Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
É fácil conferir, basta dar uma olhada nos jornais da semana passada. Servem também os do começo do ano ou qualquer um publicado ao longo da campanha de 2006 - dos primórdios da escolha do candidato do PSDB à Presidência da República à derrota final de Geraldo Alckmin para o presidente Luiz Inácio da Silva, com menos votos que os obtidos no primeiro turno.
E se interessar um aprofundamento do estudo comparativo das ações do PSDB na tentativa de reencontrar o caminho do Palácio do Planalto, vale retroagir a pesquisa à campanha presidencial de 2002 para perceber como são conservadores os tucanos em matéria de equívocos.
Sem criatividade para inventar novos nem capacidade para superar os velhos, há seis anos contentam-se com a repetição dos mesmos erros. E o mais incrível: surpreendem-se com eles.
A cúpula do PSDB se assustou com a última pesquisa do Ibope sobre a eleição para prefeito de São Paulo que registrou uma subida espetacular de Marta Suplicy, uma queda acentuada de Geraldo Alckmin e um inamovível Gilberto Kassab na casa do dígito único.
Ato contínuo deflagrou-se a caça aos responsáveis e instalou-se a discórdia sobre como sair da periclitante situação: mudar a campanha de Alckmin sim, mas em qual direção?
Os “nacionais” cobram agressividade contra Marta Suplicy, mas os “locais” - candidato incluído - não querem briga, apostam na maciota e prometem que no segundo turno tudo vai ser diferente, virá o enfrentamento e, com ele, a virada rumo à vitória.
Filme visto em 2002: José Serra foi candidato a presidente em meio ao desinteresse explícito do partido, a bordo do discurso dúbio da “continuidade sem continuísmo” que entrou por um ouvido do eleitor e saiu pelo outro devidamente transformado em pó nesse trajeto.
Revisto em 2006: Alckmin forçou a mão, Serra achou melhor não enfrentar Lula com a bola interna dividida e o PSDB entrou na disputa desprezando os 20 pontos porcentuais de diferença nas pesquisas em favor do preterido. Naquela vez havia um discurso à disposição, mas os tucanos preferiram deixar para Lula a autoria da estabilidade e cair na armadilha de se envergonhar das privatizações.
Lá, como cá, uns pediam agressividade, outros preferiam a amenidade, mas ninguém sentava para se entender. Evidente, as intrigas, ciumeiras, rasteiras e ressentimentos presidiam o ambiente.
Reprisado agora, na eleição preparatória da disputa de 2010: José Serra, de novo o mais bem posicionado nas pesquisas, tinha um plano. Os adversários dentro do partido não concordaram - inclusive porque não devem ter sido consultados - com a preliminar da aliança em torno de Gilberto Kassab e outra vez decisão sobre candidatura foi um parto dantesco. Em público.
Começa a campanha e dá-se o óbvio: um candidato com votos e sem discurso, outro com discurso e sem votos resultam numa conjunção de carências.
Mas a nação tucana sobressalta-se. Esperava um milagre. E convém esperar sentada se continuar fazendo tudo errado achando que no fim dá tudo certo.
Massa de manobra
Os marqueteiros ficam muito irritados com análises sobre a reduzida credibilidade dos programas apresentados no horário eleitoral gratuito.
Argumentam que o público alvo não tem o senso crítico de analistas. Como o crivo da maioria não é exigente, dizem, as fantasias fabulosas parecem verossímeis, tocam ao coração das mentes desacostumadas ao exercício do discernimento e alcançam o resultado desejado.
O raciocínio faz sentido. Mas é cruelmente baseado na premissa da ignorância. Na propaganda comercial, gera o consumo, movimenta a economia, rende benefícios a despeito de eventuais malefícios para a escala de valores da coletividade.
Na política pode produzir logros da dimensão de um Fernando Collor, alimenta o descrédito, despolitiza as relações e ainda celebra o atraso e a carência de instrução como instrumentos de manipulação.
Mercado futuro
Os gestos amigáveis dos governadores José Serra e Aécio Neves para com o PT têm razões eleitorais, claro.
Mas o objetivo é pós-eleitoral. Candidato do campo não-governista que tenha um pingo de visão trabalha para ter uma oposição o menos hostil possível.
Serra, por exemplo. Caso seja eleito presidente da República em 2010, em matéria de marcação pesada basta a que terá de enfrentar por parte de Ciro Gomes.
O serviço de terraplenagem junto aos atuais ocupantes do poder é essencial porque o PT, se à oposição retornar, será ainda mais difícil de enfrentar do que foi no passado, quando não sabia dos mistérios da máquina, desconhecia seus segredos nem estava nela embutido.
