*Nicolau Maquiavel (1469-1527), Discursos
sobre a primeira década de Tito Lívio, 2000. p. 139
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 31 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Nicolau Maquiavel*
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Empreendedor brasileiro tem muito a ganhar com IA
Por O Globo
País não tem chance de disputar liderança na
nova tecnologia, mas ela abrirá inúmeras oportunidades
As empresas na vanguarda da inteligência artificial (IA) — todas americanas — investiram em 2025 cerca de US$ 400 bilhões. Isso equivale ao quádruplo do que a Petrobras, maior empresa do Brasil, pretende investir nos próximos cinco anos. Na briga para tentar desenvolver um modelo de IA capaz de superar a maioria dos seres humanos em várias tarefas, gigantes como OpenAI, Anthropic ou Google não param de captar capital e aplicá-lo na construção da infraestrutura necessária para desenvolver modelos mais e mais poderosos. Vislumbra-se um impacto transformador em praticamente toda a economia global.
Banco Central e a pressão de mão dupla. Por Vera Magalhães
O Globo
Se houve negligência ou avaliação incorreta
dos riscos oferecidos pelo Master, isso deve ficar claro
A economia brasileira vai terminando 2025
demonstrando resiliência maior que a calculada e descrevendo um pouso bem mais
lento que o esperado diante de um choque de juros duradouro como o praticado
pelo Banco Central.
Do ponto de vista da economia real, o governo tem muito bumbo para bater, a despeito da permanência dos juros altos. O desemprego fechará o ano na menor taxa histórica, a inflação, mesmo beirando o topo da meta, foi domada, e o PIB deverá crescer acima do projetado pelo terceiro ano consecutivo. Esses deverão ser alguns dos estandartes de Lula na campanha à reeleição, encorpando o discurso de um mandato dedicado a reduzir as desigualdades econômicas e sociais.
O funeral da Bardot. Por Elio Gaspari
O Globo
Brigitte, Marilyn e Greta Garbo, três mulheres do século XX
O ano de 2026 começará com o funeral de
Brigitte Bardot, símbolo de uma libertação feminina. Bonita e irreverente,
colecionou namorados (dez mais ou menos duradouros), transformou duas aldeias
de pescadores (Saint-Tropez e Búzios) em pontos turísticos.
Ao chegar ao Rio, linda, depois de 12 horas
de voo, deu uma entrevista coletiva e ouviu uma pergunta do repórter Orion
Neves:
— A senhora pretende ter um filho brasileiro?
Resposta rápida:
— Com quem, com você?
Todos os filhos dos presidentes. Por Marcelo Godoy
O Estado de S. Paulo
Lula e Bolsonaro têm de lidar com as novas confusões em torno de suas proles neste decisivo 2026
Desde 1954 a Nação não se debruçava tanto
sobre o que se diz e se pensa a respeito de familiares de um presidente. A cena
atual tem um complemento único na história do País: as atenções também voltadas
para as confusões dos filhos de um ex-presidente.
É notável a insistência com que os nomes da prole de Lula aparecem nas investigações da Polícia Federal. Primeiro foi o enteado, Marcos Cláudio Lula da Silva. Ele surpreendeu os agentes que bateram na porta da casa de sua ex-mulher, Carla Ariane Trindade, em Campinas, para cumprir um mandado de busca durante a Operação Coffee Break. Eram 6 horas, horário incomum para um ex-marido abrir a porta da casa da ex-mulher. Enfim, a ex-nora é suspeita de receber propinas de um empresário preso na operação, em 12 de novembro. Na mesma investigação surgiu um ex-sócio de Fábio Luís, o Lulinha.
Olhar as árvores do caminho. Por Nicolau da Rocha Cavalcanti
O Estado de S. Paulo
Talvez um dos grandes desafios para 2026 seja ter e manter o olhar amplo, não restrito aos nossos interesses imediatos
Aproveito a data para reiterar o que escrevi
em alguns cartões de Natal: que, em 2026, faça tempo bom e possamos contemplar
as árvores do caminho. Admito: escrevi sobretudo para mim mesmo.
Com frequência, esqueço-me de que, seja qual for o tempo, é muito bom olhar as árvores do caminho. Especialmente nos dias difíceis, este gesto dos olhos – esta atitude do espírito – faz toda a diferença. E, muitas vezes, não é fácil.
Olhar as árvores do caminho é ter calma. É não achar que o que estamos fazendo é a coisa mais importante do mundo. É permitir-se parar: reparar na calçada, nos outros, na arquitetura, no céu, na árvore – em sua sombra, em sua cor, que nunca é a mesma. É aproveitar, no trânsito, o sinal fechado para ver, com olhos novos, a cidade, as pessoas, a vida fora das telas.
Nervosismo com os fundos do Master. Por Vinicius Torres Freire
Folha de S. Paulo
Polícia Federal e Ministério Público
investigam andanças suspeitas de dinheiro
Sanções contra Moraes também levaram certos
bancos a se indispor com o ministro
Há muita gente nervosa desde a prisão de
Daniel Vorcaro e da liquidação do
banco dele, o Master. Há gente nervosa por vários motivos, alguns
ainda pouco claros.
Há gente nervosa porque Polícia Federal e Ministério Público já investigam faz cerca de um mês outro tipo de operação do Master sob suspeita, de acordo com investigadores. O banco fazia empréstimos para empresas, arroz com feijão, nos conformes. Emprestado, o dinheiro parecia ter um destino interessante. Estacionava em certos fundos.
O que será do amanhã em 2026? Por Dora Kramer
Folha de S. Paulo
Perspectivas são especialmente traiçoeiras na
política, pois estão submetidas aos movimentos das nuvens
O ano eleitoral será produtivo ou improdutivo,
a depender das escolhas de representantes e representados
Retrospectivas são
mais fáceis de fazer, já que não se prestam ao cotejo com a realidade e lapsos
de memória contam com os auxílios digitais. Perspectivas sobre o ano que começa
daqui a pouco, no entanto, é que são elas.
Especialmente traiçoeiras na política, tema
submetido aos notórios movimentos das nuvens. Isso quando não mudam ao sabor de
tempestades.
Daí que o escrito no apagar de 2025 não necessariamente valerá como previsto no amanhã de 2026. Feita a ressalva, vamos ao que talvez nos reserve o novo ano.
O que 2025 ensinou à democracia. Por Wilson Gomes
Folha de S. Paulo
Autoritarismo e limites ao pluralismo marcaram
o ano
Direita e esquerda têm dificuldade com o
dissenso
Esta coluna de fechamento de 2025 é uma
retrospectiva. Não dos fatos do ano, mas das preocupações que orientaram nossa
navegação por eles —sobretudo daquelas ligadas à comunicação política e aos
dilemas da democracia
brasileira, searas em que me atrevo a opinar.
Ao longo dos meses, diferentes episódios, sob
formas variadas, foram sendo lidos —noto agora— à luz de um mesmo campo de
problemas: autoritarismo, radicalização eleitoral, crise do pluralismo e
dificuldades crescentes de governar e disputar legitimidade em um ambiente
polarizado.
Logo no início do ano, já era evidente que a comunicação política não seria um tema lateral, mas um teste da capacidade efetiva de governar sob ataque. A incapacidade do governo de antecipar crises, reagir rapidamente e disputar percepções —como no episódio do Pix— revelou vulnerabilidades profundas em sua comunicação. Ao mesmo tempo, a persistência do bolsonarismo indicava que a conquista do imaginário brasileiro pelos radicais não havia sido superada.
terça-feira, 30 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Antonio Gramsci* (circunstância)
*Antonio Gramsci (1891-1937). Cadernos do Cárcere, 3ª Edição, pp.77-8. Editora Civilização Brasileira, 2007.
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Ganho real do salário mínimo semeia crise futura
Por O Globo
Medida faz crescer a dívida pública, alimenta
a inflação e corrói a confiança no governo
Ao determinar o valor do salário mínimo para
2026, mais uma vez o governo decidiu conceder reajuste de quase 2,5% acima da
inflação, o limite das regras adotadas com base no arcabouço fiscal. O mínimo
irá de R$ 1.518 para R$ 1.621, alta de 6,8%. Será o terceiro ano consecutivo em
que subirá além da inflação. Nos três anos desde que o presidente Luiz Inácio
Lula da Silva assumiu o governo, terá aumentado 24,5%, ante inflação estimada
em 14,6% no período — ganho real de quase 10%.
