DEU NO JORNAL DO BRASIL
Antes que as consequências toquem a campainha e apresentem a fatura, a oposição – melhor, o que dela tiver sobrado nos dois últimos mandatos presidenciais – terá de passar por uma reavaliação e se estruturar como deveria, mas não tem sido capaz. Oposição não é apenas estado de espírito para constar mas exercício de função política, indispensável e insubstituível em democracias. Ainda que clandestina, existe até em ditaduras, da maneira possível.
O PSDB já devia ter deixado de apenas parecer oposição e buscar a coerência de ideias e posições políticas, em respeito ao eleitorado que se identifica com a visão social-democrata e seu compromisso histórico. Manter posições críticas, com convicção e não apenas para inglês ver, e assumir a defesa dos interesses nacionais, por uma ótica coerente com posições de princípio e propostas que lhe garantam lastro.
Por uma fatalidade anterior à História, torna-se inevitável haver alguma diferença entre a palavra e a ação, da parte do governo e da oposição. Desde o começo imemorial, nada se parece mais com um governo conservador do que um liberal que o substitui no poder. Também em princípio (e por tradição), a inversão de posições é outra fatalidade do poder e independe de teorias. Princípios não se alteram quando o poder muda de mãos, mas seus figurantes trocam a maneira de utilizá-los. A democracia suporta, mas não assume, o princípio que ilude os brasileiros com a eterna impressão de evoluir (quando ocorre, geralmente, o contrário).
Este começo de governo se apresenta como oportunidade de marcar posição, mas não para a oposição alegar direito a férias pelo que deixou de fazer. Esta ou qualquer oposição não pode se deixar levar pelo jogo de aparências ou omitir-se no exercício de lidar com ideias, pessoas e fatos.
É inacreditável que um partido que surgiu das mesmas circunstâncias que favoreceram o PT tenha vivido apenas do impulso inicial e mantenha uma visão nacional feita de retalhos, sem um programa permanente e atualizações de acordo com as oportunidades. Pelo que lhe diz respeito, ao PT também faltou fôlego para chegar ao poder pelo que dizia ser, mesmo com baixo teor de convicção. Ambos se assustaram com o feito. As concessões do petismo vieram a ser as mesmas feitas em nome do projeto social-democrata, que se retraiu no século 20 e continua um fio desencapado que já não dá choque.
Com uma herança malbaratada, a ideia da social-democracia não conseguiu definir espaço político próprio nem na América do Sul, cuja vertente – mais latina do que indígena – se expressa aleatoriamente na sociedade brasileira, na qual a classe média está em expansão desde que a industrialização carimbou as aspirações nacionais depois da Segunda Guerra Mundial. Falta formulação política, de natureza social-democrática, para consumo abaixo da linha do Equador, que se mantém invisível. Fragmentos esparsos não montam painel nem formam um corpo de ideias suficientes para aplicar uma linha coerente de pensamento.
À medida que se afastou da fonte marxista original, a ideia da social-democracia reconheceu, na passagem do século 19 para o 20, peso social politicamente utilizável por parte da classe média. Ficou subentendido que – à margem do pensamento oficial – à medida que se afasta da ortodoxia marxista, a classe média encontra o seu espaço político e se liberta da condição inferior a que a hegemonia do proletariado a condenou. Foi a classe média, cujo desempenho não se limitou à expansão do consumo, que se destacou na segunda metade do século 20, a partir da Europa reconstruída, depois de ter sido o saldo americano desde a depressão dos anos 20.
Antes que as consequências toquem a campainha e apresentem a fatura, a oposição – melhor, o que dela tiver sobrado nos dois últimos mandatos presidenciais – terá de passar por uma reavaliação e se estruturar como deveria, mas não tem sido capaz. Oposição não é apenas estado de espírito para constar mas exercício de função política, indispensável e insubstituível em democracias. Ainda que clandestina, existe até em ditaduras, da maneira possível.
O PSDB já devia ter deixado de apenas parecer oposição e buscar a coerência de ideias e posições políticas, em respeito ao eleitorado que se identifica com a visão social-democrata e seu compromisso histórico. Manter posições críticas, com convicção e não apenas para inglês ver, e assumir a defesa dos interesses nacionais, por uma ótica coerente com posições de princípio e propostas que lhe garantam lastro.
Por uma fatalidade anterior à História, torna-se inevitável haver alguma diferença entre a palavra e a ação, da parte do governo e da oposição. Desde o começo imemorial, nada se parece mais com um governo conservador do que um liberal que o substitui no poder. Também em princípio (e por tradição), a inversão de posições é outra fatalidade do poder e independe de teorias. Princípios não se alteram quando o poder muda de mãos, mas seus figurantes trocam a maneira de utilizá-los. A democracia suporta, mas não assume, o princípio que ilude os brasileiros com a eterna impressão de evoluir (quando ocorre, geralmente, o contrário).
Este começo de governo se apresenta como oportunidade de marcar posição, mas não para a oposição alegar direito a férias pelo que deixou de fazer. Esta ou qualquer oposição não pode se deixar levar pelo jogo de aparências ou omitir-se no exercício de lidar com ideias, pessoas e fatos.
É inacreditável que um partido que surgiu das mesmas circunstâncias que favoreceram o PT tenha vivido apenas do impulso inicial e mantenha uma visão nacional feita de retalhos, sem um programa permanente e atualizações de acordo com as oportunidades. Pelo que lhe diz respeito, ao PT também faltou fôlego para chegar ao poder pelo que dizia ser, mesmo com baixo teor de convicção. Ambos se assustaram com o feito. As concessões do petismo vieram a ser as mesmas feitas em nome do projeto social-democrata, que se retraiu no século 20 e continua um fio desencapado que já não dá choque.
Com uma herança malbaratada, a ideia da social-democracia não conseguiu definir espaço político próprio nem na América do Sul, cuja vertente – mais latina do que indígena – se expressa aleatoriamente na sociedade brasileira, na qual a classe média está em expansão desde que a industrialização carimbou as aspirações nacionais depois da Segunda Guerra Mundial. Falta formulação política, de natureza social-democrática, para consumo abaixo da linha do Equador, que se mantém invisível. Fragmentos esparsos não montam painel nem formam um corpo de ideias suficientes para aplicar uma linha coerente de pensamento.
À medida que se afastou da fonte marxista original, a ideia da social-democracia reconheceu, na passagem do século 19 para o 20, peso social politicamente utilizável por parte da classe média. Ficou subentendido que – à margem do pensamento oficial – à medida que se afasta da ortodoxia marxista, a classe média encontra o seu espaço político e se liberta da condição inferior a que a hegemonia do proletariado a condenou. Foi a classe média, cujo desempenho não se limitou à expansão do consumo, que se destacou na segunda metade do século 20, a partir da Europa reconstruída, depois de ter sido o saldo americano desde a depressão dos anos 20.
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