Folha de S. Paulo
O método dos amotinados só será vencido se a
maioria os relegarem ao merecido isolamento
A arruaça dos
amotinados bolsonaristas no Congresso,
notadamente na Câmara,
não é um episódio que possa ser visto como superado, a despeito da retomada dos
trabalhos depois de 30 horas de ensaio de insurreição.
Primeiro, porque a recuperação do controle
foi relativa, dada a dificuldade de o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB)
alcançar sua cadeira na Mesa Diretora, sob cerco cerrado de deputados que, ao
fim da sessão, ainda continuavam atrás dele insuflando o plenário aos gritos de
"anistia já".
Depois, porque a celebração da violência é um método da ala radical da oposição que, no Parlamento, evocou o ocorrido no acampamento no quartel-general do Exército do qual partiram as hordas para a "festa da Selma", em 8 de janeiro de 2023.
Nunca se viu nada em tal dimensão nas
dependências do Legislativo. Numa proporção menor, o PT tentou no Senado
durante o governo de Michel Temer a
ocupação da Mesa para impedir a aprovação de reforma
trabalhista. Não conseguiu, assim como os rebeldes de agora não
conseguirão alterar o andamento do processo contra Jair
Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal
Federal, aprovar anistia ampla, provocar o impeachment do ministro Alexandre de
Moraes nem fazer com que os presidentes da Câmara e do Senado se submetam às
suas exigências.
Se é possível dizer que não passarão, também
é factível supor que continuarão a adotar a rotina de agressões, pois a
natureza desse pessoal é a antítese do que se tem como essência da atividade
política: o respeito às regras do jogo.
Os comandantes do Congresso têm diante de si
o desafio de lidar com a ala de seus comandados cuja prática é a da provocação
ilimitada. O emprego da força, prudentemente evitado na noite de quarta-feira
(6), daria a eles pretexto para atuar no mesmo diapasão. A condescendência
tampouco se configura um caminho aceitável, pois abre espaço a novas tentativas
de sublevação.
Só serão vencidos se a maioria compreender
que a defesa da instituição requer que sejam relegados ao isolamento.
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