segunda-feira, 8 de setembro de 2025

‘Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes’, diz Tarcísio em ato Bolsonarista

Por Robson Rodrigues / Valor Econômico

Governador cobrou que o presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta, paute o projeto de anistia para os envolvidos nos atos de 8 de janeiro

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), atacou o ministro do Supremo Tribunal Federal (SFT) Alexandre de Mores durante o ato bolsonarista realizado neste domingo (7), na Avenida Paulista, marcado pela ausência do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Segundo o governador, os brasileiros não aguentam mais a “tirania de um ministro”.

Do alto do trio elétrico, Tarcísio afirmou para a multidão que não é possível celebrar a Independência do Brasil sem a liberdade de Bolsonaro. Em um discurso de forte tom crítico ao Judiciário, ele citou que as determinações de Moraes estão indo longe demais. “Ninguém aguenta mais a tirania de um ministro como Moraes”, atacou.

“Estamos aqui para dizer para o [presidente da Câmara dos deputados] Hugo Motta para que ele paute a anistia”, disse. “Este é o recado que estamos mandando", acrescentou ao coro do público gritando “fora Moraes”.

O governador sustenta que o processo contra o ex-presidente carece de provas, classificando-o como “viciado” e comparando o julgamento a episódios históricos de perseguição política. “Uma condenação sem provas abre uma ferida que nunca vai fechar. Assim como foi em 1979, a anistia tem que ser ampla”, afirmou, em referência à anistia concedida após a ditadura militar.

Ao citar críticas às decisões do Supremo, Tarcísio questionou: “Será que estamos vivendo um Estado livre e democrático?”. Em outro momento, provocou a Corte: “Deixe o Bolsonaro ir para as urnas que ele vai vencer as eleições. Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre outro (...). “O bom juiz deve ser reconhecido pelo respeito e não pelo medo”, disse Tarcísio, citando o também ministro do STF André Mendonça.

Segundo o governador não existe relação entre o plano para matar Lula e Moraes, denominado “Punhal verde-amarelo”, com Bolsonaro. Ele disse ainda que a delação do tenente-coronel do Exército e ex-ajudante de ordens de Bolsonaro, Mauro Cid, é mentirosa.

O governador defendeu a necessidade de “justiça para Débora do Batom” e para os manifestantes presos após os ataques de 8 de janeiro. “Não podemos nos intimidar. Temos que defender a liberdade, o Estado de Direito e a democracia representativa para ter Jair Messias Bolsonaro nas urnas”, declarou o governador.

A manifestação deste 7 de Setembro, feriado da Independência, tem como pautas centrais a defesa da “liberdade” de Jair Bolsonaro e a aprovação de projetos de anistia para os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro de 2023. Entre os nomes no palanque estão a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro (PL), o deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), o governador mineiro Romeu Zema (Novo) e o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB). Os manifestantes bolsonaristas levaram uma bandeira gigante dos Estados Unidos.

Em sua fala, embora seja tratado pelo Centrão como a pessoa ideal para liderar a direita devido à impossibilidade de Bolsonaro disputar as eleições, o governador de São Paulo evitou em dar sinais de que está disposto a assumir a missão e insistiu que o ex-presidente deve ter a permissão de concorrer ao Planalto. Em outro trecho, cobrou do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), que paute o projeto da anistia. Durante a semana, ele viajou a Brasília para articular em favor da proposta, o que foi elogiado pelo pastor Silas Malafaia durante o ato deste domingo na avenida Paulista.

Na mesma linha do discurso do presidente do PL, Valdemar da Costa Neto, que mais cedo havia dito que “não existe plano B” e que o partido mantém Bolsonaro como seu candidato em 2026, Tarcísio endossou o clamor por uma anistia ampla aos envolvidos no 8 de janeiro. Diante da multidão, pediu ao deputado Hugo Motta (Republicanos-PB), presidente da Câmara, que paute o projeto de anistia já subscrito por cerca de 300 parlamentares.

A presença de Tarcísio na Avenida Paulista contrasta com sua ausência no ato de agosto, quando alegou submeter-se a uma cirurgia na tireoide. A decisão havia gerado críticas no núcleo mais radical do bolsonarismo. Agora, ao lado de Michelle Bolsonaro e do prefeito Ricardo Nunes (MDB-SP), o governador busca reforçar sua imagem como principal herdeiro político do ex-presidente em São Paulo.

Com Bolsonaro fora do páreo eleitoral até 2030, em razão da inelegibilidade imposta pela Justiça Eleitoral e com a prisão domiciliar determinada pelo STF, o bolsonarismo testa novos líderes para 2026. A participação de Tarcísio no ato deste domingo reforça sua posição de possível candidato à Presidência da República apoiado pelo PL, ao mesmo tempo em que acirra tensões com o Supremo e alimenta a estratégia de manter a militância mobilizada em torno da narrativa de perseguição política.

Bolsonaro faz parte do núcleo crucial da tentativa de golpe de Estado, de acordo com a denúncia da Procuradoria-Geral da República (PGR). Ele é réu por cinco crimes: organização criminosa armada, golpe de Estado, abolição violenta do Estado Democrático de Direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração do patrimônio tombado.

Ele também já foi considerado inelegível pela Justiça Eleitoral em dois processos diferentes.

Relator do caso na Primeira Turma no Supremo, o ministro Alexandre de Moraes tem sido acompanhado pela maioria dos demais colegas em suas decisões.

Segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR), “as peças acusatórias baseiam-se em manuscritos, arquivos digitais, planilhas e trocas de mensagens que revelam o esquema de ruptura da ordem democrática. E descrevem, de forma pormenorizada, a trama conspiratória armada e executada contra as instituições democráticas”.

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