Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Chame-se de inferioridade, complexo de vira-lata ou fatalismo decorrente de anos de experiência no ramo.
Dê-se ao fenômeno qualquer nome, a realidade é que por aqui o cidadão medianamente informado acompanha com interesse cada lance da eleição norte-americana, examina com rigor os movimentos de John McCain e Barack Obama, mas não se mostra tão exigente quando se trata de julgar o desempenho dos candidatos a governos do Brasil.
Basta perceber o espaço que os especialistas dedicam aos dois cenários. E não vale o argumento de que nos Estados Unidos neste ano disputa-se o comando do mundo enquanto nossos embates não envolvem mais que lideranças de paróquia.
Na eleição presidencial ocorre o mesmo e essa comparação é a que realmente interessa para estabelecer claramente as diferenças.
A reação de McCain e Barack frente à crise econômica eletriza as atenções. Iniciada a segunda fase de queda nas bolsas, o democrata anunciou ajustes em seu programa de governo, o republicado parou tudo para ajudar o seu governo a aprovar o pacote de U$ 700 bilhões no Congresso e o presidente George W. Bush chamou os dois para discutir o plano em Washington.
Seria demagogia, hipocrisia, simulação, golpe publicitário, falsa preocupação? Não interessa a motivação. O foco, de qualquer modo é a solução. A nenhum dos dois candidatos ocorre usar a crise para prometer uma solução mágica caso sejam eleitos.
Tampouco lhes passaria pela cabeça escrever, como sugeriu em sua despedida de Nova York o presidente Luiz Inácio da Silva, uma “carta ao povo americano”, no modelo da “carta aos brasileiros” de 2002, mediante a qual o PT renegava sua história e acariciava os mercados.
No caso, Obama e McCain estão imunes a suspeitas porque nenhum deles chegou a candidato prometendo virar os Estados Unidos do avesso.
Aliás, se o tivessem feito muito provavelmente não chegariam às convenções dos respectivos partidos. Comportam-se, lá como cá, de acordo com as demandas do eleitorado.
Na campanha americana tudo é importante: a economia, a política internacional, os conflitos mundiais, a destinação do dinheiro dos impostos, o meio ambiente, as questões sociais, raciais, a atitude da família dos candidatos e, sobretudo, o conteúdo das palavras dos propriamente ditos.
Na brasileira, interessa o programa eleitoral mais bem produzido, o marqueteiro mais esperto, a tirada mais bem elaborada, a promessa bem sacada. Enunciados quanto mais ocos, mais bem aceitos. Já problemas intrincados, idéias com começo, meio e fim, cobranças pesadas não sensibilizam, antes atemorizam o eleitor brasileiro.
Adaptação
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Chame-se de inferioridade, complexo de vira-lata ou fatalismo decorrente de anos de experiência no ramo.
Dê-se ao fenômeno qualquer nome, a realidade é que por aqui o cidadão medianamente informado acompanha com interesse cada lance da eleição norte-americana, examina com rigor os movimentos de John McCain e Barack Obama, mas não se mostra tão exigente quando se trata de julgar o desempenho dos candidatos a governos do Brasil.
Basta perceber o espaço que os especialistas dedicam aos dois cenários. E não vale o argumento de que nos Estados Unidos neste ano disputa-se o comando do mundo enquanto nossos embates não envolvem mais que lideranças de paróquia.
Na eleição presidencial ocorre o mesmo e essa comparação é a que realmente interessa para estabelecer claramente as diferenças.
A reação de McCain e Barack frente à crise econômica eletriza as atenções. Iniciada a segunda fase de queda nas bolsas, o democrata anunciou ajustes em seu programa de governo, o republicado parou tudo para ajudar o seu governo a aprovar o pacote de U$ 700 bilhões no Congresso e o presidente George W. Bush chamou os dois para discutir o plano em Washington.
Seria demagogia, hipocrisia, simulação, golpe publicitário, falsa preocupação? Não interessa a motivação. O foco, de qualquer modo é a solução. A nenhum dos dois candidatos ocorre usar a crise para prometer uma solução mágica caso sejam eleitos.
Tampouco lhes passaria pela cabeça escrever, como sugeriu em sua despedida de Nova York o presidente Luiz Inácio da Silva, uma “carta ao povo americano”, no modelo da “carta aos brasileiros” de 2002, mediante a qual o PT renegava sua história e acariciava os mercados.
No caso, Obama e McCain estão imunes a suspeitas porque nenhum deles chegou a candidato prometendo virar os Estados Unidos do avesso.
Aliás, se o tivessem feito muito provavelmente não chegariam às convenções dos respectivos partidos. Comportam-se, lá como cá, de acordo com as demandas do eleitorado.
