quarta-feira, 16 de maio de 2018

Rosângela Bittar: Rotunda Eleitoral

- Valor Econômico

Dizem que não há mais espaço para outsiders. Será?

Neste maio de preâmbulo eleitoral, chama a atenção a Rotunda que se armou com os nomes e situações da disputa. Ainda não há sequer cenários a considerar, há um imenso e amarrotado pano de fundo. Os dicionários de teatro, um de Ubiratan Teixeira e outro de Luis Paulo Vasconcelos, explicam: a Rotunda é uma cortina de pano colocada em semicírculo no fundo do palco. Determina a profundidade de onde vai se desenrolar o espetáculo, do local mais próximo ao espectador até o infinito. Ela limita o espaço da cena e pode envolver depois vários cenários. Cria um campo neutro que é a imagem mais próxima possível do nada. O cenário é limitado, já a Rotunda libera a cena no tempo e no espaço.

Exatamente como o Brasil se encontra, hoje, na eleição presidencial que escolherá o novo líder da nação, em outubro próximo. Algumas situações, que os analistas chamam de cenário, contém o improvável permitido pela antecedência e estão sendo desfeitos. O que há, mesmo, é a Rotunda onde cabem todas as situações ou nenhuma.

A pesquisa MDA feita por encomenda da Confederação Nacional dos Transportes (CNT/MDA), divulgada ontem, mostrou a ausência de forma e outras definições no quadro eleitoral além de um amontoado de questões e situações. As preferências estão do mesmo tamanho que estavam há dois meses, Lula continua a dominar a votação na visão irreal de sua presença, mesmo na curva do palco. Lula não é Gabriel Jesus (com esse nome e jogando no berço do football nem precisa fazer gols), mas está jogando muito, mesmo trancafiado na cadeia de Curitiba. Eis a primeira imprecisão gritante: como irão se comportar os renitentes eleitores de Lula? Viu-se que ele quer fazer o papel de uma espécie de Mandela tropical, tentando ter voz de dentro da prisão. Dará certo?

Jair Bolsonaro, Marina Silva e Ciro Gomes existem fisicamente, de fato, não são candidatos-miragem, como Lula. Mas onde Jair Bolsonaro buscará a quantidade suficiente de novos votos para ultrapassar a barreira dos 20%, ou mesmo para vencer como preveem os astrólogos? No dividido PP, partido cujos eleitores não primam pela homogeneidade e devem buscar opções por todo lado, será difícil. Os eleitores de Ciro Gomes são os mesmos 12% de todas as campanhas em que disputou a presidência, por diferentes partidos? E Marina Silva, vai trabalhar só com a herança para aumentar seus votos?

A verdade é que foi pífio o crescimento dos três na disputa dos últimos dois meses, subiram pouco para o tamanho da perda dos demais. Geraldo Alckmin, que também é uma candidatura real, caiu alguns degraus na preferência do eleitorado, e seu partido espera o momento dramático em que o ex-prefeito de São Paulo, João Doria, vai dar-lhe o bote já armado. É uma operação complexa essa substituição, pois Alckmin tem o partido nas mãos, tomou a si a presidência da legenda e, com ela, a máquina. Tem a obsessão de ser candidato a presidente tanto quanto Ciro Gomes tem a obsessão de ser presidente.

Bruno Boghossian: Clima de despedida

- Folha de S. Paulo

Presidente comemora o passado, mas não aponta caminhos para os próximos sete meses

A festa de aniversário do governo Michel Temer teve um clima quase melancólico de despedida. “Foram dois anos de muito trabalho, mas também de muitas realizações”, disse o presidente, assim mesmo, no pretérito.

O discurso de 59 minutos pareceu a prestação de contas de um governo encerrado —e não a fala de um presidente com sete meses restantes de mandato. Temer enfatizou realizações positivas incontestáveis de sua gestão, realçando suas tintas, mas não apontou caminhos objetivos para os próximos 230 dias.

“Os resultados estão aí. Nestes 24 meses de trabalho, nós avançamos”, afirmou, ainda de olho no retrovisor. “Eu confesso que me sinto responsável pelas atitudes e escolhas que fiz.”

Político profissional, Temer conhece a medida de um poder que escorre pelas mãos. O governo enfrenta meses de paralisia devido às restrições das contas públicas e a um Congresso mais preocupado com sua própria reeleição do que com a agenda de um presidente impopular.

Ministros e parlamentares que estiveram na comemoração falavam com ceticismo sobre a possibilidade de aprovação de projetos relevantes ainda este ano no Legislativo, como a privatização da Eletrobras.

Vera Magalhães: Outro aniversário

- O Estado de S.Paulo

um aspecto importante de seus dois anos de governo no balanço para lá de positivo que fez no evento desta terça-feira no Palácio do Planalto, nas peças publicitárias e em artigo sobre a recuperação da economia promovida por sua administração.

Mas, como efemérides não seguem a “lógica Ricupero”, aquela segundo a qual o que é bom a gente mostra e o que é ruim a gente esconde, outro aniversário espreita o presidente: nesta quinta-feira completa um ano o caso J&F, que eclodiu em 17 de maio de 2017 e tragou o governo para a impopularidade recorde da qual não consegue sair.

Ao ignorar tanto as duas denúncias de que foi alvo quanto os índices de desaprovação de seu governo na festa modesta que promoveu, Temer acabou por produzir uma comemoração fake, em que a menção às reais conquistas econômicas parece só uma tentativa pálida de melhorar a imagem.

Melhor seria enfrentar todos os aspectos dos dois anos, ainda que para se contrapor à narrativa de que o presidente tenha cometido ilícitos antes ou depois de assumir. Temer já o fez em outras circunstâncias, com maior ou menor ênfase, e as próprias circunstâncias obscuras que cercam o acordo de delação com Joesley, Wesley e companhia lhe dão alguns argumentos.

Ao simplesmente tentar fugir do assunto, ele cai na armadilha de se deparar com o outro aniversário menos auspicioso poucos dias depois. E certamente ele será lembrado, mesmo que sem bolo ou Parabéns a você.

