terça-feira, 2 de dezembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Derrota ambiental

Folha de S. Paulo

Ao derrubar vetos de Lula, Congresso mina desenvolvimento sustentável e contenção da crise do clima

Flexibilização sem respaldo técnico pode afetar agronegócio, devido a regras internacionais que limitam produtos ligados ao desmatamento

No meio do entrevero político entre Palácio do Planalto e Congresso Nacional, a preservação do ambiente sofreu derrota temerária quando Câmara e Senado, na quinta (27), derrubaram 52 dos 63 vetos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na lei que flexibiliza o licenciamento ambiental no país, aprovada pelos parlamentares em julho.

O setor de fato necessita de uma regulação mais moderna e simplificada, que alie a proteção de biomas ao desenvolvimento sustentável. Contudo, em vez de elaborarem uma abordagem técnica, parlamentares abusaram de dispositivos com viés paroquial ou que atendem a determinados grupos políticos e econômicos.

A progênie da brasilidade, por Merval Pereira

O Globo

De vez em quando, e com segundas intenções, os três filhos mais velhos de Bolsonaro se unem para afastar “interesseiros”.

A família Bolsonaro vem se esmerando em destruir-se publicamente, com intrigas e acusações em tom elevado que transformam a privacidade em ação política, para o bem e para o mal. Samuel Johnson, pensador britânico do século XVIII, dizia que os personagens das peças de Shakespeare resumiam a “progênie da humanidade”, sem faltar “nenhum tipo humano relevante, ou sentimento”. Como ele, muitos de nossos especialistas em Shakespeare gostam de fazer comparações de personagens dele com políticos brasileiros, pois também nossa política abarca a “progênie da brasilidade”, já que os parlamentares representam a diversidade dos eleitores. A começar pelo próprio Bolsonaro.

Usando comentários de amigos especialistas em Shakespeare, como o economista Gustavo Franco e o advogado e escritor José Roberto Castro Neves, que doam seu tempo para ilustrar amigos como eu nas sutilezas do mestre de Stratford-upon-Avon, não resisto a comparar a família Bolsonaro à família do Rei Lear, embora a deste fosse composta de filhas mulheres, e a daquele de homens. A tragédia da família Bolsonaro tem tons shakespearianos, e o ex-presidente brasileiro disputa o amor de seus filhos colocando uns contra os outros. Mas, de vez em quando, e com segundas intenções, os três mais velhos se unem para afastar “interesseiros”.

Descaminhos do Congresso, por Fernando Gabeira

O Globo

Redemocratização viveu sobressalto em 2018. Mas avisos já haviam sido dados nas manifestações de 2013

Parlamentares brasileiros, parabéns: vocês arrasaram. Numa só noite derrubaram os vetos de Lula ao projeto da devastação e demoliram o alicerce de nossa legislação ambiental.

Verdade é que foram cautelosos no timing de destruir as regras de licenciamento. Não foi durante a COP, para que os estrangeiros não vissem nosso atraso. Naturalmente, imaginam que as notícias não correm rápido, nem que temos concorrentes internacionais a nosso agronegócio. Daqui a pouco, poderíamos firmar o acordo entre Mercosul e União Europeia. A contribuição de vocês pode ser decisiva para o fracasso.

Vivemos semanas estranhas. Por delicadeza, veria nelas certo realismo fantástico dos trópicos. Mas seria comunicar uma aura romântica a algo que me parece pura degradação de nossa vida política.

Fim do ano melhor do que o esperado, por Míriam Leitão

O Globo

Inflação cai, preço dos alimentos surpreendem e dólar recua: 2025 termina melhor do que projetado pelos economistas

O ano termina melhor do que o esperado e melhor do que começou. No início de 2025, o cenário de mercado era de inflação em 6% e de alta de alimentos entre 8% e 9%. A projeção da inflação está entre 4% e 4,4%, e a inflação de alimentos fecha o ano em 1,35%. A taxa de câmbio estava em R$ 6,18 em janeiro. Atualmente, o dólar gira em torno de R$ 5,35. Quem faz essa comparação entre o que se esperava no começo do ano e o que realmente aconteceu é Mansueto Almeida, economista-chefe do BTG Pactual.

Alguns números da economia brasileira são realmente surpreendentes. A inflação de alimentos, por exemplo, fez uma trajetória totalmente diferente do que se esperava.

