
Elogia-se em Dilma sobretudo o estilo. A discrição, a sobriedade, o formalismo dos gestos. É menos o governo que mal começou do que sua maneira de se comportar que tem arrancado entusiasmados aplausos dos analistas políticos.
Com mais ou menos consciência, elogia-se Dilma para criticar Lula -ou melhor, pretende-se atacar Lula elogiando Dilma, numa espécie de revanche póstuma e de efeito simbólico contra o boquirroto.
A agenda de boa parte da mídia tem sido intrigar Dilma e Lula, como se este fosse um governo de oposição, e não de continuidade.
O que os cães de guarda bem remunerados da imprensa governista chamavam de PIG (o Partido da Imprensa Golpista) hoje está mais para pug -o cachorrinho de madame.
Basta, por ora, que Dilma seja o negativo comportamental de Lula para sair bem na foto das elites. Se o Brasil fosse uma praia, é como se essas pessoas ficassem aliviadas com a retirada de cena do farofeiro.
Para além dos modos, há, é claro, razões objetivas sustentando a boa impressão da presidente. A extrema prudência na condução da economia é a primeira delas. O pragmatismo político é outra. Dilma também se mostra mais comprometida com os direitos humanos e menos disposta a patrocinar o antiamericanismo do antecessor.
Tudo isso tem colaborado para um clima geral de distensão no cenário político. O preço simbólico que essa comunhão cobrou até aqui foram as pauladas retóricas no lombo de Lula. Mas, como toda lua de mel, essa também tem prazo de validade. Mais adiante veremos o que havia de precipitação nesse súbito amor entre Dilma e a zona sul.
FONTE: FOLHA DE S. PAULO
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