Hélio Schwartsman: A sacralidade da farda

- Folha de S. Paulo

Como qualquer outra instituição, polícia deve ser questionada o tempo todo para aprimorar-se

Não sou de ficar chocado facilmente, mas devo admitir que as declarações do governador de São Paulo, Márcio França (PSB), sobre a Polícia Militar me deixaram estarrecido. “As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser”, afirmou o governador.

Da última vez que li a Constituição, havia três dispositivos que asseguravam a liberdade de expressão (art. 5º IV, IX e art. 220) e nenhum instituindo a sacralidade da farda da PM. A implicação mais óbvia disso é que qualquer cidadão tem o direito de criticar a polícia, seus integrantes e suas vestimentas.

Ainda que se considere a farda uma extensão da bandeira paulista (o que não é) e ainda que se considere o pavilhão estadual um equivalente do nacional (o que não é), desrespeitá-lo seria no máximo uma contravenção que sujeita os infratores a multa (lei n° 5.700/71), jamais à pena capital, como parece defender o governador.

Não me entendam mal. Já escrevi aqui algumas vezes que polícia é civilização. Um dos maiores passos para a pacificação social foi dado quando o Estado tomou para si o monopólio do uso legítimo da violência. Mas daí não decorre que a polícia seja inatacável. Ao contrário, como qualquer outra instituição, ela deve ser questionada o tempo todo para aprimorar-se.

Entendo as inquietações de França. Ele quer ser eleito para o cargo que herdou de Alckmin, mas é um virtual desconhecido. A campanha este ano será curta, e seu partido tem pouco tempo de TV. Precisa, assim, aproveitar qualquer ocasião para aparecer, de preferência dizendo aquilo que o eleitor quer ouvir. Mas deveria se policiar para não incidir em cenas explícitas de populismo. Aliás, espero que seja mesmo populismo, pois a explicação alternativa é que ele acredita de fato nas coisas que disse.

Elio Gaspari: Os dois PMs de SP merecem festa

- O Globo

Em qualquer lugar do mundo, quem puxa a arma para assaltar precisa saber que arrisca a própria vida

A primeira cena deu-se em Suzano, no interior de São Paulo: Katia Sastre levou a filha de 7 anos para uma festa da escola, estava na calçada, junto com outras mães e crianças, quando um assaltante começou a revistar o segurança. Katia é cabo da Polícia Militar. Num átimo, tirou sua pistola da bolsa e deu-lhe três tiros, quase à queima roupa. Matou-o.

No dia seguinte, no Guarujá, numa farmácia, um assaltante armado com um revólver perseguiu durante 16 segundos um cidadão que estava na loja. Era um PM em dia de folga. Com um tiro, matou o bandido.

Os vídeos dos dois episódios estão na rede e não deixam dúvida. Não se está numa daquelas parolagens em que a polícia fala em confrontos que em São Paulo giram em torno de 20 por mês. No Rio, são cinco por dia. (Um terceiro caso de PM sem farda matando assaltante, ocorrido também em São Paulo, infelizmente não tem vídeo.)

O governador Márcio França fez uma justa homenagem a Katia Sastre mas, tendo gostado do espetáculo, deu-se a um momento de comédia:

“As pessoas têm que entender que a farda deles [PM] é sagrada, é a extensão da bandeira do Estado de São Paulo. Se você ofender a farda, ofender a integralidade do policial, você está correndo risco de vida. É assim que tem que ser.”

Quer dizer que se uma pessoa ofender um PM, caso de desacato previsto no Código Penal, “está correndo risco de vida”.

Deixando-se de lado a irresponsabilidade de França, o comportamento da PM de Suzano e de seu colega do Guarujá foi adequado. Casos clássicos de legítima defesa não podem ser vistos como estímulo à letalidade.

Paulo Paiva: A governabilidade do próximo governo e as incertezas políticas

- O Tempo (MG)

Muitos atribuem à pulverização de partidos dificultando as negociações entre Executivo e Legislativo as tensões que têm comprometido a governabilidade no Brasil. Outros identificam o problema na fragilidade dos próprios partidos como canal de representação da vontade popular.

A legislação em vigor estimula a proliferação de partidos. Ademais, a distribuição populacional por extensa área geográfica e a diversidade regional tolhem a consolidação de partidos nacionais identificados com matrizes ideológicas. Mesmo as grandes agremiações não têm unidade nacional. Talvez o PT seja a exceção.

A experiência acumulada nas últimas três décadas contribui para o entendimento dessas complexas questões e seus desafios para o futuro próximo. Dos quatro presidentes eleitos nos últimos sete pleitos, dois foram afastados, e em todas as ocasiões, no primeiro turno, a votação do presidente foi superior à de seu partido. O caso de Collor é ilustrativo porque a eleição para o Congresso ocorreu no ano seguinte a sua vitória. Em 1989, Collor obteve 53% dos votos, no segundo turno. Em 1990, seu partido elegeu apenas 8% dos deputados, e sua estreita coligação, 9,2%. Do total de 19 partidos que elegeram deputados naquele ano, o PMDB constituiu a maior bancada (21,5%).

Em 1994 e 1998, o PSDB elegeu 12,3% e 19,3% dos deputados, ao passo que Fernando Henrique recebeu, no primeiro turno, 54,3% e 53,1% dos votos, respectivamente. Se em 1994, a coligação de FHC ficou com apenas 36% das cadeiras na Câmara, em 1998, superou a votação do presidente, preenchendo a maioria das vagas (58,1%). Não obstante, em seu segundo mandato, FHC precisou incorporar o PMDB a sua base e, mesmo assim, teve muito mais dificuldade de governabilidade.

Ricardo Noblat: O PT está à caça de Obama

- Blog do Noblat

O partido sonha com uma declaração dele a favor de Lula

Empenhada em fazer repercutir internacionalmente a prisão de Lula, a direção nacional do PT está à procura de interlocutores que possam convencer o ex-presidente Barack Obama a fazer algum pronunciamento a respeito. A essa altura, qualquer coisa que ele diga a favor de Lula estaria de bom tamanho para o partido.