— No ano passado, a inflação de alimentos foi 8,2%, e foi um dos fatores que impactou negativamente a aprovação do presidente. No início do ano, a expectativa era de 9%. Vai fechar o ano em 1,3%. Houve uma queda muito forte da inflação de alimentos e o cenário em geral é bem melhor do que o projetado no começo do ano — disse Mansueto.

Europeus com o rabo entre as pernas, por Pedro Doria

O Globo

Regras para usos considerados de “alto risco” de IA foram adiadas para dezembro de 2027

Muito discretamente, no último dia 19, a Comissão Europeia soltou um comunicado à imprensa anunciando uma imensa mudança no pacote de regulações de inteligência artificial. Um press release, só isso. Horas depois, um funcionário da Comissão desceu para falar com repórteres e tentar saciar quaisquer dúvidas. Não era ninguém com cargo alto na burocracia. Quem escreveu sobre a coletiva improvisada nem mencionou seu nome. Foi assim que a Europa comunicou ao mundo que as pesadas regras para usos considerados de “alto risco” de IA não começam em agosto de 2026. Ficaram adiadas para dezembro de 2027. A UE deu para trás.

Quando a Lei de IA foi aprovada, em março de 2024, a presidente da Comissão, Ursula von der Leyen, fez discurso. A ela seguiu-se a vice-presidente, depois o comissário do Mercado Interno Europeu. Queriam as manchetes dos jornais do continente e conseguiram.

‘Gastança’ e circulação da renda, por Luiz Gonzaga Belluzzo

Valor Econômico

A análise de Keynes deve ser aplicada às decisões de gasto do governo: as autoridades podem decidir gastar mais em uma situação de desalento do dispêndio privado

Ao deambular pelos caminhos do debate econômico contemporâneo, a mídia frequentemente assusta o leitor ou espectador. Nos templos da austeridade, a fé midiática reza a ladainha da “gastança” e do risco fiscal. Os editoriais e opiniões — dia sim, outro também — reafirmam suas crenças ao exorcizar o Risco Fiscal, Demônio de Plantão. As manchetes que encimam as peças opinativas repetem à saciedade: “O Problema é o Gasto”.

As avaliações do momento econômico invertem as relações entre gasto e renda. Nota-se a prevalência de concepções que parecem acreditar na anterioridade da arrecadação de impostos em relação aos gastos do Estado. É a falácia que proclama “Primeiro arrecada e depois gasta”. Em sua dinâmica, as economias de mercado capitalistas insistem em desacreditar essa falácia.

Edinho Silva prega ‘maturidade’ em crise com Congresso

Por Camila Zarur / Valor Econômico

Presidente do PT minimizou tensionamento do Senado com governo federal

O presidente nacional do PT, Edinho Silva, minimizou o tensionamento das relações entre Legislativo e Executivo e afirmou que é preciso ter “maturidade política” para colocar os interesses da sociedade acima de “divergências menores”. A declaração foi dada pelo dirigente partidário na segunda-feira (1) em conversa com jornalistas, no Rio de Janeiro, e vem na esteira da mais nova crise institucional entre Planalto e Senado.

No domingo (30), o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), enviou uma carta pública ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticando a demora do mandatário em encaminhar ao Senado a indicação do advogado-geral da União (AGU), Jorge Messias, para a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal (STF). O senador também reclamou de que o Executivo estaria criando a “falsa impressão” de que “divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”.

Um plano B para Lula no STF, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Na eventualidade de Messias vir a ser rejeitado, alternativa é indicar uma mulher que enfrente golpistas

O mapa de votos em poder do Palácio do Planalto mostra que o ministro da Advocacia-Geral da União tem um terço dos votos do Senado. Um outro terço votará com o presidente da Casa. O terceiro votará contra a indicação de Jorge Messias para o Supremo Tribunal Federal. Sem o apoio do senador Davi Alcolumbre (União-AP), portanto, o ministro da AGU não chegaria a 30 votos.

O mesmo mapa parece ter norteado o presidente do Senado na carta divulgada neste domingo, um monumento à habilidade de tornar toda a Casa cúmplice de seu jogo. É possível que Alcolumbre não tenha posto cargos sobre a mesa neste momento, mas não dá para dizer que um presidente de Casa Legislativa que indica de ministérios (Desenvolvimento Regional e Comunicações) a postos comissionados do Senado, tome por ofensiva uma negociação que leve em conta a negociação de cargos.