A política de aumento real do salário mínimo é celebrada pelo governo como conquista dos mais pobres. Ela tem sem dúvida impacto na renda do estrato social que Lula enxerga como sua base eleitoral — e de cujo apoio precisará em sua tentativa de reeleição no ano que se avizinha. Na economia, contudo, tal política tem três consequências nefastas com que infelizmente as gestões petistas têm se revelado recorrentemente incapazes de lidar.
Onda da direita terá mais dificuldades no Brasil. Por Christopher Garman
Valor Econômico
O presidente Lula entra no pleito com índices
de aprovação mais altos que os de seus pares de esquerda na região
A América Latina está claramente passando por
uma transformação política: candidatos da direita venceram nos últimos anos e
estão bem posicionados para os próximos pleitos. A tendência começou com a
eleição de Javier Milei na Argentina em 2023 e seguiu com as vitórias de
conservadores na Bolívia, no Equador, no Chile e em Honduras em 2025. Em 2026,
candidatos da direita têm boas chances de vencer na Colômbia, na Costa Rica e
no Peru. Após uma onda eleitoral que elegeu várias lideranças de esquerda há
cerca de quatro anos, o mapa político da região está claramente em
transformação.
No Brasil, a direita certamente entrará em 2026 competitiva — em parte, pelas mesmas razões que têm rendido vitórias aos conservadores. Mas a situação do Brasil difere da de seus vizinhos por uma simples razão: o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entra no pleito com índices de aprovação mais altos que os de seus pares de esquerda na região — fazendo dele um leve favorito e abrindo a possibilidade de que o Brasil contrarie essa tendência regional.
Master exibe viela de Lula entre STF e Congresso. Por Maria Cristina Fernandes
Valor Econômico
Caso exibe a ocupação, pelo STF e pelo
Congresso, do vazio deixado por Lula na arbitragem dos negócios da República
Cinco meses antes da cópia de um contrato
entre o escritório de Viviane Barci de Moraes e o Master aparecer no celular do
dono do banco, Daniel Vorcaro, o Supremo Tribunal Federal concluiu o julgamento
de uma ação que derrubou dispositivo do Código de Processo Penal vedando a participação
de juiz em processo de escritório em que atuem seus parentes. A ausência de
debates na turma ou no plenário, além de celeridade, costuma revestir esses
julgamentos virtuais de discrição. Revisitar seus votos revela o carimbo dos
negócios da República às vésperas de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva
iniciar o último ano de seu terceiro mandato.
A questão foi suscitada pela Associação dos Magistrados Brasileiros em 2018, três anos depois da aprovação do CPC. De avessos ao corporativismo da AMB, que chegou a acionar o STF contra a criação do CNJ, os ministros passaram, majoritariamente, a convergir com suas pautas. Foi a AMB também quem acionou o STF, ao lado do Solidariedade, contra o impeachment no STF.
Os deuses estão loucos. Por Merval Pereira
O Globo
Os “deuses” do Olimpo jurídico manobram para
que ninguém, ou nenhuma instituição, possa limitar seus poderes.
A maior prova de que a acareação marcada pelo
ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Dias Toffoli sobre o caso Master
estava tecnicamente errada e era injustificada foi o presidente do banco,
Daniel Vorcaro, e o ex-presidente do Banco Regional de Brasília Paulo Henrique
Costa, o pretenso comprador, terem sido convocados para um interrogatório que
não estava previsto. Continuamos assistindo a um simulacro processual, pois,
antes mesmo dos depoimentos oficiais dos envolvidos, pressupõe-se que haverá
contradições, justificando a acareação.
Todo o atropelo do processo, desde o momento em que foi transferido ao STF sem razão de ser, dá a impressão à sociedade de que querem acobertar alguma coisa. Não é a primeira vez que o dono de um banco liquidado pelo Banco Central (BC) reclama, alegando prejuízos provocados pela ação saneadora da instituição fiscalizadora do sistema financeiro nacional. A diferença hoje é que o Supremo entrou na briga, aparentemente a favor de Vorcaro, embora o BC tenha se livrado da subordinação aos demais Poderes e seja autônomo legalmente.
