terça-feira, 4 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Lei antifacção precisa ter tramitação célere

Por O Globo

Congresso deve priorizar pauta de segurança, mas apenas mudanças legislativas não serão suficientes

É necessário que as autoridades e a classe política prestem atenção ao apoio da população fluminense à megaoperação contra o Comando Vermelho (CV) nos complexos do Alemão e da Penha. A incursão conquistou aprovação de 64% dos moradores do estado, de acordo com pesquisa Quaest (apenas 27% disseram desaprová-la). É significativo também que 85% se declarem a favor do aumento de penas para homicídios cometidos por integrantes de facções criminosas (somente 10% se dizem contra). Trata-se de uma demonstração inequívoca de que a população não aguenta mais ser subjugada por facções e milícias que tomaram extensões significativas do território.

Novo patamar, por Merval Pereira

O Globo

A aprovação da barbárie é um grito de alívio de comunidades submissas a essas quadrilhas que as dominam no dia a dia

A tragédia que se abateu sobre o país há muitos anos, com a dominação de vastos territórios nacionais por quadrilhas de narcotraficantes e milicianos (especialmente no Rio de Janeiro, onde mais uma vez se traduziu em dezenas de mortes na guerra urbana), não pode ser enfrentada a partir de premissas que já não retratam a realidade. Clamar por respeito aos direitos humanos nesse combate ou, por outro lado, alegar que bandido bom é bandido morto são premissas que já não são suficientes e distorcem o debate.

Claro que ninguém pode ser insensível à morte de dezenas de pessoas, mesmo que todos fossem bandidos. Mas é preciso saber que o problema não se resolve com chacinas, nem com carta branca para a polícia reagir sem controles morais. Vira tudo guerra aberta entre facções, sem que a sociedade encontre uma saída. As pesquisas de opinião, que mostram grande apoio dos moradores de comunidades às ações policiais, são demonstração explícita de que já não aguentam mais o jugo dos traficantes e milicianos sobre suas vidas.

Segurança pede mais do que torneio verbal, por Fernando Gabeira

O Globo

Energia social no Brasil foi investida na troca de acusações: fascistas de um lado; cúmplices de traficantes do outro

Peço desculpas por começar simplificando. Uma política de segurança que prioriza a morte é condenável. Mas a ocupação do território pelo crime organizado, oprimindo milhões de pessoas, é intolerável. Como resolver esse problema?

Grande parte da energia social no Brasil foi investida na troca de acusações: fascistas de um lado; cúmplices de traficantes do outro. O tiroteio verbal foi tão intenso quanto o barulho ensurdecedor da terça-feira passada no Alemão e na Penha.

O debate é necessário em todos os níveis, mas, concentrado nas acusações mútuas, transforma o sofrimento real dos moradores do morro em mais uma rotineira troca de farpas entre esquerda e direita.

A questão central permanece intocada. Governadores de direita criaram um consórcio às pressas, num movimento nitidamente eleitoral. Sua tese de igualar o tráfico ao terrorismo é um dado importante na geopolítica. Paraguai e Argentina classificaram os traficantes brasileiros como terroristas. É a posição de Trump, que, no momento, tem destruído barcos no Caribe e no Pacífico. Na verdade, é a política do extermínio usando o argumento do terrorismo, algo que, levado às últimas consequências, pode resultar na morte de milhares de inocentes, como aconteceu em Gaza.

A escolha que fazemos, por Pedro Doria

O Globo

Renunciamos aos valores liberais em troca de paz. É uma escolha

Se usarmos os critérios de uma democracia liberal, a operação das polícias Civil e Militar no Morro do Alemão, há uma semana, foi um fracasso. Evidentemente, como demonstram bem mais do que uma pesquisa realizada desde então, não é assim que pensa mais da metade dos cariocas e brasileiros. O fato de o fracasso não ser óbvio deveria nos preocupar. A emoção tem falado mais alto que a razão. Então mergulhemos no debate.

Qual a medida do sucesso? O fato de, desta vez, a polícia ter subido o morro e de não terem morrido inocentes? Não sabemos isso. Jamais, na imprensa, confiamos na palavra da polícia sobre quem são os mortos. Por que, repentinamente, decidimos confiar? Mas aceitemos a hipótese — crível — de que todos os mortos tenham sido traficantes. Não matar inocentes é obrigação da polícia. Não é prova de sucesso.

Expectativa e dúvidas da COP, por Míriam Leitão

O Globo

A COP 30 só será um grande sucesso se definir um plano para eliminação dos combustíveis fósseis, considera Tasso Azevedo, do MapBioma

A queda das emissões de gases de efeito estufa do Brasil foi maior do que se esperava: 17% em 2024 comparado a 2023. Isso é outro trunfo que o país levará para Belém. O coordenador do MapBiomas, Tasso Azevedo, diz que é uma vitória importante, mas acredita que a COP30 só será um grande sucesso se dela sair um mandato para construir um roteiro para a eliminação gradual dos combustíveis fósseis. “Não sairemos dessa enrascada sem resolver os combustíveis fósseis.” O TFFF foi pensado inicialmente como um compromisso de doação da indústria do petróleo, mas acabou virando um fundo.