Na rota de colisão com Alcolumbre, governo Lula corre risco de naufrágio, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A resistência a Messias reflete a nova correlação de forças do Senado. Alcolumbre tornou-se fiador informal das indicações ao Judiciário e não gostou de ver sua autoridade contrariada

Quando a marcação é constante e a distância diminui, a rota é de colisão, ensinam os velhos navegantes. É mais ou menos o que está acontecendo entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), por causa da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para uma vaga no Supremo Tribunal Federal (STF), em vez do nome do ex-presidente do Senado Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que teria amplo apoio dos colegas.

Criou-se uma situação muito complicada, porque Lula não pode recuar — se o fizer, não nomeará mais ninguém que dependa de aprovação do Senado — nem Alcolumbre pode perder a votação, porque isso fragilizaria sua liderança irremediavelmente. Caso o nome de Messias não seja aprovado, o que não acontece desde o governo do presidente Floriano Peixoto, no começo da República, Lula também não indicará Pacheco. Terá de apresentar outro nome, que forme maioria no Senado. É ou não é uma rota de colisão?

Michelle no olho do furacão, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

Crise com Michelle confirma que todos brigam e ninguém tem razão no PL e na família

O PL vai meter a colher hoje em mais uma crise na família Bolsonaro, que enveredou ainda mais profundamente por um caminho que pode ser definido como “todos brigam e ninguém tem razão”. Depois de meses de desgaste com as verdades sobre o golpe do patriarca Jair, as graves inconsequências do 03 Eduardo e, por último, o descontrole do até então controlado 01 Flávio, quem entra no olho do furacão é Michelle.

O presidente do partido, Valdemar Costa Neto, cortou o cargo e o salário de R$ 46 mil de Jair no PL depois da prisão definitiva, mas não mexeu nos de Michelle, importante ponte com o eleitorado feminino e evangélico que a leva aos vários cantos do País, à chance de disputar o Senado pelo DF e até – quem diria? – às pesquisas presidenciais de 2026.

Que Alcolumbre é esse? Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Hipótese 1. Davi Alcolumbre é um governista. Foi assim com Bolsonaro; e com Lula, até aqui. Um governista de oportunidades. Governista condicional, aquele tipo bem-disposto, que pende à facilitação, desde que contemplado a cada votação de interesse do Planalto. Contemplado com lotes de influência na superfície do Estado. Aquele Alcolumbre que, negociando, fez os vales dos rios São Francisco e Parnaíba se estenderem até o Amapá.

Esse mágico, tendo agendado a sabatina de Jorge Messias para o próximo dia 10 como forma de garantir a sua incontornabilidade no processo, estaria agora à espera Lula. Pronto para conversar. Em política, ponto de não retorno é temperatura difícil de alcançar. Alcolumbre, talvez esticando a corda com mais tensão que o habitual, teria estreitado a margem de negociação. Margem estreita não deixa de ser margem. Haveria um caminho.

O mapa ainda indica o caminho, por Jorge J. Okubaro

O Estado de S. Paulo

É preciso estabelecer metas, prazos, condições e responsabilidades para a redução, no ritmo possível, do uso dos combustíveis fósseis para assegurar vida melhor no futuro

A ausência de qualquer referência à expressão “combustíveis fósseis” no documento final da Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP-30), que se reuniu em Belém, dá a sensação de que alguma coisa muito importante para o futuro da humanidade foi deixada de lado. A sensação tem motivos. Um “mapa do caminho”, nome precioso de um roteiro que se pretendia desenhar para a transição energética que levasse à redução do uso de combustíveis fósseis até seu fim em algum momento, chegou a ser discutido com intensidade, mas nada disso apareceu no documento final. Houve, em alguns grupos ativos nas discussões, certa descrença na capacidade dos líderes mundiais de encontrar respostas efetivas para o aquecimento global.

Quem irá conter o Supremo? Por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Quem pode conter o STF por fora é o Congresso, seja pela votação de novos ministros ou outras vias

Na ausência da autocontenção, Legislativo não deve se furtar de agir

Uma série de bons artigos —Malu Gaspar e Pablo Ortellado no Globo, Fernando Schuler no Estadão e Lygia Maria aqui na Folha— tem debatido os possíveis abusos do Supremo no contexto da trama golpista. Agora que Bolsonaro foi condenado, é hora do Supremo conter os abusos que foram necessários para condená-lo e voltar à normalidade. Claro que a própria Justiça não pode jamais aceitar esses termos, pois seria a admissão de uma Justiça parcial e, portanto, injusta, mas é assim que o debate público tem tratado a questão.

