sexta-feira, 8 de agosto de 2025

Festa da Selma no Congresso – Dora Kramer

Folha de S. Paulo

O método dos amotinados só será vencido se a maioria os relegarem ao merecido isolamento

arruaça dos amotinados bolsonaristas no Congresso, notadamente na Câmara, não é um episódio que possa ser visto como superado, a despeito da retomada dos trabalhos depois de 30 horas de ensaio de insurreição.

Primeiro, porque a recuperação do controle foi relativa, dada a dificuldade de o presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) alcançar sua cadeira na Mesa Diretora, sob cerco cerrado de deputados que, ao fim da sessão, ainda continuavam atrás dele insuflando o plenário aos gritos de "anistia já".

Depois, porque a celebração da violência é um método da ala radical da oposição que, no Parlamento, evocou o ocorrido no acampamento no quartel-general do Exército do qual partiram as hordas para a "festa da Selma", em 8 de janeiro de 2023.

Nunca se viu nada em tal dimensão nas dependências do Legislativo. Numa proporção menor, o PT tentou no Senado durante o governo de Michel Temer a ocupação da Mesa para impedir a aprovação de reforma trabalhista. Não conseguiu, assim como os rebeldes de agora não conseguirão alterar o andamento do processo contra Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal, aprovar anistia ampla, provocar o impeachment do ministro Alexandre de Moraes nem fazer com que os presidentes da Câmara e do Senado se submetam às suas exigências.

Se é possível dizer que não passarão, também é factível supor que continuarão a adotar a rotina de agressões, pois a natureza desse pessoal é a antítese do que se tem como essência da atividade política: o respeito às regras do jogo.

Os comandantes do Congresso têm diante de si o desafio de lidar com a ala de seus comandados cuja prática é a da provocação ilimitada. O emprego da força, prudentemente evitado na noite de quarta-feira (6), daria a eles pretexto para atuar no mesmo diapasão. A condescendência tampouco se configura um caminho aceitável, pois abre espaço a novas tentativas de sublevação.

Só serão vencidos se a maioria compreender que a defesa da instituição requer que sejam relegados ao isolamento.

 

Nenhum comentário: