Miriam Leitão
DEU EM O GLOBO
De repente, o primeiro semestre acabou! Não sei quanto a você que lê a coluna, mas eu simplesmente tomei um susto. Já é segundo semestre, aquele período em que os economistas tinham dito que seria a hora da retomada. É inevitável perguntar: ela está acontecendo? Não! O que está acontecendo é uma redução da queda. Aqui e na economia internacional comemoram-se números menos negativos.
Será que o tempo passa mais rápido nas crises econômicas? Não sei explicar como foi que esse primeiro semestre voou, afundada que estava em tentar entender uma crise tão diferente das outras. Já vi muitas crises - todas as dos anos 80 e 90 - mas esta é global, revoga o estabelecido na teoria econômica, e tem uma capacidade ímpar de produzir surpresas e reviravoltas.
A economia brasileira parece um organismo com temperaturas diferentes. Imagine um médico que tem que tomar a temperatura dos braços, do tronco, das pernas e da cabeça, para dizer qual é a temperatura média do paciente. Assim ficamos nós que temos que escrever sobre economia. Alguns setores gelados, outros mornos. Falaremos deles outro dia.
A produção industrial de ontem mostra como cada indicador é relativo. Os números podem ser bons ou ruins, dependendo do ângulo em que são analisados. O resultado é positivo porque a produção industrial de maio subiu 1,3% em relação a abril; porque é o quinto resultado positivo seguido; porque é melhor do que o previsto; é ruim porque, na comparação com maio do ano passado, a queda é de 11% e o ano terminará com uma queda de 5%. É bom porque a queda está ficando menor, mas o fato é que, no ano, a indústria vai produzir menos do que no ano anterior.
Na economia internacional, alguns jornais especializados comemoram sinais de recuperação.
Mas é até engraçado falar em recuperação. Foi tratado como bom, por exemplo, o resultado de 28% de queda nas vendas de automóveis em junho nos EUA porque, no ano, é a menor queda.
Mas convenhamos 28% é um tombo! Analistas ouvidos pelo "Wall Street Journal" consideraram que esse número é sinal de que se chegou ao fundo do poço e que agora as vendas podem melhorar. Também foi considerado um bom número, a destruição de 472 mil empregos privados em junho. É que no primeiro trimestre, a média mensal foi de 690 mil. Ontem, o dado que saiu foi a taxa de desemprego. Ela subiu para 9,5%. Foi um dado negativo, mas já era esperado.
Como se vê, o que alguns chamam de retomada, é apenas a redução da intensidade da queda. As vendas de carros, divulgadas pela Fenabrave, foram recordes no mês passado. Bom, mas elas estão evidentemente infladas pelo artifício do benefício fiscal somado às ameaças de que a redução do IPI seria suspensa. Pelo sim, pelo não, quem queria comprar, decidiu não pagar para ver e antecipou a compra. O benefício foi prorrogado por mais três meses no caso do carro.
Seja como efeito do tempo, ou dos fortes estímulos econômicos, os indicadores do mês de junho, que estão saindo em todos os países do mundo, mostram o mesmo quadro de melhora.
Em alguns poucos países os resultados de produção foram positivos. Na China, a produção industrial sobe pelo quarto mês e, na Índia, os indicadores também estão positivos. Em outros, é a queda que ficou menos intensa. No Japão e na Austrália registraram-se as menores quedas e os analistas dizem que o pior da recessão passou. Mesmo assim, o mês de junho é o décimo terceiro mês em que os indicadores de produção da Austrália estão abaixo de 50 pontos, número que marca a fronteira entre crescimento e recessão. O ministro das Finanças do Japão, falando ao "Financial Times" disse que o pior passou, mas ressaltou que a economia pode ser afetada por qualquer piora na Europa ou Estados Unidos. A soma de todos os dados divulgados sobre junho mostra o melhor quadro em nove meses, desde que a crise se aprofundou em setembro passado.
O que os economistas daqui e de fora discutem é como será a recuperação. Alguns avisam, como fez Stuart Green, economista do HSBC ouvido pelo "FT", que é muito provável que a recuperação não será forte nem durável.
Os economistas se agrupam em letras. Há os que acham que o desenho da recuperação vai imitar um V - rápida e forte. Ou um U - mais demorada. Ou um WW, com idas e vindas. Há os bem pessimistas que acham que será como na internet: WWW. A economia mundial viveria surtos de melhora, seguidos de novas quedas. E há os mais otimistas que acreditam que o movimento econômico imitará o desenho de uma raiz quadrada: a economia sobe rápido e permanece em forte crescimento.
O mais realista seria deixar de lado essa sopa de letras e pensar o seguinte: a recuperação vai ser lenta porque essa crise é de grande envergadura, grandes proporções e muitos dos fundamentos da crise permanecem. Ela é global, e nos globalizamos, portanto, é meio ingênuo acreditar que estamos numa redoma. Veja-se o caso do comércio internacional: ele está encolhendo 25% este ano, e o nosso volume de comércio também encolheu 25% neste semestre. A queda das exportações afeta a produção industrial, que afeta o PIB. Não há um processo exclusivamente doméstico, apesar das diferenças das economias. O quadro ainda é frágil e a conjuntura, fugaz, como o tempo.
