sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Os santinhos com Lula


Maria Cristina Fernandes
DEU NO VALOR ECONÔMICO


Vinte dos 26 prefeitos de capital são candidatos à reeleição. Em apenas três cidades (São Paulo, Manaus e Salvador) esses prefeitos que disputam a chance de um novo mandato não lideram. Somando-se aos candidatos favoritos dos atuais prefeitos de Belo Horizonte e Recife, tem-se 19 capitais em que as pesquisas, nesta última semana que antecede as eleições, revelam tendência de manutenção do mesmo grupo político no poder.

Tomando por referência 2004, quando em apenas oito capitais os prefeitos foram reeleitos e em outras quatro foram conduzidos ao cargo sucessores aliados, a tendência conservadora das urnas de 5 de outubro parece a grande novidade das eleições. O que o retrospecto das disputas no conjunto dos 5.564 municípios do país mostra, no entanto, é que as capitais aderem a um comportamento eleitoral já observado no resto do país. A taxa de reeleição dos prefeitos que se recandidataram em todo o país foi de 58%, tanto em 2000 quanto em 2004. As pesquisas nas capitais sugerem que essa tendência pode vir a ser acentuada nacionalmente.

Se há mais chances de reeleição é porque também há um maior número de recandidaturas. Nos números da Confederação Nacional dos Municípios, dos 4.368 prefeitos que têm o direito de disputar reeleição, 77% são candidatos. A base dos elegíveis a um novo mandato este ano é maior do que em 2004 - quando dois mil prefeitos já reeleitos estavam fora do jogo - e menor do que a de 2000, quando todos tiveram o direito de se recandidatar, mas apenas 62% o fizeram.

Se mais prefeitos decidiram se recandidatar é porque avaliam ter maiores chances do que seus antecessores. Não há como dissociar esta maior disposição dos prefeitos em testar suas chances nas urnas à maior satisfação dos eleitores.

Na página do PT na internet há uma ampla avaliação das mudanças na relação entre União e municípios nos últimos anos que pode ajudar a entender essa percepção mais benfazeja do eleitorado. Em resumo: o Fundo de Participação dos Municípios ganhou R$ 14 bilhões em quatro anos, o ISS ampliou sua base e já representa quase metade das receitas próprias dos municípios e a partilha da Cide acrescentou R$ 143 milhões anuais aos cofres municipais.

Nos grotões, o ano de 2004 iniciou-se com apenas 4% dos municípios atendendo a 75% de toda a população alvo do Bolsa Família. Em 2008 esta fatia de beneficiários está espalhada em 92% dos municípios. Nas cidades com população superior a 150 mil habitantes, onde se incluem todas as capitais que hoje capitaneiam a conservação do poder, tem o PAC, inexistente em 2004. Aí se incluem obras de metrô em quatro capitais (BH, Fortaleza, Recife e Salvador), 165 projetos de urbanização de favelas (41% em obras) e 314 projetos de abastecimento de água e saneamento (31% em obras).

Todas essas obras têm contrapartida estadual e municipal e o eleitor de 2008 parece mais satisfeito do que o de 2004 com todas as esferas de poder. Mas a lufada de boa vontade passa com muito mais força pelo Palácio do Planalto. A comparação das pesquisas CNT/Sensus de setembro de 2008 com a do mesmo mês de 2004 indica que a avaliação positiva de todos os governantes cresceu, mas a do presidente Luiz Inácio Lula da Silva aumentou quase quatro vezes mais do que a dos prefeitos e sete vezes mais que a dos governadores (ver gráfico acima).

É isso que tem alimentado o folclore da campanha, como a comerciante Ledinalva da Silva no horário eleitoral do PSDB em Cuiabá dizendo que o prefeito, candidato à reeleição, ajuda tanto os pobres quanto seu irmão presidente da República, ou mesmo a propaganda por telefone de uma vereadora do PT em Angra dos Reis (RJ), suspensa pela justiça eleitoral, em que o locutor imita a voz do presidente da República.

Mas as conseqüências vão além do folclore. PSDB e DEM são, respectivamente, os partidos com o menor percentual de recandidatos. E os partidos da base lulista, recordistas em número de prefeitos que tentam a reeleição, capitaneiam a lufada de vento conservador que ameaça varrer as urnas de 5 de outubro.

Maria Cristina Fernandes é editora de Política. Escreve às sextas-feiras

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