A Operação Carbono Oculto, que revelou a extensão da infiltração do crime organizado na economia formal, parecia ter freado a ousadia da Câmara dos Deputados de seguir adiante com a indefensável PEC da Blindagem. Passados pouco mais de 15 dias, no entanto, os deputados deixam claro que não estão nem aí para essa e outras emergências do país. O que importa, mesmo, é agir em causa própria e garantir à classe política uma salvaguarda de que o restante da sociedade não dispõe.

A nova investida, muito mais convicta, vem noutro momento, em que fica gritante o contraste entre a realidade brasileira e a particular dos blindados: no dia seguinte à execução, no litoral paulista, do ex-delegado-geral de São Paulo Ruy Ferraz Fontes, um dos mais experientes policiais do país em enfrentamento ao PCC, a mais poderosa das facções criminosas brasileiras.

Se não estivessem tão afoitos para levar a cabo seu próprio “salve geral” — que inclui ainda a tentativa de passar a qualquer preço uma anistia aos condenados por tentativa de golpe de Estado —, os deputados, Hugo Motta à frente, poderiam estar empenhados em votar a PEC da Segurança e em pressionar o governo pelo envio imediato do Projeto de Lei antimáfia.

Paes no templo de Silas Malafaia. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Ao bajular pastor bolsonarista, prefeito do Rio volta a rasgar figurino da última campanha

Eduardo Paes não disfarça mais. Está contando os dias para abandonar a prefeitura e se candidatar outra vez ao governo do Rio. O futuro ex-prefeito já garantiu o apoio de Lula e do PT. Agora tenta avançar no campo bolsonarista.

No domingo, Paes foi a um culto na igreja de Silas Malafaia. Subiu ao púlpito e engrenou uma louvação ao pastor. “O Silas Malafaia me ama, gente. Ele ama todo mundo, mas me ama especialmente”, gracejou, depois de se gabar dos “20 anos de amizade” com o anfitrião.

Um cenário sobre as eleições em São Paulo. Por Lu Aiko Otta

Valor Econômico

Eleitos para o Senado podem ter papel decisivo para o país

Tão sazonal quanto as floradas dos ipês na estação seca do cerrado, começou a temporada das especulações pré-eleição em Brasília. Daqui a sete meses, terá lugar a revoada dos ministros e secretários que vão concorrer a algum cargo. Por isso, nos arredores da Praça dos Três Poderes só se pensa no pleito que acontecerá daqui a pouco mais de um ano.

O vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços, Geraldo Alckmin (PSB), costuma brincar, quando lhe perguntam sobre seus planos para 2026, que há dois ansiosos: os jornalistas e os políticos.

A coluna ouviu um integrante do governo que planeja deixar o cargo em abril. Falou do quadro em São Paulo.

Palavra de Bolsonaro tem grau especulativo. Por Fernando Exman

Valor Econômico

Não há garantia de que a palavra do ex-presidente Bolsonaro será mantida até o fim

A perspectiva de que a condenação de Jair Bolsonaro (PL) abre caminho para uma candidatura presidencial do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), gera euforia em setores do mercado e do Centrão. Nesses círculos, a tese é que as circunstâncias levarão Bolsonaro a sentir-se impelido a antecipar a chancela ao aliado e, assim, consolidá-lo como o nome do bolsonarismo e da centro-direita para 2026. Mas alto lá. A hipótese é fundamentada em uma premissa questionável, ou seja, que Bolsonaro cumpre acordos políticos.

PEC da Blindagem escancara a política, sem intermediários, ao crime. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

A PEC visa a blindar parlamentares de processos no STF, que só os julgaria mediante autorização de seus pares, além de incorporar presidentes de partidos ao rol de autoridades que têm foro no Supremo

A aprovação da PEC da Blindagem no mesmo dia em que a Câmara franqueia a liderança da minoria ao deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP) é autoexplicativa. A proposta de emenda constitucional visa a blindar parlamentares de processos no Supremo Tribunal Federal, que só os julgaria mediante autorização de seus pares.

