domingo, 21 de dezembro de 2025

Congresso legalizou roubar voto de pobre. Por Celso Rocha de Barros

Folha de S. Paulo

Legislativo traiu os trabalhadores que, para votar, tiveram que driblar bloqueios de estrada ordenados por Bolsonaro

Roleta será instalada na porta do Congresso para que o sujeito de direita compre revisão de dosimetria em caso de golpe fracassado

Congresso Nacional reduziu a pena de quem tentou roubar voto de pobre.

Os que tentaram roubar as armas da República para perpetuar sua facção no poder e matar seus adversários sob tortura também foram beneficiados.

De agora em diante, uma roleta será instalada na porta do Congresso para que o sujeito de direita, em caso de golpe fracassado, já se dirija ao centrão para comprar "revisão de dosimetria" com emendas do orçamento secreto. Aceitarão dinheiro vivo também, Sóstenes, pode ficar tranquilo.

Com Marçal, Flávio Bolsonaro pode reviver campanha disruptiva de 2018. Por Juliano Spyer

Folha de S. Paulo

Silas Malafaia é contrário à candidatura do senador à Presidência

Conflito entre pastor e influenciador pode voltar à cena eleitoral

Estamos caminhando para um rompimento entre Jair Bolsonaro e Silas Malafaia? Na semana passada, o pastor se posicionou publicamente contra a pré-candidatura presidencial de Flávio Bolsonaro.

As declarações de Malafaia circularam nos jornais ao lado de outra notícia relevante: o influenciador Pablo Marçal se encontrou com Flávio e, durante um culto, orou por sua pré-candidatura.

Disputa eleitoral trava combate ao crime. Por Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O ano legislativo se encerra sem que deputados e senadores respondam à demanda popular por segurança

Tudo indica que 2026 será um ano perdido com promessas de palanque e embates improdutivos no Congresso

Foi-se mais um ano legislativo sem que o Congresso conseguisse produzir resposta consistente à aflição do público subtraído no seu sagrado direito de ir e vir em razoável segurança.

Isso ocorre num momento periclitante para o Judiciário, o agente detentor da punição de ilícitos, posto na berlinda por uma série de incorreções cometidas em suas variadas instâncias.

Genealogia do crime perfeito. Por Muniz Sodré

Folha de S. Paulo

O feminicídio é problema antigo, mas dele se falava pouco, fossem as vítimas ou as autoridades

O choque atual parece ter a ver com o fim de outra forma de violência, o silêncio

Epidemia (do grego "epi-demos") significa literalmente aquilo que incide de forma direta, sem mediações, sobre o povo. Por isso nomeia surtos inesperados de doenças infecciosas em várias regiões. Endemia, por outro lado, é a manifestação desse fenômeno de modo estável. Choque e perplexidade têm levado frações de público a falar de uma "epidemia" de feminicídios e violências contra as mulheres, talvez devido ao aumento extraordinário de casos, mas esse é um mal culturalmente endêmico. Sempre existiu como uma recorrência em graus variáveis, a depender da região.

INSS mostra como incompetência e corrupção são pragas que se realimentam. Por Vinicius Torres Freire

Folha de S. Paulo

Além de evidências cada vez mais extensas de fraude, fila cresce muito

Governo Lula 3 ainda não tomou providência maior para reformar o sistema

O sistema de concessão de benefícios da Previdência não funciona. Uma prova simples do problema é o número de cidadãos na fila do INSS, que aumentou em 49% em um ano, para 2,86 milhões de requerimentos à espera de solução. Esse escândalo administrativo dá o que pensar sobre inércia reformista e ativismo corrupto.

"Sistema de concessão" é uma expressão feia e obscura como quase todas as que incluem a palavra "sistema". Serve para dizer que o assunto é de responsabilidade, ao menos, do ministério da Previdência, do seu Departamento de Perícia Médica, do INSS (vinculado ao ministério) e da Dataprev (estatal que processa também os dados dos benefícios previdenciários, vinculada ao ministério da Gestão). Uns atribuem aos outros a conta da ruína.

(Gilvan e Graziela) Exilados voltam e passam o Natal presos - Feliz Natal a todos!


Jornal do Brasil - terça-feira, 26/12/78

Legenda: Graziela e Gilvan Cavalcanti de Melo foram liberados na Polícia Marítima às 11 horas

Exilados voltam e passam o Natal explicando por que voltaram sem passaportes

Fora do país há seis anos, absolvido em setembro último da acusação de pertencer ao PCB, o ex-funcionário do INPS Gilvan Cavalcanti Melo, chegou do Panamá com a mulher e os dois filhos, no domingo e foi preso. A Embaixada do Brasil informara que poderiam desembarcar só com a carteira de identidade, mas a polícia deteve o casal por 12 horas durante a noite de Natal, para saber porque estavam sem passaportes.

