DEU NA FOLHA DE S. PAULO
Imagine que a balbúrdia das alianças estaduais e regionais não aconteça apenas a cada quatro anos, em ano de eleições gerais. Imagine que seja a regra da política brasileira.
Imagine que a política nacional seja somente o resultado de acordos pontuais e instáveis, ditados por interesses de chefes políticos locais. Imagine que os acordos durem tanto quanto a rolagem de toda a dívida pública nacional: uma noite, "overnight" no jargão da época.
Imaginou? Bem-vindo à década de 1980.
Foi a década dos governadores. Um tempo de inflação fora de controle e de contas públicas em desordem, em que Estados tinham bancos importantes, faziam política monetária e fiscal, rivalizando com a União.
A partir de FHC, a União se impôs sobre a política dos governadores. Centralizou a política monetária e fiscal. E deu ao partido que ocupa o poder federal o monopólio da formulação política mais ampla.Mas a confusão atual nos arranjos estaduais mostra que muita coisa da década de 1980 continua bem viva na política.
Mostra que PT e PSDB são polos que lideram, mas não dirigem, uma massa informe de interesses e de querelas regionais.
Durante três anos, os governadores guardam silêncio obsequioso, postos na dependência de transferências da União. Isso aconteceu mesmo com os candidatos de oposição José Serra e Aécio Neves.
Ao ser desencadeado o processo eleitoral, os interesses locais reaparecem com apetite e avidez. Interesses que raramente coincidem com recortes partidários. Menos ainda com programas políticos.
Foi um quadro geral como esse que pesou, por exemplo, na decisão estratégica mais importante do PT para as próximas eleições. Em nome da aliança formal com o PMDB, o partido abriu mão de disputar governos estaduais e decidiu concentrar esforços na eleição para o Senado.
No poder há sete anos, Lula concluiu que os governadores podem ser controlados na boca do caixa. E que a Câmara dos Deputados, estruturalmente instável, é relativamente controlável, desde que devidamente atendidos médios, pequenos e minúsculos interesses. Nessa lógica, o problema seria o Senado. A duração mais longa dos mandatos, o menor número de integrantes, a experiência política acumulada, tudo isso faria com que o Senado fosse hoje de controle mais difícil.
Seja como for, é uma lógica de simples adaptação, e não de transformação, a que move os dois polos da política brasileira. São síndicos em um condomínio de interesses locais irreconciliáveis. Onde o vale-tudo dos arranjos estaduais não é uma anomalia. É a regra.
Imagine que a balbúrdia das alianças estaduais e regionais não aconteça apenas a cada quatro anos, em ano de eleições gerais. Imagine que seja a regra da política brasileira.
Imagine que a política nacional seja somente o resultado de acordos pontuais e instáveis, ditados por interesses de chefes políticos locais. Imagine que os acordos durem tanto quanto a rolagem de toda a dívida pública nacional: uma noite, "overnight" no jargão da época.
Imaginou? Bem-vindo à década de 1980.
Foi a década dos governadores. Um tempo de inflação fora de controle e de contas públicas em desordem, em que Estados tinham bancos importantes, faziam política monetária e fiscal, rivalizando com a União.
A partir de FHC, a União se impôs sobre a política dos governadores. Centralizou a política monetária e fiscal. E deu ao partido que ocupa o poder federal o monopólio da formulação política mais ampla.Mas a confusão atual nos arranjos estaduais mostra que muita coisa da década de 1980 continua bem viva na política.
Mostra que PT e PSDB são polos que lideram, mas não dirigem, uma massa informe de interesses e de querelas regionais.
Durante três anos, os governadores guardam silêncio obsequioso, postos na dependência de transferências da União. Isso aconteceu mesmo com os candidatos de oposição José Serra e Aécio Neves.
Ao ser desencadeado o processo eleitoral, os interesses locais reaparecem com apetite e avidez. Interesses que raramente coincidem com recortes partidários. Menos ainda com programas políticos.
Foi um quadro geral como esse que pesou, por exemplo, na decisão estratégica mais importante do PT para as próximas eleições. Em nome da aliança formal com o PMDB, o partido abriu mão de disputar governos estaduais e decidiu concentrar esforços na eleição para o Senado.
No poder há sete anos, Lula concluiu que os governadores podem ser controlados na boca do caixa. E que a Câmara dos Deputados, estruturalmente instável, é relativamente controlável, desde que devidamente atendidos médios, pequenos e minúsculos interesses. Nessa lógica, o problema seria o Senado. A duração mais longa dos mandatos, o menor número de integrantes, a experiência política acumulada, tudo isso faria com que o Senado fosse hoje de controle mais difícil.
Seja como for, é uma lógica de simples adaptação, e não de transformação, a que move os dois polos da política brasileira. São síndicos em um condomínio de interesses locais irreconciliáveis. Onde o vale-tudo dos arranjos estaduais não é uma anomalia. É a regra.
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