quinta-feira, 24 de março de 2011

Sirkis: ''Há um clima quase de ódio contra o grupo da Marina''

Alfredo Junqueira

Alfredo Sirkis, deputado e presidente do PV no Rio de Janeiro

Presidente do diretório estadual do PV do Rio e um dos assessores mais próximos da ex-senadora Marina Silva, o deputado federal Alfredo Sirkis (RJ) confirma que há um clima beligerante que divide a legenda e que pode culminar na criação de um novo partido.

O parlamentar, que integra o grupo Transição Democrática - que pede mudanças internas na sigla -, afirma haver boicote da atual direção contra pessoas ligadas a Marina. Para o verde, o clima é de "quase ódio" em relação a Marina e seus aliados.

Ele cita como exemplo a inviabilização da filiação de uma das filhas da ex-senadora ao diretório do Distrito Federal. Para Sirkis, é inaceitável que o deputado federal José Luiz Penna (SP) seja presidente nacional da legenda por 12 anos.

Quais são os principais pontos práticos de discórdia no PV?

A ideia de um presidente por tempo indeterminado, podendo até ser vitalício, é totalmente inaceitável. Acho que o presidente do PV tem que ter um mandato de dois anos, não ser reelegível. Tem que ser um coordenador, e não exercer o poder de forma vertical. O Penna preside o PV nos últimos 12 anos. Não existe nenhum outro partido - com exceção do partido do Eymael - que tem um único presidente há tanto tempo. Já foi o suficiente.

Há pressão para aceitar políticos sem identidade com a sigla?

Ele comentou na última reunião da Executiva que tinha feito um grande esforço para trazer o prefeito de Salvador (João Henrique Carneiro), o que era contrário à vontade do partido na Bahia. E trata-se de um prefeito completamente desmoralizado e queimado, que colocou a cidade num estado deplorável. Houve época em que ele defendeu a fusão do PV com o PSC. Ali há, de fato, uma divergência. O partido deve crescer necessariamente na cidadania e atrair políticos com mandato que tenham uma profunda afinidade ideológica e programática conosco. É melhor ser um partido menor e coerente do que um partido dentro da matriz tradicional da política brasileira.

A ex-senadora Marina Silva e seu grupo estão representados no comando do PV?

Houve um crescimento da Executiva, que está gigantesca, com 58 pessoas. O poder de fato é exercido por um grupo quase secreto em torno do presidente. A Executiva ficou quase cinco meses sem se reunir.

E a situação nos Estados?

Houve muitos problemas. Em alguns lugares houve até boicotes a pessoas que entraram com a Marina no partido. Situações muito sérias aconteceram no Amazonas, em Mato Grosso, e em outros Estados. Em Brasília, a filha da Marina, segundo ela, não conseguiu se filiar. As coisas nunca são colocadas explicitamente. São sempre uma névoa, um fog burocrático. Em vários lugares pessoas não conseguiram se filiar. Órgãos de reunião não se reúnem há muito tempo e decisões são tomadas de forma totalmente solitária por presidentes estaduais que fazem parte Executiva Nacional. Há uma certa clientela que se cria como base de sustentação do atual presidente.

Existe ou não a possibilidade de se criar um novo partido?

Não diria que é impossível. Mas não estamos trabalhando com essa hipótese nesse momento. Trabalhamos com a hipótese de diálogo. O problema é que criou-se uma coisa que nunca existiu dentro do PV. Há um clima de intimidação, gente que tem medo de se posicionar porque acha que pode sofrer represálias. Vejo um clima que eu nunca imaginei no PV, quase de ódio em relação a gente. Uma coisa muito radicalizada.

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