É praticamente consensual a avaliação de que a presidente Dilma se fortaleceu com a visita do colega norteamericano Barack Obama. Com a cordialidade recíproca das manifestações de ambos; a valorização das afinidades em torno da democracia e dos direitos humanos; a valorização de parcerias de investimentos na infraestrutura brasileira e de tecnologia no campo energético (no pré-sal), sem prejuízo da cobrança da quebra de barreiras a nossos produtos. Com a dimensão suprapartidária do principal evento da visita (um almoço no Itamaraty), expressa na presença dos ex-presidentes brasileiros. E com a grande e favorável repercussão da visita nos meios políticos, empresariais e populares. Tudo isso propiciando o que foi destacado no Top Mail anterior, com o título “Dilma/Obama. Em vez do ideologismo, boas relações do Brasil com os EUA”. Ou seja, a substituição do antiamericanismo esquerdista, dominante no segundo mandato de Lula, por um relacionamento diplomático centrado em tradições e compromissos comuns com o pluralismo democrático, e com plena autonomia de nossa parte num relacionamento econômico pragmático, pautado pela defesa de nossos próprios e peculiares interesses.
E a imagem da presidente Dilma foi adicionalmente favorecida, de sábado em diante, por dois fatos significativos. Primeiro a divulgação de pesquisa do Datafolha, na qual ela começa o governo com 47% de popularidade, igualando (na margem de erro) o recorde de 48% obtido por Lula no início do segundo mandato, em 2007. Índice de aprovação da nova presidente (combinado com o de 78% de expectativa favorável do eleitorado) que a reforça muito nas negociações político-partidárias e com o Congresso. Segundo fato político pró Dilma (este vinculado diretamente à visita do presidente norte-americano): a ausência de Lula no almoço oferecido por ela a Obama e sua família. Ausência que tem sido objeto de crítica generalizada, como a de artigo da jornalista Vera Magalhães, na Folha de S. Paulo, de ontem, com o título “Dilma revoga o nunca antes”, e os seguintes trechos da abertura: “Certas imagens, como se sabe, carregam mais símbolos que muitas palavras. A que reuniu, no último sábado, Dilma Rousseff e três ex-presidentes (Fernando Collor, Itamar Franco e FHC), poderá a ser lembrada no futuro como o ponto final do ‘nunca antes neste país’. “Ao convidar seus antecessores para a recepção à família Obama no Itamaraty, Dilma mostra que pretende pautar o início de seu governo por uma dose maior de institucionalidade e menor de pirotecnia”. Ou a da coluna de Raymundo Costa, no Valor também de ontem, intitulada “O protagonismo às avessas de Lula”. Dois trechos do artigo: “As relações políticas, internas ou externas, não devem ser marcadas por gostos pessoais. Dilma marcou um gol de letra ao convidar para o almoço todos os ex-presidentes brasileiros, desde a redemocratização”. “Quando Lula recusou o convite de Dilma, aí sim o ex-presidente se transformou em um protagonista do evento. É presunção dizer quer ofuscaria Dilma se tivesse ido à festa. É fato concreto que sua ausência provocou uma série de especulações sobre a solidez da política de reaproximação de Dilma com os EUA, quando se conhece a influência de Lula sobre o governo da presidente e o PT, partido ao qual são ligados alguns dos movimentos sociais que armaram os protestos com ar déjà vu contra a visita, no Rio de Janeiro”.
... E a vulnerabilidade dela ante a inflação, com a persistência do bloqueio a reformas
É no plano da economia – na persistência da pressão inflacionária, no imperativo de mais aumentos de juros, na supervalorização do Real – que o governo Dilma Rousseff defronta-se com os principais problemas e riscos de insucesso. Para o efetivo enfrentamento dos quais – tendo em vista efeitos a médio prazo e, sobretudo, a remoção de obstáculos básicos a um desenvolvimento sustentado – não bastam a melhora de gestão de máquina governamental, certamente positiva, nem a chamada “consolidação fiscal” do corte de gastos anunciado. Pois são necessárias respostas bem mais profundas e amplas, dificilmente viáveis, senão impossíveis, para uma presidente presa de compromissos com o lulismo e o petismo. Respostas que teriam que começar por uma verdadeira reforma tributária, capaz de conter e reverter a sangria fiscal que penaliza o conjunto da sociedade e onera pesadamente todas as atividades produtivas, inviabilizando muitas delas, constituindo o principal fator da perda de competitividade dos produtos brasileiros e cuja causa maior são os gastos do enorme gigantismo estatal.