Não vi ainda argumento decisivo para a premissa central aí: a de que os "abusos" do Supremo (lembrando que todos têm suas justificativas jurídicas) foram necessários, decisivos, para as condenações.

Em alguns casos isso é obviamente falso. Tanto a decisão de levar o caso para a primeira turma —em vez do plenário— e a decisão de Moraes de não se declarar impedido para julgar o caso são decisões frequentemente apontadas como abusivas. Independentemente de se a crítica é correta ou não, elas foram irrelevantes para o resultado final. Os golpistas terminariam condenados de qualquer jeito. Mas e sem os inquéritos de ofício, mantidos durante a longa omissão da PGR? Sem eles, haveria a denúncia e o caso? Talvez nunca saibamos.

Sem anistias, por Hélio Schwartsman

Folha de S. Paulo

Premiê israelense submete pedido de perdão judicial ao presidente Isaac Herzog

Países em que erosão institucional não foi completa deveriam rejeitar casuísmos

Binyamin Netanyahu, o primeiro-ministro de Israelsolicitou perdão judicial ao presidente do país, Isaac Herzog. Netanyahu responde a três processos criminais por corrupção, fraude e quebra de confiança. Em Israel, o cargo de presidente é essencialmente cerimonial, mas conserva alguns poderes reais, incluindo o de graça.

A exemplo da cogitada anistia a Jair Bolsonaro, esse é um tema que divide o país. Netanyahu, a exemplo do que dizem bolsonaristas, afirma que o perdão é necessário para a reconciliação nacional. Quem é contra a medida pondera que livrar a barra do premiê sem nenhum tipo de punição e sem que ele nem precise admitir culpa seria um incentivo ao vandalismo institucional.

Cacoete não republicano faz a crise, por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

Sendo papel do Senado aprovar indicação ao STF, em tese uma recusa não seria razão de conflito

O hábito da sabatina apenas protocolar fez da desaprovação uma derrota do presidente a ser evitada

Qual seria o tamanho, a durabilidade e os efeitos da presumida crise institucional caso o Senado recuse a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para o Supremo Tribunal Federal?

Não há resposta precisa, mas há suposições possíveis. A falta do elemento surpresa diminuiria a dimensão; com altos e baixos, o conflito duraria até a eleição do próximo Congresso e a consequência tanto pode ser o acirramento como o apaziguamento pragmático dos ânimos, a depender dos interesses em jogo.

Que segredos Ramagem, ex-chefe da Abin, levou para os EUA? Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Condenado na trama golpista, deputado passou a perna no Judiciário

Decisão de entregá-lo às autoridades brasileiras está nas mãos de Trump

Que segredos e mistérios esconde Alexandre Ramagem? Que tipo de vantagem ou chantagem ele tem na manga?

O arrivista que em 2018 se aproximou de Bolsonaro após a facada em Juiz de Fora e um ano depois foi nomeado diretor-geral da Abin está leve e solto, curtindo a vida adoidado em Miami, enquanto os comparsas do chamado núcleo crucial da trama golpista se veem obrigados a ler "Crime e Castigo", de Dostoiévski, para reduzir a pena e a caprichar nos atestados médicos para mudar de endereço. Eis por que advogados do general Heleno alegaram que seu cliente começou a sofrer de Alzheimer em 2018 —que ano terrível para todos os brasileiros, não?

Poesia | Ode Marcial, de Fernando Pessoa

 

Música | Gal Costa - Folhetim (Chico Buarque)

 

segunda-feira, 1 de dezembro de 2025

Opinião do dia – Paul Samuelson*

“De que uma economia é inservível se não opera no sentido de indicar os meios pelos quais, com recursos escassos, se possa promover o máximo de bem-estar possível para a maior parte da população."