Em abril de 2009, ao encontrar Lula durante um almoço em Londres por ocasião da reunião de líderes do G20 (grupo de países desenvolvidos e em desenvolvimento), Obama apontou para ele e disse: “É o cara”. Depois acrescentou: “É o político mais popular do mundo”. E, por fim, sorrindo, admitiu: “É porque ele é boa pinta”.

O PT distribuiu, ontem, uma nota assinada por François Hollande, ex-presidente francês, Massimo D’ Alema e Romano Prodi, ex-presidentes do Conselho de ministros da Itália, Elio Di Rupo, ex-primeiro-ministro da Bélgica, e José Luis Zapatero, ex-primeiro-ministro da Espanha, onde eles pedem para que Lula possa ser candidato às próximas eleições.

“A prisão apressada do presidente Lula, incansável arquiteto da redução das desigualdades no Brasil, defensor dos pobres de seu país, só pode despertar nossa emoção”, diz a nota. “A luta legítima e necessária contra a corrupção não pode justificar uma operação que questiona os princípios da democracia e o direito dos povos de eleger os seus governantes.”

Extrair uma declaração de Obama não será tarefa fácil para o PT. O próprio Lula, em conversa recente com o ex-presidente do Equador Rafael Correa, contou que se deu melhor com o republicano George W. Bush, presidente dos Estados Unidos entre 2001 e 2009, do que com o democrata Obama que o sucedeu até 2017.

“Na relação com o Brasil, o Bush e a Condoleezza [Rice, secretária de Estado americana à época] foram muito mais democráticos que o Obama e a Hillary Clinton [primeira chefe da diplomacia americana do democrata]”, afirmou Lula. Que aproveitou para criticar o presidente Donald Trump: “Penso que os Estados Unidos mereciam alguém melhor”.

Luiz Carlos Azedo: Uma vírgula

- Correio Braziliense

Doa a quem doer, o combate à corrupção pela Lava-Jato se tornou uma prioridade para a sociedade, como foi a luta contra a inflação no Plano Real

Quando a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) completou 100 anos, em 7 de abril de 2008, lançou uma campanha em parceria com o Grupo ABC que tinha a “vírgula” como protagonista. Com produção da agência África, de Nizan Guanaes, e narração do ator Matheus Nachtergaele, a campanha fez enorme sucesso: “Vírgula pode ser uma pausa… Ou não. Não, espere. Não espere… Ela pode sumir com seu dinheiro. 23,4. 2,34. Pode criar heróis… Isso só, ele resolve. Isso só ele resolve. Ela pode ser a solução. Vamos perder, nada foi resolvido. Vamos perder nada, foi resolvido. A vírgula muda uma opinião. Não queremos saber. Não, queremos saber. A vírgula pode condenar ou salvar. Não tenha clemência! Não, tenha clemência! Uma vírgula muda tudo. ABI: 100 anos lutando para que ninguém mude uma vírgula da sua informação.”

O presidente Michel Temer é a nova vítima da vírgula. A peça antológica, que virou case nas escolas de propaganda e marketing, foi ignorada pelo Palácio do Planalto, ao lançar o slogan comemorativo dos 24 meses de seu governo: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”, em tempos de fake news, virou um tremendo tiro no pé, porque basta retirar a vírgula para mudar radicalmente o sentido da frase. O que era pra ser uma afirmação das realizações de sua administração virou objeto de piada. É óbvio que Temer não passou recibo da mancada, ao fazer um balanço de suas realizações, mas o assunto mais comentado no Palácio do Planalto ontem era a danada da vírgula.

Temer forçou a barra ao comparar seu governo com o de Juscelino Kubitschek, o construtor de Brasília, cujo slogan de governo foi “50 anos em 5”. O Plano de Metas de JK era um projeto de desenvolvimento nacional com 31 objetivos, um dos quais a transferência da capital federal. Baseava-se em estudos realizados pela Comissão Mista Brasil-Estados Unidos entre os anos de 1951 e 1953, cuja missão foi identificar os pontos cruciais de estagnação da economia brasileira que inviabilizavam o crescimento econômico do país em um viés capitalista e liberal.

Para promover “50 anos de progresso em 5 anos de realizações”, Juscelino escolheu cinco setores: energia, transportes, indústrias de base, alimentação e educação. Os três primeiros receberam 93% dos recursos, e educação e alimentação contaram apenas com 7%. Houve crescimento de 100% na indústria de base nacional, mas também um grande desequilíbrio monetário. Em contrapartida, o país esbanjou otimismo, num ambiente de liberdade, sem estado de sítio nem censura à imprensa, apesar da guerra fria.

Míriam Leitão: Custo da corrupção

- O Globo

O país ainda vive os tremores secundários do grande terremoto na economia provocado pelos casos de corrupção. Empreiteiras estão reduzidas a uma fração do que eram e os negócios nos quais estão correm perigo. A Odebrecht tem hoje 30 mil funcionários e já teve 130 mil, sua carteira de projetos caiu à metade e ela ainda não conseguiu honrar um compromisso que venceu há dias.

A sequência de sinistros na economia ainda não acabou. O aeroporto de Viracopos, que tem a UTC no grupo de controle, fez um pedido de recuperação judicial. A Andrade Gutierrez deixou de pagar uma parcela da sua dívida, da mesma forma que a Odebrecht. As duas também têm participação na Usina de Santo Antônio, que não está muito bem.

Os procuradores diziam no começo da Lava-Jato, há quatro anos, que era preciso inverter a equação do custo-benefício da corrupção. Até então, o benefício era certo, e o custo, uma possibilidade remota. Isso era um estímulo aos negócios ilícitos. Não mais. Hoje já se sabe que CEO vai pra prisão. Os custos da corrupção produziram uma redução drástica dos ativos das principais empreiteiras, a começar da Odebrecht.

A construtora teve prejuízo de R$ 2 bilhões em 2016 e mais R$ 1,17 bilhão de perdas em 2017. O grupo deixou de pagar R$ 500 milhões em um bônus da dívida e tem um prazo de carência até o dia 25 deste mês para quitar o valor. Como essa operação é garantida pela construtora, ela poderá perder ativos caso não cumpra o prazo. Mas o risco maior para o grupo é o de os credores pedirem o vencimento antecipado de outros créditos. A holding negocia com bancos um empréstimo de mais de R$ 2 bilhões. A ideia é quitar a dívida e usar parte dos recursos restantes para capitalizar a construtora.

