Folha de S. Paulo
Na Câmara, líderes escorraçam jornalistas e
parlamentares para beneficiar criminosos
No Senado, anistia-se quem usurpou terras indígenas, instigando o conflito fundiário
A liderança da Câmara dos Deputados
escorraçou jornalistas do plenário e parlamentares da mesa para beneficiar
criminosos que querem ter o direito de escorraçar jornalistas e parlamentares
num país em que a democracia já não exista.
Não há justificativa sóbria para a cena deplorável, televisionada na terça (9) graças apenas a imagens de celular, já que o sinal da TV Câmara foi cortado. Das duas uma: ou o presidente Hugo Motta mandou desligar o sinal da TV e expulsar jornalistas ou não mandou e alguém ali manda mais que ele. As duas alternativas –truculência ou inépcia– são ruins para Hugo Motta e para a Câmara.
Ao aprovar com 291
votos o PL
da Dosimetria, a Câmara mostrou que prefere livrar da cadeia os bandidos do
seu lado a exercer um esperável sentimento de autopreservação institucional
diante da depredação de seu próprio prédio por golpistas do 8 de Janeiro.
Derrite e cia. falam grosso contra o crime
organizado, mas suavizam o tom e a lei quando os condenados são do seu
grupo ideológico. A maioria do país (54%) se opõe à anistia a Bolsonaro pelo
Congresso, e foi justamente uma anistia 2.0 que o Congresso entregou à
população na terça, o que pode e deve ser bem lembrado nas urnas em 2026.
O Senado e a Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro, na mesma semana, também mostraram que
possuem criminosos preferidos. Ao decidir soltar Rodrigo
Bacellar, a Alerj mostrou que, quando os seus são acusados de vazar
informações sobre operações contra o crime organizado a respeito da compra e
venda de drogas e armas, estes merecem ficar fora da cadeia, não postos nela.
O partido do governador Cláudio Castro, o PL,
precisa explicar à população por que orientou votação a favor do vazamento de
dados policiais para o Comando
Vermelho se o único beneficiado será o Comando Vermelho.
Ao aprovar o marco temporal para as terras indígenas, o Senado não somente contraria o Supremo como anistia quem usurpou terras indígenas e instiga o conflito fundiário, não o contrário. De novo, a mensagem é que o crime em Brasília compensa.

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