Arthur Guimarães de Oliveira e Gustavo Zeitel / Folha de S. Paulo
Governador está na linha de frente das articulações pela anistia e já discute vice para 2026
São Paulo - O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas (Republicanos),
defendeu neste domingo (7), durante ato bolsonarista na avenida Paulista, uma
anistia "ampla e irrestrita", disse que o ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) deve ser autorizado a ser candidato em 2026 e que pode ser
condenado sem nenhuma prova.
Tarcísio pressionou o presidente da
Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB),
a pautar o projeto sobre anistia aos condenados pelos atos golpistas de 8 de
janeiro de 2023 e disse que o STF (Supremo Tribunal Federal) julga "um
crime que não existiu".
O governador paulista disse que o julgamento
não é justo, voltou a falar em "narrativas", fez críticas a Alexandre
de Moraes e mandou indiretas ao STF. Disse ainda que a delação de Mauro Cid
ocorreu sob coação e que a colaboração é mentirosa.
"Não vamos aceitar a ditadura de um Poder sobre o outro. Chega", disse em recado ao Supremo. "Não vamos aceitar que nenhum ditador diga o que temos que fazer."
Ao ouvir que a multidão gritava "fora,
Moraes", Tarcísio chamou o magistrado de ditador. "Por que é que
vocês estão gritando isso? Talvez porque ninguém aguente mais. Ninguém aguenta
mais a tirania de um ministro como Moraes. Ninguém aguenta mais o que está
acontecendo neste país", afirmou.
"Nós não vamos mais aceitar que nenhum
ditador diga o que a gente tem que fazer", disse em outro momento.
O bolsonarista disse que "não existe
Independência sem liberdade". Lamentou a ausência de Bolsonaro no protesto
em São Paulo e disse que a população não pode ser mais "tímida" para
defender o que chama de "liberdade, Estado de Direito e democracia
representativa".
Tarcísio defendeu com veemência a
participação de Bolsonaro nas eleições do ano que vem, embora nos bastidores
venha articulando uma possível chapa com seu próprio nome para liderar a
direita. "Deixa o Bolsonaro ir para a urna, qual é o problema?",
questionou. Em outro momento, disse que Bolsonaro é a maior liderança de
direita e que o país irá "se reencontrar" com ele.
O governador comparou a atual proposta para
poupar de punição os envolvidos nos ataques aos Poderes e na trama golpista de
2022 com aquela promovida em 1979, durante a ditadura militar. "Os mesmos
que gritam 'sem anistia' agora foram os que se beneficiaram dela antes",
disse —embora a anistia anterior tenha beneficiado também torturadores e outros
militares envolvidos com o golpe de 1964.
Tarcísio esteve em Brasília durante a
primeira semana do julgamento do ex-presidente Jair
Bolsonaro (PL) no STF (Supremo
Tribunal Federal) e embarcou nas articulações da direita, deixando o clima mais
favorável à aprovação do projeto.
Essa movimentação se deu em meio ao anúncio
de desembarque do Progressistas (PP) e do União Brasil do
governo Lula —os partidos decidiram entregar cargos ocupados por filiados na
gestão federal e aderir à proposta de anistia.
A aprovação de um projeto do tipo ainda esbarra na
falta de um texto consolidado e em divergências entre
parlamentares sobre incluir ou não Bolsonaro, mas lideranças da direita e do
centrão afirmam que a proposta tem o apoio de 300 deputados (de um total de
513).
A proposta do centrão é perdoar Bolsonaro no
âmbito das ações penais agora julgadas no STF, sem reverter a inelegibilidade
do ex-presidente. Desta forma, abririam caminho para a candidatura de Tarcísio.
A adesão do governador às movimentações no
Legislativo também pode ser enxergada como uma maneira de reduzir a resistência
de bolsonaristas mais radicais a sua candidatura no ano que vem. Os filhos do
ex-presidente, por exemplo, criticam governadores de direita que tentam
capturar o espólio eleitoral de Bolsonaro.
Antes do início do julgamento no Supremo,
Tarcísio afirmou em entrevista ao jornal Diário do Grande ABC que, caso seja
eleito presidente, seu primeiro ato seria conceder um indulto a Bolsonaro. Também criticou o STF,
algo que vinha evitando até então: "Não acredito em elementos para ele ser
condenado, mas infelizmente hoje eu não posso falar que confio na Justiça, por
tudo que a gente tem visto", disse.
Publicamente, Tarcísio continua dizendo que
concorrerá à reeleição em São Paulo (e afirma que o indulto seria atitude de
qualquer candidato de direita), mas, nos bastidores, já avalia o nome do vice numa possível corrida
presidencial, como revelou a Folha.
Desde que a prisão domiciliar de Bolsonaro
foi decretada, em agosto, Tarcísio intensificou agendas com empresários dos
setores financeiro e agropecuário, artistas populares e o segmento evangélico,
se expondo de forma menos velada à pré-candidatura presidencial.
Nesse meio tempo, entrou na mira do
presidente Lula (PT).
O presidente projetou, durante reunião ministerial no final de agosto, que Tarcísio
será seu adversário em 2026.
Depois, em evento na cidade de Belo
Horizonte, Lula afirmou que Tarcísio "não é nada" sem Bolsonaro.
"O Tarcísio vai fazer o que o Bolsonaro quiser. Até porque sem o Bolsonaro
ele não é nada. Ele sabe disso", disse.
Em outra frente, Tarcísio enfrenta
resistência dos filhos de Bolsonaro, particularmente o deputado Eduardo e o
vereador Carlos Bolsonaro, que veem oportunismo nas movimentações do
governador.
Em mensagens
apreendidas pela Polícia Federal, Eduardo diz a Bolsonaro que
Tarcísio estaria "de braço cruzado vendo você [Bolsonaro] se foder e se
aquecendo para 2026".
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