O Sr. Gilvan e D. Graziela Cavalcanti Melo passaram a noite num sofá da Delegacia de Polícia Marítima, onde foram interrogados ontem de manhã e liberados depois de preencherem um questionário mimeografado. Os filhos, Gilvan de 16 anos, paralítico, e Ana Amélia, de 12, foram dispensados pela polícia ainda no aeroporto e ficaram com parentes.

GARANTIA

Hoje, com 43 anos, o Sr. Gilvan de Cavalcanti Melo, nascido em Pernambuco, foi demitido do INPS por decreto baseado no AI-5, em 1972, sob a acusação de pertencer ao Partido Comunista Brasileiro. Logo após foi com a família para Buenos Aires, Porto Alegre e finalmente Santiago onde trabalhou na Corporação de Fomento.

Com a derrubada do Governo Allende, asilaram-se na Embaixada do Panamá, país onde o Sr. Gilvan conseguiu trabalho numa empresa de administração. Morou durante algum tempo em Cuba que lhe forneceu documento de identidade.

Ao saber de sua absolvição em processo na 2ª Auditoria da Marinha em 19 de setembro, o Sr. Gilvan consultou a Embaixada do Brasil no Panamá e recebeu a garantia de que poderia voltar normalmente apenas com a carteira de identidade brasileira emitida em 1972 se viajasse por uma empresa aérea brasileira.

A família embarcou num voo da Varig às 8,43 de domingo e chegou ao Aeroporto Internacional do Rio às 19,50. Levados para a Polícia Marítima e Aérea, o casal e os dois filhos foram informados de que teriam que prestar depoimentos, por não estarem com passaportes.

Após entendimento com os policiais, o Sr. Gilvan conseguiu que os filhos fossem liberados, enquanto ele e a mulher eram levados à sede da Polícia Marítima, na Av. Rodrigues Alves. Ali passaram a noite do Natal, recostados num sofá. O advogado Humberto Jansen chegou à delegacia às 7hs, mas só conseguiu liberar o casal, às 11h, depois que os dois prestaram depoimentos de uma hora cada um. 

No questionário tiveram que informar as condições de saída do país, como viviam e onde trabalhavam no exterior e porque voltaram. Agora o que quero fazer mesmo é assistir um jogo do meu Vasco”, disse o Sr. Gilvan.

E Carlos Drummond de Andrade decretou o verão: em crônica inédita, poeta ironizou o AI-5 em janeiro de 1978

Por Bolívar Torres / O Globo

Nunca publicado em livro, texto pedia que cariocas curtissem a ‘mais trepidante das estações’

Janeiro de 1978. No artigo 1º de seu “Ato Institucional do Verão Carioca”, Carlos Drummond de Andrade decreta: “Todos os moradores da cidade do Rio de Janeiro, ricos ou pobres, de qualquer raça, religião, profissão ou falta de profissão, convicção ou ausência de convicção política, têm igual direito a curtir as excelências do verão, também chamada estação calmosa, embora seja a mais trepidante das estações”.

Publicada na revista masculina Status naquele mesmo mês e ano, a crônica do poeta mineiro reúne 20 artigos que ironizam as regras de convivência, os abismos sociais e as estratégias de sobrevivência diante do caos urbano e do calor. Também satiriza os decretos da ditadura militar, que vivia o último suspiro do Ato Institucional nº 5 (AI-5) e ensaiava uma abertura lenta e gradual.

Como inúmeras outras colaborações de Drummond para a imprensa, este “Ato Institucional do Verão Carioca” permanece inédito em livro, e é obscuro até mesmo entre especialistas da obra do autor. Merece ser resgatado quase 50 anos depois, neste 21 de dezembro em que começa a mais carioca das estações.

— É um texto que destoa da obra do Drummond pela forma paródica do discurso oficial, no caso plena de absurdos e arbitrariedades — observa o crítico e poeta Antonio Carlos Secchin, que desconhecia a crônica. — Essa divisão em artigos de lei, numerados, não é usual.

Chopinho gelado

Responsável por encontrar diversos poemas inéditos de Drummond em 2009 e autor de “Papéis de poesia: Drummond & mais (2014)”, o imortal da Academia Brasileira de Letras destaca o lado satírico da crônica, que “atira em vários alvos”.

