DEU NO VALOR ECONÔMICO
Muito se fala sobre o "paulistério" da presidente eleita, Dilma Rousseff. Entre os nomes já confirmados e cogitados para o ministério, o número de paulistas chega a 11. O mesmo número de ministros de São Paulo que tomou posse em janeiro de 2003, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até agora. A maior diferença talvez seja em relação à expressão e representatividade dos escolhidos.
Apesar da vitória esmagadora de Lula sobre o tucano José Serra, no segundo turno das eleições de 2002, era nítida a desconfiança que havia em relação ao governo do PT, sobretudo no meio empresarial e financeiro. Prova disso é que o presidente teve dificuldades para escolher um nome para dirigir o Banco Central. Os que foram consultados antes de Henrique Meirelles temiam a ingerência política no BC. O próprio Meirelles só aceitou depois de arrancar do presidente a promessa de autonomia. E ainda assim Lula conseguiu montar um primeiro ministério expressivo, representativo e diversificado regionalmente.
Para falar só dos paulistas: no Palácio do Planalto tinha José Dirceu com a força de seu mais de meio milhão de votos e de ter sido o presidente do PT que costurou e ampliou as alianças do partido - à direita - na campanha vitoriosa de 2002. Na Casa Civil de Dilma Rousseff ficará o atual deputado federal Antonio Palocci, eleito em 2006 com pouco mais de 150 mil votos, mas que deve ficar sem mandato a partir de 31 de janeiro de 2011. Ex-ministro da Fazenda, a presença de Palocci no Palácio do Planalto é muito bem vista em meios empresariais e financeiros.
Há outros dois paulistas no Planalto, nenhum deles com voto: Gilberto Carvalho, confirmado para a Secretaria Geral, e Alexandre Padilha, que deve ficar com o varejão político do governo Dilma. Luiz Dulci, um sem-voto, é o único remanescente palaciano do primeiro ministério de Lula. Carvalho é o atual chefe de gabinete do presidente. Depois que a coordenação política saiu da Casa Civil, em 2004, o cargo sempre foi ocupado por um político (Aldo Rebelo, Walfrido Mares Guia, Jaques Wagner), até a nomeação de Padilha, que é paulista, mas também se revelou um hábil negociador com os líderes do Congresso, independentemente de partido.
No meio empresarial paulista, Lula pescou Roberto Rodrigues, para o Ministério da Agricultura, e Luiz Fernando Furlan, para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os dois, respectivamente, líderes em suas áreas de atuação e muito ligados à poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na área da produção, entre os nomes de paulistas cogitados para o governo Dilma está o de Wagner Rossi (PMDB), atual ministro da Agricultura - um ex-quercista indicado na cota do vice-presidente eleito Michel Temer, aliás, também ele de São Paulo. Para a Indústria e Comércio, um ministério tipicamente paulista, está cotado um mineiro, Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte e amigo de juventude da presidente eleita.
Para a área jurídica, Lula levou para o Ministério da Justiça Márcio Thomaz Bastos, prestigiado advogado de São Paulo. O titular de Dilma no mais antigo ministério da República será o deputado federal José Eduardo Cardozo, que fez carreira na burocracia interna do PT. A exemplo de Palocci, o deputado também desistiu de concorrer à reeleição em 2010, muito embora tenha sido eleito em 2006 com boa votação (104,4 mil votos) e estivesse entre os nomes favoritos do PT para voltar à Câmara. É um dos chamados "desiludidos" com a atividade parlamentar.
O chamado "paulistério" de Dilma deve contar com dois outros nomes, um praticamente certo, o do senador Aloizio Mercadante, e o outro ainda em negociação, o do deputado Vicentinho, para a Secretaria de Igualdade Racial. Mercadante por ter virtualmente "cedido" a vaga no Senado para Marta Suplicy, ao disputar uma eleição desde o início considerada perdida ao governo de São Paulo, a pedido de Lula. O senador é cotado para o Ministério da Ciência e Tecnologia, cargo atualmente em poder do PSB. O sindicalista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, por seu turno, iria para o governo a fim de abrir uma vaga para o deputado José Genoino, se ele voltar à condição de primeiro suplente da bancada de São Paulo, o que depende de decisões judiciais.