*Paul Samuelson (1915-2009), economista norte-americano, amplamente reconhecido como um dos formuladores mais importantes das ciências econômicas modernas. Prêmio Nobel de Economia,1994.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

PL do devedor contumaz merece tramitação célere

Por O Globo 

Proposta só avançou depois de operações contra PCC e Refit. Não é preciso esperar outra para aprová-la

Foi preciso autoridades estaduais e federais deflagarem a megaoperação contra o grupo do setor de combustíveis Refit, apontado como maior sonegador do país, para que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), anunciasse o relator do projeto de combate a devedores contumazes, deputado Antonio Carlos Rodrigues (PL-SP). Espera-se que não haja mais procrastinação. É inaceitável que empresas usem a inadimplência fiscal como estratégia de negócio, deixando de pagar impostos de forma intencional e reiterada para levar vantagem sobre a concorrência.

A proposta cria o Código de Defesa do Contribuinte para coibir a atuação de fraudadores. De autoria do senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), ela toma o cuidado de não atingir empreendedores de boa-fé em dificuldades financeiras. Não será afetado quem tiver aderido a programas de regularização com o Fisco ou questione a dívida nas esferas administrativa ou judicial, tendo apresentado garantias ou amparado por teses de repercussão geral.

Chantagens que custam bilhões à sociedade, por Bruno Carazza

Valor Econômico

A prática de aprovar pautas-bomba quando o Presidente desagrada o Parlamento não vem de hoje, mas precisa ser eliminada do jogo político brasileiro

Tudo bem o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), preferir seu colega Rodrigo Pacheco (PSD-MG) para ocupar a cadeira de ministro do Supremo Tribunal Federal. Acontece que essa competência cabe ao chefe do Poder Executivo - e Lula optou por Jorge Messias. Faz parte do jogo. O que não dá é, em retaliação, querer impor uma conta bilionária para a sociedade devido à sua insatisfação política.

Em nota oficial divulgada nesse domingo (30), Alcolumbre negou que “divergências entre os Poderes são resolvidas por ajuste de interesse fisiológico, com cargos e emendas”. Para ele, o presidente da República tem a prerrogativa de indicar ministros ao STF, enquanto é tarefa dos senadores aprovar ou rejeitar o nome. Se fosse simplesmente assim, estava resolvida a questão.

Tarcísio reforça alinhamento com bolsonarismo

Por Cristiane Agostine e Lilian Venturini / Valor Econômico

Governador adota pautas como anistia a Bolsonaro, ataques ao STF, defesa de prisão perpétua e cita El Salvador como exemplo de modelo de segurança a ser seguido

Cotado para ser o candidato da direita na disputa presidencial de 2026, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), reforçou seu alinhamento com o bolsonarismo e tem feito gestos para demonstrar sua lealdade ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), preso após condenação por tentativa de golpe de Estado. Tarcísio adotou pautas como a anistia e o indulto a Bolsonaro, articula no Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar garantir a prisão domiciliar do ex-presidente e definiu como uma de suas bandeiras a linha-dura na política de segurança, com a defesa até mesmo de prisão perpétua para criminosos no país.

Entrevista | Direita vive atritos sem sinalização de Bolsonaro sobre sucessor

Por Joelmir Tavares / Valor Econômico

Fragmentação em 2026 pode beneficiar Lula, diz cientista política Graziella Testa

Preso na última semana, o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) “não está fora do jogo eleitoral”, mas pode ver seu campo político chegar dividido à eleição de 2026, por ter aberto mão de organizar a sucessão política na direita antes de começar a cumprir sua pena, o que pode favorecer o projeto de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). A análise é de Graziella Testa, doutora em ciência política pela Universidade de São Paulo (USP) e professora da Universidade Federal do Paraná (UFPR).

Bolsonaro - que foi condenado pela Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) a uma pena de 27 anos por tentativa de golpe de Estado e está inelegível até 2060 - deverá ainda ser um cabo eleitoral relevante no próximo ano, na avaliação da especialista, mas é exagerado esperar uma transferência automática de votos do ex-presidente, seja para alguém da família ou não.

Os governadores cotados para a corrida presidencial, como o de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), tendem a continuar na “tentativa de equilibrar pratinhos”, diz Testa, sobre a postura de evitar um rompimento com o bolsonarismo e acenar ao centro, faixa do eleitorado que ela considera decisiva no resultado.

Apesar dos problemas na oposição, Lula vive uma situação na relação com o Congresso que “sempre tem como ficar pior”, analisa a professora, ao comentar as rusgas com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP). A proximidade cada vez maior das eleições e o poder anabolizado de partidos do Centrão ajudam a explicar as novas tensões, diz ela.

