domingo, 24 de agosto de 2008

O QUE SERÁ AMANHÃ?


Luiz Carlos Azedo
Nas Entrelinhas
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


Lula é o árbitro da tensão entre a “economia de mercado” e o ativismo econômico do Estado, da qual nem a Petrobras escapa. Símbolo “nacional-popular” da economia brasileira, a estatal agora está sob suspeita de não representar os interesses do povo

O governismo afina a viola para a sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2010. A candidatura da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), a preferida do Palácio do Planalto, está em vias de consolidação. O esforço pró-Dilma é tanto que na base aliada já se instalou uma disputa pela prata e pelo bronze na coalizão, pois muitos dão de barato que o ouro é dela e ninguém tasca. O deputado Ciro Gomes (PSB-CE), por exemplo, ainda é o nome governista de maior prestígio eleitoral, mas estaria pendurado no pincel, sem a escada da legenda à qual pertence para se candidatar a presidente da República. Muito menos teria o apoio do PDT e o PCdoB, que derivaram para a órbita de Dilma. A parte que lhe caberia no latifúndio governista é a Vice-Presidência da República. Fechada essa dobradinha mágica, resta a pergunta: qual seria a política da chapa Dilma-Ciro?

Sem sintonia

Calou-se a oposição, mais uma vez, com o êxito do governo Lula no combate à inflação. O velho dragão havia recrudescido mas foi rapidamente domado. A solução foi o “mais do mesmo”, que serve de tripé para a política econômica desde a época do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan: superávit fiscal, câmbio flutuante e elevada taxa de juros. Não foi à toa, portanto, que a oposição suspendeu o fogo contra o “descontrole” da economia, apesar dos problemas com a balança comercial e o gasto público. O crescimento econômico será menor em 2009, mas o consenso impera no reino de Abranches.

O Banco Central resistiu ao “experimentalismo”, mais uma vez com o apoio do presidente Lula e a complacência da oposição. O Brasil tem uma economia de mercado consolidada, com parque industrial diversificado, agronegócio moderno e um robusto setor de exportação. Com isso não se brinca. A política social de Lula, ao expandir o mercado interno, por si só, não muda o rumo. Qual a sintonia da chapa dos sonhos governistas com essa política econômica. Nenhuma. Dilma e Ciro são críticos do “mais do mesmo”. Quando o ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci era o “czar” da economia, ambos questionavam duramente sua atuação.

Nova política

Por que, então, o presidente Lula apostaria na dobradinha Dilma-Ciro? A chave está no que virá depois. Ao contrário de dogmáticos e acadêmicos, Lula não está preocupado com a possível assimetria entre a política monetária e a política do governo propriamente dita. Quer fortalecer seu cacife eleitoral na sucessão, isto é, preservar o próprio prestígio popular e a convergência das forças da coalizão governista em torno de uma candidatura única.

Para o Palácio do Planalto, o pós-Lula é a inversão de prioridades que deveria ter ocorrido no segundo mandato mas a crise norte-americana e a retração da economia mundial estão frustrando: o crescimento econômico no lugar do combate à inflação. Vêm daí a valorização do papel do Estado e a intervenção do governo na vida econômica e social. Esse protagonismo econômico foi assumido com gosto pelo presidente Lula, que mete a colher em todos os grandes negócios do país, às vezes no limite da responsabilidade. O melhor exemplo é a compra da Brasil Telecom pela Oi, que está no epicentro do caso Daniel Dantas. No Palácio do Planalto, Dilma é a cabeça mais familiarizada com as relações das agências do governo com o empresariado nacional no setor produtivo.

E agora?

Lula é o árbitro da tensão entre a “economia de mercado” e o ativismo econômico do Estado, da qual nem a Petrobras escapa. Símbolo “nacional-popular” da economia brasileira, a estatal agora está sob suspeita de não representar os interesses do povo por causa do petróleo da camada de pré-sal. Com a candidatura de Dilma, o “governo de compromisso” de Lula passará por um grande teste de resistência. Vem aí um etéreo “capitalismo de Estado” à brasileira.


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