Na campanha americana tudo é importante: a economia, a política internacional, os conflitos mundiais, a destinação do dinheiro dos impostos, o meio ambiente, as questões sociais, raciais, a atitude da família dos candidatos e, sobretudo, o conteúdo das palavras dos propriamente ditos.
Na brasileira, interessa o programa eleitoral mais bem produzido, o marqueteiro mais esperto, a tirada mais bem elaborada, a promessa bem sacada. Enunciados quanto mais ocos, mais bem aceitos. Já problemas intrincados, idéias com começo, meio e fim, cobranças pesadas não sensibilizam, antes atemorizam o eleitor brasileiro.
Adaptação
O deputado José Genoino divulga nota atribuindo o sucesso do presidente Lula a um bem planejado e executado plano de governo. Segundo ele, a oposição, “desnorteada”, busca explicações na “superstição” e no “sobrenatural”, dizendo que o presidente simplesmente “tem sorte”.
O deputado anda confuso e esquecido.
Quem celebra a própria sorte é o presidente. A oposição, e aí Genoino tem razão, desnorteada, embarca nessa versão, cujo propósito subjacente é alimentar a crendice da contraposição entre Lula e o infortúnio.
Há cinco anos o mesmo Genoino desenhava assim o projeto do PT ao chegar à Presidência: eleger muitas prefeituras, ocupar cada vez mais governos de Estados e transformar o Brasil uma sociedade de hegemonia petista. Política, social e culturalmente falando.
Marta outra vez
Nada nesse mundo parece capaz de tirar Marta Suplicy do segundo turno da eleição paulistana, ao mesmo tempo em que a briga na seara tucana praticamente põe nas mãos dela a prefeitura.
Porém, em nome da prudência conviria à candidata não tripudiar. Dançar, cantar vitória, caprichar nas ironias é bom, mas depois de tudo garantido. A precipitação não raro faz dos dias de abundância vésperas de carência absoluta.
Na dúvida, pergunte-se a Fernando Henrique Cardoso o efeito da fotografia sentando na cadeira de prefeito um dia antes de perder a eleição de prefeito para Jânio Quadros em 1985.
Hoje o inimigo de Marta não é Alckmin nem Kassab. É o temperamento.
Morreu de velho
Embora Gilberto Kassab não tenha dado um “golpe” em José Serra para ser o vice em 2004, como alega Geraldo Alckmin, a escolha não foi amena. Decidido que o vice seria do então PFL, Serra e o PSDB escolheram José Aristodemo Pinotti.
Presidente do partido, Jorge Bornhausen vetou Pinotti por causa de seu coração tucano de quatro costados e convocou Kassab. Quer dizer, noves fora lealdades adquiridas a posteriori, o hoje prefeito foi posto na aliança Serra sob a ótica da conveniência de confiar desconfiando.
O deputado anda confuso e esquecido.
Quem celebra a própria sorte é o presidente. A oposição, e aí Genoino tem razão, desnorteada, embarca nessa versão, cujo propósito subjacente é alimentar a crendice da contraposição entre Lula e o infortúnio.
Há cinco anos o mesmo Genoino desenhava assim o projeto do PT ao chegar à Presidência: eleger muitas prefeituras, ocupar cada vez mais governos de Estados e transformar o Brasil uma sociedade de hegemonia petista. Política, social e culturalmente falando.
Marta outra vez
Nada nesse mundo parece capaz de tirar Marta Suplicy do segundo turno da eleição paulistana, ao mesmo tempo em que a briga na seara tucana praticamente põe nas mãos dela a prefeitura.
Porém, em nome da prudência conviria à candidata não tripudiar. Dançar, cantar vitória, caprichar nas ironias é bom, mas depois de tudo garantido. A precipitação não raro faz dos dias de abundância vésperas de carência absoluta.
Na dúvida, pergunte-se a Fernando Henrique Cardoso o efeito da fotografia sentando na cadeira de prefeito um dia antes de perder a eleição de prefeito para Jânio Quadros em 1985.
Hoje o inimigo de Marta não é Alckmin nem Kassab. É o temperamento.
Morreu de velho
Embora Gilberto Kassab não tenha dado um “golpe” em José Serra para ser o vice em 2004, como alega Geraldo Alckmin, a escolha não foi amena. Decidido que o vice seria do então PFL, Serra e o PSDB escolheram José Aristodemo Pinotti.
Presidente do partido, Jorge Bornhausen vetou Pinotti por causa de seu coração tucano de quatro costados e convocou Kassab. Quer dizer, noves fora lealdades adquiridas a posteriori, o hoje prefeito foi posto na aliança Serra sob a ótica da conveniência de confiar desconfiando.
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