“Não foi fácil manter a democracia”
Tentação descartada em 1994
O ex-presidente Itamar Franco teve participação decisiva no Plano Real. Primeiro, porque não descansou até conseguir um ministro da Economia que montasse uma equipe para elaborar um pacote contra a inflação, evitando o congelamento de preços. Segundo, porque nunca deixou de dar sustentação às medidas, inclusive quando o plano passou a ser tocado pelos ministros Ricúpero e Ciro Gomes.
O Plano Real ficou conhecido por controlar a inflação sem congelamento de preços. Ao mesmo tempo, o receituário econômico da época apontava justamente para intervenções e soluções mágicas. Que tentações foram descartadas?
Uma tentação forte que surgiu foi de privatizar o setor energético, o Banco do Brasil e alguns pressionaram por mudanças na lei do petróleo. Os neoliberais queriam isso. Muita gente defendia também o controle de preços, eu não defendia. A ideia central era não controlar preços e não interferir nos contratos.
Em que momento o plano correu mais riscos de não sair do papel?
Quando o ministro Ricúpero assumiu, surgiu a discussão em torno do câmbio, que a mudança cambial poderia prejudicar o período eleitoral, poderia criar um problema político. Decidimos manter a data de 1º de julho para a implantação do plano. A equipe tinha problemas em relação ao câmbio e à taxa de juros. Temia-se que o plano trouxesse complicações de ordem política. Ricúpero foi o sacerdote do plano. À época, a equipe técnica tinha dúvidas e isso se agravou quando ele foi substituído pelo ministro Ciro Gomes.
O rigor fiscal e a preocupação com o gasto público são duas heranças que sobreviveram. Ambas persistem até hoje. O sr. aponta outras?
O combate à inflação como estratégia permanente e duradoura pode ser considerado a melhor das políticas sociais. É preciso lembrar que os salários estavam aviltados. Atingimos nosso objetivo à medida em que mantivemos o poder dos salários. E isso avançou para uma perspectiva social. Embora também tenha avançado, infelizmente, para uma política monetarista. Tínhamos convicção que em 1995 o país deveria ter feito um novo pacto federativo, reformas monetária e fiscal. Nada disso foi feito.
O sr. se arrepende dos apoios políticos que recebeuou avalizou?
No plano político, tivemos muita dificuldade, mas houve um resultado positivo que foi a eleição do Fernando Henrique Cardoso. Grande parte da equipe temia que o ex-presidente não correspondesse aos anseios do que o plano previa. Encontramos um país totalmente desesperançado. Muita gente não acreditava que o governo durasse 48 horas. Sem tranquilidade política não teríamos plano algum. Não foi fácil manter a democracia.
O plano é criticado por ter dificultado avanços na área social. A reforma monetária teve reflexos negativos sobre a oferta de crédito e a distribuição de renda — que se manteve praticamente inalterada.
Essa imagem está atrelada porque a inflação era absurda. Tínhamos que combater a inflação e manter o Estado de Direito. O plano, infelizmente, mais para frente, enveredou para o monetarismo, mas ele foi programado para uma política social. A visão monetarista foi agravada depois do meu governo. Foi uma distorção. Quero responder as propagandas que tenho visto aí, principalmente de setores ligados ao PSDB de São Paulo. Acho ridículo discutir a paternidade do Plano Real. Mas não posso permitir que eles assumam que o Plano Real é do PSDB. (LP)
Tentação descartada em 1994
O ex-presidente Itamar Franco teve participação decisiva no Plano Real. Primeiro, porque não descansou até conseguir um ministro da Economia que montasse uma equipe para elaborar um pacote contra a inflação, evitando o congelamento de preços. Segundo, porque nunca deixou de dar sustentação às medidas, inclusive quando o plano passou a ser tocado pelos ministros Ricúpero e Ciro Gomes.
O Plano Real ficou conhecido por controlar a inflação sem congelamento de preços. Ao mesmo tempo, o receituário econômico da época apontava justamente para intervenções e soluções mágicas. Que tentações foram descartadas?
Uma tentação forte que surgiu foi de privatizar o setor energético, o Banco do Brasil e alguns pressionaram por mudanças na lei do petróleo. Os neoliberais queriam isso. Muita gente defendia também o controle de preços, eu não defendia. A ideia central era não controlar preços e não interferir nos contratos.
Em que momento o plano correu mais riscos de não sair do papel?
Quando o ministro Ricúpero assumiu, surgiu a discussão em torno do câmbio, que a mudança cambial poderia prejudicar o período eleitoral, poderia criar um problema político. Decidimos manter a data de 1º de julho para a implantação do plano. A equipe tinha problemas em relação ao câmbio e à taxa de juros. Temia-se que o plano trouxesse complicações de ordem política. Ricúpero foi o sacerdote do plano. À época, a equipe técnica tinha dúvidas e isso se agravou quando ele foi substituído pelo ministro Ciro Gomes.
O rigor fiscal e a preocupação com o gasto público são duas heranças que sobreviveram. Ambas persistem até hoje. O sr. aponta outras?
O combate à inflação como estratégia permanente e duradoura pode ser considerado a melhor das políticas sociais. É preciso lembrar que os salários estavam aviltados. Atingimos nosso objetivo à medida em que mantivemos o poder dos salários. E isso avançou para uma perspectiva social. Embora também tenha avançado, infelizmente, para uma política monetarista. Tínhamos convicção que em 1995 o país deveria ter feito um novo pacto federativo, reformas monetária e fiscal. Nada disso foi feito.
O sr. se arrepende dos apoios políticos que recebeuou avalizou?
No plano político, tivemos muita dificuldade, mas houve um resultado positivo que foi a eleição do Fernando Henrique Cardoso. Grande parte da equipe temia que o ex-presidente não correspondesse aos anseios do que o plano previa. Encontramos um país totalmente desesperançado. Muita gente não acreditava que o governo durasse 48 horas. Sem tranquilidade política não teríamos plano algum. Não foi fácil manter a democracia.
O plano é criticado por ter dificultado avanços na área social. A reforma monetária teve reflexos negativos sobre a oferta de crédito e a distribuição de renda — que se manteve praticamente inalterada.
Essa imagem está atrelada porque a inflação era absurda. Tínhamos que combater a inflação e manter o Estado de Direito. O plano, infelizmente, mais para frente, enveredou para o monetarismo, mas ele foi programado para uma política social. A visão monetarista foi agravada depois do meu governo. Foi uma distorção. Quero responder as propagandas que tenho visto aí, principalmente de setores ligados ao PSDB de São Paulo. Acho ridículo discutir a paternidade do Plano Real. Mas não posso permitir que eles assumam que o Plano Real é do PSDB. (LP)
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