terça-feira, 10 de março de 2009

Nocaute na indústria

Eduardo Rodrigues e Patrícia Duarte*
DEU EM O GLOBO

Receita do setor tem queda recorde de 13,4% em janeiro. CNI espera retração em 2009

Nocauteado pelos efeitos da crise financeira internacional desde outubro, o faturamento do setor industrial apresentou em janeiro, na comparação anual, a maior queda já registrada na série dos Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que começou em 2003. As vendas desabaram 13,4% em relação a janeiro de 2008. Na comparação com dezembro do ano passado, o recuo foi de 4,3%. Diante dos fracos indicadores e da elevada base de comparação de 2008 (quando o Produto Interno Bruto ainda teve desempenho bastante positivo, na casa de 5%), a CNI acredita que a atividade industrial poderá ficar estagnada ou até mesmo apresentar retração em 2009.

Os dados sobre emprego e renda também confirmam o quadro de desaceleração aguda. O nível de emprego caiu pela terceira vez consecutiva (- 0,7% sobre dezembro). E, pela primeira vez na série histórica, não houve expansão das contratações sobre o mesmo mês do ano anterior.

- Ainda é cedo para fazer previsões quantitativas, mas mesmo que a atividade industrial recupere parte do patamar no segundo semestre de 2009, dificilmente vai recuperar a média do ano passado - afirmou Flávio Castelo Branco, chefe da unidade de Política Econômica da CNI.

O faturamento da indústria ficou 12% abaixo da média registrada em todo o ano de 2008. A primeira queda de dois dígitos na história do indicador revela um retorno das vendas ao nível de 2006. A retração atingiu 15 dos 19 segmentos pesquisados. Os mais afetados foram metalurgia básica (- 43,4%) e produtos químicos (- 27,3%). Na contramão, o ramo de eletrônicos e comunicação cresceu 36,7% frente a janeiro de 2008.

Emprego tem recuo inédito no mês

O uso da capacidade de instalada recuou pelo quarto mês consecutivo, desta vez um ponto percentual sobre dezembro. O índice (78,4%) voltou ao nível de novembro de 2003, quando a economia ficou praticamente estagnada. Sobre janeiro de 2008, o indicador recuou 5,1 pontos percentuais. Em setembro, antes do aprofundamento da crise global, estava em 83%.

Devido ao fraco desempenho em dezembro, quando muitas fábricas recorreram a férias coletivas, as horas trabalhadas em janeiro tiveram alta de 1,3% nesta comparação. Em relação a igual mês de 2008, houve queda de 6,5%. O emprego, em fato inédito, teve recuo frente a janeiro de 2008, de 0,1%. O resultado só não foi pior porque o setor de alimentos, com maior peso no índice de vagas, avançou 3,7% no número de funcionários.

- O setor alimentício está ligado à demanda por bens básicos, que até o momento vêm mantendo o desempenho - afirmou Castelo Branco.

A massa salarial caiu 17,8% em janeiro sobre dezembro, o que é normal devido ao pagamento do 13º salário e de bônus distribuídos a funcionários no fim do ano. Na comparação com janeiro de 2008, a folha de pagamento no setor cresceu 2,1%.

Focus: freio na indústria este ano

Apesar da retração na indústria em janeiro, dados divulgados ontem pela Anfavea - associação que reúne empresas do setor automotivo - mostram uma tendência de recuperação. Ainda que estejam longe de retornar aos patamares de 2008. A produção de veículos no Brasil atingiu 201,7 mil unidades, alta de 9,2% em fevereiro ante o mês anterior. Em relação a fevereiro de 2008, porém, foi registrada queda de 20,6%. As vendas internas de veículos novos subiram 1% na comparação mensal, mas recuaram 0,7% na base anual, para 199,4 mil unidades. E as exportações cresceram 28,1% sobre janeiro, mas desabaram 52,3% em relação a fevereiro de 2008.

Diante desse panorama, o risco de recessão começa a se configurar nas projeções de 2009. Na pesquisa Focus do Banco Central (BC), analistas já preveem retração da produção industrial em 2009, de 0,04%. Uma semana antes esperava-se expansão de 1,24%. A expansão do PIB teve a estimativa média cortada, de 1,5% para 1,2%. E o mercado espera agressividade na política de juros, que pode cair 1,5 ponto percentual amanhã. Acredita-se cada vez mais que a Taxa Selic, hoje a 12,75% ao ano, fechará 2009 com apenas um dígito, algo inédito. Quanto ao IPCA, espera-se 4,57% neste ano, próximo ao centro da meta (4,5%). Para 2010, o mercado manteve a expectativa de alta de 4% na produção industrial e de 3,5% para o PIB:

- O cenário para a atividade é bastante negativo e a produção industrial vai sofrer muito - afirmou a economista da consultoria Tendências Marcela Prada, que calcula uma redução de 2% na indústria em 2009.

(*) Com agências internacionais

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