Drummond mira regras sociais, estruturas de poder, a ganância que inflaciona o chope e os refrescos, os privilégios que definem a experiência estival. Como um burocrata tentando domar o lirismo da vida, trata o calor como política pública, o bom humor como obrigação cívica e a praia como “praça do povo”.

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

UE é responsável pela sina do acordo com Mercosul

Por O Globo

Protecionistas são poucos, mas fizeram de tudo para torpedear qualquer tipo de tratado

Em comunicado à Câmara dos Deputados da Itália na semana passada, a primeira-ministra Giorgia Meloni afirmou que a assinatura do acordo de livre-comércio entre União Europeia (UE) e Mercosul era “ainda prematura”. “É necessário aguardar que o pacote de medidas adicionais para proteger o setor agrícola seja aperfeiçoado e, ao mesmo tempo, apresentá-lo e discuti-lo com nossos agricultores”, disse Meloni. Ela cerrou fileiras contra o tratado com o presidente francês, Emmanuel Macron. Os dois comandaram a barreira erguida na reunião de cúpula dos 27 integrantes da UE em Bruxelas que deveria ter referendado o documento a tempo de ser assinado ontem, em Foz do Iguaçu (PR), na cúpula do Mercosul. Sem aval do Conselho Europeu, o acordo não saiu. A presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, afirmou que uma nova data será marcada em janeiro.

Poesia | O Auto do frade - Frei Caneca, de João Cabral de Melo Neto

 

Música | Moreira da Silva - Rei do Gatilho

 

sábado, 20 de dezembro de 2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Bolsonarismo sofre baque com operação da PF

Por O Globo

Depois da cassação de três deputados, outros dois são alvo de acusações de corrupção com verba parlamentar

Depois da hesitação incompreensível na cassação da então deputada foragida Carla Zambelli (PL-SP), o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), soube corrigir o rumo no caso dos também fugitivos Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), cujos mandatos foram cassados pela Mesa da Casa. Espera-se que atue também com rigor perante as acusações que agora pesam contra outros dois deputados do PL fluminense, Carlos Jordy e Sóstenes Cavalcante, líder do partido na Câmara. Ambos foram alvo de operação da Polícia Federal (PF) para coibir desvios de recursos da cota parlamentar.

Um golpe, um agrado. Por Flávia Oliveira

O Globo

Excelências só se preocupam em saciar os próprios desejos

Na mesma semana, a Câmara dos Deputados adiou para 2026 a apreciação do PL Antifacção e da PEC da Segurança Pública, em nova evidência de desprezo pela agenda prioritária da população. Pesquisa Datafolha, apurada nos primeiros dias de dezembro em 113 cidades brasileiras, mostrou que a violência é o maior problema do país para 16% da população, atrás apenas da saúde, citada por um quinto. Mais importante para Hugo Motta e seus pares, Senado incluído, é atenuar a pena de quem atentou contra a democracia, cláusula pétrea da Constituição. Promulgado o projeto da dosimetria (em letra minúscula, por favor), que passou como um raio pela Casa revisora, golpismo será crime menor, beneficiado com semiaberto após cumprimento de um sexto da pena em regime fechado; troca de dias de prisão por leitura, mesmo em custódia domiciliar; imposição ao Judiciário de fundir dois ataques distintos, abolição violenta do Estado Democrático e golpe.

A opção de Flávio pelo establishment. Por Thaís Oyama

O Globo

O senador não pretende tentar conciliar a retórica do candidato pragmático com o bolsonarismo

O senador Flávio Bolsonaro deu a largada em sua campanha à Presidência anunciando ser “o Bolsonaro que todo mundo quer”. Em encontros com empresários, tratou de listar seus pretensos atributos: “moderado”, “equilibrado” e, como disse num vídeo, alguém que até tomou vacina — sugerindo, assim, ter em comum com o pai só o sobrenome. Suas falas iniciais deixam claro que ele não pretende tentar conciliar a retórica do candidato pragmático com o bolsonarismo antissistema — investirá na primeira e desprezará a segunda. Isso porque, para Flávio e aliados, os eleitores de Jair estarão com ele haja o que houver e diga ele o que disser.