Cristiano Romero: O peso da incerteza eleitoral nos juros

- Valor Econômico

Custo já cresceu para operações de crédito de médio prazo

A baixa institucionalidade da democracia brasileira faz com que, mesmo em momentos de estabilidade política e econômica, a transição de governo seja vista com enorme desconfiança por cidadãos e mercado. A incerteza em relação à eleição presidencial está refletida nos contratos futuros de juros. Mesmo com a taxa básica (Selic) hoje em 6,5% ao ano, com possibilidade de queda nesta quarta-feira para 6,25%, os contratos de 2019, 2020 e 2021 mostram taxas bem mais elevadas - respectivamente, 7,91%, 10,31% e 11,20% ao ano.

Juro de contrato futuro não é abstração, palpite, chute. É preço, custo do dinheiro. Mostra que as operações de crédito nos prazos mencionados já estão mais caras, apesar de a Selic estar no menor nível da história. Em outras palavras: já está bem mais caro financiar investimento de médio prazo. Evidentemente, isso faz o empresário adiar novos projetos. Sem investimento, a economia não cresce ou cresce muito pouco.

Os números refletem dúvidas sobre quem vencerá a eleição de outubro - se um candidato disposto a levar ao Congresso uma agenda de reformas "impopulares", a da Previdência antes de todas as outras, ou alguém que ainda acredite que o déficit do INSS e do regime de aposentadoria dos funcionários públicos, que no ano passado foi a R$ 269 bilhões, é uma invenção de neoliberais rentistas e malvados, traidores da pátria associados a gente do FMI e da Casa Branca.

Na hipótese de que ganhe um reformista - na verdade, o único com esse perfil, Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, parece ter poucas chances de chegar lá; na pesquisa CNT-Ibope, apareceu com 0,5% das intenções de voto -, a pergunta é: ele terá condições de formar maioria parlamentar para aprovar emendas constitucionais, algo que exige 308 votos (3/5 do total) na Câmara e 49 no Senado, em duas votações em cada casa?

Vinicius Torres Freire: Ninguém se entende sobre o dólar

- Folha de S. Paulo

Adeptos do câmbio flutuante querem mais ação do BC; estudos divergem sobre causa da alta

O preço do dólar pode flutuar, desde que seja para o lado que interessa ao freguês. Parte da indústria e exportadores reclamam de dólar barato, cansou-se de saber. Parte da finança, em geral defensora de câmbio flutuante, está nervosa demais com a corrida do dólar para perto dos R$ 3,70.

É o que a gente pôde ver e ouvir nas últimas semanas de desvalorização do real, com gente meio desesperada por intervenções mais firmes do Banco Central.

Há, claro, o temor sensato de que disparadas do dólar causem acidentes financeiros. Há, porém, também o desgosto de se ver mais pobre em termos de dinheiro que realmente interessa, dólar.

O que a gente ainda não consegue ver são explicações coincidentes sobre o motivo da disparada da moeda americana por aqui. Economistas razoáveis e reputados que lidam com a conjuntura dão explicações disparatadas sobre o que se passa e o que pode se passar até o fim do ano.

Certos estudos indicam que o dólar se mudou para andar mais alto, por um bom tempo, em particular porque a diferença entre taxas de juros americanas e brasileiras caiu (embora viesse caindo fazia tempo, uma "não linearidade" que não parece fácil de explicar).

Fábio Alves: Chilique com o Fed

- O Estado de S.Paulo

Investidores estavam lenientes com a normalização monetária nos Estados Unidos

Desde o início de abril, quando os juros pagos pelos títulos do Tesouro americano de 10 anos começaram a subir com força, ultrapassando a barreira dos 3,0%, os mercados globais enfrentam grande turbulência, com o dólar se fortalecendo em relação às principais moedas mundiais e as bolsas de valores sofrendo forte correção nos preços.

Por trás desse nervosismo está o temor de que o Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos) acabe por acelerar o ritmo do aperto monetário mais do que o previsto. O mercado ainda precifica três altas dos juros americanos neste ano, enquanto é crescente o número de analistas que projetam um total de quatro elevações.

A expectativa é de que, na sua próxima reunião, marcada para os dias 12 e 13 de junho, o Fed passe a sinalizar oficialmente a projeção de quatro altas de juros neste ano.

Da última vez que divulgou suas projeções macroeconômicas, em março, a mediana das estimativas dos 15 diretores do Fed apontava para três elevações neste ano, mas ficou faltando uma única projeção para que a mediana tivesse sido alterada para quatro altas.

Monica De Bolle: FMI em xeque

- O Estado de S.Paulo

A Argentina pode ter sido o canário da mina de carvão, mostrando que há países vulneráveis a um tranco

Não é preciso acompanhar de perto as oscilações dos mercados internacionais para saber que há algo de novo e pernicioso no horizonte. Há poucos meses, quando ainda predominavam os cenários de calmaria associados à visão de que as taxas de juros internacionais permaneceriam baixas por tempo prolongado, jorravam recursos para os países emergentes, inclusive para economias vulneráveis como a Argentina e a Turquia. Passadas algumas semanas, o quadro mudou subitamente. Investidores finalmente se deram conta não apenas de que o quadro de juros baixos pode se alterar mais rapidamente, mas também de que aumentaram as chances de que a economia mundial sofra as consequências da política comercial de Trump e das várias convulsões geopolíticas que se alastram com rapidez mundo afora. O resultado foi a busca por ativos seguros, o que sempre significa saída de recursos de países emergentes. Para os que não seguem com atenção as minúcias dos mercados, os acontecimentos evidenciaram-se na cotação do dólar e na volatilidade da bolsa. Evidenciaram-se, também, no pedido de socorro da Argentina ao FMI.