Tasso explicou a diferença. Idealizador do Fundo Amazônia, foi ele quem primeiro levou, em 2023, ao Ministério do Meio Ambiente a ideia da criação de um projeto de remunerar a floresta em pé. Na época, a proposta era fazer um acordo com as empresas produtoras de petróleo para que elas pagassem US$ 1 por barril para remunerar os países que preservassem suas florestas tropicais. Uma empresa como a Petrobras teria que doar algo perto de US$ 1 bilhão, pois produziu 900 milhões de barris no ano passado.

Bolsonarismo sem Bolsonaro ganha discurso, por Maria Cristina Fernandes

Valor Econômico

Brasil tem 3% da população mundial e 10% dos homicídios. Mesma desproporção dos mortos na pandemia. Um ajudou a derrotar Bolsonaro, o outro, ameaça Lula

Com 3% da população mundial, o Brasil tem 10% dos homicídios do planeta (Anuário Brasileiro de Segurança Pública). É exatamente a mesma discrepância que se observou na proporção de mortes da pandemia (OMC). O desprezo por este flagelo da covid-19 foi um dos motivos que levou à derrota do ex-presidente Jair Bolsonaro. A leitura equivocada sobre o impacto da violência na vida dos brasileiros coloca em pauta a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Grande parte disso vem da percepção arraigada de que a origem da violência está na pobreza e desigualdade. A América Latina, região mais violenta do mundo, tem indicadores mais alarmantes do que países com renda per capita e desigualdade semelhantes (Banco Mundial). Esta percepção freou, até aqui, as tentativas de se adotar medidas mais duras contra o crime organizado.

A nova estrela nacional, por Eliane Cantanhêde

O Estado de S. Paulo

A depender de Cláudio Castro, os corpos enfileirados na Penha viram cartão postal do Rio

O governador do Rio de Janeiro, Cláudio Castro, está se achando e vive seus 15 minutos de glória depois da operação policial que resultou em 121 mortos, inclusive quatro policiais, a mais letal da história, que, vamos combinar, não tem absolutamente nada de glorioso. Até porque o crime organizado vai continuar ganhando a guerra.

Os 15 minutos podem evaporar rapidamente, com o TSE julgando, a partir de hoje, um pedido de cassação de Castro por contratações acusadas de irregulares no Ceperj, instituição que forma servidores públicos para o governo do Estado.

O forte do currículo do governador é sua atuação como cantor e autor de músicas católicas, além do diploma em direito e os anos assessorando políticos. Ele só chegou aonde chegou ao se lançar a vice na chapa de Wilson Witzel em 2018, na onda bolsonarista.

Xandão in Rio, por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Impressiona que alguém – vivendo no mundo real – ainda se surpreenda com o apoio popular à operação policial havida nos complexos da Penha e do Alemão. A maior aprovação vem do morador da favela. Complexo nomeia a consolidação de área tomada pelo crime organizado, uma faixa contínua de terra, que amarra e anula bairros e comunidades – para constituir cidade à parte, cidadela mesmo.

Habitam ali pessoas oprimidas, acostumadas à lei da tortura, que veem fuzis todos os dias; e que apenas querem viver como as gentes que moram no asfalto carioca, para quem a violência, grande possibilidade, é materialização eventual. Para o morador da favela, é o próprio endereço – é abrir a porta de casa. Ninguém suporta isso. Sentimento que será explorado eleitoralmente. Explorada eleitoralmente será a desonestidade intelectual de pregar que se possa reverter essa realidade sem dura intervenção armada.

Quando o veneno tem um sabor doce, por Ronayre Nunes

Correio Braziliense

"Para alguns, as mortes na megaoperação parecem oferecer uma sensação de vingança. Mas trata-se de uma ilusão. É como beber algo que parece doce, mas é veneno"

Hoje completa uma semana desde a megaoperação no Rio de Janeiro. A esta hora, na semana passada, o país assistia a uma das maiores cenas de violência e terror da história recente. Sempre que um grande fato ocorre, o tempo costuma servir como lente para compreender o que, afinal, ele significou. Passados sete dias desde o caos, parece que parte da nação se deixou levar pelo doce sabor de um veneno destrutivo.

Aquele horror de ver tantos corpos esticados em uma praça pública — cena registrada no dia seguinte à operação, na última quarta-feira (29/10), após moradores recolherem mortos de uma área de mata entre os complexos da Penha e do Alemão — parece já ter ficado para trás. Depois do choque inicial, as mortes foram reduzidas a mais um duelo entre apoiadores e críticos da ação policial.

