A crise nos países do Norte da África e do Oriente Médio (Naom) tem trazido instabilidade nos mercados, com a elevação dos preços do petróleo, volatilidade nas bolsas de valores e demais ativos. A pergunta é: até que ponto essa crise pode afetar negativamente a recuperação em curso na economia mundial e interromper o crescimento brasileiro?
As primeiras questões importantes são a durabilidade e a extensão da crise. O tempo que durará a instabilidade e quantos países da região serão afetados. Embora a Líbia responda por só 2% do abastecimento mundial, o preço do petróleo cresceu 20% nas primeiras semanas após o início do conflito, pelo temor de que a crise se alastre para os países da região, que juntos respondem por 35% da produção petrolífera global. Há ainda o efeito da redução dos estoques globais, fator anterior à recente crise, mas da crise financeira de 2008/2009, o que contribuiu para aumentar a incerteza.
Estudo recente da Agência Internacional de Energia aponta para a necessidade de investimentos da ordem de US$ 10 trilhões até 2030 só para garantir maior nível de segurança de abastecimento, levando em conta a demanda e as sua fontes de suprimento, ainda sob grande influência da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep).
O Brasil não tem como não sofrer impactos dos recentes acontecimentos, até porque, se a crise se agravar e isso provocar um aumento sustentável dos preços do petróleo, o ritmo de crescimento da economia mundial pode ser afetado. Mas a situação da economia brasileira hoje é bem diferente da de crises anteriores do petróleo, não só pelos indicadores macroeconômicos, mas também pelo maior grau de autossuficiência energética. A elevação do preço do petróleo, se, por um lado, gera transtornos, como o aumento de insumos industriais e agrícolas no curto prazo, por outro, representaria um aumento do potencial de geração de receita do pré-sal.
Se o cenário de agravamento da crise prevalecer, o que me parece menos provável, a redução do ritmo de crescimento da economia mundial deve impactar negativamente os preços das commodities minerais e agrícolas. Isso geraria queda na receita potencial dos países exportadores desses produtos. Por outro lado, seria um fator que, junto com a redução do crescimento mundial, arrefeceria a recente pressão inflacionária.
Considerando os aspectos levantados, o melhor cenário para a economia mundial e, pois, a brasileira seria de uma resolução relativamente rápida da crise. Mas, se esse é o desdobramento mais desejável, não necessariamente pode ser o mais provável, mesmo porque envolve questões que extrapolam o campo econômico, envolvendo aspectos étnicos, políticos e religiosos. Muitos dos países envolvidos têm estruturas e características próprias, que certamente exigirão alternativas diferenciadas.
Enquanto prevalecer um certo grau de instabilidade quanto à reorganização social, política e econômica na região, os impactos sobre a economia mundial continuarão a exercer influência sobre os indicadores econômicos, ainda com reflexos no comportamento das bolsas de valores e demais ativos. O desdobramento dos efeitos da catástrofe no Japão é outra variável a gerar incógnitas no cenário econômico global.
No momento, a única certeza é o aumento da incerteza. Convém ao Brasil evitar tomar decisões com base num quadro que está a mudar substancialmente. Refiro-me especialmente à taxa de juros e outras medidas para "desaquecer" o nível de atividade. Até porque, num cenário de estresse na economia mundial, o freio virá naturalmente. Nesse caso, o risco é perder o timing e errar a mão na correção de rumos, sendo "mais realista que o rei" e exagerando na dose. Aí estaríamos pagando um custo maior e desnecessário. É preciso redobrar a atenção na análise e interpretação dos indicadores da economia, de forma ampla, para minimizar o risco de tomar decisões equivocadas de políticas econômicas.
Economista, Doutor pelo IE/UNICAMP, Professor Doutor do Departamento de Economia da PUC-SP, é co-autor, entre outros livros, de "Economia brasileira" (4ª edição, Saraiva, 2010)
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
As primeiras questões importantes são a durabilidade e a extensão da crise. O tempo que durará a instabilidade e quantos países da região serão afetados. Embora a Líbia responda por só 2% do abastecimento mundial, o preço do petróleo cresceu 20% nas primeiras semanas após o início do conflito, pelo temor de que a crise se alastre para os países da região, que juntos respondem por 35% da produção petrolífera global. Há ainda o efeito da redução dos estoques globais, fator anterior à recente crise, mas da crise financeira de 2008/2009, o que contribuiu para aumentar a incerteza.
Estudo recente da Agência Internacional de Energia aponta para a necessidade de investimentos da ordem de US$ 10 trilhões até 2030 só para garantir maior nível de segurança de abastecimento, levando em conta a demanda e as sua fontes de suprimento, ainda sob grande influência da Organização dos Países Produtores de Petróleo (Opep).
O Brasil não tem como não sofrer impactos dos recentes acontecimentos, até porque, se a crise se agravar e isso provocar um aumento sustentável dos preços do petróleo, o ritmo de crescimento da economia mundial pode ser afetado. Mas a situação da economia brasileira hoje é bem diferente da de crises anteriores do petróleo, não só pelos indicadores macroeconômicos, mas também pelo maior grau de autossuficiência energética. A elevação do preço do petróleo, se, por um lado, gera transtornos, como o aumento de insumos industriais e agrícolas no curto prazo, por outro, representaria um aumento do potencial de geração de receita do pré-sal.
Se o cenário de agravamento da crise prevalecer, o que me parece menos provável, a redução do ritmo de crescimento da economia mundial deve impactar negativamente os preços das commodities minerais e agrícolas. Isso geraria queda na receita potencial dos países exportadores desses produtos. Por outro lado, seria um fator que, junto com a redução do crescimento mundial, arrefeceria a recente pressão inflacionária.
Considerando os aspectos levantados, o melhor cenário para a economia mundial e, pois, a brasileira seria de uma resolução relativamente rápida da crise. Mas, se esse é o desdobramento mais desejável, não necessariamente pode ser o mais provável, mesmo porque envolve questões que extrapolam o campo econômico, envolvendo aspectos étnicos, políticos e religiosos. Muitos dos países envolvidos têm estruturas e características próprias, que certamente exigirão alternativas diferenciadas.
Enquanto prevalecer um certo grau de instabilidade quanto à reorganização social, política e econômica na região, os impactos sobre a economia mundial continuarão a exercer influência sobre os indicadores econômicos, ainda com reflexos no comportamento das bolsas de valores e demais ativos. O desdobramento dos efeitos da catástrofe no Japão é outra variável a gerar incógnitas no cenário econômico global.
No momento, a única certeza é o aumento da incerteza. Convém ao Brasil evitar tomar decisões com base num quadro que está a mudar substancialmente. Refiro-me especialmente à taxa de juros e outras medidas para "desaquecer" o nível de atividade. Até porque, num cenário de estresse na economia mundial, o freio virá naturalmente. Nesse caso, o risco é perder o timing e errar a mão na correção de rumos, sendo "mais realista que o rei" e exagerando na dose. Aí estaríamos pagando um custo maior e desnecessário. É preciso redobrar a atenção na análise e interpretação dos indicadores da economia, de forma ampla, para minimizar o risco de tomar decisões equivocadas de políticas econômicas.
Economista, Doutor pelo IE/UNICAMP, Professor Doutor do Departamento de Economia da PUC-SP, é co-autor, entre outros livros, de "Economia brasileira" (4ª edição, Saraiva, 2010)
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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