Não se espere, porém, que esses pares se disponham a fazê-lo. Blindam o filho do ex-presidente com um cargo de líder para perdoar suas faltas, quando poderiam cassar seu mandato pela mais grave delas, a de traição da pátria. Não bastasse o tarifaço, o deputado endossou a ameaça da porta-voz da Casa Branca, Karoline Leavitt, de uma intervenção militar americana. É ainda mais grave que um líder defenda tamanha afronta.

Vale tudo para blindar deputados investigados e anistiar Bolsonaro. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

O ambiente é surreal. Enquanto a blindagem era discutida em plenário, a oposição indicou Eduardo Bolsonaro, que vive nos Estados Unidos, como líder da minoria na Câmara

A cena política brasileira nesta terça-feira poderia facilmente ter saído de um roteiro de novela. A Câmara dos Deputados decidiu votar a PEC das Prerrogativas, chamada de PEC da Blindagem, em meio a um ambiente de forte pressão do Supremo Tribunal Federal (STF) e de investigações sobre o mau uso das emendas parlamentares. A iniciativa revela a força de políticos enrolados em desvios de recursos públicos, que se escondem atrás do discurso de conter “avanços” do Judiciário sobre o Congresso. O que está em jogo não é a defesa da democracia, mas, sim, a tentativa de redesenhar as regras para escapar da responsabilização judicial.

A verdadeira motivação da PEC da Blindagem são as investigações a cargo da Controladoria-Geral da União (CGU) e da Polícia Federal para apurar irregularidades graves em emendas Pix, mecanismo que transfere recursos da União diretamente a estados e municípios sem rastreamento. Das 10 cidades que mais receberam recursos de emendas, relatórios apontaram desvios em pelo menos nove, e o ministro Flávio Dino, do STF, determinou o aprofundamento das apurações, com indícios de fraudes que envolvem prefeituras, empreiteiras e parlamentares que direcionaram recursos sem transparência. Trata-se de expor a engrenagem de um dos maiores esquemas de desvio de recursos públicos da história recente.

Onde estão os adultos? Por Cristovam Buarque*

Correio Braziliense

A prisão do ex-presidente e de militares golpistas é um passo histórico, mas insuficiente para garantir a consolidação democrática se os políticos continuarem brincando de política 

Depois da longa história de golpes contra a democracia, é natural que democratas comemorem a condenação de golpistas pela Justiça. Mas o Brasil precisa saber que juízes punem golpistas, mas não constroem democracia. Só políticos podem construí-la, se tiverem maturidade para fazê-la eficiente, justa e respeitada pela população. A indignação dos eleitores é mais indutora de golpes do que as armas de militares. A própria Justiça que prende golpistas, desincentiva a democracia quando, baseada nas leis da política, protege juízes corruptos com aposentadorias precoces no lugar de cadeia.

A anistia e a Constituição de 1988. Por Renato de Mello Jorge Silveira e Nicolau da Rocha Cavalcanti

O Estado de S. Paulo

A Constituição de 1988 é verdadeiramente fruto de uma anistia. Essa afirmação não está no plano da especulação política

Muito se tem falado, nos últimos tempos, sobre anistia de crimes antidemocráticos nos mais variados tons. Às vezes, ela é apresentada como elemento indispensável à pacificação do País. Outras, como um deboche com a jovem democracia brasileira, a exigir a mais cabal rejeição. Assim como toda a história do Direito Penal, sua trajetória é um pouco mais complexa do que se costuma pensar.

A Constituição de 1988 é verdadeiramente fruto de uma anistia. Essa afirmação não está no plano da especulação política. O mesmo ato – a Emenda Constitucional (EC) 26/1985 – que convocou a Assembleia Nacional Constituinte concedeu “anistia a todos os servidores públicos civis da Administração direta e indireta e militares, punidos por atos de exceção, institucionais ou complementares”. Concedeu, “igualmente, anistia aos autores de crimes políticos ou conexos, e aos dirigentes e representantes de organizações sindicais e estudantis, bem como aos servidores civis ou empregados que hajam sido demitidos ou dispensados por motivação exclusivamente política, com base em outros diplomas legais”.

A improvável aliança para rifar Bolsonaro. Por Vera Rosa

O Estado de S. Paulo

Centrão aceita votar contra anistia ampla, mas quer apoio do PT para se livrar de investigações

É grande a lista de jabutis por trás do projeto de anistia a Jair Bolsonaro. Longe dos holofotes, o Centrão passou as últimas horas costurando uma aliança com o PT e o governo para aprovar a PEC da Blindagem, que cria uma série de empecilhos para a prisão e a abertura de processos contra parlamentares.

Em troca, partidos do grupo – que em público juram fidelidade ao ex-presidente – ofereceram apoio aos petistas para derrotar o PL de Bolsonaro no plenário da Câmara. Traduzindo: o Centrão aceita votar contra a urgência do projeto que prevê anistia ampla, geral e irrestrita a Bolsonaro e aos envolvidos na trama golpista do 8 de Janeiro, mas quer ajuda para se livrar de investigações da Polícia Federal autorizadas pelo STF. O maior temor do bloco, no momento, é em relação aos processos sobre desvio de emendas, que têm alvejado seus integrantes.

IEPfD e Roda Democrática | A DEMOCRACIA DESAFIADA - O Julgamento da Trama Golpista

 

Tarcísio de Freitas, entre el perfil tecnocrático y el bolsonarismo. Por Fernando de la Cuadra

El Clarin (Chile)

Después de la condena de Jair Bolsonaro a 27 años y 3 meses de presidio, la extrema derecha busca con suma urgencia un posible candidato que la represente en las próximas elecciones del año que viene. Hasta aquí, quien aparece mejor evaluado en las encuestas políticas es el actual gobernador del Estado de Sao Paulo, Tarcísio de Freitas.

Tarcísio que se había erguido como una alternativa de la derecha conservadora, aunque con un sello tradicional, ha dado en el último periodo un claro giro hacia la ultraderecha, transformándose en uno de los principales articuladores de la “amnistía amplia, general e irrestricta” que vienen levantando los partidarios del bolsonarismo, tanto en el parlamento como en otras instancias del mundo político y social brasileño.

A melhor situação de emprego e salário em décadas e o destino da inflação. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Situação do mercado de trabalho afeta preços, mas menos do que se pensava faz dois anos

Estimativas de desemprego natural e PIB potencial ainda estão descalibradas ou erradas

Uma taxa de desemprego muito baixa pode acabar por aumentar custos de empresas e preços ("tudo mais constante"). Daí, pode contribuir para o aumento persistente de preços, para a inflação. Qual seria a taxa que não faz a inflação acelerar é um debate interminável e depende de contextos.

No Brasil de 2023, muita gente acreditava que essa taxa seria de algo perto de 8% —há quem acredite nisso até agora.

A taxa de desemprego em julho foi de 5,6%, muito menor. O rendimento médio do trabalho ("salário") está crescendo a 3,8% ao ano, em termos reais —além da inflação. A proporção da população em idade de trabalhar que está ocupada é a maior desde que há dados oficiais comparáveis (2012). A situação deve ser a melhor desde sempre.

Mas a taxa de inflação cai, embora lentamente. É verdade que o IPCA é empurrado para baixo pela valorização do real, pois o dólar cai no mundo inteiro, agora em ritmo um tanto maior aqui no Brasil por causa da taxa de juros muito alta, para não mencionar outras mãozinhas da economia mundial.

