segunda-feira, 30 de junho de 2008

O RESGATE DA POLÍTICA NAS ELEIÇÕES DE 1998
Gilvan Cavalcanti de Melo
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Para uma discussão sobre as eleições do presente ano, no Estado do Rio de Janeiro, é fundamental uma reflexão não só imediata – possibilidade de reeleger os atuais parlamentares e bem como aumentar sua representação – mas, também, mediata – o dia seguinte das eleições. É, o melhor, da tradição do PPS, a herança da cultura política de pensar o país em processo, em transformação, tentando descobrir, dentre as complexidades, as principais tendências do processo político, sem o exclusivismo partidário ou o “corporativismo de partido”.

Hoje o núcleo no qual se polariza o debate político é a agenda da reforma constitucional da previdência social e administrativa. Ontem eram as reformas constitucionais da ordem econômica: petróleo, empresa nacional, telecomunicações, etc. Entre uma geração e outra a reforma constitucional sobre a reeleição dos atuais mandatários dos poderes executivos: união, estados e municípios. Com esta pauta o presidente Fernando Henrique teve que fazer uma opção de alianças fundamentais, do centro reformista – PSDB, PMDB–, a direita up to date até a direita old fashioned – PFL, PPB, PTB, etc.– , daí as grandes dificuldades, contradições, as limitações, morosidade e as próprias ambigüidades do governo. Isto é, os partidos – PT, PDT, PCdoB e PSB – contrários, em princípio, às reformas não entenderam, até agora, que a verdadeira oposição às reformas do Estado e as mudanças está exatamente na própria base de sustentação do governo FHC.

Concluída esta geração de reformas e mantido o quadro atual de candidatos à sucessão presidencial, terá início um provável segundo mandato de FHC. Neste cenário abrir-se-á uma nova conjuntura, um novo horizonte político diferente do instalado e mantido no atual governo.
Com certeza o presidente da República não será mais prisioneiro da necessidade de garantir quorum de 308 votos às reformas; as correntes mais conservadoras irão buscar um caminho próprio de oposição; os sociais-liberais do PFL tentarão fortalecer suas posições com as quais possam concorrer à sucessão presidencial de 2002 com candidato próprio; o PSDB, obviamente, não verá esse movimento se desenvolver como simples observador dos fatos. Neste novo cenário surge uma tendência, no início, do segundo mandato de FHC para a dissolução da aliança que permitiu a eleição, garantiu o atual governo e a sua provável reeleição.

É justa a preocupação de conceber como prioridade as alianças nas eleições proporcionais no Rio de Janeiro? Sim, é correta. Mas não são quaisquer alianças. E aí não tem argumento que possa justificar um pragmatismo político indiferente a qualquer tipo de perspectiva futura. A aliança nas eleições proporcionais deverá ser realizada dentre os partidos os quais participem do bloco que apoiem um candidato nas eleições majoritárias comprometido com aquela política ampla, democrática e seja capaz de compreender e atuar numa nova conjuntura, um novo quadro político mais complexo que é possível prever alguns contornos desde já. A esquerda brasileira tradicional, principalmente, no Rio de Janeiro será capaz de perceber essas novidades no cenário político? O candidato do PPS à presidência da República deve ter o objetivo, mesmo situado na oposição, de, em primeiro lugar, defender a estabilidade econômica como uma conquista a ser preservada. Em segundo lugar, de trabalhar para a deflagração de um movimento para a formação de um novo bloco político democrático e progressista, no qual as forças de centro-esquerda têm papel fundamental, capaz de operar as transformações de nossa estrutura sócio-econômica.
A afirmação da radicalidade democrática é o nosso principal compromisso! Em terceiro lugar, deve ser um movimento que de dialogue com o PSDB e PMDB, desfazendo os impasses e propondo soluções viáveis que favoreçam o resgate da política, em meio a uma profunda desqualificação da esfera pública e da atividade política. Simultaneamente, essa candidatura deverá interpelar as velhas concepções da esquerda. Ou seja, trata-se de fugir da indiferença das alianças e armadilhas bipolares através de uma larga e generosa política que inclua o centro político em suas intervenções de alcance geral, sem perder o dinamismo e energias das suas intervenções particulares e regionais.


Rio de Janeiro, 26 de Janeiro de 1998.

* Membro efetivo do Diretório Nacional e da Executiva Estadual do Rio de Janeiro do PPS, (texto apresentado na reunião da Executiva Estadual do PPS - 26/01/98).

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