O escândalo da violação do sigilo fiscal de oposicionistas, inclusive da filha e do genro de José Serra, além da de muitos outros contribuintes, associado à atuação de petistas numa Receita Federal fragilizada por aparelhamento partidário, teve para a candidatura de Dilma Rousseff pequeno efeito de desgaste nas capitais do Sudeste. Onde ela perdeu alguns pontos, compensados por novo aumento dos seus índices de intenção de votos no Nordeste. Esta foi a constatação das pesquisas Ibope e Datafolha, que também registraram pequena queda dos de Serra, ao lado do crescimento – de 10% para 13% - dos de Marina Silva em São Paulo e no Rio. O efeito bastante restrito desse escândalo na disputa presidencial é atribuído pelos analistas à dificuldade de entendimento pelo povão do significado e da gravidade das denúncias a respeito, feitas pela imprensa e exploradas pela campanha de Serra com a vinculação delas à candidatura de Dilma.
Já as subseqüentes denúncias de tráfico de influência que envolvem a sucessora de Dilma Rousseff na chefia da Casa Civil, Erenice Guerra, seu filho Israel e outros familiares – feitas na última edição da Veja, e desdobradas pelos grandes veículos da mídia – têm um potencial bem maior de impacto eleitoral.Pois atingem simultânea e diretamente o núcleo do Palácio do Planalto e sua candidata, em face das relações estreitas e de amplo conhecimento público entre Dilma e Erenice (principal auxiliar da amiga no comando da Casa Civil, indicada por ela como sua substituta no cargo e avaliada como provável titular do mesmo num governo dilmista). Após ter em mãos, logo no sábado, a reportagem-bomba da revista, o presidente Lula acendeu a luz amarela indicativa de perigo e passou a dar passos em duas direções – a de blindagem da candidata Dilma e a de defesa do governo. Nesta, de um lado tentando a desqualificação das denúncias e, de outro, dando-se conta da crescente repercussão delas, por meio do anúncio de uma bateria de medidas. Começadas pela demissão do assessor de Erenice, até para reduzir a pressão pelo afastamento da própria ministra; seguidas por determinações a ela de que mova processo judicial contra a Veja e de que se submeta a uma apuração as denúncias pela Comissão de Ética da Presidência da República (cuja imagem é a de um órgão que atua sob completo controle do chefe do governo); e continuadas, ontem,com a convocação de outros órgãos de controle de irregularidades (igualmente subordinados ao presidente mas de melhor imagem) – CGU (Controladoria Geral da União) e AGU (Advocacia Geral da União) – para realizarem inquérito sobre a prática de lobby pelo filho da ministra. Aos quais deverá juntar-se a Polícia Federal “numa apuração do conjunto das denúncias”, segundo o ministro da Justiça, Luiz Barreto.
Tudo isso sendo transmitido à imprensa como evidência, segundo fonte do Planalto, “de decisão do presidente Lula de que as denúncias sejam investigadas com rigor e com seriedade, mas sem os objetivos eleitoreiros com que foram apresentadas e estão sendo exploradas”. “Seriedade” que certamente empurrará as conclusões desses órgãos para depois da eleição presidencial, na hipótese de que eles cheguem a tais conclusões, diferentemente do que aconteceu com o tratamento atribuído ao escândalo dos Aloprados de quatro anos atrás, até hoje sem definição de sequer um culpado. E com o governo empenhado no vale-tudo eleitoral, num contexto em que o novo escândalo (mesmo cheio de fortes evidências de envolvimento da Casa Civil, agora e na gestão de Dilma Rousseff) não deverá reverter a perspectiva de vitória da candidata lulista no 1º turno. Podendo ter apenas o efeito de evitar que ela alargue a folgada vantagem que mantém em relação ao conjunto dos demais concorrentes e ao principal adversário, José Serra.
Embora preocupado com o vulto assumido pelas denúncias sobre o tráfico de influência na Casa Civil, o presidente Lula segue dedicando-se à campanha eleitoral, para uma vitória rápida de Dilma e para sua segunda prioridade – o domínio das duas Casas do Congresso através de grandes bancadas do PT e de parlamentares de sua confiança vinculados a outros partidos, bem como do enfraquecimento da oposição, em especial com a derrota de lideranças expressivas que disputam candidaturas ao Senado. Prioridade esta que se liga à terceira – o sucesso da maioria dos palanques estaduais da candidatura de Dilma, já assegurado, e a tentativa de conquista dos dois mais importantes, os de São Paulo e de Minas, estimulada pela fragilidade da candidatura de Serra. Eis alguns dos últimos atos e declarações de Lula voltados para essas prioridades: a pregação de que o DEM seja extirpado da cena político-partidária, feita num comício em Joinville e corretamente avaliada pelo ex-presidente FHC como postura de “chefe de facção”, a pressão sobre o governador do Ceará Cid Gomes e seu irmão Ciro para que bloqueiem a reeleição praticamente certa do senador Tasso Jereissatti; os fortes ataques dirigidos a outros candidatos do PSDB e do DEM ao Senado, como Arthur Virgílio, José Agripino, Marco Maciel, Demóstenes Torres, Cesar Maia; a enorme mobilização que está sendo desenvolvida para evitar uma vitória do candidato de Aécio Neves ao governo de Minas; mobilizações semelhantes para uma “virada lulista” das disputas no Paraná, em Goiás, no Pará. Em São Paulo, enquanto Aloizio Mercadante tenta impedir a vitória de Alckmin no 1º turno, a ofensiva lulista visa mesmo é o aumento das bancadas federais do PT. Especificamente quanto ao Congresso, os analistas eleitorais passaram a prever que a bancada do PT poderá ultrapassar a do PMDB. Que, entretanto, deverá manter a maior do Senado.
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