STF corre risco com o caso do Banco Master. Por Fernando Gabeira
O Globo
O que aconteceria se os fatos de agora
levassem à desmoralização da Justiça, principalmente do Supremo?
Essa história do Banco Master e do STF
atravessará o ano. Posso deixar de lado os detalhes e me concentrar agora num
tema mais abstrato. Olhando para trás, constato que a Operação Lava-Jato
desmoralizou a política e contribuiu para a ascensão de uma proposta radical de
direita. O que aconteceria se os fatos de agora levassem à desmoralização da
Justiça, principalmente do Supremo?
Imagino que estejam preocupados com isso alguns dos milhares que pedem um código de conduta para o STF. A partir de um conjunto de regras claras ficaria mais difícil transgredir e estaria construída, mesmo independentemente delas, uma forte blindagem para um organismo que dá a última palavra em todas as nossas questões.
A jornalista e o ministro. Por Pedro Doria
O Globo
Uma das perguntas que mais tenho ouvido de
amigos e familiares, nestes dias de Festas, é: "Qual o objetivo?".
Querem entender o que deseja a imprensa
quando traz notícias de que o ministro Alexandre de Moraes pode ter pressionado
o Banco Central em favor do Banco Master. A resposta não é complicada. O que a
imprensa quer é trazer ao público aquilo que circula nos corredores do poder.
Embutida nessa pergunta — “qual o objetivo?” — existe a presunção de que estamos a serviço de um lado na briga política. Não é isso que nos dá gana um dia após o outro. Francamente, o tesão no trabalho está em ser o primeiro a trazer algo a público. Ao público. O barato está em conseguir explicar com mais clareza como o Brasil funciona, ou o mundo. Em ser útil — e ser lido por ser útil. Pelo ângulo pessoal, essa é a motivação de cada um de nós. Mas, na engrenagem da democracia, a imprensa cumpre um papel fundamental. Ela não julga, não condena. Alerta. Revela à sociedade aquilo que quem tem poder deseja manter em segredo. O jornalismo existe para ligar a sirene e apontar: tem problema ali. É preciso investigar formalmente.
Confusões Master de Dias Toffoli. Por Míriam Leitão
O Globo
Ministro começa a recuar da acareação,
anunciando que convocados darão depoimento. Mas continua tratando da mesma forma
investigados e fiscalizador
A acareação marcada para esta terça no STF sobre o Banco Master é tão imprópria que o próprio ministro Dias Toffoli começou ontem a mudar o formato e decidiu colher depoimentos prévios dos convocados. Toffoli disse, em nota no sábado, que nem o Banco Central, nem o diretor de fiscalização são investigados. Era só mesmo o que faltava. Mas se não o são, por que o diretor do Banco Central Ailton de Aquino será ouvido por uma autoridade policial, segundo a nota do ministro? A polícia só tem autoridade sobre aquilo que é criminal. O rito do devido processo legal está sendo flagrantemente ferido.
Bem mais do que constrangedor. Por Eliane Cantanhêde
O Estado de S. Paulo
Sensação de que Supremo vive numa bolha do
‘vale tudo’, como se salvar a democracia justificasse qualquer coisa e
contrariando a máxima de ‘ninguém está acima da lei’
Do céu ao inferno em um ano, o Supremo Tribunal Federal atravessou 2025 como o salvador da Pátria e das instituições ao condenar um ex-presidente e oficiais de quatro estrelas por tentativa de golpe de Estado, mas morreu na praia, antes do Ano Novo, afogado em suspeitas éticas graves e relações nada republicanas envolvendo o Banco Master.
O vagalhão atingiu em cheio o ícone da defesa da democracia, ministro Alexandre de Moraes, que frequentava jantares na mansão de Daniel Vorcaro e fazia gestões insistentes e não bem explicadas junto a Gabriel Galípolo, do Banco Central, enquanto o escritório de advocacia de sua mulher mantinha um contrato milionário com o Master.
