terça-feira, 30 de dezembro de 2025

Por um 2026 melhor. Por Ivan Alves Filho*

Difícil não concordar com as palavras que se seguem – quase proféticas, aos olhos de hoje –, escritas pelo respeitado homem público San Tiago Dantas, no ano de 1953. São elas: "As massas brasileiras apresentam um grau elevado de amadurecimento, de capacidade de reação individual, e de intuição prática para a existência. As elites, pelo contrário, desadaptadas da vida pelo obsoletismo da educação universitária, aprisionadas nas malhas das ideologias sem adequação existencial, estão comparativamente atrasadas, e representam mesmo, pela sua inaptidão para tarefas objetivas, um dos fatores permanentes de retardamento no processo do nosso desenvolvimento econômico e social. Conseguimos, em verdade, atingir a essa verificação terrível, de que as elites brasileiras estão mais atrasadas do que as massas brasileiras como massas".

Mais atual, impossível. 

É preciso que uma contra-elite se imponha sobre a cena social. Uma contra-elite cultural que passe uma aliança com os setores populares, que necessitam, por seu turno, se apresentar de forma organizada sobre o tabuleiro nacional.   

Vale dizer, o mundo está em grande transformação e o Brasil sem projeto de nação, completamente desorientado. Mas nem sempre foi assim: aí estão o Plano de Metas, as Reformas de Base e o Plano Real para provar. Hoje, os governos que vêm se sucedendo no país se limitam a tocar a máquina burocrática e olhe lá. A questão ambiental, o novo mundo do trabalho, a própria Democracia e a identidade brasileira, que passa pela Educação e a Cultura, nada disso parece estar em pauta. É um salve-se quem puder imediatista e medíocre. Por momentos, o país parece estar completamente entregue a uma certa morbidez e a parte mais visível disso talvez seja dada pela insegurança que reina em nossas cidades e também pela malversação dos recursos públicos. Há um desmoronamento em marcha e só não vê quem não quer.

Ao que tudo indica, estamos perdendo o trem da História, metidos até o pescoço em um ambiente pautado por polarizações que nos conduzem a um beco sem saída.

Um país que legou para nós as experiências libertárias da República Cristã dos Guarani e do Quilombo dos Palmares, que vivenciou a Conjuração Mineira e os embates pela Independência, que gestou o movimento Farroupilha e a Cabanagem, ou ainda promoveu a bela campanha pela Abolição da Escravatura, e isso para não aludir aos músicos reunidos em torno da Casa da Tia Ciata e da Escola de Samba Deixa Falar, assim como aos militares da Coluna Prestes e aos artistas da Semana de Arte Moderna de 1922, sem esquecer jamais dos aguerridos militantes do Partido Comunista Brasileiro  e todos os que integraram a valorosa Campanha do Petróleo é Nosso e as lutas pelas Reformas de Base e pela redemocratização, um país com essas tradições, nunca é demais lembrar, precisa reagir e romper com esse estado de coisas.

Ainda que a História nunca se dê em linha reta, faz-se necessário retomar o fio da meada, desatando os pontos de estrangulamento que ameaçam nos inviabilizar enquanto nação. Partidos políticos situados no Campo Democrático, confederações sindicais, conselhos profissionais, organizações e entidades da sociedade civil, ONGs, intelectuais: é preciso promover um grande encontro nacional.

Antes que seja tarde. 

*Ivan Alves filho, historiador

Nenhum comentário: