Segundo declaração do ex-secretário de Turismo da Prefeitura do Recife, Alfredo Bertini, o principal produto turístico a ser oferecido aos visitantes estrangeiros e nacionais que procuram a capital pernambucana para se distrair é o Carnaval do Recife. Daí a concentração de recursos, mídia, planejamento, logística e pessoal na organização e divulgação dos festejos momescos entre nós. Feito que teria levado, este ano, a rua 1.700.000 foliões para acompanhar o desfile da "maior troça do mundo", o Galo da Madrugada. O Carnaval recifense já tem a sua marca registrada sob o emblema do "multiculturalismo" e os diversos (7) "pólos de animação". Pela primeira vez, os órgãos de comunicação de massa do país destacaram, com programas jornalísticos especiais, a diversidade do carnaval pernambucano para um a audiência internacional, como fêz a Rede Globo de Televisão. Até aí, tudo bem.
O que não se entende é o critério que orientou a decisão da secretária de Turismo de conceder carta branca ao cantor e compositor Lênine para convidar várias "divas" da música popular brasileira: Zélia Duncan, Maria Gadu, Marina Lima, mariana, Karina Becker, Pato fú...e uma repórter da TV Globo, para o show de abertura do carnaval do Recife, na praça do Marco Zero.
O que em comum essas cantoras e intérpretes com a folia pernambucana e o carnaval multicultural de Recife e Olinda? - Nada. Ou então, a figura do próprio compositor e cantor, que mora no Rio de janeiro, é casado com uma executiva da rede Globo, já escreveu roteiros para a tv carioca e, originalmente, nunca foi entusiasta de nossa música regional, como disse um crítico do Jornal do Comércio, em sua bem documentada história da evolução musical de Pernambuco. Fica-se com uma forte impressão do velho e conhecido clientelismo cultural reinante em nossas plagas: a troca de favores. Eu convido vocês, vocês me convidam. E todos nós vamos nos dando bem, às custas do carnaval (e do erário público e a paciência dos foliões).
Quem viu o show deve ter-se confundido e achado que era no vale do Anhangabaú, ou na praia de Copacabana ou em algum estádio de Brasília. Não se cantou frevo ou música carnavalesca, o público não "frevou", não houve emoção e tudo acabou como uma consagração apoteótica do próprio Lenine, pelos convidadas, é claro.
Está mais do que na hora de repensar a organização do carnaval de Pernambuco e o uso dos recursos públicos neste tipo de "produto turístico-cultural". A começar pelas declarações publicadas no Caderno do C, do compositor e pesquisador Antonio Carlos Nóbrega sobre o arcaísmo do frevo e a própria organização do Carnaval. porque não se faz como na Bahia onde há uma autêntica reserva de mercado para a cultura musical e artística baiana? Aqui, qualquer um pode se apresentar e se promover, às custas de nossos festejos, mesmo que venha dizer em alto e bom som (Luis Caldas) que sua contribuição musical foi acabar com o frevo no carnaval do Bahia, com a criação do AXE-music. Pode, uma coisa dessas?
Sejamos cosmopolitas, multiculturais, regionalistas abertos, mas - pelo amor de Deus - tenhamos auto-estima, orgulho de nossas raízes culturais. O que não pode e não deve ser feito é utilizar o espaço dos festejos populares - de maior audiência de público e concentração de recursos - para servir de mera plataforma de lançamento de pseudos notabilidades musicais.
Michel Zaidan Filho é professor da Universidade Federal de Pernambuco
O que não se entende é o critério que orientou a decisão da secretária de Turismo de conceder carta branca ao cantor e compositor Lênine para convidar várias "divas" da música popular brasileira: Zélia Duncan, Maria Gadu, Marina Lima, mariana, Karina Becker, Pato fú...e uma repórter da TV Globo, para o show de abertura do carnaval do Recife, na praça do Marco Zero.
O que em comum essas cantoras e intérpretes com a folia pernambucana e o carnaval multicultural de Recife e Olinda? - Nada. Ou então, a figura do próprio compositor e cantor, que mora no Rio de janeiro, é casado com uma executiva da rede Globo, já escreveu roteiros para a tv carioca e, originalmente, nunca foi entusiasta de nossa música regional, como disse um crítico do Jornal do Comércio, em sua bem documentada história da evolução musical de Pernambuco. Fica-se com uma forte impressão do velho e conhecido clientelismo cultural reinante em nossas plagas: a troca de favores. Eu convido vocês, vocês me convidam. E todos nós vamos nos dando bem, às custas do carnaval (e do erário público e a paciência dos foliões).
Quem viu o show deve ter-se confundido e achado que era no vale do Anhangabaú, ou na praia de Copacabana ou em algum estádio de Brasília. Não se cantou frevo ou música carnavalesca, o público não "frevou", não houve emoção e tudo acabou como uma consagração apoteótica do próprio Lenine, pelos convidadas, é claro.
Está mais do que na hora de repensar a organização do carnaval de Pernambuco e o uso dos recursos públicos neste tipo de "produto turístico-cultural". A começar pelas declarações publicadas no Caderno do C, do compositor e pesquisador Antonio Carlos Nóbrega sobre o arcaísmo do frevo e a própria organização do Carnaval. porque não se faz como na Bahia onde há uma autêntica reserva de mercado para a cultura musical e artística baiana? Aqui, qualquer um pode se apresentar e se promover, às custas de nossos festejos, mesmo que venha dizer em alto e bom som (Luis Caldas) que sua contribuição musical foi acabar com o frevo no carnaval do Bahia, com a criação do AXE-music. Pode, uma coisa dessas?
Sejamos cosmopolitas, multiculturais, regionalistas abertos, mas - pelo amor de Deus - tenhamos auto-estima, orgulho de nossas raízes culturais. O que não pode e não deve ser feito é utilizar o espaço dos festejos populares - de maior audiência de público e concentração de recursos - para servir de mera plataforma de lançamento de pseudos notabilidades musicais.
Michel Zaidan Filho é professor da Universidade Federal de Pernambuco
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