Valor Econômico
Resultado do IPCA-15 em janeiro trouxe notícias bem negativas
Os dados do IPCA-15 de janeiro não foram nada
bons e estão levando mais analistas econômicos do mercado financeiro a elevarem
as suas projeções de inflação para 2025, que já se encontram acima do intervalo
de tolerância da meta. Como o Banco Central vai reagir?
Em tese, a piora do cenário inflacionário
deverá exigir como resposta juros ainda mais altos, sobretudo se ela se
estender ao horizonte relevante de política monetária. Alguns economistas do
setor privado, inclusive, já estão defendendo uma postura ainda mais dura, que
leve a taxa Selic para acima dos 15% ao ano.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, porém, não precisa agir já, para além de reafirmar que vai fazer o que for necessário para cumprir a meta de inflação. Os seus passos futuros mais imediatos já estão amarrados: vai subir a Selic a 13,25% ao ano esta semana e para 14,25% ao ano na reunião de março.
No comunicado que será divulgado ao fim do
encontro desta semana, o Copom vai apresentar uma projeção de inflação que, nas
estimativas de analistas do mercado, deverá ser pior do que a calculada em
dezembro. Em outros tempos, essa piora da projeção de inflação deveria indicar
uma opinião do comitê de que, a se confirmar o cenário atual, será preciso mais
juros do que os 15% ao ano previstos pelo mercado para cumprir a meta.
Mas o diretor de política econômica do BC,
Diogo Guillen, já disse mais de uma vez que não gosta de tirar conclusões
definitivas sobre o tamanho do ciclo de alta de juros a partir das projeções.
Ele tem repetido que o tamanho do ciclo de aperto monetário deve ser definido
ao longo do tempo, a partir das informações que são colhidas. Quando o Copom
amarrou as suas decisões para as duas reuniões futuras e colocou uma barra alta
para alterar o curso das coisas, ganhou tempo para analisar com mais calma os dados
que forem sendo divulgados.
No último pronunciamento público de um membro
do Copom, Guillen destacou três coisas que o comitê acompanha de perto e que,
em tese, numa situação mais extrema, têm poder de mudar até o guidance: a
evolução da atividade econômica, o repasse da desvalorização cambial para os
preços e a inflação de serviços.
O IPCA-15, que ficou bem baixo, em 0,11%,
graças ao efeito do bônus de Itaipu nas contas de luz, trouxe notícias bem
negativas que têm a ver com esses pontos destacados pelo diretor do BC.
O núcleo de inflação de serviços, que abrange
preços que estão mais atrelados à atividade econômica, ficou bem alto, em
0,97%. Os preços de bens industriais vieram mais pressionados que o esperado, o
que pode ser um sinal de que a transmissão do câmbio para a inflação ficou mais
forte devido ao sobreaquecimento da economia.
Os estudos sobre a formação das expectativas
de inflação mostram que elas são muito contaminadas pela inflação corrente.
Então não será surpresa se, hoje, o boletim Focus apontar uma projeção de
inflação mais alta para 2025, maior que 5,07%. Será pior ainda se os
economistas subirem adicionalmente a previsão para 2026, que desde o Copom de
dezembro já passou de 4% para 4,1%.
É natural que o mercado financeiro ajuste sua
previsão para os juros a cada novo dado de alta frequência, mas historicamente
o Banco Central sempre evitou potencializar essa ansiedade de curto prazo. Em
fins de 2023, quando Gabriel Galípolo já estava no BC, o Copom também fez
sinalizações para duas reuniões à frente e, ao longo dos meses, conviveu com
períodos em que o mercado apostou que precisava cortar mais os juros e períodos
em que apostou em cortes menores.
Ninguém pode acusar o BC de se negar a agir.
Guillen deu um recado importante há duas semanas, quando disse que a política
monetária já era contracionista antes de o Copom fazer o choque de juros em
dezembro - e que vai se tornar bastante contracionista quando chegar a 14,25%
ao ano, em março. Galipolo deixou a porta aberta para fazer mais depois,
dizendo que o juro deverá ficar “suficientemente contracionista” pelo tempo que
for necessário.
No fundo, há certa descrença do mercado de
que esses juros altos vão ser eficazes para fazer o serviço de esfriar a
economia e baixar a inflação. Guillen disse que o debate sobre a eficácia da
política monetária é sazonal: os mercados duvidam que seja contracionista até a
inflação baixar e duvidam que seja expansionista até a inflação subir. E, de
fato, é o que acontece, de tempos em tempos. Em praticamente todos os ciclos
monetários, o Banco Central publicou boxes em seu Relatório Trimestral de
Inflação mostrando que a política monetária estava se transmitindo pelos canais
usuais, com algumas variações.
Mais recentemente, alguns analistas
econômicos começaram a mencionar a possibilidade de uma recessão técnica. Com a
ajuda do ambiente internacional um pouco melhor, o juro alto também dá os
primeiros sinais de transmissão pelo câmbio. Mas tudo pode se perder se, de
olho nas eleições, o governo voltar a acelerar o fiscal, pressionando novamente
a atividade e o câmbio. Guillen deu sinais de que o Copom pode adequar a
dosagem dos juros, caso isso de fato ocorra: “Dada uma política fiscal, a gente
vai atuar para ajustar o necessário para a trazer a inflação para a meta”.
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