quinta-feira, 11 de dezembro de 2025

Em reviravolta, Câmara suspende Glauber e mantém mandato de Carla Zambelli

Por Beatriz Roscoe e Murillo Camarotto / Valor Econômico

Em uma reviravolta dupla, o plenário da Câmara aprovou na noite de quarta-feira (10) a suspensão por seis meses do mandato do deputado Glauber Braga (Psol-RJ) e arquivou o processo de cassação da deputada Carla Zambelli (PL-SP). No caso de Glauber, a oposição não conseguiu reunir os 257 votos necessários para a sua cassação, que era considerada certa. Já em relação a Zambelli, foi a base aliada que não arregimentou o apoio necessário. No fim das contas, entre alertas corporativistas de que casos semelhantes poderiam atingir o restante da Casa, prevaleceu a força do Centrão.

O processo contra Glauber foi movido pelo Partido Novo. Em abril de 2024, ele agrediu a chutes um militante do MBL e o expulsou das dependências da Câmara. A cassação obteve maioria no Conselho de Ética e na Comissão de Constituição e Justiça. Zambelli, por sua vez, foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por participar de invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ). Ela fugiu do Brasil e está presa há três meses na Itália. Em fevereiro, deve ultrapassar os limites de falta e acabar perdendo o mandato parlamentar, mas manterá os direitos políticos.

Glauber e seus aliados criticaram o fato de os dois processos terem sido incluídos na mesma sessão, o que teria criado uma “falsa equivalência” entre os casos. Até mesmo deputados que votaram contra ele admitiram que a pena de cassação seria excessiva e que teriam reagido da mesma forma ante as provocações ou “até pior”.

O deputado abriu seu discurso em tom de derrota. Logo no início, classificou o Congresso como “inimigo do povo” e disse que sua eventual cassação nada tem a ver com a agressão e, sim, com sua postura combativa. “Não imaginem que eu vou ter minhas convicções cerceadas para me salvar”, afirmou. “Se for para não discutir os grandes temas, para não falar o que é fundamental, e simplesmente me comportar imaginando que com isso a cassação não se dê, eu estaria me cassando previamente”, completou o deputado.

Os sinais de que ele poderia escapar da pena capital começaram a aparecer durante a análise dos requerimentos preliminares. O grupo contrário a Glauber, que reunia oposição e parte do Centrão, não conseguiu se aproximar dos 257 votos necessários para consumar a cassação.

O líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE), disse que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por meio da ministra das Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann, orientou a bancada a trabalhar para virar votos a favor do deputado do Psol. Diante da possibilidade de que o deputado fosse absolvido, parte do Centrão que defendia a cassação aceitou um acordo pela suspensão, aprovada por 318 votos favoráveis contra 141.

A suspensão aconteceu um dia depois de um grande tumulto protagonizado pelo deputado do Psol. Informado sobre a inclusão do seu processo de cassação na pauta, ele ocupou a cadeira do presidente da Câmara e disse que não deixaria o local. Acabou retirado à força pela segurança.

"Não queríamos uma suspensão, evidentemente que não, mas para o cenário que se tinha de uma cassação confirmada na parte da manhã, de inelegibilidade, foi uma vitória", disse Glauber após o resultado.

Zambelli, entretanto, apresentava mais dificuldade de conquistar a empatia dos pares, mas os governistas também não atingiram a maioria, de 257 votos necessários, para cassar o mandato da parlamentar. O placar foi de 227 a 179 votos.

Deputados de vários tendências ideológicas argumentaram que o comando constitucional é claro quando aponta a perda automática de mandato no caso de condenação criminal com trânsito em julgado. Parlamentares também alegaram que o fato de a deputada estar ausente e fora do país a impede de exercer o mandato plenamente. Ainda assim, não foi possível atingir a maioria. Em sua sustentação oral, a defesa de Zambelli lembrou que há cerca de cem processos contra parlamentares no Supremo e, desta forma, um “precedente perigoso” para deputados poderia ser aberto.

À tarde, a Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) aprovou o parecer pela cassação da deputada. O relatório vencedor, do deputado Claudio Cajado (PP-BA), sustentava que a condenação criminal definitiva imposta à parlamentar pelo STF torna inviável a continuidade do exercício do mandato. Antes, no entanto, a comissão rejeitou, em votação apertada, o parecer do deputado Diego Garcia (Republicanos-PR), que defendeu a manutenção do mandato de Zambelli. Ela foi condenada por participar de invasão de sistemas do Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Até a última segunda-feira (8), não havia qualquer expectativa de os processos de cassação pendentes serem discutidos ainda em 2025. O presidente Hugo Motta (Republicanos-PB) não justificou sua decisão e ainda anunciou para a próxima semana a análise dos processos contra os deputados Eduardo Bolsonaro (PL-SP) e Alexandre Ramagem (PL-RJ), que fugiram para os Estados Unidos.

Ao longo da votação que se estendeu até depois de meia-noite e diante de um quorum baixo, Motta atuou pessoalmente e fez uma série de ligações. Em dado momento, estava em duas ligações simultâneas, com um telefone em cada orelha.

 

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