Com pressões de salário mínimo e alta de produtos básicos, o mercado aposta que a inflação deve ficar entre 5% e 5,5%.
2012, o ano que já começou
Inflação do ano que vem já parte de 6,6%, ameaçando meta. Salário mínimo tem forte impacto
Vivian Oswald
A divulgação dos índices desta semana confirma que a escalada corrente dos preços ainda não deu trégua. Mas o que os indicadores não mostram é o risco para a inflação de 2012, quando o Banco Central (BC) promete levá-la ao centro da meta de 4,5%. A principal ameaça é o reajuste de dois dígitos do salário mínimo - estimado entre 13% e 14% pelo mercado. O impacto deve ser de R$22,8 bilhões só de gastos adicionais nas contas federais, segundo a consultoria Tendências. Isso é o que o governo vai desembolsar com previdência, seguro-desemprego e Lei Orgânica de Assistência Social (Loas). O efeito potencial do aumento é de uma alta de 0,8 ponto percentual no IPCA ou mais de 20% do alvo para o ano.
Para 2013, o custo será de R$16,5 bilhões e, para 2014, de R$17,5 bilhões. Segundo o economista da Tendências Thiago Curado, a inflação de 2012 já começa alta, partindo de 6,6%, e não há muito o que se possa fazer para combater os principais fatores que estarão por trás dela: expectativas, inércia (um patamar alto de inflação começa a funcionar como piso para variações dos preços) e indexação.
- O que o salário mínimo faz sobre a inflação é injeção de demanda. Quando já tem inflação por descompasso entre oferta e demanda (como é o caso atual), é complicado. O trabalhador pode adiantar o consumo hoje com o ganho de renda que terá amanhã - diz Curado.
Para o economista do banco ABC Brasil, Luis Otavio Leal, o salário mínimo é apenas a "cereja do bolo" na questão salarial do país. A partir de setembro deste ano começam as negociações dos dissídios das chamadas "categorias-farol": petroleiros, metalúrgicos e bancários. O resultado obtido por estes grupos deve ser usado como referência para outras categorias menos organizadas, segundo ele.
O mercado de trabalho foi um dos fatores de risco apontados pelo BC no primeiro relatório de inflação do presidente Alexandre Tombini, divulgado em março. "Um aspecto crucial em ciclos como o atual é a possibilidade de que o aquecimento no mercado de trabalho eleve a concessão de aumentos nominais dos salários em níveis não compatíveis com o crescimento da produtividade, o que de fato tem ocorrido", dizia o documento.
- Em agosto, a inflação deve atingir seu pico e chegar a algo próximo de 7,5% em 12 meses, e essa será a referência deles. Trata-se de um fator importante de pressão sobre os serviços (nos meses seguintes), que já vêm se mantendo em um patamar elevado de 8,5% - disse Leal, lembrando que o mínimo também é base de cálculo para profissionais como cabeleireiros e manicures.
Serviços respondem por metade da meta
Se os serviços se mantiverem no atual patamar, segundo Leal, já carregam 2,25 pontos percentuais para a inflação de 2012, ou seja, a metade da meta central para o período. Mas os efeitos negativos do aumento do mínimo não param aí. Segundo o economista, o novo piso vai pesar nas despesas de estados e municípios, que vêm demonstrando dificuldades em manter suas contas no azul.
- O salário mínimo é crucial, uma bomba-relógio. O governo vai ter que estar preparado para lidar com seu impacto - alertou Leal.
Os economistas são unânimes ao reconhecer que os preços das commodities continuam sendo fator de incerteza para 2012 e podem não arrefecer como esperado, criando uma situação ainda mais complicada para trazer o IPCA para o centro da meta. Mais de 70% dos preços de commodities subiram desde o segundo semestre do ano passado.
- Isso exerce pressão não só sobre a economia como um todo, mas também sobre os aluguéis, corrigidos pelo IGP-M, que carrega em boa medida os efeitos dos preços das commodities - destaca Leal.
Outro ponto que preocupa os analistas é a chamada inércia da inflação.
- Afinal, depois de dois anos com inflação muito pressionada, ela acaba ganhando vida própria - disse o economista-chefe da Maxima Corretora, Elson Teles, que concorda com risco do salário mínimo para 2012 e a possíveis surpresas nas commodities.
Pela estimativa do BC no último relatório de inflação, de março, o IPCA poderia fechar o ano entre 4,8% e 6,3%. A projeção central era de 5,6%. Para 2012, a expectativa era de 4,6%, podendo oscilar em cenários mais extremos de 3,1% a 6%. Depois de rever sucessivas vezes suas projeções para a inflação este ano, o mercado já não acredita em nada abaixo de 6%. Apesar das pressões, a Tendências espera que a inflação feche 2012 em 5,2%, se não houver novos choques inesperados. E há quem trabalhe com 5,5%:
- É muito difícil fazer convergir mais depressa para 2012 pelo fato de a inflação ter passado muito da margem este ano - afirmou Elson Teles.
Já o ministro da Fazenda, Guido Mantega, assegurou ontem que a inflação ficará dentro da meta fixada para 2011. Segundo ele, o IPCA pode até encostar no teto da meta, de 6,5%, mas não fechará o ano acima dele.
- Posso garantir que a inflação ficará dentro dos parâmetros - disse Mantega, ao participar de audiência pública na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado Federal.
O ministro defendeu a estratégia do governo de combinar política monetária com política fiscal na hora de combater pressões sobre os preços:
- É uma forma de debelar a inflação sem derrubar o crescimento. A arte da coisa é equilibrar as medidas e estamos tomando cada uma delas na gradação certa.
Mantega disse aos senadores que não está preocupado com o impacto que o reajuste do salário mínimo deve exercer sobre a economia no ano que vem. Enquanto o mínimo deste ano teve apenas a reposição inflacionária, o do ano que vem será corrigido pelo IPCA e pelo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) de 2010, de 7,5%. Ele também reconheceu que a economia brasileira é fortemente indexada, o que contribui para deixar a inflação mais alta. Segundo ele, 3% do índice de inflação são resultado apenas da indexação.
FONTE: O GLOBO
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