A turbulência é para preocupar. Ela teve origem na leve alta dos juros dos títulos de 10 anos do Tesouro americano, de cerca de 2,8% na média de abril-maio para 3% nas últimas semanas. Até agora, meros 0,20 pontos porcentuais a mais na taxa do ativo mais seguro e líquido do mundo foram suficientes para desarticular posições em ativos de emergentes causando imensas flutuações. Imaginem quando os mercados passarem a precificar essas taxas ao redor dos 4%, nível considerado compatível com o atual estado da recuperação americana. É possível, inclusive, que com a taxa de desemprego norte-americana abaixo de 4% e os efeitos das políticas de expansão fiscal adotadas no final de 2017, o rendimento dos títulos do Tesouro supere os 4% nos próximos meses, o que não traz alento para os países emergentes. Há menos alento ainda quando se considera que o Banco Central Europeu pode estar se preparando para dar fim às políticas de estímulo monetário excepcionais assegurada a retomada da zona do euro. Portanto, o mais provável é que esses movimentos de reprecificação de ativos continuem a fazer refluir recursos de países emergentes para as economias avançadas, eliminando o quadro de liquidez abundante.

Apesar da agenda, governo Temer está paralisado: Editorial | O Globo

Temer pode ostentar o êxito que foi a montagem da equipe econômica, mas isso não esconde o erro ao não renunciar na descoberta dos contatos espúrios com Joesley

Ao assumir de vez a Presidência da República em 31 de agosto de 2016, no impedimento de Dilma Rousseff, o vice Michel Temer tinha campo aberto à frente. Afinal, os compromissos com o PT da presidente se referiam apenas à governabilidade, sem qualquer vinculação ideológica, programática.

No período de interinidade, iniciado em 12 de maio, isso ficara claro, na própria escolha da equipe econômica, de pensamento diametralmente oposto à visão “desenvolvimentista” de Dilma e grupo, responsáveis pela grave recessão de 2015/ 16 e o consequente desemprego de 14 milhões de pessoas, além da volta da inflação aos dois dígitos.

A escolha de Temer, entre outros, de Henrique Meirelles para a Fazenda e Ilan Goldfajn para o Banco Central, foi decisiva para a grande vitória de seu governo, que tem sido a estabilização da economia, com retomada de crescimento, embora ainda lento, dada a grande dimensão do desemprego. A agenda estava correta.

No balanço dos dois anos de gestão, os destaques são uma inflação muito baixa, aquém de 3%, quando a meta anual é de 4,5%; e, embora ainda titubeante, um crescimento na faixa dos 2%. Diante do encolhimento do PIB de quase 8%, em 2015/16, é bom resultado.

A eleição e a economia: Editorial | Folha de S. Paulo

Rombo orçamentário e pleito imprevisível acentuam temores que podem dificultar a recuperação do país

Nem sempre a alta do dólar e outros movimentos dos mercados podem ser atribuídos com precisão a este ou aquele motivo, em particular do campo político. Em ano eleitoral, contudo, tais associações se tornam quase inevitáveis.

É fato que a moeda americana se valoriza em grande parte do mundo, devido à perspectiva de crescimento econômico e de alta de juros nos EUA. Essa tendência se manifesta de modos variáveis entre os países, a depender das fragilidades e incertezas locais.

Na Argentina, mais dependente de capital estrangeiro, os efeitos se mostraram dramáticos. No Brasil, ainda que em grau menor, também se observa nervosismo dos investidores —e as dúvidas suscitadas pelo pleito presidencial são explicações recorrentes.

Já se cogita que tais inquietações tenham consequências além da mera especulação financeira. Na sexta-feira (11), um documento do Fundo Monetário Internacional afirmou que um risco-chave para a recuperação da economia do país é a possibilidade de mudança da agenda reformista após a eleição.

Para Henrique Meirelles (MDB), ex-ministro da Fazenda e presidenciável de chances até aqui obscuras, os efeitos negativos já se dão agora: temores relacionados à disputa pelo Planalto estariam inibindo os investimentos privados e desacelerando a retomada.

Soa o alarme do dólar: Editorial | O Estado de S. Paulo

Há um alarme estridente soando no mercado de câmbio. Ontem de manhã o dólar quase bateu em R$ 3,70, enquanto o risco Brasil subia nos mercados financeiros. Parte da perda foi recuperada mais tarde pelo real, mas é preciso ser muito otimista, nesta altura, para apostar numa trégua no mercado cambial. Antes de mais nada é preciso fazer uma distinção. Dólar caro pode ser uma bênção para exportadores – produtos brasileiros mais baratos e mais competitivos – e um fator de segurança para boa parte da indústria. Mas dólar em disparada é sinal de risco. Pode indicar desvio ou fuga de capitais para aplicações mais atraentes e mais seguras, como papéis do Tesouro americano. Pode indicar, mais que isso, desconfiança em relação aos países de onde o dinheiro é retirado. Nos casos mais graves, pressão cambial pode ser prenúncio de desastre.

A primeira grande vítima da pressão cambial, desta vez, foi a Argentina, um país com finanças públicas em mau estado, inflação alta, enorme dependência de financiamento estrangeiro e reservas insuficientes para aguentar um choque externo. Com reservas em torno de US$ 380 bilhões, superávit comercial e menor dependência de crédito externo, o Brasil é bem menos vulnerável, por enquanto. Além disso, dirão os mais despreocupados, o dólar tem subido em todo o mundo e nenhum país está livre, neste momento, da instabilidade cambial. O movimento do câmbio, acrescentarão, é explicável pela expectativa de alta mais rápida dos juros americanos. Os dados de consumo, de emprego e de crescimento econômico apontam para inflação mais acelerada e para um aperto monetário mais forte nos Estados Unidos. A alta do dólar é consequência desses fatores e afeta todo o mundo.

Pressão por desvalorização do real tende a continuar: Editorial | Valor Econômico

O real passa por maus momentos na onda de reavaliação dos preços dos ativos que veio de fora, que está provocando desvalorizações das moedas em vários países emergentes. Os investidores, de início, não estão fazendo distinções entre os "suspeitos de sempre" e estão se livrando do risco. A forte queda da taxa de juros no Brasil, por seu lado, reduziu o rendimento pago aos investidores externos, o que faria o real subir de qualquer jeito, mas não na magnitude atual.