Os nossos heróis dão trabalho. Por Carlos Andreazza
O Estado de S. Paulo
Deveria ser agente perturbador nacional a percepção de que poucos ministros do Supremo estão hoje aptos – como juízes, sob a República, se houvesse uma – a tratar de qualquer questão relativa ao Master. Não me refiro à aptidão formal, decidida por eles mesmos. Podem tudo, como se mede pelas licenças que se dão, palestrantes em eventos patrocinados pelo banco, dublês de juízes e empreendedores, cujos parentes advogam livremente no tribunal em que tomam decisões monocráticas.
Falo do que lhes dá credibilidade. Credibilidade impossível, se um, futuro relator, voa em jatinho com advogado de sujeito implicado na fraude; se o outro, salvador da pátria, frequenta a mansão do banqueiro fraudador; e se a esposa do salvador da pátria tem contrato milionário com o banco do banqueiro fraudador.
Livrar Vorcaro do risco de prisão e da delação é o sonho de políticos e pode ser objetivo da defesa. Por Alvaro Gribel
O Estado de S. Paulo
Estratégia pode ser questionar acusação de
fraude pelo BC e alegar que houve apenas gestão temerária no Master
Muito mais do que tentar reverter a
liquidação do Banco Master, o grande objetivo da
defesa do banqueiro Daniel Vorcaro pode ser livrá-lo
do risco de prisão. Esse cenário também agradaria ao mundo político, porque
implicaria reduzir a praticamente zero o risco de o banqueiro fazer uma delação premiada que
exponha figuras autoridades do primeiro escalão de Brasília.
Por isso, o depoimento e a provável acareação marcada para esta terça-feira devem ser usados pela defesa de Vorcaro para contestar a alegação do Banco Central de que houve fraude no banco. É a constatação pelo BC de que houve gestão fraudulenta por parte de Vorcaro no Master que o levou à prisão. Esse crime é mais grave do que seria a gestão “temerária”, que também ocorre em casos de liquidação bancária, - ou seja, quando um gestor comete erros, mas não crimes, na condução do negócio.
Vulgaridade com dinheiro público. Por Jorge J. Okubaro
O Estado de S. Paulo
O que se espera é que, em 2026, a livre
escolha dos brasileiros resulte numa representação parlamentar mais preocupada
com o País
A gestão do deputado Hugo Motta (Republicanos-PB) na presidência da Câmara dos Deputados está sendo tão desastrosa que o principal responsável por sua eleição para o cargo (e seu antecessor), deputado Arthur Lira (PP-AL), registrou há dias: “Tem que reorganizar a Casa. Está uma esculhambação”. Ambos merecem a vulgaridade da expressão. Agem na política do modo vulgar com que usam o idioma. Aos dois deveria ser acrescentado o nome de Eduardo Cunha, atualmente filiado ao mesmo partido de Motta.
Algo mais os une. O período em que os três ocuparam a presidência da Câmara dos Deputados – Cunha (2015-2016), Lira (2021-2025) e Motta (atualmente) – foi marcado por sistemática redução da racionalidade do processo orçamentário, com a expansão das emendas parlamentares. Normalizada nas práticas do Legislativo, a vulgaridade das decisões do Congresso sobre o Orçamento da União assumiu proporções que ameaçam comprometer programas de governo. As emendas tornaram-se instrumento de pressão e chantagem política.
Os Deuses que Nietzsche não matou. Por Cláudio Carraly*
"Quem é ateu e viu milagres como eu
Sabe que os deuses sem Deus
Não cessam de brotar, nem cansam de esperar"
— Caetano Veloso, Milagres do Povo
Há coisas que, à primeira vista, não deveriam
coexistir. Marxista e crente. Materialista histórico e pessoa de fé. Militante
comunista desde os 14 anos e alguém que sempre acreditou que o mundo guarda
mistérios que escapam ao olhar. O mundo esperava, às vezes exigia que eu
escolhesse um lado. Ateu, agnóstico, no mínimo um antirreligioso. Era o roteiro
esperado de quem carregava Marx no peito desde tão cedo. Mas a vida não lê
roteiros.