Chavão abre porta grande. Por Eduardo Affonso

O Globo

Clichês são uma faca de dois gumes. Se os repetimos tanto é porque tiveram poder de fogo e, em algum momento, foram um gol de placa

O clichê é um divisor de águas na vida de quem escreve. É a tábua de salvação quando o cérebro aciona o piloto automático, incapaz de qualquer esforço intelectual — e a dificuldade de pensar e elaborar simbolicamente nos faz tirar da cartola, ou do bolso do colete, uma imagem que valha mais que mil palavras.

Via de regra, é só a gente baixar a guarda e... lá está ele, dando o ar da sua graça e apontando a luz no fim do túnel do que parecia um beco sem saída ou o fundo do poço. Chega como uma bala de prata para que não seja preciso ficar dando murro em ponta de faca, enxugando gelo ou chorando sobre o leite derramado.

Subdesenvolvimento em marcha. Por André Gustavo Stumpf

Correio Braziliense

O governo do Brasil está olhando os foguetes passarem sobre nossas cabeças. O país não tem sequer capacidade de colocar um satélite em órbita. Mas o Parlamento continua discutindo temas tão relevantes quanto a dosimetria

Mesmo após 26 anos de negociações, os líderes europeus pediram ainda mais um mês com objetivo de discutir, entre si, as condições finais para referendar o acordo com os países do Mercosul, o famoso e discutido tratado de livre comércio que seria assinado, com grande pompa, neste final de semana, em Foz do Iguaçu. Franceses e italianos se declararam contra o tratado, enquanto a maioria dos europeus pretende assinar o documento. Os alemães querem o acordo para abrir uma janela de oportunidades comerciais para o bloco europeu constrangido pelos russos, de um lado, e pelos norte-americanos, de outro. E os chineses olhando para avançar no momento certo. 

Reflexões do tipo a quem interessar possa. Por Bolívar Lamounier

O Estado de S. Paulo

Tudo isso somado deveria abrir nossos olhos para o fato de que somos um país teoricamente robusto, mas vulnerável a graves retrocessos

Peço vênia para repetir o que há tempos tenho feito: uma tentativa de diálogo com quem queira olhar o Brasil com os olhos abertos. Parto do que enxergo sem grande esforço, baseando-me apenas no que me chega pelos jornais.

Tenho para mim que o Brasil não é um país difícil de governar. Somos naturalmente protegidos pela extensão de nosso território e pelas enormes distâncias que nos separam das potências que nos varreriam do mapa se nos encrencássemos com elas no terreno bélico. Sublinhemos também que, pelo menos no setor externo, já não estamos ameaçados por vulnerabilidades como as de meio século atrás, quando a escassez de insumos essenciais nos estrangulava e endividamentos mastodônticos como o da era Geisel eram um tormento constante. Ao contrário, nosso pujante agronegócio e a mineração nos dão certa tranquilidade, sem embargo de serem poucos os produtos que somos capazes de exportar e poucos, também, os países compradores.

O PT aderiu ao acordão. Por Carlos Andreazza

O Estado de S. Paulo

Davi Alcolumbre entregou a sua parte no trato. Não fez favor, como se verá. Faltava o governo Lula no acordão, que costurou bolsonarismo, Centrão, os comandos do Congresso e aquela porção do Supremo composta por senadores-consultores togados. Não falta mais. O governo aderiu. Aos 45 do segundo tempo, no Senado. Não sem cálculo. Certamente sem favor, como se verá.

Aderiu ao acordo pela aprovação do projeto de redução de penas, chamado de PL da Dosimetria. Projeto que tem Jair Bolsonaro como objeto beneficiado. O líder do governo, Jaques Wagner, admitiu. Argumentou que o trem seria aprovado de qualquer maneira, cedo ou tarde. Subentendido que via vantagem em acelerá-lo, em troca da aprovação de pauta fiscal decisiva para o Planalto. Subentendido no subentendimento de que Lula vetaria o texto adiante... Há um teatro. Lula o vetará. O Congresso derrubará o veto e ficará com o ônus, explorado pelos governistas, de “defensor de golpista”.

STF e Parlamento: o conflito inevitável. Por Juliana Diniz

O Povo (CE)

As cenas impressionantes do volume de dinheiro vivo encontrado nos apartamentos vistoriados pela Polícia expõem um resultado previsível do novo modelo de alocação orçamentária que teve lugar com o chamado orçamento secreto

As operações policiais que cumpriram medidas judiciais de busca e apreensão em apartamentos ligados aos deputados Sóstenes Cavalcante e Carlos Jordy, ambos do PL, apimentaram ainda mais as queixas de parlamentares sobre os supostos excessos do Supremo Tribunal Federal. As operações estão relacionadas a apurações de possíveis desvios de recursos públicos oriundos de emendas parlamentares. Muito queixosos, os políticos se dizem perseguidos, alvo deliberado de uma campanha do Executivo, do Judiciário e da Polícia Federal, contra a oposição.