Evidentemente, a referência que se faz é à origem política dos ministros e não à naturalidade propriamente dita. Dirceu, por exemplo, é natural de Passa Quatro, em Minas Gerais, enquanto Humberto Costa, primeiro ministro da Saúde de Lula, eleito em outubro passado senador pelo Estado de Pernambuco, é de Campinas, em São Paulo. O número de paulistas sempre foi grande nos governo, independentemente dos partidos, tucanos ou petistas. É natural que seja assim: São Paulo detém o poder econômico do país, e nos últimos 16 anos a Presidência esteve com um carioca e um pernambucano que fazem política no Estado.
Na cota de São Paulo o ministério de Dilma tem ainda a já anunciada ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e pode vir a ter os atuais ministros Orlando Silva (Esportes), que é do PCdoB, e Fernando Haddad, da tendência petista Mensagem ao Partido, nome apadrinhado por Lula para permanecer no Ministério da Educação.
O curioso é que o PT de São Paulo não se considera representado no governo Dilma. É natural. Pelo que foi mostrado até agora, o ministério Dilma Rousseff é generoso em relação ao PT. Dos seis nomes confirmados para o próximo governo, cinco são do PT e de São Paulo- Guido Mantega, Palocci, Gilberto Carvalho, José Eduardo Cardozo e Miriam Belchior. A exceção é Alexandre Tombini, gaúcho e funcionário de carreira do Banco Central. O que incomoda os outros partidos. Inquieta o PT, especialmente o PT paulista, a falta de renovação e de voto do ministério Dilma. Há toda uma nova geração de executivos petistas, sobretudo nas cidades ao redor da capital paulista, ansiosos por abrir o espaço ocupado pela primeira geração petista no governo federal.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
Muito se fala sobre o "paulistério" da presidente eleita, Dilma Rousseff. Entre os nomes já confirmados e cogitados para o ministério, o número de paulistas chega a 11. O mesmo número de ministros de São Paulo que tomou posse em janeiro de 2003, no primeiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, até agora. A maior diferença talvez seja em relação à expressão e representatividade dos escolhidos.
Apesar da vitória esmagadora de Lula sobre o tucano José Serra, no segundo turno das eleições de 2002, era nítida a desconfiança que havia em relação ao governo do PT, sobretudo no meio empresarial e financeiro. Prova disso é que o presidente teve dificuldades para escolher um nome para dirigir o Banco Central. Os que foram consultados antes de Henrique Meirelles temiam a ingerência política no BC. O próprio Meirelles só aceitou depois de arrancar do presidente a promessa de autonomia. E ainda assim Lula conseguiu montar um primeiro ministério expressivo, representativo e diversificado regionalmente.
Para falar só dos paulistas: no Palácio do Planalto tinha José Dirceu com a força de seu mais de meio milhão de votos e de ter sido o presidente do PT que costurou e ampliou as alianças do partido - à direita - na campanha vitoriosa de 2002. Na Casa Civil de Dilma Rousseff ficará o atual deputado federal Antonio Palocci, eleito em 2006 com pouco mais de 150 mil votos, mas que deve ficar sem mandato a partir de 31 de janeiro de 2011. Ex-ministro da Fazenda, a presença de Palocci no Palácio do Planalto é muito bem vista em meios empresariais e financeiros.
Há outros dois paulistas no Planalto, nenhum deles com voto: Gilberto Carvalho, confirmado para a Secretaria Geral, e Alexandre Padilha, que deve ficar com o varejão político do governo Dilma. Luiz Dulci, um sem-voto, é o único remanescente palaciano do primeiro ministério de Lula. Carvalho é o atual chefe de gabinete do presidente. Depois que a coordenação política saiu da Casa Civil, em 2004, o cargo sempre foi ocupado por um político (Aldo Rebelo, Walfrido Mares Guia, Jaques Wagner), até a nomeação de Padilha, que é paulista, mas também se revelou um hábil negociador com os líderes do Congresso, independentemente de partido.