Assim como ocorreu no período eleitoral, pouco se discutiu sobre políticas públicas ou soluções reais. A pergunta que dominou o debate foi outra: "você está do lado da esquerda ou da direita?". Difícil entender a origem de tanta superficialidade diante de questões tão complexas. As redes sociais, claro, ajudam a consolidar essa pobreza de argumentos e posições. Mas isso é assunto para outro texto.

Oposição adota a lógica do Estado de exceção no combate ao narcotráfico, por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

A ruptura entre o Estado de Direito e a ação estatal de guerra traduz uma matriz autoritária persistente, cuja origem remonta ao pensamento de Oliveira Vianna

Desde a operação de “cerco e aniquilamento” de traficantes nos complexos do Alemão e da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro, a crise da segurança pública passou a ocupar o centro da política nacional. Segundo o governo fluminense, dos 117 mortos na megaoperação, 115 foram identificados: mais de 95% tinham ligação com o Comando Vermelho, e 54% eram de fora do estado. Ao todo, 62 eram naturais de outros estados.

O relatório mostra chefes de organizações criminosas de 11 unidades da Federação, o que revela a dimensão nacional do problema e a necessidade de presença efetiva da União, o que apenas será possível com a aprovação da PEC do Sistema Único de Segurança Pública (Susp). Entretanto, a proposta está paralisada porque governadores de oposição rejeitam a centralidade do Ministério da Justiça na coordenação do sistema, inspirado no modelo federativo do SUS.

A guerra contra o crime não é uma metáfora, por Joel Pinheiro da Fonseca

Folha de S. Paulo

Toda vez que democratas negligenciam combate ao crime, opções fora da lei se tornam mais atrativas

Quem sente na pele o poder das facções defende confronto violento

Imagine que uma operação do Exército da Ucrânia mate 117 soldados russos, capture 115 prisioneiros de guerra e apreenda armamentos do inimigo. A população ucraniana receberia essa notícia com alegria, mesmo sabendo que a guerra está longe do fim.

Mesmo com a aprovação geral, críticas seriam possíveis ao governo ucraniano: a operação faz sentido estratégico? Ela vale os recursos humanos, bélicos e financeiros investidos? Novas operações como essa serão sustentáveis? As tropas ucranianas cometeram crimes de guerra, como execução de soldados inimigos já rendidos? São questionamentos importantes.

Normalizando o terror, por Vladimir Safatle e Tarcisio Motta

Folha de S. Paulo

A política que nos espera é baseada na dessensibilização das massas por meio do medo, que gera raiva, que vira ódio

Visita de outros governadores da extrema direita ao Rio é apenas o sinal de que a fórmula será repetida

Na última quinta-feira, dia 29 de outubro, entre corpos decapitados, decepados, esfaqueados e desfigurados por tiros de fuzil, a praça São Lucas, no complexo da Penha, transformou-se em um necrotério a céu aberto. Dezenas de cadáveres estendidos no chão fizeram da morte um palanque eleitoral do governador mais desacreditado do país, desesperado pela necessidade de recuperar a popularidade perdida e conseguir uma vaga no Senado nas próximas eleições, pois precisa continuar se blindando da investigação de escândalos de corrupção que o perseguem há anos.

Até agora, são 117 pessoas mortas sem história, sem rosto, sem famílias, sem indignação, sem comoção. Só um número, como quem faz a contabilidade de objetos perdidos. São brasileiros submetidos à invisibilidade de gerações. São os brasileiros que, para alguns, não merecem lágrimas. É estarrecedor que até agora impere esse silêncio e essa dessensibilização.

Otoni, o adversário do bolsonarismo gospel, por Juliano Spyer

Folha de S. Paulo

Em discurso, deputado defendeu a polícia, mas atacou o governador

Parlamentar respondeu melhor do que o Planalto à crise de segurança

É verdade que a bancada evangélica reúne representantes muito diferentes do campo evangélico. Mas o alinhamento produzido pelo bolsonarismo agora divide espaço com vozes dissidentes.

A fala do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), ao comentar a ação militar no Rio, repetiu sua fórmula: a esquerda é a causa de todos os males do país.

Para engajar nas redes, recorre a frases de impacto. Classificou a operação como "a maior faxina da história do Rio de Janeiro". Seu colega de partido, André Fernandes, também evangélico, foi além: pediu uma salva de palmas para os bandidos mortos.

Bom mesmo é ser oposição, por Thaísa Oliveira

Folha de S. Paulo

Com o controle da Caixa, centrão parece se esquecer da ameaça de deixar o governo

Não bastassem os cargos de presidente, vice, superintendente e diretor, dá também para criar uma bet

Talvez nem o PP nem o União Brasil se lembrem, mas exatamente dois meses atrás eles convocaram os jornalistas para dizer que todos os detentores de mandato deveriam sair do governo Lula (PT) em até 30 dias.