A blindagem do Supremo. Por Ana Luiza Albuquerque

Folha de S. Paulo

Eventuais excessos durante o governo Bolsonaro poderiam se justificar diante de um momento agudo de ascensão autoritária, mas o cenário hoje é outro

Tentativas de blindagem da corte podem agravar a crise de confiança nas instituições e, por consequência, colocar em risco a própria democracia

O Poder Judiciário é um bastião fundamental contra avanços autoritários.

Por vezes, porém, como no Brasil, a missão foi exercida com atos que extrapolaram as prerrogativas ou que fugiram do rito processual. Está longe do ideal que um magistrado julgue fatos em que figura como personagem, como foi com o ministro do STF Alexandre de Moraes e o plano Punhal Verde e Amarelo.

Ainda assim, pode-se argumentar que o país passava por um momento de crise democrática aguda e que, fazendo valer o sistema de freios e contrapesos, a Suprema Corte respondeu aos excessos do Executivo diante de um Procurador-Geral da República omisso.

Facilitar o impeachment. Por Hélio Schwartsman

Folha de Paulo

Legislativo estuda alterações na lei de 1950 que estabelece regras para destituir autoridades

Lógica de freios e contrapesos, que compartimentaliza e divide o poder, precisa prevalecer

Sistemas de freios e contrapesos precisam ter roldanas grandes e pequenas. Sempre que se dá poder a uma autoridade, é necessário também criar um mecanismo para evitar que ela abuse desse poder. É nesse contexto que se inscreve o impeachment. Ele surgiu na Inglaterra do século 14 como um procedimento puramente penal, ganhou feições políticas na Constituição americana de 1787 e dali saltou para integrar a paisagem institucional de várias nações presidencialistas.

Mimimi de Flávio Bolsonaro esbarra na rejeição espetacular. Por Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Jair sentou definitivamente em cima de seus votos

Flávio virou pesadelo para articuladores da candidatura Tarcísio

No início do mês, logo após lançar sua pré-candidatura à Presidência, seguindo as ordens dadas pelo pai de dentro da prisão, Flávio Bolsonaro provocou os descontentes: "Eu tenho um preço. Quem dá mais?".

Aberto o leilão, veio o primeiro lance. A proposta que reduz a pena de Bolsonaro e de outros condenados pelos ataques antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 foi aprovada na Câmara com rapidez e, para variar, na calada da madrugada.

Regras fiscais e sustentabilidade econômica. Por Marcus Pestana

O cenário macroeconômico para 2026 é de desaceleração, com a perspectiva de um crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2,3%, em 2025, 1,7%, em 2026, e uma taxa média de crescimento, de 2027 a 2035, de 2,2% a.a. Já em relação à inflação, verificamos a entrada do Indice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) na órbita do intervalo de tolerância do sistema de metas inflacionárias, em resposta à política monetária implementada pelo Banco Central, com a estimativa de fecharmos 2025 no patamar de 4,3%, experimentarmos ligeira queda para 3,9% em 2026, e convergirmos, de maneira suave, para o centro da meta de inflação (3,0%), no período entre 2027 e 2035. Quanto ao setor externo, não se espera nenhum impulso econômico extraordinário em função da permanência de riscos e incertezas relevantes.  Todos estes elementos influenciam o cenário fiscal.

Lula concede entrevista coletiva à imprensa

 

Motivos para brindar. Por Pedro Serrano

CartaCapital

O legado de 2025 é gigantesco. Foi dada uma lição fundamental às gerações atuais e às vindouras: a de que o País não admite mais, sob hipótese alguma, ataques à democracia

No esquadrinhamento dos fatos e feitos do ano, é inevitável elencar os julgamentos dos golpistas de 8 de janeiro de 2023 como um dos pontos altos de 2025, lembrando que seus efeitos benéficos devem perdurar por muito tempo. Ao todo, foram mais de cem dias de sessões, que resultaram na condenação de 29 réus, entre eles o ex-presidente Jair Bolsonaro. Diante de provas irrefutáveis, não apenas de planos – incluindo os de sequestro e assassinato de autoridades –, mas também de atos efetivamente praticados, o processo representou a vitória do Estado Democrático de Direito que os articuladores do golpe tentaram derrocar, felizmente sem sucesso.