Ontem foi mais um dia de inquietação nos mercados internacionais, depois que o rendimento dos títulos do Tesouro americano de 10 anos chegaram a 3,09%, nível superior ao do papel com o "taper tantrum" em 2013, quando o Fed deu sinal de que começaria a reduzir os estímulos monetários, e o mais alto desde 2011. O dólar se valorizou diante de todas as moedas, mesmo a dos países desenvolvidos, deixando especialmente em má situação a lira turca, que perdeu 15% de seu valor em três meses, e pressionando com intensidade o real, que se depreciou 9,8% desde 1 de abril e 9,51% no ano. Ontem, ele fechou a R$ 3,6617.

O motivo imediato da alta foram os dados do varejo americano, que subiram pelo segundo mês consecutivo (0,3% em abril), mais um entre vários números a sinalizar que o curso da inflação americana é para cima, assim como o da taxa de juros definida pelo Fed, cujo ritmo agora parece mais perto de quatro altas durante o ano do que as três que estavam na conta dos investidores no início do ano.

A favor de mais inflação nos EUA está também a escalada dos preços do petróleo, com o brent quase encostando em US$ 80 o barril, mais do que o triplo da cotação registrada em 2016. A ameaça de nova crise no Oriente Médio, com os EUA saindo do acordo com o Irã, ajudou a tornar o preço mais volátil, com tendência de alta. Se os EUA executarem a sério as sanções que Trump anunciou, é possível que um milhão de barris de poços iranianos deixe de fluir, depois que outro meio milhão de barris evaporou-se pela incompetência dos chavistas venezuelanos, que estão destruindo a PDVSA.

Procuradoria denuncia delatores da JBS sob acusação de corrupção

Acusação ignora imunidade concedida em delação; procurador também é acusado

Camila Mattoso, Letícia Casado | Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O Ministério Público Federal denunciou os executivos e delatores da JBS Joesley Batista e Francisco de Assis sob acusação de corrupção ativa, lavagem de dinheiro, violação de sigilo funcional e embaraço de investigação.

A denúncia, apresentada no dia 27 de abril e mantida sob sigilo, rompe a blindagem concedida pela Procuradoria-Geral da República (PGR) aos executivos no acordo de delação premiada assinado há um ano, que os protegia de serem denunciados por crimes cometidos.

A denúncia acusa o procurador Ângelo Goulart Vilella de receber ajuda de custo da JBS para vazar informações internas da Procuradoria do Distrito Federal para os investigados.

O presidente da OAB-DF (Ordem dos Advogados do Brasil), Juliano Costa Couto, o advogado Willer Tomaz e o publicitário André Gustavo Vieira também foram denunciados.

No documento, os procuradores afirmam que o grupo ocultou e dissimulou propina recebida entre 21 de fevereiro e 2 de março de 2017 como contrapartida de benefícios oferecidos a JBS, então alvo na Operação Greenfield. Comandada pelo MPF, a operação investiga o uso irregular de dinheiro de fundos de pensão.

A denúncia é toda baseada na delação premiada dos executivos do frigorífico e na ação controlada feita por Francisco de Assis, autorizada pelo Supremo.

Na delação, Assis disse que a empresa pagava mesada de R$ 50 mil a Villela, que na ocasião integrava a força-tarefa da Greenfield.

A denúncia foi apresentada ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) no dia 27 de abril porque Villela tem foro especial devido ao cargo de procurador.

O caso está em segredo de Justiça, com a desembargadora Monica Sifuentes.

A peça é assinada por Gustavo Velloso, Marcelo Serrazul e Bruno de Acioli, da PRR-1 (Procuradoria Regional da República na 1ª Região).

O MPF pede aos denunciados o pagamento de R$ 24 milhões a título de reparação de danos morais, além da perda do cargo de Ângelo Villela.

O presidente da OAB-DF e o publicitário são acusados pelos crimes de corrupção ativa e lavagem de dinheiro.

Em abril de 2017, Joesley e Assis fecharam acordo com a PGR. Na ocasião, o então procurador-geral Rodrigo Janot assim justificou a extensão dos benefícios concedidos, que impediam, por exemplo, que os empresários fossem incriminados formalmente pelo Ministério Público.

“Em razão do ineditismo de muitos dos temas trazidos pelos colaboradores (...) a premiação pactuada entre as partes signatárias dos acordos foi o não oferecimento de denúncia em face dos colaboradores”, escreveu Janot no documento em que pediu a homologação da delação dos executivos da JBS.

Após a suspeita de que os executivos omitiram informações relevantes, no último mês de setembro, Janot pediu a rescisão dos acordos, solicitação que foi também reiterada por sua sucessora, Raquel Dodge”

A rescisão não foi, no entanto, homologada pelo relator do caso no STF (Supremo Tribunal Federal), o ministro Edson Fachin, o que faz com que o acordo ainda esteja em vigência.

Raquel sugere que processo contra procurador é ‘censura prévia’

Conselho Nacional do Ministério Público, comandado pela procuradora-geral, analisa caso de Carlos Fernando dos Santos Lima

Teo Cury | O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A procuradora-geral da República, Raquel Dodge, afirmou nesta terça-feira, 15, que estabelecer censura prévia ou inibir o direito de crítica pode diminuir o vigor da democracia. A afirmação foi feita durante sessão do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), presidido por ela, que começou a analisar processo administrativo disciplinar contra o procurador regional da República Carlos Fernando dos Santos Lima, da força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba, no Paraná.

No ano passado, em sua página no Facebook, o procurador afirmou que o presidente Michel Temer era “leviano, inconsequente e calunioso ao insinuar recebimento de valores por parte do PGR (à época, comandada por Rodrigo Janot)”.

“Todas as vezes, em qualquer democracia, que se avança no sentido de estabelecer a censura prévia ou a inibição do direito de crítica assumindo que estão ofendidas pessoas que nem se manifestaram, podemos estar em um ambiente que acaba diminuindo o vigor da democracia liberal que este país assumiu e quer ser. E eu acho que cumpre a este Conselho Nacional zelar para que floresça e siga forte e vigorosa”, disse Raquel.

A análise da aceitação ou arquivamento do processo foi interrompida, pela própria procuradora-geral, sob a alegação de compromissos agendados pelos conselheiros. A sessão será retomada no dia 29.