O anúncio durou cerca de um minuto. Um jogo de palavras enxuto para deixar subentendido que a ameaça não valeria para todos os indicados. Deve ser só coincidência, por exemplo, o fato de o presidente da Caixa, Carlos Vieira, não ter mandato.

Batata quente nas mãos de Lula, por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Governador prepara um 'novo Witzel' para substituí-lo

Delegado que comandou a matança ameaça favoritismo do prefeito

O prefeito Eduardo Paes só faltou se vestir de conselheiro Acácio ao comentar a operação das polícias Militar e Civil nos complexos do Alemão e da Penha, a mais letal da história do país, com mais de 120 mortos: "O Rio não pode ficar refém de grupos criminosos".

Ninguém —a não ser os verdadeiros chefões do crime, que moram longe das favelas e têm a identidade protegida pelo esquema que corrompeu e se infiltrou nas instituições de Estado— pode admitir a ocupação de quase um terço das áreas da cidade, as mais desassistidas, por milicianos e traficantes.

Democracia, ordem injusta e caos, por Ivan Alves Filho

O que acontece atualmente com o Rio de Janeiro é uma tragédia. Traficantes, milícias, polícia civil e polícia militar, todos envolvidos em uma guerra quase sem fim. 

A principal vítima disso tudo é o povo trabalhador. O homem comum que sai para trabalhar atrás do pão de cada dia e não sabe sequer se volta para casa.

Triste, muito triste, sobretudo para quem nasceu e foi criado na cidade como eu. Uma cidade que André Filho consagrou há quase cem anos, na sua célebre marchinha carnavalesca, como maravilhosa, e que sempre se apresentou como um cartão postal do Brasil. 

Formou-se, no Rio de Janeiro e em outras áreas do Brasil, uma espécie de burguesia do crime, movimentando capitais vultosos, e arrastando uma parcela considerável da nossa juventude. Sai de cena a mais-valia e entra em campo o código penal. A impressão que dá é que sobrou para uma parte da nossa mocidade vender drogas para outra. 

Poesia | Balada do amor através das idades, de Carlos Drummond De Andrade

 

Música | ‪Lô Borges e Orquestra Paganini‬ e ‪Filarmônica MG‬ - Um Girassol da cor do seu cabelo (Ao Vivo)

 

segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Opinião do dia José Sarney (É a Constituição, imbecil)

“Bandido tem direito a ser julgado e receber a pena proporcional a seu crime. Quem julgou esses bandidos cumpriu ali mesmo a pena de morte vedada na Constituição. Assim são rasgadas todas as garantias que lhes assegura o Estado de Direito.”

(José Sarney, ex-presidente do Brasil)

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Queda no desemprego: os dois lados da balança

Por Correio Braziliense

O desafio real é transformar emprego em trabalho de qualidade: reduzir a subutilização, formalizar ocupações, elevar rendimentos reais e combater as desigualdades regionais e por gênero

O último dado oficial é, inegavelmente, um alento: a taxa de desemprego no Brasil tem alcançado os menores patamares históricos, um feito notável que merece ser reconhecido. De acordo com os dados divulgados, sexta-feira última, pelo IBGE, a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (Pnad) constatou que a taxa de desocupação ficou em 5,6% no trimestre encerrado em setembro de 2025, o menor nível desde o início da série em 2012, com a população desocupada em cerca de 6 milhões de pessoas. Esse resultado representa uma queda de 3,3% (menos 209 mil) em relação ao trimestre anterior e de 11,8% (menos 809 mil) na comparação com o mesmo período de 2024.

Cláudio Castro repete a tática do ventilador, por Miguel de Almeida

O Globo

Governador brindou os jornais internacionais com a mais horrorosa imagem brasileira das últimas décadas

Em São Paulo, o prefeito Ricardo Nunes se gaba de ter eliminado a Cracolândia. É uma meia verdade. O antigo quadrilátero hoje anda mais esvaziado. Ele conseguiu, então? Nada disso. Sua ação espalhou por uma área bem maior os usuários de drogas. O que antes era um problema circunscrito ao bairro da Luz está agora escancarado em várias regiões da cidade.

Esse estilo de gestão da direita — jogar no ventilador — jamais funcionou no Brasil. Prefeitos de cidades do interior, atendendo ao pároco e às senhoras religiosas, se viam levados a fechar as zonas de meretrício. Acabaram os problemas? Não. Como na Cracolândia, as prostitutas se espalharam por toda a cidade.