Nos EUA, a liberdade de expressão morre duas vezes. Por Rui Tavares

Folha de S. Paulo

Assassinato político pode ser pretexto para virada repressiva

Há quem divida a ética entre deontologia e consequencialismo —coisas que são moralmente erradas por princípio e coisas que são moralmente erradas porque as suas consequências são más. Para mim, a violência política, e em particular o assassinato de adversários políticos, é moralmente errada por ambas as razões e deve ser publicamente denunciada.

Não me desvio deste ponto de partida, mesmo se discordo e me causam repugnância as opiniões da vítima do assassinato. Diria mais: sobretudo nessas situações. A pedagogia de cada um de nós é mais necessária e eficaz junto da nossa família política e quando a vítima é da família política a que nos opomos.

A belicosa defesa da paz. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Os porta-vozes da anistia se contradizem ao adotar retórica agressiva em prol de uma conciliação

Os defensores de anistia aos golpistas condenados pelo Supremo Tribunal Federal falam genericamente em página virada e pacificação.

No entanto, não se ouve deles palavra sobre compromissos reais com a aludida paz. Pedem perdão, mas não fornecessem contrapartida alguma. Ao contrário: seus porta-vozes recorrem a discursos radicalizados e belicosos, produzindo uma inequívoca contradição nos próprios termos.

Democracia brasileira não será a mesma após o 11 de setembro. Por Wilson Gomes

Folha de S. Paulo

Julgamento rompe lógica de ela ser apenas um intervalo entre golpes e ditaduras

Levou uma vida para acontecer; a geração do meu pai não pôde ver algo assim

Quase metade do país, pelo menos neste momento, não consegue perceber o alcance histórico do que ocorreu no Supremo Tribunal Federal no último 11 de setembro . Há muita raiva política no ar, há a convicção disseminada de que se tratou de mais uma batalha na guerra entre dois lados e uma enorme vontade de revanche. Triste, mas natural: nas atuais circunstâncias políticas do país, dificilmente as coisas poderiam ser vistas de outro modo.

Mas a percepção pública não pode obscurecer os fatos. E o fato fundamental é que 11 de setembro de 2025, cedo ou tarde, entrará para a memória nacional como um dos dias mais decisivos da curta e intermitente história da nossa democracia.

Netanyahu está acabando com Israel. Por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Ofensiva terrestre contra Gaza trará mais mortes e sofrimento para palestinos e desgastará ainda mais imagem do Estado judeu

Israel deslanchou sua ofensiva militar terrestre contra a Faixa de Gaza. Veremos nas próximas horas e dias muito mais sofrimento, mortes e crimes de guerra e contra a humanidade. E o ataque não fará avançar os interesses do Estado de Israel. Pelo contrário, trará prejuízos.

Basta lembrar que os profissionais da guerra, isto é, o Estado-Maior das Forças Armadas de Israel, eram terminantemente contra a ofensiva, que viam como desgastante para as tropas e perigosa para os reféns.

Poesia | Somos todos poetas, de Murilo Mendes

 

Música | Carlos Lyra - "Benção Bossa Nova" com Wanda Sá, Roberto Menescal e Leila Pinheiro

 

terça-feira, 16 de setembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Normalização da violência política ameaça a democracia

Por Correio Braziliense

Tem-se perdido a capacidade de diálogo em detrimento de práticas covardes que abalam um dos pilares da democracia: o pluralismo

Em tempos de polarização exacerbada, os embates políticos ficam limitados aos fatos que "fogem da curva": sejam eles verdadeiros ou não. Assim, a notícia de um golpe bilionário em assistidos pelo INSS e a invenção de que creches públicas recebem mamadeiras eróticas mobilizam agentes políticos e cidadãos comuns da mesma forma, em uma falta de filtros que atravanca a condução de pautas imprescindíveis para o bom funcionamento do país. Essa agenda deslocada vai além: é cáustica para a convivência democrática, levando a uma espécie de normalização da violência política.

