Vinicius Torres Freire
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
"Dólar a R$ 1,99" ressuscita debate tedioso sobre câmbio, discussão que não resulta em alternativa técnica ou política
A DISCRETA despiora da economia global inverteu a direção da taxa de câmbio, que volta a se encaminhar para o seu nível de costume nos últimos seis anos: para baixo (no gráfico, a curva descendente indica valorização do real. A linha da "cesta de moedas" mostra a variação do real diante de um conjunto de moedas dos países com os quais o Brasil tem mais comércio).
A reviravolta ressuscita um debate tedioso a respeito do que fazer, ou não, do câmbio. Tedioso porque sem sentido prático: técnico ou político.
Não se trata de dizer, como o fez o presidente do Banco Central, que a experiência dos países que manipulam o câmbio deu errado. Se faz tal coisa na Ásia, na China. O problema maior da adoção da "via chinesa" no Brasil seriam os efeitos colaterais graves. Mas os adeptos do câmbio controlado não apresentam os detalhes de suas propostas. De resto, reduzir a valorização do real ao efeito da discrepância ainda abissal entre os juros brasileiros e os do resto do mundo também é argumento muito fraco, considerados os fatos das contas externas dos últimos seis anos.
Talvez o aspecto mais crítico do debate seja o seu vazio político. Para começar pelo mais óbvio: a política do BC não mudará pelo menos até 2011, afora catástrofes. A partir daí, imagine-se que venha José Serra ou Dilma Rousseff. Dilma nada fala sobre BC. Mas, dada a sua extração política e o que já disse sobre economia, parece mais próxima de Serra do que do "mainstream". Serra diz horrores sobre os BCs desde FHC.
Mas Serra e/ou Dilma vão nomear um BC "exótico", pelo padrão de hoje? Ou vão reduzir a autonomia do BC? Isso feito, o que farão da política fiscal de modo a evitar besteira geral na política econômica? Pisar fundo no freio dos gastos públicos? Mexer na Previdência? Uma política industrial e/ou comercial revolucionariamente "agressiva"? Qual o "mix" de políticas da alternativa? Mistério.
Voltando à economia, um cenário razoável para os próximos dois, três anos, é o de recuperação chinesa com lentidão no G3: EUA, Europa e Japão. Um mistério maior nesse cenário é o futuro da liquidez e o momento em que virá uma alta dos juros pelo mundo. Ainda assim, é razoável acreditar em mais valorização do real, excetuados desvarios econômicos no Brasil. Imagine então se o petróleo do pré-sal der certo.
Há setores avariados pelo câmbio. Mas a grita atual nem se deve à virada do dólar -empresas exportam menos devido ao colapso no comércio mundial, o que pode ter adicionado insulto a injúrias cambiais antigas, mas isso é outra história.
Quem razoavelmente acha que o câmbio é problema deve parar com conversa mole. Remendos monetários são picuinha diante da dimensão de reformas a fazer e ignoradas por Lula (nada a ver com a baboseira dita "neoliberal"), mudanças que vão além do BC e mesmo de política fiscal. Mas quede o debate político?
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
"Dólar a R$ 1,99" ressuscita debate tedioso sobre câmbio, discussão que não resulta em alternativa técnica ou política
A DISCRETA despiora da economia global inverteu a direção da taxa de câmbio, que volta a se encaminhar para o seu nível de costume nos últimos seis anos: para baixo (no gráfico, a curva descendente indica valorização do real. A linha da "cesta de moedas" mostra a variação do real diante de um conjunto de moedas dos países com os quais o Brasil tem mais comércio).
A reviravolta ressuscita um debate tedioso a respeito do que fazer, ou não, do câmbio. Tedioso porque sem sentido prático: técnico ou político.
Não se trata de dizer, como o fez o presidente do Banco Central, que a experiência dos países que manipulam o câmbio deu errado. Se faz tal coisa na Ásia, na China. O problema maior da adoção da "via chinesa" no Brasil seriam os efeitos colaterais graves. Mas os adeptos do câmbio controlado não apresentam os detalhes de suas propostas. De resto, reduzir a valorização do real ao efeito da discrepância ainda abissal entre os juros brasileiros e os do resto do mundo também é argumento muito fraco, considerados os fatos das contas externas dos últimos seis anos.
Talvez o aspecto mais crítico do debate seja o seu vazio político. Para começar pelo mais óbvio: a política do BC não mudará pelo menos até 2011, afora catástrofes. A partir daí, imagine-se que venha José Serra ou Dilma Rousseff. Dilma nada fala sobre BC. Mas, dada a sua extração política e o que já disse sobre economia, parece mais próxima de Serra do que do "mainstream". Serra diz horrores sobre os BCs desde FHC.
Mas Serra e/ou Dilma vão nomear um BC "exótico", pelo padrão de hoje? Ou vão reduzir a autonomia do BC? Isso feito, o que farão da política fiscal de modo a evitar besteira geral na política econômica? Pisar fundo no freio dos gastos públicos? Mexer na Previdência? Uma política industrial e/ou comercial revolucionariamente "agressiva"? Qual o "mix" de políticas da alternativa? Mistério.
Voltando à economia, um cenário razoável para os próximos dois, três anos, é o de recuperação chinesa com lentidão no G3: EUA, Europa e Japão. Um mistério maior nesse cenário é o futuro da liquidez e o momento em que virá uma alta dos juros pelo mundo. Ainda assim, é razoável acreditar em mais valorização do real, excetuados desvarios econômicos no Brasil. Imagine então se o petróleo do pré-sal der certo.
Há setores avariados pelo câmbio. Mas a grita atual nem se deve à virada do dólar -empresas exportam menos devido ao colapso no comércio mundial, o que pode ter adicionado insulto a injúrias cambiais antigas, mas isso é outra história.
Quem razoavelmente acha que o câmbio é problema deve parar com conversa mole. Remendos monetários são picuinha diante da dimensão de reformas a fazer e ignoradas por Lula (nada a ver com a baboseira dita "neoliberal"), mudanças que vão além do BC e mesmo de política fiscal. Mas quede o debate político?
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