Não há dúvidas sobre a emergência de uma crise mundial do capitalismo financeiro. A liberdade de circulação monetária no mundo sem lastro na produção econômica gerou uma “bolha artificial” que agora está explodindo em diversos países. Seus primeiros momentos foram vividos no ano de 2008 no núcleo central do capitalismo: os EUA. A vitória do Partido Democrata foi uma esperança de novos rumos no cenário internacional. Entretanto, seus desdobramentos políticos foram “congelados” na gestão de Obama diante do fortalecimento do extremismo conservador do “Tea Party”.
Para enfrentar a dimensão da crise econômica é necessária uma inovação política permanente. Caso contrário, testemunharemos o aumento do descrédito da democracia uma vez que a política eleitoral estaria aprisionada a formação de máquinas de conquista do voto sem posições políticas claras (vejam o exemplo do “novo” PSD no Brasil) e suas possíveis vinculações a uma rede de corrupção sistêmica.
Na onda de uma crise econômica, muitos boatos podem estimular o enriquecimento especulativo de pequenos grupos econômicos. A indignação da juventude pelo mundo seria um indício de resistência que as forças democráticas da esquerda devem estar abertas para fazer política com e para elas. Formular uma política positiva que enfrente a crise com o aprofundamento da democracia. Redistribuir os canais da participação democrática para que os efeitos da crise econômica não penalizem os mais pobres e a classe média.
No Brasil, o “lulismo” desqualificou a crise econômica de 2008 como se fosse uma “marolinha” em benefício do fortalecimento de uma gestão da “grão-burguesia”. Foi uma reação que formou uma “cortina de fumaça” num momento de ampla transferência de recursos públicos para a elite econômica, sempre “demonizada” na ideologia do petismo mas sempre bem tratada na política econômica. Nós tivemos a emergência de novos sujeitos nas camadas médias diante de um forte crescimento econômico que hoje não se produz mais. Não há sustentabilidade no crescimento da economia pelo arcaísmo de nossa infraestrutura. Logo, a chamada nova classe média atual poderá ser a nova camada de endividados na crise que se avizinha em Planos de Saúde, em cartões de crédito, nas faculdades particulares, nos financiamentos de automóveis e casas.
Contudo, a gerência estatal da crise econômica de 2008 com recursos financeiros do BNDES foi acompanhada pela polarização com uma oposição com déficit na formulação política diante da amplitude de seu leque de aliança que agrupava desde uma social-democracia liberal passando por forças liberais e socioliberais até correntes da esquerda democrática. Desacreditar essa oposição, que estava vazia na formulação de uma política comum, foi uma tarefa fácil. O Bloco Democrático e Reformista (PSDB/DEM/PPS) foi um slogan sem conseqüências na política para a sociedade. Viveu suas contradições e manteve um velho estilo da política brasileira ao perdurar o “caciquismo político” na escolha das candidaturas majoritárias em várias esferas. A política cedeu espaço ao marqueteiro da política.
Diante de um cenário político e econômico que exigia democracia no cotidiano partidário, os partidos do Bloco não ampliaram a democracia e muito menos se demonstraram reformistas. Os partidos do Bloco ficaram aprisionados ao modelo das convenções de confirmação de nomes sem debate da política. Esses partidos ficaram tímidos em realizar “prévias partidárias” com filiados e não filiados para a escolha das candidaturas de oposição. O partido político que deveria ser modelo na formulação da política, o Partido Popular Socialista (PPS), realizou o XVI Congresso em 2009 em clima de “pré-convenção” eleitoral como muitos militantes e alguns dirigentes apontam sem que nascer uma postura política para dirigir o enfrentamento do “lulismo”. Nasce nesse momento os desdobramentos da atual crise política de todos partidos da oposição e do sentimento de desorientação da esquerda democrática.
A construção de um novo caminho para a oposição não se resume em reconhecer a existência de um possível peso político da classe média. Esse é um ponto de partida sociológico que pode estar se esquecendo do que foi a Semana de Arte Moderna e o Tenentismo já em 1922 quando fundaram o Partido Comunista Brasileiro antes da grande crise de 1929. Devemos ter outras atitudes no campo democrático da esquerda em nosso país. Para enfrentar a crise econômica que se avizinha, devemos expor os perigos dos encaminhamentos nem sempre democráticos e transparentes das propostas do Governo. Fazer isso é uma tarefa que exige formar um ator político (mesmo que alguns declarem horror a essa expressão) democrático e reformista da esquerda na nossa vida partidária (mesmo que outros tenham pânico para essa interpretação).
O XVII Congresso do Partido Popular Socialista deve enfrentar os vícios da política brasileira. Portanto, não pode compactuar com o caciquismo eleitoral de lideranças estaduais aliados ao centralismo e a tendência ao esvaziamento da formulação política no partido que, entre tantos exemplos, se acentua no desmonte da identidade partidária. Esses são problemas comuns aos partidos políticos que podem contagiar nosso debate congressual num momento que devemos estar politicamente preparados para formular uma política de valorização da democracia para enfrentar a crise econômica mundial.
Se os dirigentes reconhecem a gravidade da Cris econômica, saudaremos que nesse momento façam uma proposta de inovação da política do PPS enquanto ainda há tempo para mobilizar a sociedade. Devemos reconhecer que não somos mais o “Partidão”, o que não significa questionar o trabalho regional de nenhum companheiro militante, para que o reformismo seja uma proposta para a sociedade. O sentimento de “mumificação” do debate interno só daria sobrevida ao partido como uma legenda eleitoral para servir aos interesses individuais diante do “furacão da crise econômica”. Entendemos que o reformismo democrático da esquerda não se fará com rupturas, mas com a formulação de um programa de outra oposição para nosso pais que passa pela ampliação da democracia. Trata-se de uma condição que esse debate seja feito no processo congressual. Portanto, o PPS não pode fazer “mais do mesmo” no cenário político partidário.
Vagner Gomes de Souza (Dirigente Municipal do PPS-Rio de Janeiro
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