A seguir os principais pontos da entrevista ao Valor:

Mito? Por Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

O problema que se coloca é o de como o bolsonarismo pode sobreviver sem um líder

A imagem do ex-presidente Bolsonaro, em vídeo gravado sobre a violação da tornozeleira eletrônica, é devastadora, fazendo desmoronar sua figura pública. No exercício da Presidência, transmitia a mensagem da masculinidade em motociatas que atravessavam o País, apresentando-se, em casaco de couro, como um mito imbatível, capaz de superar toda e qualquer adversidade. Começou a fraquejar quando a tentativa de golpe se mostrou inviável, dada a intervenção do Alto Comando do Exército, recluindo-se cada vez mais. Após ter se tornado réu, recolheu-se à prisão domiciliar, culminando nessa cena patética de um homem que confessa, abatido, candidamente, para uma agente penitenciária, que violou a tornozeleira eletrônica com um ferro de solda. Ela, inclusive, se dirige a ele como “seu Jair”, sem nenhuma consideração para com sua prerrogativa presidencial.

Sem vencedores na guerra entre Poderes, por Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

A análise aos vetos pode replicar o que atingiu a Lei de Licenciamento Ambiental

A frase “vencer uma guerra é tão desastroso quanto perdê-la”, de autoria da escritora britânica Agatha Christie (1890-1976), certamente se aplica aos embates atuais entre o governo Lula e o Congresso Nacional. Seria compreensível se o comportamento de ambos os lados se justificasse ao menos pela necessidade de sobrevivência, ou seja, evitar ser obliterado eleitoralmente no pleito de 2026. Mas não é assim.

No Legislativo, a oposição faz o que oposições fazem para marcar posição, custe a quem custar. E o Centrão trata de mostrar quem dá as cartas – até mais do que de fato suas atribuições permitem. Lula, do outro lado, estaria decidido a não ceder às pressões do Congresso ou a não fazer o ramerrame necessário da articulação política, crente de que o esperneio legislativo será compreendido em ano eleitoral como um jogo das elites, acima do qual ele pretende pairar impávido.

Europa está numa encruzilhada histórica, por Oliver Stuenkel

O Estado de S. Paulo

A União Europeia consegue operar em um cenário de rivalidade entre grandes potências?

Depois de séculos exercendo um papel central na ordem internacional e projetando poder para além de suas fronteiras, a Europa encontra-se na defensiva, tentando administrar e conter o peso de China, EUA e Rússia dentro e ao redor de seu território. Esse fenômeno, apelidado de “corrida pela Europa” por analistas como Gideon Rachman, no Financial Times, reflete o novo cenário em que atores de fora disputam influência no continente. A dificuldade europeia de responder à altura à invasão russa à Ucrânia, à concorrência tecnológica chinesa e às tarifas dos EUA são reflexo de sua atual fragilidade e divisão interna.

A lei é definitiva, até mudar, por Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

O arranjo é conhecido há décadas: o vencimento básico fica abaixo do teto, mas aí se somam os penduricalhos

À primeira vista, parece não existir qualquer exagero ou problema econômico na remuneração dos servidores públicos. Desses, segundo um estudo por amostragem, apenas 1,34% recebem acima do teto constitucional de exatos R$ 46.336,19 mensais. Haveria aí, no máximo, um problema moral — a desigualdade salarial dentro do funcionalismo —, mas nenhum dano econômico substantivo para as finanças do país.

É verdade que existe um problema moral nessa história —, mas não é a desigualdade. Ou, pelo menos, a desigualdade não é o principal desequilíbrio. A verdadeira questão aparece numa segunda vista, quando se olha quem recebe as remunerações acima do teto. São principalmente os juízes — cuja função é fazer cumprir as leis.

Tornozeleira fala, por Miguel de Almeida

O Globo

Muitos ouvem vozes. São sintomas da democracia. Até escolher mal faz parte

Quando escrevi aqui que Bolsonaro parecia ouvir vozes, leitores me condenaram. Não direi felizmente, mas agora ele mesmo confessou o fato ao tentar romper a tornozeleira. Acreditou que o aparelho emitisse mensagens — talvez alienígenas. Dá para entender, enfim, a lógica por trás de seus seguidores e de hábitos tão estranhos quanto ajoelhar-se e rezar para um pneu.

