quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

O crime compensa. Por Thiago Amparo

Folha de S. Paulo

Na Câmara, líderes escorraçam jornalistas e parlamentares para beneficiar criminosos

No Senado, anistia-se quem usurpou terras indígenas, instigando o conflito fundiário

A liderança da Câmara dos Deputados escorraçou jornalistas do plenário e parlamentares da mesa para beneficiar criminosos que querem ter o direito de escorraçar jornalistas e parlamentares num país em que a democracia já não exista.

Não há justificativa sóbria para a cena deplorável, televisionada na terça (9) graças apenas a imagens de celular, já que o sinal da TV Câmara foi cortado. Das duas uma: ou o presidente Hugo Motta mandou desligar o sinal da TV e expulsar jornalistas ou não mandou e alguém ali manda mais que ele. As duas alternativas –truculência ou inépcia– são ruins para Hugo Motta e para a Câmara.

Ao aprovar com 291 votos o PL da Dosimetria, a Câmara mostrou que prefere livrar da cadeia os bandidos do seu lado a exercer um esperável sentimento de autopreservação institucional diante da depredação de seu próprio prédio por golpistas do 8 de Janeiro.

Derrite e cia. falam grosso contra o crime organizado, mas suavizam o tom e a lei quando os condenados são do seu grupo ideológico. A maioria do país (54%) se opõe à anistia a Bolsonaro pelo Congresso, e foi justamente uma anistia 2.0 que o Congresso entregou à população na terça, o que pode e deve ser bem lembrado nas urnas em 2026.

O Senado e a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, na mesma semana, também mostraram que possuem criminosos preferidos. Ao decidir soltar Rodrigo Bacellar, a Alerj mostrou que, quando os seus são acusados de vazar informações sobre operações contra o crime organizado a respeito da compra e venda de drogas e armas, estes merecem ficar fora da cadeia, não postos nela.

O partido do governador Cláudio Castro, o PL, precisa explicar à população por que orientou votação a favor do vazamento de dados policiais para o Comando Vermelho se o único beneficiado será o Comando Vermelho.

Ao aprovar o marco temporal para as terras indígenas, o Senado não somente contraria o Supremo como anistia quem usurpou terras indígenas e instiga o conflito fundiário, não o contrário. De novo, a mensagem é que o crime em Brasília compensa.

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