A tática do ventilador não está mais apenas nas prefeituras. No Rio, o governador Cláudio Castro, em seu gritante despreparo, brindou os jornais internacionais com a mais horrorosa imagem brasileira das últimas décadas. Uma fileira de dezenas de corpos, entre decapitados e baleados, quase todos sem camisa, estendidos numa praça carioca. Repetiu a tática do ventilador, agora com cadáveres, com os ares de quem resolveu o problema.

Instituições são fracas, crime é organizado, por Carlos Alberto Sardenberg

O Globo

Trata-se de questão de Estado e de toda a sociedade, não problema dos partidos, da esquerda ou da direita

A Operação Overclean, da Polícia Federal, entrou na oitava fase na última sexta-feira. Em investigações ordenadas pelo Supremo Tribunal Federal, já apanhou contratos suspeitos que chegam a R$ 1,4 bilhão. Os envolvidos são políticos de expressão nacional e funcionários de governos estaduais e prefeituras. A fonte do dinheiro roubado é pública: emendas parlamentares.

O esquema da corrupção se repete pelo país: empresas-fantasmas ficam com parte dos recursos destinados por deputados e senadores a obras e serviços públicos. Trata-se, portanto, de roubar a população. O cardápio inclui, além da grossa corrupção: organização criminosa, peculato, lavagem de dinheiro e fraude em licitações. É aqui, nessas fraudes, que está a base dos “negócios”.

Na sexta-feira, a Polícia Federal apurou casos ocorridos no Tocantins, mas também foram cumpridas ordens de busca e apreensão no Distrito Federal, em Goiás e em São Paulo. Nas sete fases anteriores da Overclean, foram investigados casos em vários outros estados. O crime é nacional.

Operações em primeira pessoa, por Irapuã Santana

O Globo

O tiroteio começa, o tempo se dissolve. O coração acelera, o corpo reage antes da mente. Cada disparo é uma prece muda para voltar vivo

Ele ajusta o colete como quem veste uma armadura velha demais. O tecido não o protege há muito tempo, apenas tenta segurar os pedaços da alma que ficaram pelo caminho. Na parede, o mapa da operação: linhas, setas, nomes de comunidades.

Enquanto o comandante fala, ele pensa em casa. Na esposa, que tenta dormir fingindo que o barulho do zíper da mochila não é presságio. No filho, que ainda pergunta por que o pai trabalha em horários malucos, ao contrário dos outros pais da escola.

— Pra proteger as pessoas — ele respondeu um dia.

E até hoje tenta acreditar nisso.

BC fecha brechas com nova regra de capital, por Alex Ribeiro

Valor Econômico

Instituição vai anunciar nesta segunda-feira uma ampla revisão nos requerimentos mínimos de capital para a operação de instituições financeiras

O pêndulo da regulação vai oscilar mais uma vez para o lado da segurança, depois de ter avançado em demasia para o lado da competição. O Banco Central vai anunciar nesta segunda-feira uma ampla revisão nos requerimentos mínimos de capital para a operação de instituições financeiras.

A notícia foi antecipada na semana passada pelo diretor de Fiscalização do Banco Central, Ailton de Aquino, em evento da Fenasbac. “Faz mais de 30 anos que não fazemos uma revisão profunda de capital das instituições autorizadas”, disse. “Acho que a gente chegou a um bom momento para dialogar acerca de capital.”

Será difícil conter novas Operações Contenção, por Bruno Carazza

Valor Econômico

Aprovação popular ao uso de violência em ações da polícia abre precedente para que estratégia se prolifere pelo país

“Violência real e sensação aguda de desproteção e impunidade formam um cenário perigoso. Nos subúrbios e favelas, onde a violência está mais presente e o poder público mais ausente, direitos humanos viraram sinônimo de ‘moleza com os bandidos’, em vez de proteção ao cidadão. A lógica do medo transforma o delinquente num monstro contra o qual toda violência é tolerada.”

O parágrafo acima foi retirado do programa de governo do então candidato Fernando Henrique Cardoso, lançado nas eleições de 1994, e demonstra que desde aquele tempo a sociedade brasileira já se dividia a respeito do uso excessivo da força no combate à criminalidade.

Em 2 de outubro de 1992 a polícia militar de São Paulo invadiu a Casa de Detenção do Carandiru durante uma rebelião e o saldo foi de 111 presos mortos (“quase todos pretos, ou quase pretos, ou quase brancos quase pretos de tão pobres”). Pesquisa Datafolha realizada com 1.080 paulistanos logo após o massacre indicou que 53% dos entrevistados consideravam que os PMs haviam agido errado, enquanto 29% concordavam com a execução dos presos. Ao serem perguntados sobre quem seria responsável pelo massacre, os entrevistados se dividiam: 38% culpavam os policiais, 36% os próprios presos e 11% atribuíam a responsabilidade a ambos.