Nesse cenário existem dois atores — o ex-presidente e seus simpatizantes radicais. A mão e a luva. O político não existiria sem eles. Suas parvoíces, insultos e preconceitos encontram eco — e voto — numa parcela da população.

O capitão deu rosto ao “tiozão do zap”, o personagem doméstico que repassa fake news e tem opinião até sobre embargos infringentes. O tiozão pode ser o tio, o cunhado ou aquele parente que nunca se interessou por política. Claro que é um comportamento importante, porque traz ao debate público personagens ausentes. Mobiliza.

Reparação racial é necessária, por Irapuã Santana

O Globo

Não se trata só de reconhecer o racismo, mas de efetivar a responsabilidade civil do Estado de forma concreta

O STF retomou recentemente o julgamento da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF) 973, ação que traz à luz o debate imprescindível sobre as violações maciças de direitos da população negra no Brasil.

Nesse cenário, é imperativo iniciar a análise com um justo e necessário elogio à postura do ministro Luiz Fux, cujo voto demonstrou sensibilidade ímpar e compromisso republicano ao reconhecer a omissão histórica do Estado brasileiro no enfrentamento ao racismo.

O ministro, com a dignidade que o cargo exige, não se furtou a diagnosticar a gravidade do cenário, denunciando medidas que visaram a impor à população negra um ciclo perverso de exclusão e violência, tornando sua relatoria um marco de reconhecimento institucional que merece todos os aplausos da sociedade civil e trazendo um filtro antidiscriminatório ao Direito Constitucional brasileiro, que servirá de estudo para as futuras gerações.

O apoio silencioso que pode virar o jogo a favor de Messias no Senado, por Malu Gaspar

O Globo

Enquanto mapeiam votos e fazem as costuras políticas no Senado, aliados de Jorge Messias acreditam que ele vá contar com um apoio importante, mas silencioso, na batalha para driblar a resistência do presidente da Casa, Davi Alcolumbre (União Brasil-AP), e conseguir os 41 votos necessários para confirmar a sua indicação para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Pelo menos cinco aliados de Messias ouvidos reservadamente pelo blog calculam que muitos senadores evangélicos, inclusive os bolsonaristas, podem votar favoravelmente mesmo que nunca admitam em público.

A análise da indicação de Messias está marcada para o próximo dia 10 e o voto é secreto, o que abre margem para traições de todos os lados.

Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil, por Ivan Alves Filho

“Se todos quisermos, poderemos fazer deste país uma grande nação. Vamos fazê-la”. Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes

Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil uma vez que apresentamos quase quarenta cinco mil assassinatos por ano. 

Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil quando os dados apontam que existem cerca de trinta e cinco mil acidentes fatais de trânsito anualmente. 

Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil quando, entre as 20 cidades mais perigosas do mundo, duas são brasileiras, a saber, Rio de Janeiro e São Paulo.

Eu gostaria de saber o que está acontecendo com o Brasil quando duplicamos, em 15 anos, se tanto, o número de pessoas morando em favelas, hoje em torno de 16 milhões de brasileiros.

Democracia parece valor secundário para parte da elite política brasileira, por Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

Punição a golpistas convive com um eleitorado disposto a flexibilizar a defesa da democracia e aceitar desvios autoritários

Racionalidade semelhante orienta setores da elite política de oposição ao governo Lula, ainda que não necessariamente bolsonaristas

A recente condenação e prisão de um ex-presidente e de militares de alta patente por planejarem e tentarem derrubar o regime democrático brasileiro deveria revigorar nossas esperanças na resiliência da democracia.

Ainda assim, esse tipo de evidência judicial e institucional precisa ser interpretado com cautela, pois pesquisas mostram que eleitores podem relativizar princípios democráticos quando outros valores pesam mais.

Pesquisas de opinião reforçam essa impressão. Levantamento do Datafolha realizado a pedido da OAB mostra que 74% dos entrevistados afirmaram que a democracia é sempre melhor que qualquer forma de governo, sugerindo um consenso normativo em torno da democracia.

O que não mata a democracia a fortalece? Por Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

A punição aos envolvidos no complô terá efeito dissuasório; mas, isso já ocorrera porque o desfecho foi o não evento

O que teria ocorrido sob o contrafactual do encarceramento de Getúlio após o Estado Novo?

