quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Inquérito da PF contraria tese de crime político na Receita

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

O conteúdo do inquérito da Polícia Federal sobre a violação do sigilo de quatro tucanos e da filha e do genro do presidenciável tucano, José Serra, mostra que a hipótese de crime político está sendo esvaziada. O resultado da apuração, por enquanto, está longe de descobrir os motivos que levaram à quebra dos dados fiscais dos adversários do PT e caminha para a versão de crime comum, sustentada pela Corregedoria da Receita. As duas lideranças do PT nacional ouvidas, Rui Falcão e Fernando Pimentel, negaram qualquer ligação com a violação. Além disso, a PF não aprofundou as contradições nos depoimentos dados pelas cinco pessoas que participaram de reunião em abril para supostamente discutir a elaboração de um dossiê contra os tucanos.

PF esvazia tese de crime político na violação de dados fiscais de tucanos

Apesar dos depoimentos contraditórios e de novos indícios, resultado da apuração está longe de descobrir os motivos que levaram à devassa ilegal contra adversários do PT e, por enquanto, investigação caminha para a mesma versão da corregedoria da Receita

Leandro Colon

BRASÍLIA - O inquérito da Polícia Federal sobre a violação de sigilo de quatro tucanos, além da filha e do genro do presidenciável José Serra, esvazia a hipótese de crime político. O resultado da apuração da PF, por enquanto, está longe de descobrir os motivos que levaram à quebra dos dados fiscais dos adversários do PT.

Apesar de depoimentos contraditórios e novos indícios, a investigação caminha, até agora, para a mesma versão da corregedoria da Receita de que tudo não passou de um crime comum, dentro de um esquema de venda de informações sigilosas.

O Estado teve acesso ao conteúdo das investigações da PF. As duas lideranças do PT nacional ouvidas, Rui Falcão e Fernando Pimentel, negaram qualquer ligação com as violações de sigilo. Admitiram, no máximo, que frequentaram este ano o escritório no Lago Sul montado pelo jornalista Luiz Lanzetta, que era coordenador de comunicação da campanha de Dilma Rousseff (PT) até junho. O depoimento deles, prestado há três semanas, não ocupa uma página inteira de respostas. É breve, sucinto.

Candidato ao Senado por Minas Gerais, Pimentel foi quem convidou Lanzetta para participar da campanha de Dilma. O jornalista deixou a equipe eleitoral em junho por causa do envolvimento no episódio do dossiê contra tucanos. Um dos pivôs do escândalo, o jornalista Amaury Ribeiro, por exemplo, deu dois depoimentos, um no dia 24 de agosto e outro na última segunda-feira. Nas duas vezes negou ligação com as violações de sigilo e, na última visita, aproveitou para deixar com a PF o relatório da chamada Operação Caribe, em que ele reúne informações de supostas operações financeiras de tucanos no exterior. A PF ouviu Amaury pela segunda vez depois que o PT pediu oficialmente para que ele fosse de novo interrogado. Ou seja, o pedido do partido pôs nas mãos da polícia um documento contra os tucanos.

Contradições. A PF não aprofundou ainda as contradições nos depoimentos dados pelas cinco pessoas - entre elas Amaury Ribeiro - que participaram de uma reunião em abril para discutir a elaboração de um dossiê contra os tucanos. Presente ao encontro, o delegado Onésimo de Souza afirmou à polícia que foi chamado para cuidar da segurança do escritório de Lanzetta no Lago Sul, mas que, durante a conversa, surgiram outras solicitações. Pediram, segundo ele, que "fosse levantado tudo sobre algumas pessoas". Onésimo disse à PF que entendeu que poderia haver um "método que não fosse legal", e repetiu sua versão de que Amaury afirmou possuir "dois tiros fatais" contra Serra.

Representante da campanha na tal reunião, Lanzetta deu outra versão aos policiais. Contou que foi contratado pelo Diretório Nacional do PT para cuidar da assessoria de imprensa da campanha de Dilma e consultou Onésimo para fazer segurança porque estava preocupado com o vazamento de informações do escritório montado no Lago Sul. Durante a conversa, segundo Lanzetta, Onézimo falou de outros trabalhos executados por possíveis adversários do PT. Para Lanzetta, isso mostrou que a conversa estava extrapolando o seu objetivo e, por isso, se retirou da reunião.

Distante de uma elucidação política do caso, a PF caminha, por enquanto, para apontar a servidora Ana Maria Cano como envolvida num esquema de venda dedados sigilosos, assim como Adeildda Ferreira dos Santos - dona do computador da Receita usado para violar o sigilo fiscal do vice-presidente do PSDB, Eduardo Jorge, de três tucanos, e também da filha e do genro de José Serra.

O RUMO DA PF NA VIOLAÇÃO FISCAL
Investigação esvazia tese de crime político e aponta para contradições em depoimentos

Amaury Ribeiro

Em dois depoimentos, negou envolvimento com a quebra dos sigilos dos tucanos. Alegou que, no fim do ano passado, estava tocando os negócios da família. Entregou à PF o relatório da Operação Caribe, feito por ele e que mostraria a participação de tucanos em negócios no exterior, mas que não teriam dados fiscais brasileiros

Onésimo de Souza

Disse que foi convidado para cuidar das instalações físicas do comitê de campanha de Dilma a convite do coordenador-geral, Fernando Pimentel. No encontro, porém, apareceu o jornalista Luiz Lanzetta. Na conversa, surgiram "outras solicitações". Foi pedido que "fosse levantado tudo sobre algumas pessoas". Advertiu que poderia ocorrer o episódio "aloprados 2". Não viu nenhum dossiê

Luiz Lanzetta

Contou que foi contratado pelo Diretório Nacional do PT para cuidar da assessoria de imprensa da campanha de Dilma. Consultou Onézimo, por meio de Amaury. No jantar, mostrou preocupação com o vazamento de informações do comitê. Durante a conversa, Onézimo falou de outros trabalhos executados por possíveis adversários do PT. Em nenhum momento foi tratado assunto sobre interceptação ilegal

Benedito de Oliveira

Disse que não é envolvido em campanha eleitoral. Conhece Amaury e Lanzetta há 3 anos. Mantém rotina social com Lanzetta, que o convidou para um happy hour no dia da tal reunião. Não ouviu menção a quebra de sigilo, nem dossiêIdalberto Matias, conhecido como Dadá Permaneceu calado durante todo o depoimento

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