Cresci em uma família kardecista, uma das mais antigas a professar essa fé em Pernambuco. Fui criado também pela mão firme e doce de uma incrível mulher da umbanda. Essas presenças não eram ornamentos da infância, eram universos. Eram modos de sentir, de intuir, de perceber que existe algo além do que as estruturas materiais conseguem me explicar. Não contra elas. Mas além. Um pouco além. Muito mais além.
Em 2026, a imprensa seguirá sob ataque. Por Joel Pinheiro da Fonseca
Folha de S. Paulo
No auge da revolta, tenhamos a sabedoria de
não culpar o mensageiro
A mesma imprensa que no governo Bolsonaro era
acusada de petista agora é pintada como aliada do ex-presidente
"Ninguém gosta do mensageiro que traz
notícias ruins", diz a famosa citação da "Antígona" de Sófocles.
Quem continua a trazer "notícias ruins" para todos os lados da
disputa política brasileira é a imprensa. Em 2026, ela continuará necessária
como sempre e atacada como nunca.
As reações de parte da esquerda à cobertura da imprensa sobre as possíveis
relações entre Banco Master e
ministros do Supremo tem seguido o roteiro que já conhecemos bem desde a Lava
Jato: especular sobre as intenções da própria imprensa e da jornalista, e não
sobre o teor do que tem sido noticiado. A lógica é: se a notícia é ruim para o
meu lado, então ela é falsa. O mensageiro é mau.
Profecias eleitorais não resistem à realidade. Por Dora Kramer
Folha de S. Paulo
Os anos de eleição começam cheios de
previsões, quase sempre desmentidas pelo inesperado dos fatos
As surpresas acompanham nossas disputas
presidenciais desde a primeira delas na nova era democrática
Ano eleitoral é sempre cheio de prognósticos,
assim como será o de 2026 prestes a começar. Previsões quase sempre desmentidas
pelos fatos, carrascos da reputação de adivinhos.
Alguns desses desmentidos acompanham as
eleições presidenciais desde a primeira da nova era democrática.
Quem, em janeiro de 1989, cravaria que em
dezembro a batalha
final seria travada entre dois novatos no meio de duas dezenas de candidatos
experientes tanto nas lides da ditadura quanto na trincheira de oposição ao
regime?
Fernando Collor (PRN) bateu Luiz Inácio Lula da Silva (PT), deixando no ora veja gente como Ulysses Guimarães (PMDB), Mário Covas (PSDB), Paulo Maluf (PDS), Leonel Brizola (PDT) e mais 16 outros concorrentes.
Eduardo Paes joga parado para ganhar a partida. Por Alvaro Costa e Silva
Folha de S. Paulo
Apostas eleitorais da direita e da extrema
direita não conseguem se firmar
Escândalos de corrupção e favorecimento ao
crime organizado sepultam candidaturas
"Cai o rei de espadas/ Cai o rei de
ouros/ Cai o rei de paus/ Cai, não fica nada". Os versos da canção
"Cartomante", de Vitor Martins e Ivan Lins, sucesso
na voz de Elis Regina, descrevem a crise política em que o Rio de
Janeiro está mergulhado, com a elite do Executivo e do Legislativo
envolvida em escândalos de corrupção e favorecimento
ao crime organizado.
Direita e extrema direita andam perdidas no lamaçal, sem saber como se posicionar para as eleições de 2026. Os possíveis candidatos ao governo e ao Senado estão caindo como moscas, com risco de não ficar ninguém com expressão na disputa.
Uma questão de ego. Por Hélio Schwartsman
Folha de S. Paulo
Com Trump, ego presidencial é tão decisivo
quanto interesses do país para definir política externa dos EUA
Ações do novo inquilino da Casa Branca já
fizeram ordem internacional regredir mais de um século
O problema de os EUA terem se tornado uma
republiqueta é que ficou mais difícil prever como a principal potência
econômica e militar do planeta se comportará no plano internacional.
Até não muito tempo atrás, presidentes americanos perseguiam aquilo que identificavam como interesses do país, que eram mais ou menos conhecidos. Com Trump 2, o jogo mudou. Hoje, um dos principais fatores a determinar a política externa dos EUA é o ego do presidente, que é volúvel e caprichoso.