Respostas estas que poderão – se decididamente buscadas – viabilizar a montagem de uma oposição competitiva na próxima eleição presidencial. Baseada em uma pauta reformista, ao invés do recurso à contraposição de propostas populistas, tentado na última disputa.
Jarbas de Holanda é jornalista
E a imagem da presidente Dilma foi adicionalmente favorecida, de sábado em diante, por dois fatos significativos. Primeiro a divulgação de pesquisa do Datafolha, na qual ela começa o governo com 47% de popularidade, igualando (na margem de erro) o recorde de 48% obtido por Lula no início do segundo mandato, em 2007. Índice de aprovação da nova presidente (combinado com o de 78% de expectativa favorável do eleitorado) que a reforça muito nas negociações político-partidárias e com o Congresso. Segundo fato político pró Dilma (este vinculado diretamente à visita do presidente norte-americano): a ausência de Lula no almoço oferecido por ela a Obama e sua família. Ausência que tem sido objeto de crítica generalizada, como a de artigo da jornalista Vera Magalhães, na Folha de S. Paulo, de ontem, com o título “Dilma revoga o nunca antes”, e os seguintes trechos da abertura: “Certas imagens, como se sabe, carregam mais símbolos que muitas palavras. A que reuniu, no último sábado, Dilma Rousseff e três ex-presidentes (Fernando Collor, Itamar Franco e FHC), poderá a ser lembrada no futuro como o ponto final do ‘nunca antes neste país’. “Ao convidar seus antecessores para a recepção à família Obama no Itamaraty, Dilma mostra que pretende pautar o início de seu governo por uma dose maior de institucionalidade e menor de pirotecnia”. Ou a da coluna de Raymundo Costa, no Valor também de ontem, intitulada “O protagonismo às avessas de Lula”. Dois trechos do artigo: “As relações políticas, internas ou externas, não devem ser marcadas por gostos pessoais. Dilma marcou um gol de letra ao convidar para o almoço todos os ex-presidentes brasileiros, desde a redemocratização”. “Quando Lula recusou o convite de Dilma, aí sim o ex-presidente se transformou em um protagonista do evento. É presunção dizer quer ofuscaria Dilma se tivesse ido à festa. É fato concreto que sua ausência provocou uma série de especulações sobre a solidez da política de reaproximação de Dilma com os EUA, quando se conhece a influência de Lula sobre o governo da presidente e o PT, partido ao qual são ligados alguns dos movimentos sociais que armaram os protestos com ar déjà vu contra a visita, no Rio de Janeiro”.
... E a vulnerabilidade dela ante a inflação, com a persistência do bloqueio a reformas
É no plano da economia – na persistência da pressão inflacionária, no imperativo de mais aumentos de juros, na supervalorização do Real – que o governo Dilma Rousseff defronta-se com os principais problemas e riscos de insucesso. Para o efetivo enfrentamento dos quais – tendo em vista efeitos a médio prazo e, sobretudo, a remoção de obstáculos básicos a um desenvolvimento sustentado – não bastam a melhora de gestão de máquina governamental, certamente positiva, nem a chamada “consolidação fiscal” do corte de gastos anunciado. Pois são necessárias respostas bem mais profundas e amplas, dificilmente viáveis, senão impossíveis, para uma presidente presa de compromissos com o lulismo e o petismo. Respostas que teriam que começar por uma verdadeira reforma tributária, capaz de conter e reverter a sangria fiscal que penaliza o conjunto da sociedade e onera pesadamente todas as atividades produtivas, inviabilizando muitas delas, constituindo o principal fator da perda de competitividade dos produtos brasileiros e cuja causa maior são os gastos do enorme gigantismo estatal.
Respostas estas que poderão – se decididamente buscadas – viabilizar a montagem de uma oposição competitiva na próxima eleição presidencial. Baseada em uma pauta reformista, ao invés do recurso à contraposição de propostas populistas, tentado na última disputa.
Jarbas de Holanda é jornalista
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