Duterte do Rio, por Diogo Schelp

O Estado de S. Paulo

A política de segurança pública de Duterte fracassou em cumprir o objetivo alegado

O governador do Rio, Cláudio Castro, demonstrou satisfação com o resultado da operação policial que deixou mais de uma centena de mortos no Complexo da Penha, na semana passada. Ele afirmou estar muito tranquilo em “defender o que foi feito”. A intenção, segundo ele, não era matar, mas isso acabou sendo necessário por causa da “retaliação” por parte dos traficantes. Quatro policiais morreram no confronto.

As falas de Castro lembram as justificativas que Rodrigo Duterte, presidente das Filipinas entre 2016 e 2022, dava para a brutal guerra às drogas que ele comandou no arquipélago do Sudeste Asiático, marcada por chacinas e execuções extrajudiciais. Estima-se que 30 mil civis tenham morrido em meio à sua campanha contra as gangues.

Segurança e território, por Denis Lerrer Rosenfield

O Estado de S. Paulo

O Estado brasileiro não é internamente soberano, tendo abandonado uma fatia importante do seu território às organizações criminosas

As cenas do Rio de Janeiro apresentam um teatro de guerra. Guerra, não esqueçamos, travada entre as forças policiais do Estado, que agiram sob mandado judicial, e traficantes, que operam segundo a lógica da guerrilha. Amputaram o Estado de uma parte de seu território e passaram a dominá-lo, implantando um regime de extorsão e violência, aterrorizando os seus moradores. É a sua “lei” que passou lá a vigorar. Para se “defenderem”, utilizam inclusive drones e bombas! Nesse contexto, as forças do governo do Rio agiram segundo uma lógica militar, e não poderia ser de outra forma, visto que se trata da recuperação de um território perdido.

A dar atenção a ONGs esquerdistas, fica-se com a impressão de que as polícias tiraram a paz desses cidadãos que viveriam em harmonia, embora, na verdade, destituídos de cidadania. Não são discursos politicamente corretos que podem alterar tal situação. Os criminosos aproveitam-se de tais “aliados” para nutrir, então, a sua narrativa específica, em busca de legitimidade. A tática é a mesma do Hamas em Gaza.

Entrevista |Operação no Rio faz parte de projeto totalitário de extrema direita, diz pesquisador da violência, por André Fontenelle

Folha de S. Paulo

Para Gabriel Feltran, brasileiro que leciona no SciencesPo, elite cedeu poder a seu 'setor jagunço'

Segundo ele, igualar-se aos torturadores do CV não é saída para construção de Estado civilizado

operação policial de 28 de outubro no Rio de Janeiro tem um aspecto inédito, além da escala de mortos sem precedentes: o planejamento político. É a visão do pesquisador brasileiro Gabriel Feltran, 49, diretor de pesquisas do Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS) e professor do SciencesPo, uma das principais instituições de ensino de ciências sociais da Europa.

Sociólogo do crime, Feltran estuda há mais de 20 anos a violência urbana no Brasil e o conflito entre Estado e crime organizado. Para ele, a narrativa que enxerga uma faxina contra o suposto narcoterrorismo, apoiada por youtubers e ex-policiais convertidos em comentaristas de TV, fomenta um projeto totalitário.

Esse projeto, segundo ele, já controla governos estaduais, legislativos e parte do Judiciário, faltando apenas controlar o STF (Supremo Tribunal Federal). "E não parece que vai demorar para que isso se realize."

Para Feltran, "igualar-se aos torturadores do Comando Vermelho, com espadas e decapitações, não parece ser uma boa saída para a construção de um Estado civilizado".

Sistema eleitoral não é escudo contra crime organizado, por Lara Mesquita

Folha de S. Paulo

Exemplo mexicano deveria ser considerado antes de se defender que sistema eleitoral misto pode oferecer blindagem contra financiamento político ilícito

Não existe sistema eleitoral capaz de impedir que os recursos do crime organizado interfiram nos resultados eleitorais

Não é a primeira vez que utilizo este espaço para abordar o tema da reforma eleitoral.

Retomo o tema porque, antes de qualquer mudança, é preciso que se tenha clareza sobre o problema que se pretende resolver. Sem isso, não podemos avaliar a adequação do remédio proposto. Isso vale também para o debate sobre a mudança do sistema de governo.

Usualmente, essas duas reformas –a adoção de um sistema parlamentarista e/ou de um sistema majoritário puro (também conhecido como distrital) ou combinado com o sistema proporcional (o sistema misto)– são apresentadas como soluções mágicas: resolveriam todos os problemas da política brasileira.