Por um 2026 melhor. Por Ivan Alves Filho*
Mais atual, impossível.
segunda-feira, 29 de dezembro de 2025
Opinião do dia – Eric Hobsbawm* (Importância da política)
Eric
Hobsbawm (1917-2012), “Como Mudar o Mundo”, p. 300 – Companhia das Letras, 2011
O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões
Alienação parental exige debate com menos ideologia
Por O Globo
Decisão da CCJ da Câmara que revoga lei
poderá criar vazio jurídico. Senadores deveriam corrigir falhas
A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ)
da Câmara aprovou antes do recesso parlamentar a extinção da Lei de Alienação
Parental de modo conclusivo, que prescinde da discussão em plenário. É
essencial que o Senado se debruce com mais vagar sobre o tema e promova uma
ampla discussão em busca de um ponto de equilíbrio entre a extinção, como quer
a Câmara, ou a manutenção da situação atual.
O termo “alienação parental” resume as condutas e posturas de casais em separação litigiosa, ou de suas famílias, que usam os filhos para atingir o outro lado no conflito. Entre as práticas condenáveis classificadas pela lei estão: dificultar o contato da criança ou adolescente com pai ou mãe; mudar de endereço sem informar ao outro responsável; criar narrativas falsas para desqualificá-lo; impedir ou dificultar o acesso a informações sobre saúde, escola e outras atividades.
2025: Democracia mostra resiliência em meio à fricção entre Poderes. Por Luiz Carlos Azedo
Correio Braziliense
Tentativa de golpe de 8 de
janeiro de 2023 não prosperou porque não houve adesão do Congresso, chancela do
Judiciário e apoio das Forças Armadas, apesar dos atritos entre Executivo,
Legislativo e Judiciário
Sem grandes ilusões, o Brasil irá às urnas em
2026, provavelmente polarizado entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva,
com sua “economia do afeto”, como diria o historiador Alberto Aggio (A
Construção da Democracia no Brasil 1985-2025, editora Annablume e Fundação
Astrojildo Pereira-FAP), e o candidato apoiado pelo ex-presidente Jair
Bolsonaro, que está convalescendo de uma cirurgia e deve voltar a cumprir pena
em regime fechado.
Segundo as pesquisas, a maioria dos eleitores
está com cansaço, desconfiança e tédio, mas não deixará de votar. Isso não é
pouco: a democracia brasileira hoje não promete felicidade cívica, promete
apenas evitar o pior pelo simples fato de que existe. Essa polarização parece
inexorável, mesmo que as forças de centro-direita consigam remover a
candidatura do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) e/ou lançar um candidato de
direita que empolgue os eleitores.
Talvez seja pouco para entusiasmar; no mundo em que vivemos, porém, é muito para preservar. Diante desse cenário, nos resta compreender melhor como foi que chegamos até aqui. O ano de 2025 nos deixa em estado de perplexidade. De um lado, o regime democrático não colapsou, graças à Constituição de 1988, apesar de ter sido submetido a choques sucessivos que, em outros momentos de nossa história, teriam resultado em golpes de Estado. De outro, há evidente mal-estar social, fadiga eleitoral e descrença na política como espaço de participação da sociedade e solução dos problemas do país.
Pessoas que respeitam e que corrompem instituições. Por Bruno Carazza
Valor Econômico
Caso do Banco Master confirma que
instituições não são suficientes para preservar a democracia e evitar a
corrupção
Muitos atribuem à força das nossas
instituições a razão por que a democracia brasileira sobreviveu diante da
tentativa de golpe bolsonarista. Segundo essa interpretação, a postura firme do
Supremo Tribunal Federal na reação ao 8 de janeiro e a decisão das Forças
Armadas de não embarcarem na aventura golpista foram fundamentais para o
malogro da séria ameaça autocrática que sofremos.
Quem discorda dessa tese aponta que o desfecho da história seria completamente diferente se Alexandre de Moraes não estivesse na presidência do Tribunal Superior Eleitoral, ou se o general Freire Gomes e o brigadeiro Baptista Júnior tivessem aderido aos planos de Bolsonaro tal qual seu colega, o almirante Almir Garnier Santos.