A execução a tiros de Charlie Kirk, nos Estados Unidos, na semana passada, é a prova mais recente de como esse fenômeno contamina o Brasil e o resto do mundo. A troca de acusações sobre as motivações do atirador se deu na mesma velocidade com que as imagens do influenciador sendo baleado no pescoço se disseminaram pelas redes sociais. Um suspeito chegou a ser preso logo em seguida ao crime, e o presidente Donald Trump tratou de inflar a disputa ideológica imediatamente. Culpou a "esquerda radical" por "demonizar aqueles de quem se discorda". O desenrolar das investigações evidenciou que veredictos não podem ser instantâneos.

Nova página. Por Merval Pereira

O Globo

Veremos se Tarcísio, com a radicalização que demonstrou nos dias recentes, não perdeu boa parte da centro-direita, da direita dita civilizada, abrindo espaço a outro governador, como Ratinho Junior, do Paraná, ou Ronaldo Caiado, de Goiás

A manobra que o presidente da Câmara, Hugo Motta, articula nos bastidores — derrotar a proposta de anistia ampla, geral e irrestrita para, em seu lugar, aprovar outra, que abra a condição de o Supremo Tribunal Federal (STF) reduzir penas já dadas aos integrantes da “massa de manobra” da intentona do 8 de janeiro de 2023, mas sem atingir os organizadores e financiadores da tentativa de golpe — pode ser arriscada, mas é uma solução para não pressionar o Supremo, que acabou de condenar os integrantes do “núcleo crucial”.

Sócios do golpismo sob a mira de mais delações. Por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Benefícios de Cid aquecem novamente o mercado de delações e facilitam a captura daqueles que, na política e no setor privado, engancharam os vagões seculares do atraso na carona da locomotiva golpista

O Supremo Tribunal Federal não se limitou a promover uma condenação inédita na história das quarteladas do país, também abriu as portas para que as delações sejam novamente recebidas na sala de visitas do combate à impunidade. O julgamento coincide com uma operação policial que pode levar ao banco dos réus aqueles que pegaram carona na irresponsabilidade bolsonarista que colocou o país no pódio de mortes da covid-19. Impunes, prosseguiram no assalto aos aposentados. E não apenas.

O ministro Flávio Dino foi o primeiro a demonstrar que as ações sob seu comando também podem ganhar um gás com a ressurreita delação. Nesta segunda, o ministro suspendeu repasses às emendas Pix de nove municípios, entre os quais duas capitais (Rio de Janeiro e Macapá), com base em relatório da Controladoria-Geral da União, e ainda encaminhou o apanhado para a Polícia Federal investigar os indícios de crime.

Mesmo condenado, Bolsonaro pauta agenda política. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A chamada “pacificação nacional” é defendida pelos bolsonaristas como eufemismo para impunidade. É uma encruzilhada: anistiar o crime de golpe de Estado ou enfrentar o risco de radicalização e instabilidade institucional

Menos de uma semana depois de ter sido condenado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) a 27 anos e três meses de prisão por tentativa de golpe de Estado e outros quatro crimes, o ex-presidente Jair Bolsonaro segue ditando a pauta política em Brasília. Embora em prisão domiciliar, continua articulando com aliados para reverter o efeito de sua condenação. Ontem, sua defesa pediu ao ministro Alexandre de Moraes autorização para receber visitas de lideranças estratégicas, entre elas o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), e o relator do projeto de anistia na Câmara, deputado Rodrigo Valadares (União Brasil-SE), que já apresentou parecer favorável à medida.

Bolsonaro conserva a capacidade de mobilizar sua base parlamentar e tensionar as instituições. Na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), a proposta de anistia avança com o apoio do PL e de setores do Centrão, sob a narrativa de “pacificação nacional”. Mas, na prática, funciona como um instrumento para esvaziar a decisão histórica do STF e abrir caminho para sua reabilitação política.