segunda-feira, 30 de junho de 2008

DEMOCRACIA E REFORMA

DEMOCRACIA E REFORMA
Gilvan Cavalcanti de Melo


Os primeiros partidos de esquerda apareceram e se desenvolveram a partir da revolução industrial como uma resposta aos conflitos sociais gerados pelo capitalismo daquela época. A contestação da esquerda teve duas vias: a revolucionária que terminou num impasse trágico no oriente e a reformista ocidental que conseguiu conquistas sociais e liberdades de valor histórico. Este mais generalizado nos Estados nacionais modernos.

No momento está ocorrendo outra enorme transformação: mundialização dos mercados, integração dos sistemas econômicos, uma nova revolução científica e tecnológica. Diante deste novo fenômeno, - mudam os modos de produzir e trabalhar que destroem o conjunto das relações sociais que o primeiro industrialismo tinha delineado.

Com a mudança das circunstâncias os valores e princípios da esquerda devem ser redefinidos. Não deve causar surpresa, desespero, nem desalento, o fato de que parte deles tenha sido colocada em dúvida. Os valores e princípios de uma esquerda moderna estão sendo repensados e elevados em dignidade pela própria força dos fenômenos, pela perspectiva de dirigir o processo e de evitar os perigos que sobrevierem. É o momento de afirmar isso com segurança, inteligência e nobreza.

A demanda que se coloca no século XXI é que os avanços da tecnologia e a ampliação dos mercados só beneficiam o desenvolvimento humano se crescem, simultaneamente, os sujeitos políticos coletivos, os bens públicos e a unidade social. A supressão ou limitação dos direitos conquistados, do trabalho, da educação, da saúde não pode ser o preço a ser pago para alcançar objetivos e metas econômico-financeiras em nome da eficiência capitalista.

Os paradigmas pelos quais a esquerda voltará a ser ator neste século XXI manifestar-se-ão nos novos fenômenos. São eles, - é esta a novidade -, o amálgama entre a mundialização dos mercados e a transição para uma economia pós-fordista que propõem o realinhamento de uma nova bipolarização entre progresso e conservação, direita e esquerda.

Os problemas e as novidades a enfrentar são imponentes. Começa pela limitação relativa da soberania nacional, sobre a qual a esquerda construiu seus instrumentos políticos de hegemonia e domínio. A idéia principal é se o pós-fordismo e pós-industrialismo submeterá a sociedade à dependência do mercado ou criará outra mais complexa que não seja condenada, fatalmente, a produzir novas injustiças e, simultaneamente, ofereça novas oportunidades para o desenvolvimento dos indivíduos, com experiências de incorporação, cooperação e agregação.

A esquerda não deve contemplar com receio a globalização. Ela favorece o desenvolvimento econômico e a conquista de qualidade de vida mais elevada.
Aproxima mercados mas também povos e culturas. É verdade que despontaram novas desigualdades e as antigas voltaram a superfície. É verdade que a insegurança é o novo sentimento que afeta os indivíduos e a sociedade como um todo. Adicione-se a dúvida com relação ao trabalho, ao futuro da aposentadoria, às transformações da estrutura familiar, o perigo com o aumento da marginalidade e da criminalidade. È uma circunstância nova na qual é necessário virtú para agir e lutar.

A esquerda brasileira deve saber apreender as promessas contidas na força liberada pela revolução dos fenômenos e saber reformular seus novos valores: igualdade entre sexos, etnias e grupos sociais; maior abertura possível da experiência existencial, concebida em seus aspectos individuais e coletivos; defesa do trabalho, de sua dignidade, da valorização dos recursos humanos; valorização dos méritos: valorização profissional, a inovação social, a criatividade cultural com responsabilidade social; equilíbrio ecológico: a sustentabilidade das técnicas, a proteção da natureza, o valor cultural do meio ambiente; integridade do ser humano, o respeito pela vida, a laicidade do Estado, sua democratização e a liberdade de opções com base nas convicções éticas individuais; valorização da cultura, da história e da memória; ética política: os direitos mas também os deveres da cidadania, as responsabilidade morais dos representantes. Se a esquerda quiser reavaliar a cultura política como expressão dos interesses coletivos, cabe travar a luta contra o indeterminismo de um lado e contra todos aqueles que preferem conceber a política como jogo do poder, instrumento de ambições pessoais e interesses corporativos; novo internacionalismo: à luta contra a fome e pobreza, a mundialização dos direitos humanos, base para a unificação dos povos.

Concluindo, a história ensinou de forma clara e trágica que justiça e liberdade são valores inseparáveis. Não pode haver igualdade e justiça sem liberdade, sem democracia.

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