À espera do ploc! Por Luiz Gonzaga Belluzzo

CartaCapital

A bolha da Inteligência Artificial está prestes a estourar, e outras não tardarão a se formar

Vamos iniciar a discussão com a advertência explicitada no Relatório Trimestral do Banco de Compensações Internacionais, o BIS. “O boom relacionado à Inteligência Artificial (IA) nos preços das ações continuou a moldar o comportamento dos mercados financeiros. As ações de grande capitalização da tecnologia continuaram a superar durante grande parte do período em análise, impulsionadas por lucros fortes. No entanto, eles mostraram sinais de retração no final do período, devido à maior cautela dos investidores em relação a avaliações mais longas”, afirma o texto.

Ruchir Sharma, presidente da ­Rockefeller International, soou mais um alarme no Financial Times. “Em meio à conversa sobre a mania da Inteligência Artificial, as pessoas começaram a brincar com a ideia de ‘uma bolha dentro da bolha’. As buscas no Google por IA associada à palavra ‘bolha’ dispararam, e o clima nos mercados parece exuberante. No entanto, além desses indicadores subjetivos, não existe uma métrica-padrão para definir uma bolha. Meu teste se concentra em quatro ‘Ss’: sobrevalorização, sobrepropriedade, sobreinvestimento e sobrealavancagem.”

Quando deixamos de ser franceses. Por Vladimir Safatle

CartaCapital

A recuperação do legado de Gérard Lebrun revela as aventuras da formação de um pensamento filosófico brasileiro

Há uma maneira de compreender a filosofia no Brasil através da história de sua profissionalização. Tal maneira consiste em afirmar que, antes da profissionalização universitária da filosofia, o que existia aqui não vale muito a pena ser recordado e integrado.

A experiência filosófica anterior seria composta de voos de fôlego curto, ecletismos os mais variados e de um ­ensaí­sm­o­ filosófico-literário ao qual faltaria certo “rigor”. Nenhum aluno de filosofia é levado atualmente a ler os textos de Sílvio Romero ou Tobias Barreto, para ficar em dois dos mais conhecidos representantes desse momento.

Mas eis que teria vindo a implantação universitária da filosofia entre nós e, com ela, a ideia de inaugurar um processo de formação que nos trouxesse o modo de funcionamento da formação que imperava nos países europeus. A criação da Universidade de São Paulo (USP), em 1934, sela esse “momento inaugural”.

O Velho Chico. Por Ivan Alves Filho*

Viajando pelo rio São Francisco, eu entendi que a natureza é um livro e, como tal, merece ser lido com cuidado. Plantas, insetos, pássaros, pântanos, peixes, árvores são suas páginas e bordas. Mais: há, no homem do sertão, uma inteireza que me faz pensar que não existe nele corte profundo entre Natureza e Cultura, de tal forma nos fascina a simbiose entre o homem e o meio. Presenciei situações quase alucinantes, pela beleza e estranheza, quando viajava para escrever o Velho Chico mineiro. 

Crônica | O poeta e os olhos da moça, de Rubem Braga

 

Música | Marília Batista - Cem Mil Réis (Noel Rosa)

 

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

Opinião do dia - Adam Przeworski*

Qual o significado do julgamento de Jair Bolsonaro para a democracia brasileira?

O que impressiona no julgamento não é apenas que Bolsonaro foi condenado, mas que oficiais militares de alto escalão também o foram. Isso é inédito no Brasil. E as Forças Armadas estão em silêncio. O julgamento mostra que Bolsonaro não sai impune, que a sua base potencial de apoio para desestabilizar a democracia foi desativada e que as Forças Armadas não vão desempenhar um papel político.

Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses de prisão, mas a Câmara discute um projeto que pode livrá-lo de punição. O que significaria a anistia?

Seria um desastre. A lição de uma anistia seria clara: pode-se levar a cabo ações criminosas contra a democracia e sair impune. Encorajaria o próprio Bolsonaro e qualquer outro líder político a tentar isso.

*Adam Przeworski (1940), professor de Ciência Política da Universidade de Nova York. Entrevista: Anistia a Bolsonaro seria um desastre e encorajaria novos golpes, O Globo, em 28/9/2025

O que a mídia pensa | Editoriais / Opiniões

Inexiste solução simples para a inoperância da Enel

Por Folha de S. Paulo

Caducidade envolve processo intricado e de duração incerta; venda é opção, mas contrato já vence em 2028

Repetem-se problemas de anos anteriores, que deixaram sequelas irreparáveis na relação da concessionária com poder público e consumidores

Depois de mais uma demonstração de inoperância da Enel, incapaz de restaurar de forma tempestiva o acesso à energia de milhares de residências após o vendaval que atingiu a região metropolitana de São Paulo, criou-se um raro alinhamento entre prefeitura, governo estadual e Ministério de Minas e Energia para cobrar a caducidade da concessão.