Mitrídates 6º foi rei do Reino do Ponto, um estado localizado no norte da Anatólia. Seu pai, Mitrídates 5º, governou o Ponto até ser assassinado por envenenamento. Temendo sofrer destino semelhante, Mitrídates 6º passou a ingerir diariamente pequenas doses de diferentes tipos de veneno como forma de desenvolver tolerância. Ironicamente, essa estratégia teve consequências inesperadas: ao tentar suicidar-se após a invasão do Ponto pelo Império Romano, não teve sucesso devido ao elevado grau de imunidade que havia adquirido. O que o levou a ordenar que um guarda o assassinasse.

A prática deu origem ao termo "mitridização", o processo pelo qual organismos vivos, mediante exposição contínua e crescente a determinadas toxinas, desenvolvem resistência ou imunidade a elas. Trata-se de um mecanismo baseado na sensibilização progressiva e na produção de defesas específicas contra o agente tóxico.

Congresso é a maior fonte de risco fiscal antes das eleições, por Silvio Cascione

O Estado de S. Paulo

Pautas-bomba surgem de repente, e é difícil prever o próximo movimento e quanto ele custará

O maior risco fiscal antes das eleições de 2026 não vem do Poder Executivo, mas do Congresso. Iniciativas legislativas de forte apelo social e alto custo têm avançado sem coordenação com a equipe econômica e sem indicação de fontes de financiamento. A mais emblemática é o PLP 185, aprovado por larga maioria no Senado, que cria aposentadoria especial com integralidade e paridade para agentes comunitários de saúde e de combate a endemias. Trata-se de um debate legítimo sobre o papel central desses profissionais no SUS, mas que hoje é instrumentalizado politicamente para impor uma derrota ao governo, num momento em que as tensões entre Planalto e Congresso são mais visíveis.

Poesia | Poema em linha reta, de Fernando Pessoa

 

Música | Roberta Sá e Zeca Pagodinho - Pago pra ver (Nelson Rufino e Toninho Geraes)

 

domingo, 30 de novembro de 2025

Opinião do dia - Norberto Bobbio* (Democracia)

“Na memória histórica dos povos europeus, a democracia apresenta-se pela primeira vez através da imagem da agorá ateniense, a assembleia ao ar livre onde se reúnem os cidadãos para ouvir os oradores e então expressar sua opinião erguendo a mão. Na passagem da democracia direta para a democracia representativa (da democracia dos antigos para a democracia dos modernos), desaparece a praça, mas não a exigência de “visibilidade” do poder, que passa a ser satisfeita de outra maneira, com a publicidade das sessões do parlamento, com a formação de uma opinião pública através do exercício da liberdade de imprensa, com a solicitação dirigida aos líderes políticos de que façam suas declarações através dos meios de comunicação de massa.”

*Norberto Bobbio (1909-2004), filósofo político, historiador do pensamento político, escritor e senador vitalício italiano. Teoria Geral da Política - A Filosofia Política e as Lições dos Clássicos. P.387.Editora Campus, Rio de Janeiro. 2000.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Supersalários são combustível da desigualdade

Por O Globo

Remuneração acima do teto recebida pela elite do funcionalismo custa R$ 20 bilhões ao ano, conclui estudo

Não é surpreendente, mas nem por isso deixa de ser estarrecedor o quadro exposto pelo estudo a respeito de supersalários no poder público realizado pelo pesquisador Sérgio Guedes-Reis para as organizações da sociedade civil República.org e Movimento Pessoas à Frente. O gasto brasileiro com pagamentos acima do teto salarial estipulado na Constituição somou nada menos que R$ 20 bilhões entre agosto de 2024 e julho deste ano — ou dois terços do que o governo busca para cumprir a meta fiscal do ano que vem. Por qualquer parâmetro, o Brasil é o país que mais gasta com a elite do funcionalismo numa amostra de 11 países.

O gasto brasileiro com supersalários — cerca de US$ 8 bilhões pelo critério de conversão adotado — equivale a 21 vezes o que gasta a Argentina, segundo país com mais pagamentos acima do teto. Depois vêm Estados Unidos e México,únicos com gastos acima de US$ 200 milhões. França, Itália, Colômbia, Portugal e Alemanha despendem menos de US$ 4,2 milhões, ao redor de 0,05% do total brasileiro. A distorção é tão grande que o excedente do teto constitucional pago no Brasil a 40 mil servidores públicos daria para financiar um salário mensal de R$ 2.200 a 9,1 milhões de brasileiros — ou 18,8% dos empregados com carteira assinada.