Argentina: quando o fracasso sustenta a identidade política, por Marcus André Melo

Folha de S. Paulo

A trajetória do peronismo e do radicalismo revela um país onde a identidade pesa mais que o desempenho

Milei virou o jogo: conta com base ampla, quórum para veto presidencial e recursos para negociar com governadores

É lugar-comum afirmar que o Brasil não é para amadores. O que dizer, então, da Argentina? Uma das frases mais célebres sobre o país — ou sobre sua tragédia— é atribuída a Simon Kuznets, prêmio Nobel de Economia em 1971: "Existem quatro tipos de países no mundo: desenvolvidos, subdesenvolvidos, o Japão e a Argentina".

A eleição de um libertário em um país marcado pelo intervencionismo estatal e pela instabilidade fiscal não deveria surpreender. Situações de crises recorrentes tendem a produzir respostas políticas radicais. O feito, no entanto, não é apenas individual. O partido La Libertad Avanza (LLA) saltou de 14% para 41% das cadeiras na Câmara. Três fatores foram decisivos: a mais baixa taxa de comparecimento às urnas em quatro décadas (67%), apesar do voto obrigatório; o swap cambial de US$ 20 bilhões (R$ 107 bilhões) de Trump; e a promessa do presidente dos EUA de descontinuar apoio se Milei viesse a perder. O peronismo foi amplamente derrotado. Como alternativa era ainda pior.

Carta branca para o invisível, por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

A luta de grupos minorizados pelo reconhecimento de suas vozes passa por sujeitos visíveis no espaço comum

Um eleitorado sem voz tem a mesma fajuta consistência política da escultura invisível do italiano espertalhão

Deu no jornal que o italiano Salvatore Garau produziu uma escultura invisível, já vendida pelo equivalente a R$ 80 mil. O comprador tem à disposição apenas um suporte sem nada por cima, mas leva para casa o "espírito" e a assinatura do autor. É algo bizarro, mas pouco surpreendente no rol das extravagâncias que há muito tempo fazem o espetáculo nas galerias de arte em todo o mundo. Na verdade, a arte moderna é principalmente avaliada pela subjetividade do artista, materializada em sua valiosa assinatura.

A ilusão da vitória, por Eduardo Ribeiro*

O Povo (CE)

O Brasil que naturaliza e até mesmo celebra a morte brutal de 134 pessoas em uma operação policial é o mesmo país que convive há décadas com altíssimos níveis de desigualdade e de precarização da vida de amplas parcelas de sua população. Que negligencia suas periferias e territórios populares, e criminaliza a pobreza, construindo uma narrativa onde o "inimigo" mora no morro, na favela ou na quebrada. É também um país que não resolveu as heranças de seu passado autoritário e escravocrata.

É possível entender a indiferença social diante do sofrimento e da morte como produto de um longo processo de desumanização das pessoas mais pobres, assim como das pessoas negras. Processo que transforma o sofrimento em rotina, que reduz a empatia e fortalece a ideia de que a violência e a brutalidade são não apenas justificáveis, como inevitáveis.

A Elite da Tropa e os Atos dos Apóstolos à procura da Frente Democrática, por Vagner Gomes

O pecado de Pilatos foi que, quando poderia ter salvado nosso Salvador de uma morte injusta, permitiu que a inocência caísse, com base em acusações contraditórias entre si e contrárias a estranhas revelações celestiais, e proferiu a sentença de morte, apenas para satisfazer uma multidão sedenta de sangue. Mas, de outra forma, foi o caso de meu Lorde de Strafford, pois ali o Rei não era o único juiz, aliás, era incapaz de julgar, e o delinquente fora legalmente condenado, tendo sido provadas acusações tão hediondas contra ele que seus maiores amigos se envergonharam de justificá-las, e todos os homens imparciais de três reinos inteiros as consideravam mortais; e, portanto, o Rei poderia, com a consciência limpa, ter assinado uma ordem de execução, embora discordasse da sentença. Assim, se um juiz no mesmo tribunal discordar de três, ou um jurado no tribunal discordar de onze, eles podem submeter-se à maioria, embora talvez menos hábeis do que eles próprios, sem imputação de culpa; e se assim é em matéria de Direito, com mais razão ainda é em matéria de Estado, onde a própria satisfação de uma multidão, por vezes em coisas que de outra forma não seriam convenientes, pode revelar-se não só conveniente, mas necessária para o estabelecimento da paz e o fim da discórdia. Por exemplo: Foi um pedido de todo o Reino, reunido no Parlamento, ao Rei, que confiasse as Milícias e o Depósito de Armas de Hull, etc., a pessoas que gozassem da boa estima do povo. A consciência e o entendimento nada poderiam alegar contra isso, e se pudesse ter sido afirmado (como foi).