O ciclone extratropical do último dia 10 deixou mais de 2,2 milhões de imóveis sem energia, e após mais de uma semana muitos assim permaneciam. Repetem-se problemas exasperantes de anos anteriores, que deixaram sequelas possivelmente irreparáveis na relação da concessionária com o poder público e, sobretudo, com os usuários paulistanos.

País precisa que Câmara mude postura. Por Fernando Luiz Abrucio

Valor Econômico

Há uma sensação crescente de que existe uma casta congressual cujo desejo maior é se blindar de qualquer controle

A Câmara Federal passa pela sua maior crise desde o início da redemocratização. Tal problema deveria ser uma preocupação não só dos deputados, cuja imagem junto aos eleitores está piorando, o que pode levar muitos a não se reelegerem, mesmo com todo o dinheiro público em suas mãos. Um Legislativo com mau desempenho e frágil legitimidade não é bom para a democracia, que precisa de representantes que possam conversar com a sociedade, moderar o poder presidencial e discutir os grandes temas do país. Hoje, a Câmara está longe do sonho de Ulysses Guimarães de ser a Casa do povo.

A deterioração institucional da Câmara começou com a presidência de Eduardo Cunha. Ele de fato iniciou a alteração do presidencialismo de coalizão que existia até então, com predomínio do Executivo. O balanço do poder começou a pender mais para o Congresso Nacional, que obteve maiores poderes orçamentários e de veto ao presidente. Sua liderança criou seguidores e muitos fãs entre os parlamentares, porém, também gerou um caminho de fortalecimento contínuo do antirrepublicanismo da Casa, por meio do corporativismo exacerbado e do crescimento de condutas irregulares com o dinheiro público.

Marco temporal. Por José de Souza Martins

Valor Econômico

As leis que do assunto tratam no Brasil desconhecem a dimensão humana e a função humana dos conceitos

Cara fechada, de poucos amigos, o sujeito sentou-se ao meu lado, ocupando o lugar da janela para a longa viagem, de uns 650 km, por estrada de terra, entre Barra do Garças e São Félix do Araguaia, no Mato Grosso. A estrada, que eu já havia percorrido outras vezes, cruzava ampla região de pastagens, o pasto ressequido, pontilhado de troncos enegrecidos da antiga mata derrubada e queimada.

Depois de um bom tempo, senti-me encorajado a puxar conversa com o vizinho, sem êxito. Só consegui que me respondesse quando lhe perguntei se tinha fazenda da região. Resmungou, contrariado, que sim. Tentei saber mais alguma coisa, tipo de empreendimento, como fora formada a fazenda. Ele nem sabia dizer exatamente onde ela ficava. Estava indo para uma vaga localização para encontrar as terras que dizia serem suas.

O jogo ‘assim, assado’ da política e das ruas. Por Andrea Jubé

Valor Econômico

Presidente explicou aos jornalistas as regras do jogo, ao confirmar que vetará o PL da dosimetria

No café com jornalistas, na quinta-feira (18), em uma fala didática, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva explicou as regras do jogo, ao confirmar que vetará o PL da dosimetria. “O Congresso tem o direito de fazer as coisas. Eu tenho o meu direito de vetar. Depois, eles têm o direito de derrubar o meu veto, ou não. É assim que é o jogo”.

Nos últimos dias, petistas reclamavam que, no mesmo dia em que dezenas de milhares de brasileiros, militantes e cidadãos comprometidos com a democracia, voltaram às ruas - atendendo convocação da esquerda - para protestar contra a aprovação, pelos deputados, do PL da dosimetria, Lula encontrou-se, fora da agenda oficial, com o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).

No Senado, Papai Noel chegou mais cedo para os golpistas. Por Bernardo Mello Franco

O Globo

Papai Noel chegou mais cedo para os golpistas. A poucos dias do Natal, Jair Bolsonaro e seus comparsas foram presenteados com uma generosa redução de penas.

O Senado aprovou o famigerado PL da Dosimetria. O projeto pode reduzir em até dois terços o tempo que o ex-presidente teria que passar na cadeia. Também serão beneficiados militares e civis que participaram dos ataques à democracia.