No meio empresarial paulista, Lula pescou Roberto Rodrigues, para o Ministério da Agricultura, e Luiz Fernando Furlan, para o Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Os dois, respectivamente, líderes em suas áreas de atuação e muito ligados à poderosa Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Na área da produção, entre os nomes de paulistas cogitados para o governo Dilma está o de Wagner Rossi (PMDB), atual ministro da Agricultura - um ex-quercista indicado na cota do vice-presidente eleito Michel Temer, aliás, também ele de São Paulo. Para a Indústria e Comércio, um ministério tipicamente paulista, está cotado um mineiro, Fernando Pimentel, ex-prefeito de Belo Horizonte e amigo de juventude da presidente eleita.
Para a área jurídica, Lula levou para o Ministério da Justiça Márcio Thomaz Bastos, prestigiado advogado de São Paulo. O titular de Dilma no mais antigo ministério da República será o deputado federal José Eduardo Cardozo, que fez carreira na burocracia interna do PT. A exemplo de Palocci, o deputado também desistiu de concorrer à reeleição em 2010, muito embora tenha sido eleito em 2006 com boa votação (104,4 mil votos) e estivesse entre os nomes favoritos do PT para voltar à Câmara. É um dos chamados "desiludidos" com a atividade parlamentar.
O chamado "paulistério" de Dilma deve contar com dois outros nomes, um praticamente certo, o do senador Aloizio Mercadante, e o outro ainda em negociação, o do deputado Vicentinho, para a Secretaria de Igualdade Racial. Mercadante por ter virtualmente "cedido" a vaga no Senado para Marta Suplicy, ao disputar uma eleição desde o início considerada perdida ao governo de São Paulo, a pedido de Lula. O senador é cotado para o Ministério da Ciência e Tecnologia, cargo atualmente em poder do PSB. O sindicalista Vicente Paulo da Silva, o Vicentinho, por seu turno, iria para o governo a fim de abrir uma vaga para o deputado José Genoino, se ele voltar à condição de primeiro suplente da bancada de São Paulo, o que depende de decisões judiciais.
Evidentemente, a referência que se faz é à origem política dos ministros e não à naturalidade propriamente dita. Dirceu, por exemplo, é natural de Passa Quatro, em Minas Gerais, enquanto Humberto Costa, primeiro ministro da Saúde de Lula, eleito em outubro passado senador pelo Estado de Pernambuco, é de Campinas, em São Paulo. O número de paulistas sempre foi grande nos governo, independentemente dos partidos, tucanos ou petistas. É natural que seja assim: São Paulo detém o poder econômico do país, e nos últimos 16 anos a Presidência esteve com um carioca e um pernambucano que fazem política no Estado.
Na cota de São Paulo o ministério de Dilma tem ainda a já anunciada ministra do Planejamento, Miriam Belchior, e pode vir a ter os atuais ministros Orlando Silva (Esportes), que é do PCdoB, e Fernando Haddad, da tendência petista Mensagem ao Partido, nome apadrinhado por Lula para permanecer no Ministério da Educação.
O curioso é que o PT de São Paulo não se considera representado no governo Dilma. É natural. Pelo que foi mostrado até agora, o ministério Dilma Rousseff é generoso em relação ao PT. Dos seis nomes confirmados para o próximo governo, cinco são do PT e de São Paulo- Guido Mantega, Palocci, Gilberto Carvalho, José Eduardo Cardozo e Miriam Belchior. A exceção é Alexandre Tombini, gaúcho e funcionário de carreira do Banco Central. O que incomoda os outros partidos. Inquieta o PT, especialmente o PT paulista, a falta de renovação e de voto do ministério Dilma. Há toda uma nova geração de executivos petistas, sobretudo nas cidades ao redor da capital paulista, ansiosos por abrir o espaço ocupado pela primeira geração petista no governo federal.
Raymundo Costa é repórter especial de Política, em Brasília. Escreve às terças-feiras
Nenhum comentário:
Postar um comentário