DEU EM O GLOBO
De repente, o primeiro semestre acabou! Não sei quanto a você que lê a coluna, mas eu simplesmente tomei um susto. Já é segundo semestre, aquele período em que os economistas tinham dito que seria a hora da retomada. É inevitável perguntar: ela está acontecendo? Não! O que está acontecendo é uma redução da queda. Aqui e na economia internacional comemoram-se números menos negativos.
Será que o tempo passa mais rápido nas crises econômicas? Não sei explicar como foi que esse primeiro semestre voou, afundada que estava em tentar entender uma crise tão diferente das outras. Já vi muitas crises - todas as dos anos 80 e 90 - mas esta é global, revoga o estabelecido na teoria econômica, e tem uma capacidade ímpar de produzir surpresas e reviravoltas.
A economia brasileira parece um organismo com temperaturas diferentes. Imagine um médico que tem que tomar a temperatura dos braços, do tronco, das pernas e da cabeça, para dizer qual é a temperatura média do paciente. Assim ficamos nós que temos que escrever sobre economia. Alguns setores gelados, outros mornos. Falaremos deles outro dia.
A produção industrial de ontem mostra como cada indicador é relativo. Os números podem ser bons ou ruins, dependendo do ângulo em que são analisados. O resultado é positivo porque a produção industrial de maio subiu 1,3% em relação a abril; porque é o quinto resultado positivo seguido; porque é melhor do que o previsto; é ruim porque, na comparação com maio do ano passado, a queda é de 11% e o ano terminará com uma queda de 5%. É bom porque a queda está ficando menor, mas o fato é que, no ano, a indústria vai produzir menos do que no ano anterior.
Na economia internacional, alguns jornais especializados comemoram sinais de recuperação.
Mas é até engraçado falar em recuperação. Foi tratado como bom, por exemplo, o resultado de 28% de queda nas vendas de automóveis em junho nos EUA porque, no ano, é a menor queda.
Mas convenhamos 28% é um tombo! Analistas ouvidos pelo "Wall Street Journal" consideraram que esse número é sinal de que se chegou ao fundo do poço e que agora as vendas podem melhorar. Também foi considerado um bom número, a destruição de 472 mil empregos privados em junho. É que no primeiro trimestre, a média mensal foi de 690 mil. Ontem, o dado que saiu foi a taxa de desemprego. Ela subiu para 9,5%. Foi um dado negativo, mas já era esperado.
Como se vê, o que alguns chamam de retomada, é apenas a redução da intensidade da queda. As vendas de carros, divulgadas pela Fenabrave, foram recordes no mês passado. Bom, mas elas estão evidentemente infladas pelo artifício do benefício fiscal somado às ameaças de que a redução do IPI seria suspensa. Pelo sim, pelo não, quem queria comprar, decidiu não pagar para ver e antecipou a compra. O benefício foi prorrogado por mais três meses no caso do carro.
Seja como efeito do tempo, ou dos fortes estímulos econômicos, os indicadores do mês de junho, que estão saindo em todos os países do mundo, mostram o mesmo quadro de melhora.
Em alguns poucos países os resultados de produção foram positivos. Na China, a produção industrial sobe pelo quarto mês e, na Índia, os indicadores também estão positivos. Em outros, é a queda que ficou menos intensa. No Japão e na Austrália registraram-se as menores quedas e os analistas dizem que o pior da recessão passou. Mesmo assim, o mês de junho é o décimo terceiro mês em que os indicadores de produção da Austrália estão abaixo de 50 pontos, número que marca a fronteira entre crescimento e recessão. O ministro das Finanças do Japão, falando ao "Financial Times" disse que o pior passou, mas ressaltou que a economia pode ser afetada por qualquer piora na Europa ou Estados Unidos. A soma de todos os dados divulgados sobre junho mostra o melhor quadro em nove meses, desde que a crise se aprofundou em setembro passado.
O que os economistas daqui e de fora discutem é como será a recuperação. Alguns avisam, como fez Stuart Green, economista do HSBC ouvido pelo "FT", que é muito provável que a recuperação não será forte nem durável.
Os economistas se agrupam em letras. Há os que acham que o desenho da recuperação vai imitar um V - rápida e forte. Ou um U - mais demorada. Ou um WW, com idas e vindas. Há os bem pessimistas que acham que será como na internet: WWW. A economia mundial viveria surtos de melhora, seguidos de novas quedas. E há os mais otimistas que acreditam que o movimento econômico imitará o desenho de uma raiz quadrada: a economia sobe rápido e permanece em forte crescimento.
O mais realista seria deixar de lado essa sopa de letras e pensar o seguinte: a recuperação vai ser lenta porque essa crise é de grande envergadura, grandes proporções e muitos dos fundamentos da crise permanecem. Ela é global, e nos globalizamos, portanto, é meio ingênuo acreditar que estamos numa redoma. Veja-se o caso do comércio internacional: ele está encolhendo 25% este ano, e o nosso volume de comércio também encolheu 25% neste semestre. A queda das exportações afeta a produção industrial, que afeta o PIB. Não há um processo exclusivamente doméstico, apesar das diferenças das economias. O quadro ainda é frágil e a conjuntura, fugaz, como o tempo.
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