Folha de S. Paulo
Ao se agarrar à anistia de Bolsonaro,
governador arrisca perder a imagem de moderação essencial ao seu futuro
político
O governador de São Paulo dedicou
a última semana a se apresentar como defensor
e articulador da anistia ao ex-presidente Jair
Bolsonaro.
Tarcísio
de Freitas (Republicanos) não conseguiu o endosso do ex-presidente
antes de sua prisão domiciliar e não possui registros em áudio e vídeo
que possa utilizar na campanha de 2026. Mais do que isso, sabe que Bolsonaro e
sua família não são conhecidos pela fidelidade aos aliados políticos.
Ainda assim, o carioca que governa São Paulo acredita que precisa provar ao ex-presidente, sua família e, sobretudo, aos eleitores mais fiéis dessa turma sua lealdade. Essa aposta pode ser um erro.
Em fins de agosto, foi apresentada na Escola
de Economia de São Paulo da FGV a primeira pesquisa do Connectlab, novo centro
de pesquisa aplicada, coordenado por Felipe Nunes, dedicado a estudar temas
como a polarização afetiva.
A pesquisa mostra que o contingente de
eleitores que se declaram lulistas e bolsonaristas é menor do que o percebido.
Segundo a pesquisa, os independentes, grupo
mais importante para o desfecho da eleição de 2026, e que assim como em 2022
será quem definirá o resultado, são 31% dos brasileiros, mas são percebidos
como um grupo menor, apenas 15%. Entre eleitores bolsonaristas são percebidos
como apenas 11%.
Talvez seja essa percepção deturpada que
oriente Tarcísio a se empenhar tanto em construir uma imagem de defensor
de Jair Bolsonaro e sua anistia. O governador deveria ser mais cauteloso.
Pesquisa da Quaest de agosto sobre a
avaliação do Governo de São Paulo aponta que 59%
dos paulistas gostariam de um governador independente, não aliado a Lula ou
Bolsonaro. Não há razão para acreditar que esse grupo queira um próximo
presidente defensor ferrenho do bolsonarismo.
Corroboram essa percepção pesquisas recentes
da Quaest e do Datafolha, que apontam que a maioria
dos brasileiros é contrária à concessão de anistia aos envolvidos no
atentado do 8 de
Janeiro.
Não há, até o momento, figura da direita que
faça frente ao governador paulista na corrida presidencial de 2026.
Na família Bolsonaro, os únicos
nomes viáveis parecem ser Michelle e Flávio Bolsonaro.
O primogênito, o mais pragmático, não
renunciaria a uma reeleição garantida ao Senado. Além disso, a exposição
excessiva de uma candidatura presidencial pode reacender denúncias que Flávio
prefere esquecer.
Para Michelle, o cálculo é semelhante:
envolve desistir de concorrer ao Senado pelo Distrito Federal, competição menos
concorrida, e enfrentar o machismo e a desconfiança mútua que reinam na
família. O próprio ex-presidente, em julho, afirmou que o Senado seria o
destino de sua esposa.
Fora da família, Tarcísio é o nome mais
conhecido nacionalmente e conta com a simpatia de empresários e de parcela
significativa da imprensa, que, apesar das atrocidades cometidas cotidianamente
pela Polícia Militar de São Paulo com respaldo do governador, continuam reputando-o
como nome moderado.
O risco de se engajar excessivamente na
defesa da anistia e nas críticas ao Supremo Tribunal Federal é manchar sua
imagem de moderado e afastar financiadores, imprensa e eleitores independentes.
Estes, ainda que não aprovem o governo Lula 3, não desejam votar em um capacho
do bolsonarismo e podem repetir a escolha de 2022.
Nenhum comentário:
Postar um comentário