Ainda que perca a eleição de 2010, o PT já terá subido de patamar como personagem na cena política nacional, só pela multiplicação do poder de infernizar o sucessor de Lula.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
É fácil conferir, basta dar uma olhada nos jornais da semana passada. Servem também os do começo do ano ou qualquer um publicado ao longo da campanha de 2006 - dos primórdios da escolha do candidato do PSDB à Presidência da República à derrota final de Geraldo Alckmin para o presidente Luiz Inácio da Silva, com menos votos que os obtidos no primeiro turno.
E se interessar um aprofundamento do estudo comparativo das ações do PSDB na tentativa de reencontrar o caminho do Palácio do Planalto, vale retroagir a pesquisa à campanha presidencial de 2002 para perceber como são conservadores os tucanos em matéria de equívocos.
Sem criatividade para inventar novos nem capacidade para superar os velhos, há seis anos contentam-se com a repetição dos mesmos erros. E o mais incrível: surpreendem-se com eles.
A cúpula do PSDB se assustou com a última pesquisa do Ibope sobre a eleição para prefeito de São Paulo que registrou uma subida espetacular de Marta Suplicy, uma queda acentuada de Geraldo Alckmin e um inamovível Gilberto Kassab na casa do dígito único.
Ato contínuo deflagrou-se a caça aos responsáveis e instalou-se a discórdia sobre como sair da periclitante situação: mudar a campanha de Alckmin sim, mas em qual direção?
Os “nacionais” cobram agressividade contra Marta Suplicy, mas os “locais” - candidato incluído - não querem briga, apostam na maciota e prometem que no segundo turno tudo vai ser diferente, virá o enfrentamento e, com ele, a virada rumo à vitória.
Filme visto em 2002: José Serra foi candidato a presidente em meio ao desinteresse explícito do partido, a bordo do discurso dúbio da “continuidade sem continuísmo” que entrou por um ouvido do eleitor e saiu pelo outro devidamente transformado em pó nesse trajeto.
Revisto em 2006: Alckmin forçou a mão, Serra achou melhor não enfrentar Lula com a bola interna dividida e o PSDB entrou na disputa desprezando os 20 pontos porcentuais de diferença nas pesquisas em favor do preterido. Naquela vez havia um discurso à disposição, mas os tucanos preferiram deixar para Lula a autoria da estabilidade e cair na armadilha de se envergonhar das privatizações.
Lá, como cá, uns pediam agressividade, outros preferiam a amenidade, mas ninguém sentava para se entender. Evidente, as intrigas, ciumeiras, rasteiras e ressentimentos presidiam o ambiente.
Reprisado agora, na eleição preparatória da disputa de 2010: José Serra, de novo o mais bem posicionado nas pesquisas, tinha um plano. Os adversários dentro do partido não concordaram - inclusive porque não devem ter sido consultados - com a preliminar da aliança em torno de Gilberto Kassab e outra vez decisão sobre candidatura foi um parto dantesco. Em público.
Começa a campanha e dá-se o óbvio: um candidato com votos e sem discurso, outro com discurso e sem votos resultam numa conjunção de carências.
Mas a nação tucana sobressalta-se. Esperava um milagre. E convém esperar sentada se continuar fazendo tudo errado achando que no fim dá tudo certo.
Massa de manobra
Os marqueteiros ficam muito irritados com análises sobre a reduzida credibilidade dos programas apresentados no horário eleitoral gratuito.
Argumentam que o público alvo não tem o senso crítico de analistas. Como o crivo da maioria não é exigente, dizem, as fantasias fabulosas parecem verossímeis, tocam ao coração das mentes desacostumadas ao exercício do discernimento e alcançam o resultado desejado.
O raciocínio faz sentido. Mas é cruelmente baseado na premissa da ignorância. Na propaganda comercial, gera o consumo, movimenta a economia, rende benefícios a despeito de eventuais malefícios para a escala de valores da coletividade.
Na política pode produzir logros da dimensão de um Fernando Collor, alimenta o descrédito, despolitiza as relações e ainda celebra o atraso e a carência de instrução como instrumentos de manipulação.
Mercado futuro
Os gestos amigáveis dos governadores José Serra e Aécio Neves para com o PT têm razões eleitorais, claro.
Mas o objetivo é pós-eleitoral. Candidato do campo não-governista que tenha um pingo de visão trabalha para ter uma oposição o menos hostil possível.
Serra, por exemplo. Caso seja eleito presidente da República em 2010, em matéria de marcação pesada basta a que terá de enfrentar por parte de Ciro Gomes.
O serviço de terraplenagem junto aos atuais ocupantes do poder é essencial porque o PT, se à oposição retornar, será ainda mais difícil de enfrentar do que foi no passado, quando não sabia dos mistérios da máquina, desconhecia seus segredos nem estava nela embutido.
Ainda que perca a eleição de 2010, o PT já terá subido de patamar como personagem na cena política nacional, só pela multiplicação do poder de infernizar o sucessor de Lula.
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