O processo foi instaurado em março pelo corregedor Nacional do Ministério Público, Orlando Rochadel. Segundo ele, a publicação “configuraria, em tese, descumprimento do dever de guardar o decoro pessoal”. O corregedor indica a aplicação de censura ao procurador.

PMDB do futuro

Lydia Medeiros | O Globo

A reunião de DEM, PP, PRB e Solidariedade na disputa eleitoral, sob o comando de Rodrigo Maia, repete a estratégia que marcou o PMDB nas últimas décadas: ter força no Congresso para controlar o governo — seja ele qual for. Desde José Sarney (1985-1990), o PMDB não elege um presidente. 

Concorreu ao cargo duas vezes, com Ulysses Guimarães (1989) e Orestes Quércia (1994). Teve péssimo desempenho nas urnas, mas sempre esteve no poder. Se ao novo bloco unir-se também o PR, do ex-deputado Valdemar Costa Neto, condenado pelo mensalão, o grupo chegará a 165 deputados. Quando tomaram posse, em 2015, somavam 129. O DEM de Maia elegeu 21 deputados. 

Com a janela partidária, chegou a 44. O PP tem um ex-presidente preso por envolvimento no mensalão e na Lava-Jato, Pedro Correa; e o atual, Ciro Nogueira, é acusado de corrupção e lavagem de dinheiro. Elegeu 38 deputados e conseguiu aumentar a bancada para 49. Deles, 21 são investigados e quatro já são réus. 

Nada disso inibe esses partidos — ou os candidatos que os procuram — de colocarem-se como aliados cobiçados. Falta combinar outra aliança importante, com o eleitor, que tem dado sinais claros de rejeição à política e aos políticos.

Em reuniões fechadas, Alckmin tenta acalmar tucanos em São Paulo

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - Sem agenda pública desde sábado, o ex-governador e presidenciável do PSDB, Geraldo Alckmin, recolheu-se nos últimos três dias em reuniões fechadas com colaboradores e dirigentes partidárias em uma tentativa de conter um princípio de crise em sua pré-campanha. A cinco meses da eleição, aliados lhe cobram planejamento e apontam erros de estratégia em meio a perplexidade geral com os resultados pífios do tucano até o momento nas pesquisas de intenção de voto.

Interlocutores de Alckmin reconhecem que o ex-governador enfrenta uma "maré ruim" com os dados das recentes pesquisas que atestam sua dificuldade em crescer na preferência do eleitorado e o avanço de investigações contra o tucano no Ministério Público. O cenário "preocupante", como definiu um colaborador, norteou boa parte de um encontro entre o presidenciável do PSDB e dirigentes do partido na segunda-feira para debater a conjuntura eleitoral.

"Geraldo não está entendendo porque isso está acontecendo. O povo está sendo duro. Ele fez uma boa gestão em São Paulo e não atrasou salários", afirma o presidente do PSDB paulista, deputado estadual Pedro Tobias, ao comentar um levantamento do Ibope no Estado, realizado em abril, que coloca o presidenciável tucano atrás numericamente, mas em situação de empate técnico com o deputado Jair Bolsonaro (PSL) no cenário sem o ex-presidente Lula na disputa.

A sondagem da CNT/ MDA, divulgada na segunda-feira, foi ainda pior para Alckmin ao mostrar que a intenção de voto no tucano variou de 8,6% para 5,3% ao mesmo tempo que sua rejeição cresceu cinco pontos percentuais (55,9%). O ex-governador também perde nas simulações de segundo turno para Bolsonaro, a ex-senadora Marina Silva (Rede) e o ex-deputado Ciro Gomes (PDT). Segundo Tobias, técnicos serão contratados para "entender" os números da pesquisa.

Na reunião com os correligionários, Alckmin procurou demonstrar tranquilidade, conforme o relato de dirigentes que participaram do encontro. Na ocasião, repetiu o discurso de que há uma ansiedade da imprensa e que eleitor ainda não parou para pensar na eleição presidencial. O quadro, afirmou o tucano aos aliados, ficará definido após as convenções partidárias. O ex-governador, no entanto, reagiu às críticas e observações com certa irritação.

Nesse contexto, desdenhou o pedido para que dedicasse mais tempo de sua pré-campanha no Estado de São Paulo, principal colégio eleitoral do país. Nos últimos meses, o presidenciável do PSDB tem investido em viagens para Brasília, em encontros internos de articulação política, e para outras regiões do país, como o Norte e o Nordeste, onde seu nome é menos conhecido e enfrenta maior resistência.

No way', diz Doria sobre chance de disputar Presidência

Por Carolina Freitas | Valor Econômico

SÃO PAULO - O ex-prefeito de São Paulo João Doria atribuiu ao PSDB a responsabilidade pela escolha de Geraldo Alckmin como candidato do partido à Presidência. Em entrevista em vídeo para a "Bloomberg", gravada em Nova York, Doria foi questionado sobre porque concorreria ao governo paulista e não ao Planalto.

"É uma decisão do meu partido, o PSDB", afirmou. "Nós já temos candidato para a Presidência do Brasil. É Geraldo Alckmin. Eles [o partido] decidiram também me convidar a concorrer no Estado de São Paulo. Essa é a razão."

O entrevistador quis saber então se o partido reconsideraria a candidatura de Alckmin, tendo em vista o desempenho fraco do presidenciável nas pesquisa de intenção de voto. "No way [De jeito nenhum]", respondeu Doria - a entrevista foi concedida toda em inglês. "Never [Nunca]."

O tom do ex-prefeito foi de quem entende a atitude como um dever a ser cumprido. "Eu tenho que manter minha decisão e apoiar Alckmin na decisão dele. A decisão não pertence apenas a ele, mas é uma decisão do partido. E eu tenho que respeitar isso". Doria justificou também que, por vir do setor privado, é "muito focado".

"Toda a minha vida, o que eu decidi eu segui e mantive." O empresário foi criticado dentro e fora do PSDB ao deixar a Prefeitura de São Paulo para concorrer ao governo do Estado - depois de 15 meses de gestão e de ter prometido cumprir os 4 anos de mandato.

