Eduardo Rodrigues
DEU EM O GLOBO
Trabalhadoras deixam de procurar vaga para cuidar de afazeres domésticos. Desemprego cresce mais entre homens
BRASÍLIA. A crise financeira internacional empurrou as mulheres para fora do mercado de trabalho brasileiro, segundo estudo da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). O documento mostra que, de setembro de 2008 a abril de 2009, o tamanho da população feminina economicamente ativa, que engloba pessoas empregadas ou à procura de serviço, diminuiu nas seis principais regiões metropolitanas do país, enquanto o indicador masculino se manteve estável.
Com a economia pisando no freio, o desemprego cresceu mais para os homens. A taxa de desemprego masculina aumentou 24% desde setembro, contra um avanço de 11,2% para mulheres. Isso porque a taxa reflete a quantidade de pessoas procurando emprego. E as brasileiras se refugiaram da crise na inatividade.
Para Lourdes Bandeira, secretária de Planejamento da SPM, esse movimento se explica pela maior probabilidade de a mulher assumir atividades de casa, seja porque o empreendimento familiar no qual trabalhava não sobreviveu à crise, seja porque a perda de renda impossibilitou a manutenção de uma empregada doméstica
Indústria demitiu mais mulheres e negras
O levantamento - feito em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o IBGE - mostra que a indústria demitiu proporcionalmente mais mão-de-obra feminina (queda de 8,38% na ocupação) do que masculina (-4,81%), apesar de o setor empregar bem mais homens do que mulheres. E as dispensas foram maiores entre as mulheres negras (-9,96%) do que entre as brancas (-7,73%)
Já o fechamento de vagas no serviço doméstico masculino - jardineiros, motoristas, caseiros - foi consideravelmente maior (-5,66%) do que no serviço doméstico desempenhado pelas mulheres (-0,89%). Os cuidados com casa e crianças, mais comumente sob responsabilidade delas, são considerados essenciais para as famílias. Até por permitir que outras mulheres mantenham seus empregos.
- A taxa de desemprego das mulheres é sempre superior à dos homens. Em crise, esse dado fica mais forte. Se a mulher perde o emprego, assume afazeres domésticos. Já o homem não recua para casa, pois se sente mais pressionado a ser o provedor - disse Hildete Pereira, professora da UFF.
Os dados apontam alta de 2,96% no contingente de mulheres empregadas na construção civil, em um período em que houve queda de 3,54% na quantidade de homens no setor.
- Há uma cultura empresarial de incorporar as especificidades femininas na construção civil, principalmente no cuidado com acabamento, no menor desperdício e no salário inferior - disse Lourdes.
Assim como aconteceu com os homens, o impacto da crise foi maior no emprego das trabalhadoras sem carteira assinada (queda de 13,53% no número de empregadas).
Salário menor explicaria contratação de mulheres
De setembro a abril, o salário de admissão das mulheres foi menor do que o dos homens em todos os setores. A desigualdade foi ainda maior entre os mais escolarizados, cujo salário inicial feminino foi equivalente, em média, a 65,39% do masculino.
- Quando a gente olha especificamente o mercado formal, houve uma maior contratação feminina que pode estar associada à estratégia de substituição de trabalhadores que custam mais pelos que custam menos - completou a gerente de projetos da secretaria, Luana Pinheiro.
Adriana de Souza sabe que a remuneração das mulheres é inferior à dos homens. Mas isso não a desanima. Aos 33 anos, concluiu o ensino médio para buscar um emprego. Ela não ignora as dificuldades que enfrentará em meio a crise:
- As empresas estão exigentes. Experiência e formação são fundamentais - afirmou Adriana, cuja família tem sido sustentada pelo marido.
DEU EM O GLOBO
Trabalhadoras deixam de procurar vaga para cuidar de afazeres domésticos. Desemprego cresce mais entre homens
BRASÍLIA. A crise financeira internacional empurrou as mulheres para fora do mercado de trabalho brasileiro, segundo estudo da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM). O documento mostra que, de setembro de 2008 a abril de 2009, o tamanho da população feminina economicamente ativa, que engloba pessoas empregadas ou à procura de serviço, diminuiu nas seis principais regiões metropolitanas do país, enquanto o indicador masculino se manteve estável.
Com a economia pisando no freio, o desemprego cresceu mais para os homens. A taxa de desemprego masculina aumentou 24% desde setembro, contra um avanço de 11,2% para mulheres. Isso porque a taxa reflete a quantidade de pessoas procurando emprego. E as brasileiras se refugiaram da crise na inatividade.
Para Lourdes Bandeira, secretária de Planejamento da SPM, esse movimento se explica pela maior probabilidade de a mulher assumir atividades de casa, seja porque o empreendimento familiar no qual trabalhava não sobreviveu à crise, seja porque a perda de renda impossibilitou a manutenção de uma empregada doméstica
Indústria demitiu mais mulheres e negras
O levantamento - feito em parceria com o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), a Organização Internacional do Trabalho (OIT) e o IBGE - mostra que a indústria demitiu proporcionalmente mais mão-de-obra feminina (queda de 8,38% na ocupação) do que masculina (-4,81%), apesar de o setor empregar bem mais homens do que mulheres. E as dispensas foram maiores entre as mulheres negras (-9,96%) do que entre as brancas (-7,73%)
Já o fechamento de vagas no serviço doméstico masculino - jardineiros, motoristas, caseiros - foi consideravelmente maior (-5,66%) do que no serviço doméstico desempenhado pelas mulheres (-0,89%). Os cuidados com casa e crianças, mais comumente sob responsabilidade delas, são considerados essenciais para as famílias. Até por permitir que outras mulheres mantenham seus empregos.
- A taxa de desemprego das mulheres é sempre superior à dos homens. Em crise, esse dado fica mais forte. Se a mulher perde o emprego, assume afazeres domésticos. Já o homem não recua para casa, pois se sente mais pressionado a ser o provedor - disse Hildete Pereira, professora da UFF.
Os dados apontam alta de 2,96% no contingente de mulheres empregadas na construção civil, em um período em que houve queda de 3,54% na quantidade de homens no setor.
- Há uma cultura empresarial de incorporar as especificidades femininas na construção civil, principalmente no cuidado com acabamento, no menor desperdício e no salário inferior - disse Lourdes.
Assim como aconteceu com os homens, o impacto da crise foi maior no emprego das trabalhadoras sem carteira assinada (queda de 13,53% no número de empregadas).
Salário menor explicaria contratação de mulheres
De setembro a abril, o salário de admissão das mulheres foi menor do que o dos homens em todos os setores. A desigualdade foi ainda maior entre os mais escolarizados, cujo salário inicial feminino foi equivalente, em média, a 65,39% do masculino.
- Quando a gente olha especificamente o mercado formal, houve uma maior contratação feminina que pode estar associada à estratégia de substituição de trabalhadores que custam mais pelos que custam menos - completou a gerente de projetos da secretaria, Luana Pinheiro.
Adriana de Souza sabe que a remuneração das mulheres é inferior à dos homens. Mas isso não a desanima. Aos 33 anos, concluiu o ensino médio para buscar um emprego. Ela não ignora as dificuldades que enfrentará em meio a crise:
- As empresas estão exigentes. Experiência e formação são fundamentais - afirmou Adriana, cuja família tem sido sustentada pelo marido.
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