Os aliados do capitão nem tentaram disfarçar o casuísmo. Uma emenda apresentada por Sergio Moro deixou claro que o texto foi redigido sob medida para favorecer os condenados do 8 de Janeiro. O ex-ministro, que se vendia como paladino da Justiça, agora usa o mandato para resgatar criminosos do xadrez.

Como falar de política no Natal. Por Pablo Ortellado

O Globo

Convívio preocupa porque aumentam as chances de briga por divergências políticas

As festas de fim de ano se aproximam e, com elas, a perspectiva de convívio com a família estendida. Para muitos brasileiros, esse convívio preocupa porque aumentam as chances de briga por divergências políticas.

Pesquisa recém-lançada pelo Internet Lab e pela Rede Conhecimento Social mostra que metade (50%) dos brasileiros evita falar sobre política nos grupos de família para evitar briga. Segundo pesquisa da Quaest, 17% dos brasileiros relatam ter cortado relações com familiares e amigos devido ao voto nas eleições de 2022. Outra pesquisa, do Datafolha, mostra que 54% relataram ter vivido situação de constrangimento, ameaça física ou verbal em razão de posições políticas — 15% receberam ameaça verbal e 7% ameaça física. Em tempos de polarização, será possível falar de política no almoço de Natal?

Escândalo do INSS azeda o Natal de Lula. Por Vera Magalhães

O Globo

Não é a primeira vez que o nome de Fábio Luís Lula da Silva, o Lulinha, é citado em casos espinhosos para o PT

O governo estava em clima de confraternização natalina, comemorando a recuperação nas pesquisas e o saldo da batalha do tarifaço, quando foi pego no contrapé pela nova fase da investigação do escândalo do INSS, que atingiu o número 2 do Ministério da Previdência, o vice-líder do governo no Senado e chegou bem perto da família de Lula.

Quando revelado, no primeiro semestre, o caso de descontos ilegais nos benefícios previdenciários de milhões de aposentados e pensionistas do INSS foi responsável por uma queda na popularidade de Lula e reavivou, na cabeça de grande parte do eleitorado, a associação entre ele e seu partido, o PT, com casos de corrupção. A pesquisa Quaest divulgada nesta semana coloca o enfrentamento da corrupção como uma das áreas mais mal avaliadas do governo. Para 55% dos entrevistados, a forma como a administração lulista lida com o assunto é ruim ou péssima.

Supostos negócios de Lulinha com Careca do INSS são dor de cabeça para Lula. Por Luiz Carlos Azedo

Correio Braziliense

Estava tudo sob controle na CPMI, até aparecerem indícios de que Antônio Carlos Camilo Antunes, o Careca do INSS, teria negócios que envolveriam o filho do presidente da República

“Filhos, porque qui-los”, diria Apparício Fernando de Brinkerhoff Torelly, o humorista Barão de Itararé, parafraseando o ex-presidente Jânio Quadros. A frase ilustra o dilema político e moral dos presidentes que, no exercício do cargo, veem familiares cruzarem a linha tênue entre o público e o privado. No caso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a Operação Sem Desconto e seus desdobramentos na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito do INSS criam um novo cenário para a atuação do colegiado, corrosivo para a imagem do governo e de grande risco eleitoral, por causa do suposto envolvimento de seu filho Fábio Luís Lula da Silva com o operador central do esquema de desvio de recursos de aposentados e pensionistas, Antônio Carlos Camilo Antunes, o “Careca do INSS”.

2026 já começou: o jogo eleitoral atrás do PL da Dosimetria. Por Roberto Fonseca

Correio Braziliense

O episódio da dosimetria comprova que decisões legislativas de alto impacto são moduladas não apenas pelo mérito, mas pela disputa por narrativa, pela necessidade de preservar a governabilidade e pela busca incessante de vantagens eleitorais

A votação e aprovação do chamado PL da Dosimetria no Senado expuseram, mais uma vez, como as engrenagens da política brasileira giram sob a lógica permanente da eleição que se aproxima. A praticamente 10 meses do pleito presidencial, cada gesto em Brasília se mostra calculado, de olho em 2026. Ao permitir, em nome da agenda econômica, a votação de um projeto duramente criticado por flexibilizar penas para condenados pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023, a base governista, especialmente o PT, aceitou o custo político de deixar avançar um texto que o presidente Lula confirmou que vai vetar mais adiante, mirando também dividendos eleitorais futuros.