Instado a falar sobre os motivos para o desempenho de Alckmin na pré-campanha, Doria optou por um discurso conciliador. Disse que falta "uma eternidade" para as eleições. "Temos tempo para crescer, tempo para apoiar Alckmin." Apostou na formação de uma coalizão com outros "3, 4 ou 6" partidos para sustentar o PSDB na corrida presidencial e na campanha eleitoral na televisão. "Sem plano B nem C, só plano G, de Geraldo."

Meirelles critica propostas de Ciro, Marina e Bolsonaro

Vera Rosa / O Estado de S. Paulo.

BRASÍLIA - Pré-candidato do MDB à Presidência, o ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles atribuiu ontem a alta do dólar a uma dose de incerteza sobre o futuro da economia e criticou propostas de Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Jair Bolsonaro (PSL), seus prováveis adversários. “Não há dúvida de que a eleição pode começar a influenciar a economia, principalmente as propostas feitas pelos candidatos dos extremos”, disse Meirelles. “Há preocupação com mudança radical.”

Após participar da cerimônia “O Brasil voltou”, na qual o presidente Michel Temer fez uma prestação de contas sobre seus dois anos no Planalto, Meirelles fez discurso de candidato. “A Marina diz que vai acabar com o teto (de gastos). Ciro quer acabar com a reforma trabalhista e o problema do Bolsonaro é o histórico de votações dele. Tudo isso gera insegurança e preocupa o mercado”, argumentou o ex-ministro. “Hoje (ontem) falei com gestores dos maiores fundos de investimento do Brasil, e há preocupação. O histórico de votações dele (Bolsonaro) no Congresso é difícil. O mercado é cético de uma mudança radical”, disse.

Meirelles minimizou seu baixo desempenho nas pesquisas de intenção de voto – em algumas delas, aparece com menos de 1% – e o fato de parte do MDB ignorar sua intenção de concorrer ao Planalto. Disse que o importante é o potencial de crescimento e, mais uma vez, rejeitou a possibilidade de ser vice em alguma chapa. “Passada a convenção do MDB, terei, de fato, condição de fazer campanha muito forte. O MDB está no governo. Não há razão para não apresentar candidato próprio, disputar e ganhar a eleição.”

Além de não querer ser vice, o ex-ministro também já disse a amigos que não aceitará fazer dobradinha com o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin (PSDB). “Tenho a certeza de que no segundo turno contaremos com o apoio do PSDB.”

Alckmin é estimulado a fazer vídeos e aumentar entrevistas

Painel | Folha de S. Paulo

Levanta e anda Com o tucano sob pressão e empacado nas pesquisas, auxiliares de Geraldo Alckmin (PSDB-SP) tentam convencê-lo a ampliar sua presença nas redes sociais e na imprensa. A ideia do time do presidenciável é lançar novos produtos para canais de internet, como o YouTube, e aumentar o número de entrevistas a rádios. Uma das propostas é gravar pelo país conversas do ex-governador com eleitores em ambientes comuns, como padarias. Os primeiros testes devem começar nesta semana.

Me dê motivos Nas bancadas do PSDB, foi pesado o impacto da pesquisa recente do instituto MDA que registrou o crescimento da rejeição ao presidenciável tucano. A avaliação é a de que Alckmin está sendo visto como o nome do establishment numa eleição marcada pela repulsa à política.

Palpite Aécio Neves (PSDB-MG), que restringiu sua atuação aos bastidores, tem repetido dentro e fora do tucanato que, mesmo com o cenário adverso, Alckmin tem chances. Como? Ele seria beneficiado pelo pragmatismo do eleitor.

Menor dos males Para o mineiro, o voto da exclusão, aquele que leva à escolha de um nome pela rejeição maior à outra opção, muito tradicional nas disputas de segundo turno, desta vez se dará já na primeira etapa da corrida.

Luiz Carlos Prestes Filho: O Pedro sem Maria

A sua imagem e o seu nome, Maria, deram equilíbrio para os meus primeiros passos; choros de insegurança; e as minhas péssimas notas no colégio. Seu olhar atento passava o recado: “Estou aqui para ajudar, siga, vai dar certo!”.

Suas mãos, quando necessário, me puniam severamente.

Hoje, adulto, tenho noção de que muito do seu lado rígido, vem da secura das terras da caatinga nordestina, de sua infância analfabeta e feita de fome. Vem da perseguição policial e dos espaçamentos que o vovô, seu pai, sofreu por ser comunista.

Vida tensa, esta sua vida, mamãe!

Desde o meu nascimento e o de todos os meus oito irmãos, você nunca pode perder de vista que um pequeno descuido colocaria em risco a vida de dezenas de companheiros. Então, a disciplina e as poucas palavras passaram a ser a sua marca.

Destacada para garantir a segurança do secretário geral do Partido Comunista Brasileiro (PCB), Luiz Carlos Prestes, em 1951, na cidade de São Paulo, você se apaixonou por ele. E ele por você. Namoro eterno, interrompido pela morte de papai, em 1990, que já faz 28 anos!

Lembro de você de pé, firme, ao lado dele, nos últimos dias da despedida. Sempre com um vidrinho de remédio da homeopatia nas mãos, como se nele estivesse aquela gota que poderia salvar o papai da morte.

Morte - como esta senhora - rondou a sua casa, durante os anos de clandestinidade (1951/1959) e os anos após o golpe militar (1964/1979). Até mesmo no exílio, não havia tranquilidade para você. A vigilância tinha que ser permanente, para que o seu “Pedro” (este era o nome clandestino pelo qual você chamou o papai, toda a vida) pudesse viajar pelo mundo, denunciando os crimes dos generais fascistas que se apossaram do poder no Brasil. Homens que, sem escrúpulos, assassinaram e desapareceram com centenas de patriotas nas masmorras, através da tortura.

Elba Ramalho, Zé Ramalho, Geraldo Azevedo: Caravana

Manuel Bandeira: O rio

Ser como o rio que deflui
Silencioso dentro da noite.
Não temer as trevas da noite.
Se há estrelas no céu, refleti-las
E se os céus se pejam de nuvens,
Como o rio as nuvens são água,
Refleti-las também sem mágoa
Nas profundidades tranqüilas.