Proteção frágil ao BC ameaça a estabilidade. Por Alex Ribeiro
Valor Econômico
Quando as autoridades tergiversam por medo de
serem responsabilizadas, as consequências podem ser sérias
O Banco Central não está acima da lei nem isento de prestar contas de seus atos. Mas as recentes iniciativas do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal de Contas da União (TCU) para apurar o caso do Banco Master, da forma como estão sendo executadas, enfraquecem a autonomia da instituição e deixam o país mais vulnerável a crises bancárias.
Os princípios de supervisão de Basileia, um
acordo internacional que visa assegurar a estabilidade financeira em todo o
mundo, recomendam expressamente que os reguladores e fiscais bancários tenham
proteção legal para evitar que deixem de tomar as decisões necessárias por medo
de sofrer sanções.
A prescrição é clara: os supervisores só devem responder por suas ações nos casos em que agem com dolo ou má-fé. Não devem se sujeitar a punições quando o Judiciário ou órgãos de controle externo consideram que houve algum erro, seja por imperícia técnica ou por negligência.
Juízes afastados, no Chile. Por Carlos Alberto Sardenberg
O Globo
Em dois casos, eles foram destituídos pelo
Senado. No terceiro, por seus próprios colegas de tribunal
Três ministros da Suprema Corte do Chile
foram afastados de seus cargos no curto período entre outubro do ano passado e
dezembro último. Em dois casos, os juízes foram destituídos pelo Senado. No
terceiro caso, a magistrada Angela Vivanco foi afastada pelos seus próprios
colegas de tribunal. As penalidades foram as mesmas: perda do cargo e
inabilitação de cinco anos para exercício de qualquer cargo público.
Os casos foram diferentes, mas com vários pontos de contato. Os parâmetros que se formaram ao longo dos processos ficaram claros: para afastar um magistrado não é necessário provar que ele praticou corrupção (vendendo sentenças, por exemplo), nem que tomou decisões com o objetivo explícito de favorecer parentes ou amigos. Basta a aparência de parcialidade, além da existência de relações familiares ou pessoais impróprias.
São Paulo de mil buracos. Por Miguel de Almeida
O Globo
A degradação urbana não é inevitável, é uma
escolha. A cidade ainda é uma grande ideia do homem, mas, sendo invenção
humana, vem permeada por seu gênio e por seus demônios
O poeta francês Charles Baudelaire desenvolve
o conceito de modernidade a partir das ruas parisienses do século XIX. Ele a
pensava como fusão entre o eterno e o transitório, entre o clássico e o fugaz.
A rapidez das ferrovias, a percepção de proximidade entre as capitais europeias
e os bulevares rasgados pelo Barão Haussmann — tudo isso configura a Paris da
modernidade. É quando surge o flâneur, aquele que vaga com o olhar vadio e
curioso pelas coisas urbanas.
Na contemporaneidade, esse personagem morreu. Na São Paulo do século XXI, quem tenta flanar precisa esconder o celular dos trombadinhas, desviar dos buracos da calçada e fugir de ciclistas que invadem o passeio. Não há olhar vadio possível — apenas olhar vigilante.
O Brasil da Esperança. Por Irapuã Santana O Globo
O Globo
Enquanto o poder se isola, pessoas comuns
usam o brilho da inteligência para resolver o que o Estado ignora
Nos últimos anos, as notícias têm jogado na
nossa frente um Brasil de privilégios, em que alguns são mais iguais que os
outros. São casos que mostram a completa ausência de ética, moralidade e
vergonha por parte de nossas autoridades, de todos os espectros políticos,
revelando que a República, de fato, nunca existiu no país. Mas nossa nação não
é feita apenas disso. Na verdade, nosso povo é feito de luta e solidariedade, e
o dia a dia do Brasil profundo, aquele real, mostra isso.
É nesse Brasil real, longe dos gabinetes de Brasília e dos privilégios de castas, que a verdadeira inovação e a decência florescem. Enquanto o poder se isola, pessoas comuns usam o brilho da inteligência para resolver o que o Estado ignora.






.jpg)

















.jpg)
.jpg)