Poesia | O analfabeto político, de Bertolt Brecht

 

Música | Mariana Aydar, Alceu Valença e Mestrinho - Coração Bobo

 

domingo, 2 de novembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Tempo para salvar planeta fica a cada dia mais escasso

Por O Globo

COP30 enfrenta realidade inescapável: metas de cortes de emissões têm sido insuficientes para evitar o pior cenário

A COP30 começará em Belém sob o espectro de uma realidade incontornável: o tempo passa, e as projeções feitas com base nas metas de corte das emissões de gases de efeito estufa se mostram insuficientes para conter o aquecimento global idealmente em 1,5°C, no máximo em 2°C, em relação ao início da Era Industrial, como prevê o Acordo de Paris. O limite é essencial para evitar as variações catastróficas no clima, que já começaram a acontecer. Infelizmente, a meta de 1,5°C já ficou para trás, segundo diagnóstico da própria ONU. Pior: não há sinais convincentes de que a negligência da humanidade com o futuro do planeta mudará no curto prazo. Ainda que a ciência tenha vencido o confronto com o negacionismo no plano das ideias, faltam passos concretos, planos de execução rápida. A união entre diplomacia e política é a única forma de tentar recuperar o tempo perdido até aqui.

Governos se movem sem pressa, apesar das sucessivas tragédias climáticas decorrentes da elevação da temperatura no planeta. A última foi o Furacão Melissa, na região do Caribe, de categoria 5, a mais elevada, com ventos de até 298km/h, turbinado pela anormal temperatura do Atlântico. O poder de destruição dos furacões tem crescido. Chuvas torrenciais multiplicam-se — provocando catástrofes como as enchentes no Rio Grande do Sul — e convivem com secas tórridas. Tudo tem acontecido como era previsto.

Dilemas de governantes diante do desespero dos governados, por Paulo Fábio Dantas Neto*

Ao findar-se uma semana marcada por uma chacina ordenada pelo governador do Rio de Janeiro, é inevitável que uma coluna sobre política seja afetada por essa pauta sombria. A operação, que se quer de guerra, inaceitável por uma razão sensata que entenderia e até pediria uma ação policial legítima, elevou, com intensidade de agonia, uma pauta social latente à condição de ordem do dia. Essa elevação de patamar e a compressão do tempo para qualquer digestão sobre ela impactaram a percepção da população do Rio, que pesquisas captaram instantaneamente. O apoio agonístico manifesto deixa perplexa a razão sensata a que me referi e a pista de que a sensatez não está captando sentimentos públicos que precisaria interpretar. A chegada do tema à ordem do dia, em ritmo de agonia, convoca, além da reação de pessoas comuns, a palavra da política, de quem não tem direito à perplexidade. Se os déficits cognitivos do estado e da sociedade civil são fatos, a omissão do agir político não pode ser.

Lendo hoje um artigo do articulista Demétrio Magnoli fiz-me, instintivamente, a pergunta derivada da sugestão que ele dá. Por que não uma intervenção federal na Segurança Pública do Rio para desativar o comando faccioso dessa barbárie e substituí-lo pela ação civilizatória do Estado nacional? Mesmo com algum déficit cognitivo sobre a realidade, essa decisão teria, de saída, o mérito do cumprimento de um dever. Recuperaria parte das energias cívicas cujo adormecimento leva ao apoio resignado à guerra.

E agora? Por Dorrit Harazim

O Globo

O governador Cláudio Castro e as forças policiais envolvidas no planejamento e ação praticaram uma chacina

Da forma como foi planejado, podia se esperar o pior. Mas foi pior que o esperado.

A realidade, escreveu o saudoso Leonard Cohen, é uma das possibilidades que não podemos nos dar ao luxo de ignorar. Desde as primeiras imagens, sons, cadáveres e testemunhos da Operação Contenção contra criminosos da cúpula do Comando Vermelho entocados nos complexos do Alemão e da Penha, Zona Norte do Rio de Janeiro, a realidade é uma só: na terça-feira, 28 de outubro de 2025, o governador Cláudio Castro e as forças policiais envolvidas no planejamento e ação praticaram uma chacina.

— Foi um sucesso — comemorou Castro, antes mesmo do balanço final da caçada humana.

Até a noite de sexta-feira haviam sido computados 121 mortos, entre os quais quatro policiais e 117 “suspeitos” ou “bandidos”, na catalogação oficial.

A operação conseguiu fazer mais mortos do que presos (113), mais mortos do que feridos (15 policiais e quatro moradores), mais mortos do que os 104 palestinos eliminados por Israel em Gaza no mesmo dia. Tudo isso por zelo, visando a poupar os moradores daquele emaranhado de favelas, como proclama a versão oficial, ou por arroubo na execução da habitual “justiça sem julgamento”? O governador garante que tudo foi realizado e é investigado “com transparência absoluta”. Há que concordar com ele em um ponto: dentre todas as chacinas contra bandidos ou inocentes ocorridas no Rio (Acari, Candelária, Jacarezinho, Vila Cruzeiro, para citar apenas as mais infames), a da semana passada foi de fato transparente — ostensivamente transparente no resultado.